XV ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO NORTE E NORDESTE e PRÉ- ALAS BRASIL. 04 a 07 de setembro de 2012, UFPI, Teresina PI.



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Transcrição:

XV ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO NORTE E NORDESTE e PRÉ- ALAS BRASIL. 04 a 07 de setembro de 2012, UFPI, Teresina PI. Grupo de Trabalho: Educação, Cultura e Sociedade. GT 04. Título do Trabalho: EU E O OUTRO : o desafio da convivência entre (des)iguais - o bullying escolar em questão. Autoras: Maria de Fátima Alves. Universidade Estadual do Piauí. E-mail: fatimalves2@hotmail.com Maria do Socorro Sousa de Araújo. Universidade Federal do Maranhão. E-mail: contato.socorro@gmail.com

1- INTRODUÇÃO: A questão da violência é instigante e desafiadora, pois implica no entendimento de questões abrangentes que envolvem não apenas o ambiente escolar, mas, que perpassa pela discussão da cultura, da ética e das normas de conduta de cada sociedade. Na atualidade, no contexto da denominada violência na escola o bullying se tornou um dos problemas mais destacados entre as condutas praticadas por crianças, adolescentes e jovens, uma vez que pode acarretar consequências danosas para a vida escolar e pessoal das vítimas, dos agressores e dos espectadores. Contudo, consideramos que conforme argumenta Twemlow 1 (2012) a prática do bullying não caracteriza a existência de uma epidemia, pois sempre existiu. Tampouco, nem sempre é resultado de uma doença mental, de psicopatia. Na maioria das vezes é resultado de um processo normal de convivência em que a agressividade se faz presente 2. No presente trabalho apresentamos resultados parciais de uma pesquisa sobre a ocorrência de maus tratos repetitivos, o bullying escolar entre alunos como expressão da violência na escola. Realizamos pesquisa sobre o bullying escolar entre alunos da 5ª e 6ª séries do Ensino Fundamental Maior, adotando como referência empírica de análise três escolas, Escola Zezinho Vasconcelos da Rede Pública Estadual; Escola Aréa Leão da Rede Pública Municipal e Colégio Potencial, da Rede Privada, localizadas na sede do município de Floriano/PI. A pesquisa foi baseada na metodologia qualitativa-quantitativa da pesquisa social, porque concordamos com Minayo e Sanches (IN:MINAYO 1 Stuart Twemlow é psiquiatra, professor da Escola de Medicina do Baylor College, no Texas-EUA. Desenvolveu em parceria com o psicólogo americano Frank Sacco um programa para evitar o bullying. É autor do livro Why school antibullying programs don t work.(sem edição no Brasil). 2 Conforme Silva (2004, p.35) a violência é algo que perpassa a história da humanidade e potencialmente está presente em todo o ser humano: [...] todo ser humano é potencialmente violento (já que tem a capacidade de emitir comportamentos violentos), mas sua violência latente pode não se manifestar se não houver estímulos suficientes para desencadeá-la. Fraga (2002) também destaca que a violência é uma das formas de expressão da agressividade; e que a agressividade está presente em toda a pulsão; e é uma condição necessária para a atividade humana, pois um ser sem agressividade seria um ser sem iniciativa, sem autonomia, sem possibilidade de defesa e de questionamento. Conforme enfatiza: Alícia Fernandez lembra que Freud dizia que a agressividade faz parte de toda a pulsão, e que, portanto, em toda a pulsão, seja de vida ou de morte, há um quantum de agressividade. (p.45).

