ÁREA TEMÁTICA: GÊNERO E SUBJETIVIDADE MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA: DISCUTINDO AS RELAÇÕES CONJUGAIS

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Transcrição:

ÁREA TEMÁTICA: GÊNERO E SUBJETIVIDADE MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA: DISCUTINDO AS RELAÇÕES CONJUGAIS Mônica dos Santos Adolpho 1 Amanda Pereira Rosa 2 Mario Artur Seleprim Pedroso² Ana Carolina Cademartori³ 1. INTRODUÇÃO É possível dizer que a violência contra as mulheres é um dos fenômenos sociais mais debatidos e que mais ganharam visibilidade nas últimas décadas em todo o mundo, atingindo diferentes as classes sociais, etnias e religiões. Além disso, são situações consideradas difíceis de serem evitadas. (RAZEIRA; FALCKE, 2014). O objetivo principal deste trabalho é discutir alguns possíveis aspectos presentes em relacionamentos conjugais onde a violência se faz presente direcionando para a violência contra mulher. A justificativa do presente trabalho se dá a partir do entendimento de que vivemos e convivemos com uma sociedade machista, onde os homens possuem um poder autoritário e as mulheres assumem o papel de submissão. Assim, nota-se a necessidade de enfatizar que a mulher pode ser e fazer o que ela quiser, usufruindo do seu direito de autonomia. Diante disso, nota-se que é importante que a atual sociedade crie outro olhar sobre o assunto, sociedade essa, que todos, homens e mulheres, fazem parte. Dessa forma, entende-se que a psicologia tem facilitado a gerar mais reflexões com o referente assunto, destacando o direito de autonomia de cada indivíduo. No Brasil, a violência contra a mulher ganhou visibilidade a partir da década de 1970, com o trabalho do Movimento Feminista. Diante disso, na década 1980, com engajamento e mobilização de um maior contingente de mulheres o Movimento demonstra à sociedade que a 1 Autora e acadêmica do 10º semestre do Curso de Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria (Fisma). E-mail: monikaadolpho@hotmail.com 2 Co-autores e acadêmicos do 10º semestre do Curso de Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria (Fisma). E-mail: amandarosap@hotmail.com e psicodotto@gmail.com ³ Orientadora. Docente do Curso de Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria (Fisma). E- mail: ana.cademartori@fisma.com.br

violência contra a mulher não é algo natural, mas sim, uma construção histórica que pode ser desconstruída (SOUSA; ROS, 2006). A violência contra a mulher possui uma grave expressão das relações sociais, pois apresenta sequelas irreparáveis que não atinge somente a vítima, mas também pode atingir os que estão em volta vivenciando esse conflito, como os filhos e familiares que estão presente nessa relação de conflito extremo. Diante disso, a agressão contra a mulher seja ela física, psicológica ou sexual, é vista ainda pela sociedade quase que sempre de forma natural (MIUZZO; FRAID; CASSAB, 2010). Por estar presente no dia a dia e reafirmado pelo conjunto de representações e papéis atribuídos aos homens e mulheres. Papéis sociais, que estão marcados pelo patriarcalismo, e assim postos de forma diferenciada: aos homens é permitido o poder de decisão e, consequentemente, à mulher, onde pode ser subjugada (SOUSA; ROS, 2006). Diante disso, o homem pode usar a violência para alcançar e satisfazer seus desejos o qual apresenta poder sobre a mulher o qual, muitas vezes, são os motivos que mantém um relacionamento e, assim, permanecem nesta trama de poder e horror (FABENI ET AL, 2016). Os motivos para a permanência nessa relação são inúmeros. Podemos citar a dependência emocional e econômica, a valorização da família, a preocupação com os filhos, a idealização do amor e do casamento, o desamparo diante da necessidade de enfrentar a vida sozinha, a ausência de apoio social, entre outros (RAZEIRA; FALCKE, 2014). 2. MÉTODO Foi realizada uma revisão bibliográfica integrativa na plataforma de pesquisa Pepsic e Scielo no mês setembro de 2017, com os seguintes argumentos de busca: violência contra a mulher, violência conjugal e relacionamento violento. A pesquisa realizada resultou em 35 artigos, sendo 19 artigos na plataforma Pepsic e 16 na Scielo. Foram utilizados como critérios de inclusão o fato do artigo estar completo, estar disponível online e ser gratuito. Foram excluídos os artigos que não se enquadravam nessas características. Como a quantidade de artigos ainda foi considerada grande foi realizada a leitura dos resumos dos artigos. Com base nisso, foram selecionados 04 artigos que pareceram ser os mais condizentes para a discussão proposta nesta pesquisa. Foram excluídos os artigos que abordavam aspectos distantes do objetivo deste estudo. Dessa seleção, foram acrescidos outros textos entendidos como sendo de relevância para temática em questão.