2000) quando afirmam que [...] o método quantitativo e o método qualitativo [...] são de natureza diferenciada, mas, se complementam na compreensão da realidade social.(p.2) Conforme ressaltam, a metodologia quantitativa: Tem como campo de prática trazer à luz dados, indicadores e tendências observáveis. Deve ser utilizada para abarcar, do ponto de vista social, grandes conglomerados de dados [...] classificando-os e tornando-os inteligíveis através de variáveis. ( MINAYO E SANCHES, IN: MINAYO 2000, p.11) A metodologia quantitativa nos possibilitou o acesso a dados, indicadores e tendências que nos permitiram quantificar os tipos de ocorrência de bullying entre alunos(as); caracterizar as ações de bullying entre alunos; identificar se a ocorrência entre os sujeitos vítimas, espectadores e agressores, é maior entre meninos ou meninas nas escolas pesquisadas; e, se no município de Floriano a ocorrência das ações do bullying é maior em escolas da Rede de Ensino Pública ou Privada. Os dados quantitativos obtidos através da aplicação dos questionários nos forneceram elementos que tiveram suas análises aprofundadas através da metodologia qualitativa, pois a investigação qualitativa adequa-se a aprofundar a complexidade de fenômenos, fatos e processos particulares e específicos de grupos mais ou menos delimitados em extensão e capazes de serem atingidos intensamente. (MINAYO E SANCHES, IN:MINAYO 2000 P.11) Assim, para efetuar um levantamento das prováveis ações, programas ou projetos de combate ao bullyng, considerando as especificidades das práticas do bullying e a incidência dessas práticas foram realizadas entrevistas com a Diretoria e Coordenação Pedagógica nas escolas pesquisadas. Os resultados parciais aqui apresentados são oriundos da pesquisa quantitativa, cujos dados foram levantados através da aplicação de questionários com os 157 alunos da 5ª e 6ª séries do Ensino Fundamental Maior das três escolas citadas, o que corresponde a cem por cento (100%). O questionário foi utilizado como principal instrumento de coleta de dados porque permite associar informações qualitativas e quantitativas e ainda possibilita atingir um número significativo de aluno (a)s. Na pesquisa adotamos a palavra maus-tratos por favorecer a não associação da violência apenas com a agressão física ou verbal, assim maus-

tratos é toda e qualquer atitude, ação de violência que pode ou não ser caracterizada como bullying, cujo fator determinante é a frequência com que acontecem. Outro ponto crucial para utilização da expressão maus-tratos ocorreu pelo fato de partilhar do procedimento utilizado pela ONG PLAN 3, que ao realizar suas pesquisas utilizou o termo maus-tratos, justificando que a palavra bullying poderia não ser bem entendida entre os participantes e devido a grande dificuldade em diferenciar o bullying de outras práticas. Foram escolhidos como sujeitos da pesquisa alunos especificamente matriculados na 5ª e 6ª séries do ensino Fundamental Maior porque pesquisas realizadas em nível nacional indicam que nas referidas séries se concentram o maior registro de casos de bullying nas escolas brasileiras. (PLAN BRASIL, 2010). A pesquisa foi realizada em uma escola da rede pública estadual, outra da rede pública municipal e outra da rede particular, também porque pesquisas divulgadas em nível nacional apontam que o bullying está presente tanto na rede pública quanto na privada, prevalecendo uma incidência maior nas instituições de ensino da rede privada. (IBGE, 2009). Dessa forma, a pesquisa permitiu verificar onde se encontra a maior ocorrência de casos nas escolas no município de Floriano/PI. A Escola da Rede Pública Estadual Zezinho Vasconcelos e o Colégio Aréa Leão da Rede Pública Municipal foram escolhidas por estarem localizadas em bairros periféricos, sendo caracterizados pelo baixo nível de renda dos moradores e pela existência de ações violentas, tais como roubos, furtos, venda de drogas, etc. A instituição da Rede Privada de Ensino Colégio Potencial foi escolhido por atender alunos considerados de classe média e por estar localizada no centro de cidade e receber alunos de variados bairros. Após a coleta de dados foi realizado o exercício de classificação e análise dos dados coletados. A classificação dos resultados obtidos através da aplicação dos questionários consistiu em proceder a quantificação dos casos de bullying verificados nas escolas e especificação dos tipos de ações de bullying verificados, tipificando-os como verbal: físico e material; psicológico e 3 É uma organização não governamental que atua no Brasil desde 1994.

moral; e sexual; e identificação de que se a ocorrência entre os sujeitos vítimas, espectadores e agressores, é maior entre meninos ou meninas. 2- BOLO FOFO... GIRAFA... QUATRO OLHO : a convivência entre (des)iguais. De acordo com Fante (2005) podemos afirmar que o bullying é um fenômeno social tão antigo quanto a própria instituição escola, apesar de que os primeiros estudos sistematizados sobre o tema iniciaram tão somente na década de 1970. Nesse sentido, Twemlow (2012) enfatiza, que as práticas de bullying que acontecem atualmente sempre existiram. Não se trata de um fenômeno novo e nem de uma epidemia. A esse respeito ressalta que: Não há epidemia de bullying em nenhum lugar. O que acontece agora sempre existiu. O bullying está entre nós desde que os seres humanos existem. Já li sobre coisas que aconteceram no século XVI. Mas, agora com a expansão dos meios de comunicação, temos mais informações sobre essas histórias. Conforme Fante & Pedra (2008, p. 33) o termo bullying é uma palavra de origem inglesa adotada em muitos países para definir o desejo consciente e deliberado de maltratar a uma outra pessoa e colocá-la sob tensão. Há uma definição universal para utilização do termo, qual seja: Por definição universal, bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro (s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do comportamento bullying. (FANTE, 2005, p. 29). Essa denominação é utilizada universalmente em inglês, porque na língua portuguesa e alguns outros idiomas ainda não existe uma palavra equivalente. De acordo com Neto (2005): A adoção universal do termo bullying foi decorrente da dificuldade em traduzi-lo para diversas línguas. Durante a realização da Conferência Internacional Online School Bullying and Violence, de maio a junho de 2005, ficou caracterizado que o amplo conceito dado à palavra

bullying dificulta a identificação de um termo nativo correspondente em países com Alemanha, França, Espanha, Portugal e Brasil, entre outros. (NETO, 2005, p. 165). Dessa forma, (Ventura 2011, apud NETO, 2005, p.165) justifica a preferência pela adoção do termo em inglês pelo fato de possuir uma carga semântica que é capaz de abarcar o conjunto de comportamentos que se insere no âmbito deste tipo de fenômeno. Contudo há países que não utilizam o termo em inglês e adotam termos oriundos de suas línguas de origem. De acordo com Fante (2005): Existem outros termos para conceituar esses tipos de comportamentos. Mobbning é um deles, empregado na Noruega e na Dinamarca; mobbing, na Suécia e na Finlândia (...) Na França, denominam harcèlement quotidién; na Itália, de prepotenza ou bullismo; no Japão, é conhecido como yjime; na Alemanha, como agressionen unter Schuler; na Espanha, como acoso y amenaza entre ecolares; em Portugal, como maus tratos entre pares. ( FANTE, 2005, p. 27-28) A ocorrência do bullying não se restringe ao espaço escolar. Pode estar presente em qualquer ambiente ou contexto aonde existam relações de convívio entre pessoas. Dessa forma, várias ações de bullying já foram noticiadas em penitenciárias, asilos, em locais de trabalho, em quartéis e instituições ligadas ao contexto da força militar no Brasil e no mundo. Porém, conforme acentua Fante (2002), no Brasil estabeleceu-se um consenso entre os pesquisadores para utilização do termo bullying quando esse tipo de violência ocorre entre crianças, adolescentes e jovens, ou seja, entre pares, particularmente no espaço escolar. Em relação a formas de violência envolvendo diferentes sujeitos no espaço escolar Fante (In Costa, 2011) ressalta que quando o bullying ocorre do aluno para o professor, é considerada como ato infracional, do professor para o aluno é crime ou contravenção e entre adultos é assédio moral. Conforme Silva (2010, p.117) é admissível presumir que na atualidade o bullying esteja presente em todas as escolas, seja ela de caráter pública ou privada, variando apenas a ocorrência que possa vir a ser encontrada em cada instituição.

A esse respeito conforme Fante & Pedra (2008) o bullying não deve ser confundido com ações violentas pontuais, pois para caracterizar-se como tal, a ação deve obedecer aos critérios de identificação marcados pela intencionalidade e repetição de ações, pelo desequilíbrio de poder podendo este ser adquirido pela força física ou por qualquer outra forma de vantagem, e pela sutileza com que é desenvolvido, o que faz com que as pessoas que sofrem os atos de violência, na maioria dos casos, se encontrem impossibilitados de se defender das agressões sofridas. De modo geral os motivos que levam os agressores a praticarem bullying não são ocasionados por fator algum, muito menos são justificáveis. Os estudos sobre o tema apontam que o que se nota é que muitas crianças, adolescentes e jovens, considerados mais fortes ou populares, utilizam os mais frágeis para praticar a crueldade, visando maltratar, intimidar, amedrontar e principalmente humilhar o indivíduo, obtendo o prazer e a diversão desejados. Esta assimetria de poder caracteriza as práticas do bullying, pois muitas atitudes inapropriadas e comportamentos incorretos podem ser consequências da diferença de idade entre agressor e vítima, de tamanho, de peso, de desenvolvimento emocional, e até mesmo pode se caracterizar pelo apoio que o agressor recebe por parte de outros que presenciam tais comportamentos. O bullying também não deve ser confundido com brincadeiras entre as pessoas. Conforme Fante e Pedra (2008) há critérios que possibilitam essa distinção. Consoante apontam: As brincadeiras acontecem de forma natural entre as pessoas. Elas brincam, zooam, colocam apelidos umas nas outras, dão risadas e se divertem. Porém, quando essas brincadeiras ganham requinte de crueldade, de perversidade e segundas intenções e extrapolam os limites suportáveis que variam de acordo com a história interpsíquica de cada indivíduo-, transformam-se em atos de violência. (FANTE E PEDRA, 2008, p. 38) De acordo com Fante e Pedra (2008) existem alguns critérios básicos, que foram estabelecidos pelo pesquisador Dan Olweus, da Universidade de Bergen, na Noruega (1999), para diferenciá-las de outras formas de violência e das brincadeiras próprias da idade, quais sejam: O bullying é compreendido como um subconjunto de comportamentos agressivos, sendo caracterizado por sua