3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A violência à mulher atinge, indistintamente, todas as classes sociais, etnias e religiões e, a partir da década de 1970, no Brasil, ganha visibilidade com o trabalho do Movimento Feminista. Na década 1980, com engajamento e mobilização de um maior contingente de mulheres o Movimento demonstra à sociedade que a violência contra a mulher não é algo natural, mas sim, uma construção histórica que pode ser desconstruída. A mulher que se encontra enlaçada numa relação de dominação vive em frequente insegurança, sempre a espera que algo possa lhe acontecer, que a qualquer momento será agredida novamente, e mais uma vez (MIZUNO; FRAID; CASSAB, 2010) Verificou-se que os motivos que levam muitas mulheres a manter um relacionamento violento se dá a partir das questões econômicas, os filhos, o vínculo emocional, a submissão e o medo de recomeçar suas vidas sozinhas, entre outros. Por isso, elas consideram que sair da relação é muito mais difícil do que permanecer, devido a essas questões (RAZERA; FALCKE, 2014). Portanto, Fabeni et. al. (2016) justifica que muitas mulheres permanecem em um relacionamento conflituoso onde existe violência conjugal seria sua suposta vinculação afetiva ou emocional. Devido a isso muitas mulheres em situação de violência prosseguem no relacionamento sem denunciar a agressão por medo ficar sozinha e, assim, se submetem a tudo no relacionamento. Conforme Miuzzo, Fraid e Cassab (2010) a pesquisa constatou que muitos são os motivos que conduzem as mulheres a permanecerem na relação, na condição de violência, o medo de perder a guarda dos filhos, o constrangimento perante os amigos e família, a culpa por não conseguir manter sua relação, a falta de capacitação profissional para sobreviver sozinha, a dependência emocional/afetiva que tem de seu companheiro, as ameaças que sofrem quando dizem que vão embora. Além disso, Souza e Ros (2006), em pesquisa realizada destacam como principal motivo da relação continuar é referente à falta de recursos financeiros para se separar do companheiro, porém a essa questão está atrelada a subsistência dos filhos e não somente de si mesmas. As vítimas de violência conjugal, em geral, convivem com o isolamento social e o silêncio, imposto por mecanismos psicológicos de defesa diante da violência, contra sentimentos de fragilidade e impotência diante do abuso de força física e psicológica pelo parceiro masculino. Na maioria das vezes, sem protestos, sendo agredida, só lhe resta resignar-se frente à própria situação. Para as mulheres, o pior da violência não é somente a

violência em si, mas a tortura mental e a convivência com o medo e o terror, onde através de palavras e atos aniquilam-se a auto-estima da vítima, deixando cicatrizes na alma, difíceis de serem apagadas. 4. CONCLUSÕES É importante enfatizar que a discussão empregada neste trabalho não contempla com profundidade as questões levantadas no decorrer desta escrita, pois esse é um debate amplo, complexo e multifacetado. No entanto, foi possível desenvolver alguns aspectos considerados significativos neste debate. As questões relacionadas às manifestações de violência, de modo geral, podem ser entendidas como intrinsecamente delicadas e, em alguns pontos, controversas. Vale ressaltar que a violência contra mulher não se restringe somente nas relações íntimas e conjugais. Isto quer dizer que a violência contra mulher pode ser entendida sob diferentes manifestações na qual as mulheres estão em situação de relação de poder assimétrica e destituídas de poder. Por meio da pesquisa realizada, encontram-se indícios de que as mulheres adiam a denúncia e mantêm-se em um relacionamento violento devido há vários fatores: um deles é a dependência financeira (bastante comentada nas bibliografias), que, em alguns casos, não foi confirmada, pois há mulheres que se submetem a um relacionamento violento, sustentam os filhos e até mesmo o companheiro agressor; a dependência emocional do companheiro e a necessidade de ter alguém como apoio mantém a mulher na submissão e a sujeição às agressões, que vão da emocional à física e, muitas vezes, intercalam-se; a criação dos filhos é outro fator importante, pois, muitas vezes, as mulheres acreditam ser necessária a presença da "figura paterna" na educação; e a falta de apoio de amigos e parentes também contribui para que as mulheres permaneçam em uma relação onde há violência. REFERÊNCIAS FABENI, L; SOUZA, L; LEMOS, L; OLIVEIRA, M. O discurso do "amor" e da "dependência afetiva" no atendimento às mulheres em situação de violência. Disponível em: >http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s2175-25912015000100003< Acesso em: 5 set. 2017

MIZUNO, C.; FRAID, J. A.; CASSAB, L. A. Violência Contra a Mulher: Por que elas simplesmente não vão embora. Anais do I Simpósio sobre Estudos de Gênero e Políticas, 2010. RAZERA J; FALCKE D. Relacionamento conjugal e violência: sair é mais difícil que ficar?2014. Disponível em: >http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s141303942014000200012<ac esso em 28 jun. 2017. SOUZA, P; ROS, M. Os motivos que mantêm as mulheres vítimas de violência no relacionamento violento. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, EDUFSC, n. 40, p. 509-527, 2006.