natureza repetitiva e por desequilíbrio de poder. Ainda, segundo o autor (Olweus,1999), considera-se que as ações são repetitivas quando os ataques são desferidos contra a mesma vítima num período de tempo, podendo variar de duas ou mais vezes no ano letivo. (FANTE E PEDRA, 2008. p. 39-40) O bullying é uma violência que ocorre repetidas vezes, sem motivo aparente; em que o agressor escolhe no grupo aquele que possivelmente oferecerá menos resistência e menos possibilidade de defesa; aquele que fala pouco, é tímido e que possivelmente não denunciará as agressões e não dispõe de capacidade de mobilizar os colegas em sua defesa própria. Consoante Fante (2005) o bullying pode ser praticado das seguintes formas: direta e indireta. A forma indireta é a que causa mais danos psicológicos, em suas vítimas e é mais difícil de ser detectada. É realizada através de ações tais como: meter medo, constranger, intimidar, fazer gozações e acusações injustas, espalhar boatos maldosos, realizar insinuações e práticas de assédio. A forma direta é mais explícita e inclui: agressões físicas - como, bater, empurrar; xingar, jogar objetos contra a vítima, destruir os pertences, excluir, humilhar. formas: De maneira geral, o Bullying pode ser classificado das seguintes Tabela 1 Classificação do Bullying VERBAL FÍSICO E MATERIAL PSICOLÓGICO E SEXUAL MORAL Apelidos Batidas Amedrontamento e Insinuação Ameaça Gozação Chutes Perseguição Assédio Xingamento Espancamento Humilhação Abuso Insultos Empurrões Irritação Violentar Ofensas Provocação de Ferimentos Ridicularização Piadas Beliscões Exclusão ofensivas Calúnia Socos Isolamento Difamação Jogar objetos contra vítima Ignorar, desprezar ou fazer pouco caso Disseminação de rumores Roubos, Furtos ou Destruição de pertences. Discriminação Chantagem Intimidação Tiranização e

Dominação Passar bilhetes e desenhos de caráter ofensivo Intrigas, fofocas e mexericos Fonte: Elaboração própria. Adaptado de Silva (2010); e Plan Brasil (2010) De acordo com o Conselho Nacional de Justiça-CNJ (2010), outra classificação de Bullying entrou na pauta de discussão das áreas interessadas em contribuir com a abordagem do tema. O CNJ classifica o Bullying Virtual ou Ciberbullying praticado através das ferramentas tecnológicas, sendo que as mais utilizadas são o celular e a internet. Os resultados dos estudos realizados na Europa chegaram ao Brasil no fim dos anos 1990 e início de 2000. Assim, no Brasil os estudos sobre essa temática iniciaram recentemente e ainda hoje são incipientes. As primeiras pesquisas foram desenvolvidas por Cleo Fante (2000-2003), Lopes Neto e Saavedra (2003), através da ONG Abrapia. Precussora nos estudos sobre o tema no Brasil, Cleo Fante (2005) realizou na região de São José do Rio Preto - interior paulista, no período de 2000-2003 uma pesquisa com um grupo de dois mil estudantes de 5ª a 8ª série em escolas públicas e privadas. A pesquisa revelou que 49% dos estudantes estavam envolvidos em casos de bullying. Desses, 22% eram vítimas, 15% agressores e 12% vítimas agressoras. Outra pesquisa pioneira realizada pela Associação Brasileira Multiprofissional de proteção á Infância e á Adolescente (ABRAPIA), em 2002 no município do Rio de Janeiro, abrangendo um total de 5.875 alunos revelou que 40,5% deles estavam envolvidos em casos de bullying. Desses, 17% eram vítimas, 13% agressores e 11% espectadores. (Lopes Neto e Saavedra, 2003). Contudo, naquele momento ainda não havia sido desenvolvido estudos ou pesquisas que demonstrassem a proporção dos casos de bullying em nível nacional que possibilitassem inclusive estudos comparativos entre as regiões geográficas do país. Somente em 2009 uma pesquisa em nível nacional intitulada Bullying no Ambiente Escolar realizada pela Plan Brasil (2010) permitiu conhecer as ocorrências do fenômeno dos maus-tratos nas relações entre os alunos nas

escolas das cinco regiões do país. Para realização da pesquisa foram definidas cinco escolas de cada uma das cinco regiões geográficas do país, sendo que no total a pesquisa alcançou 5.168 alunos que responderam os questionários sobre o tema. Os dados coletados indicam que 70% dos alunos pesquisados já presenciaram cenas de agressões entre colegas no ano letivo de realização da pesquisa; enquanto 30% já foram vítimas no mínimo de uma situação violenta no mesmo período. Nesse contexto, o bullying foi praticado e sofrido por 10% do total de alunos pesquisados, sendo mais comum a sua ocorrência nas regiões Sudeste e Centro-oeste do País. Outra pesquisa de abrangência nacional intitulada Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de 2009 realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2009), em parceria com o Ministério da Saúde, realizada em 2009 coletou dados significativos junto aos estudantes do 9º ano (8ª série) do ensino fundamental nos Municípios das Capitais Brasileiras e no Distrito Federal. Os dados levantados indicam que 69,2% dos alunos disseram não ter sofrido bullying. O percentual dos que foram vítimas deste tipo de violência, raramente ou eventualmente, foi de 25,4%; e a proporção dos que afirmaram ter sido vítima de bullying na maior parte das vezes ou sempre foi de 5,4%. A pesquisa permite identificar em quais escolas das capitais brasileiras, a pratica do bullying é mais comum. São elas: 1º. Brasília (Distrito Federal): 35,6% dos estudantes já sofreram bullying 2º. Belo Horizonte (Minas Gerais): 35,3% dos estudantes já foram vítimas 3º. Curitiba (Paraná): 35,2% afirmam ter sido vítima 4º. Vitória (Espírito Santo): 33,3% já sofreram bullying 5º. Porto Alegre (Rio Grande do Sul): 32,6% atestam ter vivenciado o bullying 6º. João Pessoa (Paraíba): 32,2% afirmam ter sido vítimas 7º. São Paulo (São Paulo): 31,6% informam já terem sofrido o bullying 8º. Campo Grande (MS): 31,4% atestam terem vivenciado o bullying 9º. Goiânia (Goiás): 31,2% apontam terem sido vítimas 10º. Teresina (Piauí) e Rio Branco (Acre): 30,8% informam terem vivido o bullying na situação de vítimas.

Tais dados apontam que quase um terço (30,8%) dos estudantes brasileiros nas cinco regiões do país informou já ter sofrido bullying, sendo que a maioria das vítimas é do sexo masculino. O maior registro de ocorrência foi verificado em escolas privadas (35,9%), enquanto que nas escolas públicas as ocorrências atingiram 29,5% dos estudantes pesquisados. Na pesquisa por nós realizada no município de Floriano/PI os dados revelam a seguinte situação. No que diz respeito a faixa etária dos alunos das 5ª e 6ª séries, vejamos a representação gráfica a seguir: Gráfico 01 Idade dos alunos Idade dos alunos(as) 11 anos 19% 25% 12 anos 28% 28% 13 anos 14 anos Fonte: Pesquisa própria Nas escolas pesquisadas 28% dos informantes estão na faixa etária de 12 e 13 anos; seguidos de 25% com 11 anos de idade e 19% com 14 anos. Os resultados demonstram uma maior quantidade de alunos na faixa etária de 12 e 13 anos, o que já era esperado, pois, as séries pesquisadas correspondem a essas idades. No entanto aparecem alunos com 14 anos nas três escolas o que demonstra uma distorção idade/série, e que pode contribuir para maior incidência de maus tratos na escola. De acordo com Costantini (2004):

Em alguns países, pesquisas demonstram que a média de idade de maior incidência entre agressores situa-se na casa dos 13 aos 14 anos, enquanto as vítimas possuem em média 11 anos [...] ( apud MELO, 2010, p.47) Quanto ao sexo dos alunos (as) que participaram da pesquisa, esse total está representado de acordo com o gráfico a seguir: Gráfico 02 Sexo dos alunos Sexo dos alunos(as) 42% Meninos 58% Meninas Fonte: Pesquisa própria Em relação ao sexo dos informantes a maioria é do sexo masculino com percentual de 58%, sendo então 42% do sexo feminino. No que diz respeito a etnia dos informantes vejamos as informações a seguir: Gráfico 03 Etnia dos alunos Etnia dos Alunos (os) 13% 19% Branco Negro 21% 21% Pardo Mulato 26% Outros Fonte: Pesquisa própria

As informações relativas a etnia demonstra grande diversidade, sendo que 26% dos alunos (as) se consideram pardos; 21% se consideram mulatos e negros; seguidos dos 19% que se dizem brancos e 13% que se declararam de outras etnias. A respeito da questão se estão sendo vítimas de maus tratos atualmente na escola os dados revelam a seguinte situação: Gráfico 04 Sobre maus tratos na escola atualmente 7% 15% Sobre maus tratos na escola 5% 4% 69% atualmente Não, não sou maltratado Sim, 1 ou 2 vezes por mês Sim, uma (01)vez por semana Sim,várias vezes por semana Fonte: Pesquisa própria A pesquisa demonstra que 69% dos alunos (as) afirmaram não sofrer maus tratos atualmente na escola; no entanto 15% afirmaram ser vitima pelo menos 1 ou 2 vezes por mês; 7% dos participantes afirmaram ser maltratado ao menos uma vez por semana; 5% afirmaram ser maltratados várias vezes por semana e 4% disseram ser vitimas de maus tratos todos os dias. A realidade que se apresenta nas três escolas retrata a gravidade do problema, visto que um número considerável dos alunos (as) sofrem algum tipo de maus tratos, sendo que alguns com maior frequência do que outros. Em relação ao sexo das vítimas de maus tratos obtivemos as seguintes informações:

Gráfico 05 Sexo das vítimas de maus tratos Sexo das vítimas de maus tratos 34% 66% Meninos Meninas Fonte: Pesquisa própria Nas Escolas pesquisadas 66% dos meninos afirmaram ser vítimas de maus tratos; enquanto 34% das meninas indicaram sofrer maus tratos. Portanto, a grande maioria das vítimas é do sexo masculino. No que diz respeito ao sexo dos agressores obtivemos as seguintes informações: Gráfico 06 Sexo dos agressores Sexo dos agressores 16% Meninos 48% Meninas 36% Tanto meninos como meninas Fonte: Pesquisa própria Como demonstra o gráfico, a maioria dos agressores é do sexo masculino, sendo que 48% dos meninos são maltratados por outros meninos; 36% disseram ser maltratados só por meninas e 16% afirmaram ser maltratados tanto por meninos quanto por meninas.

Vitimas e agressores podem ser de ambos os sexos, no entanto as pesquisas em nível nacional mostraram que há um predomínio de agressores do sexo masculino e isso pode ser justificado, de acordo com Silva (2010), pelo fato de que os meninos são mais agressivos e usam a força física para intimidar, ameaçar. Assim esse tipo de maltrato se torna mais visível, tanto na escola como em outros ambientes. A autora enfatiza que as meninas costumam utilizar intrigas, fofocas, práticas de isolamento das colegas e costumam maltratar dentro do próprio grupo de amigas, sendo que esse tipo de maltrato por ser mais sutil, passa mais despercebido. Contudo, conforme destaca a autora, vítimas e agressores podem ser de ambos os sexos: Eles podem ser de ambos os sexos. Possuem em sua personalidade traços de desrespeito e maldade e, na maioria das vezes, essas características estão associadas a um perigoso poder liderança que, em geral, é obtido ou legitimado através da força física ou intenso assédio psicológico. (SILVA, 2010, p.43) No que concerne aos tipos de maus tratos sofridos nas escolas, os dados revelam que: Gráfico 07 Tipos de maus tratos sofridos pela vítima na escola Tipos de maus tratos sofridos pela vítima na escola 26% 16% Me batem, dão socos, pontapés e empurrões Sou ameaçado de que vão me bater 21% 11% 26% Tiram-me dinheiro ou outras coisas Xingam-me insultam-me ou riem de mim Não me deixam fazer parte do seu grupo de amigos Fonte: Pesquisa própria

Os dados revelam que a maioria dos maus tratos, cerca de 26% corresponde à prática de isolamento das vítimas e não permissão de que as mesmas façam parte de grupos de amigos, ou que participem de brincadeiras coletivas; 26% caracterizam-se pelas ameaças de agressões físicas; 21% correspondem a xingamentos, insultos ou zoação; 16% dizem respeito a agressões físicas, tais como socos e pontapés; e 11% dizem respeito ao furto de dinheiro e de outros pertences. Em relação ao local de ocorrência dos maus tratos a pesquisa demonstra que: Gráfico 08 Local de frequência dos maus tratos Local de frequência dos maus tratos 13% 19% 12% 40% Na minha turma Nos corredores ou portões da escola No pátio no horário de recreio Pelo celular 16% Em outro local Fonte: Pesquisa própria Os dados indicam que 40% dos informantes apontam a sala de aula como o local em que sofrem maus tratos; 19% indicam o pátio no horário de recreio; 16% fazem referências aos corredores ou portão da escola; 13% apontam que sofrem maus tratos pelo celular e 12% apontaram outros locais dentro da escola. Portanto, nas três escolas pesquisadas o local mais frequentemente utilizado para os maus tratos é a sala de aula, o que sugere um questionamento sobre a conduta dos professores no sentido de que ou não percebem realmente a ocorrência dos maus tratos ou fingem que não percebem.

De acordo com Fante e Pedra (2008) é necessário considerarmos que muitos professores não tem conhecimento sobre o tema, não recebem nenhum treinamento para identificação, diagnostico do problema ou capacidade de intervenção de forma adequada quando houver necessidade. Em relação aos supostos motivos dos maus tratos, a pesquisa demonstra que: Gráfico 09 Motivos dos maus tratos aos colegas Motivos dos maus tratos aos colegas 13% 13% 38% 36% Por que me sinto provocado Por brincadeira Porque acho que eles merecem Por que quero ser popular Fonte: Pesquisa própria Grande parte dos informantes, 38% disseram maltratar seus colegas por brincadeira; 36% afirmam que maltratam porque se sentem provocados; 13% apontam que realizam maus tratos porque acham que os colegas merecem e 13% afirmam que é porque querem ser popular. Grande parte das motivações relacionadas às práticas de bullying dizem respeito a diferenças existentes entre aluno(a)s, sejam elas físicas, de etnias, de traços de comportamentos... As brincadeiras caracterizadas pelos apelidos dizem respeito às características das vítimas, às diferenças em relação ao padrão físico ou de conduta adotado pelos adolescentes. Os risos e apelidos destacam traços físicos ou de comportamento considerados fora do padrão. Assim algumas são vítimas porque chupam o dedo; porque possuem uma boca grande; outros por serem gordinho(a)s (bolo fofo); outros por serem magro(a) ou alto(a) demais (girafa); por possuírem pés grandes ou considerados feios, sem as cavas (pés de facão); outros por

usarem óculos; outros por serem tímidos e retraídos (chamados de pastel, besta...); outros por possuírem cicatrizes no corpo ou no rosto, ou simplesmente por não residirem na mesma cidade onde a escola fica localizada. As provocações e os revides, na maioria das vezes ocorrem também da prática de apelidos e de zombaria, provenientes das diferenças entre aluno(a)s. Os motivos dos agressores em praticar ações de bullying são os mais variados, porém, nunca são devidamente justificáveis. Alguns estudiosos relataram que muitos dos jovens agressores são considerados pelos colegas como indivíduos mais fortes e populares, que costumam fragilizar as vítimas através da crueldade, dos maus tratos, das intimidações e das humilhações, provando que possuem mais poder em relação aos outros, além de obter prazer e diversão com suas atitudes e comportamentos. Portanto, a prática do bullying diz respeito ao conjunto de atitudes agressivas que se tornam intencionais e repetitivas sem nenhum motivo aparente, provocando sentimentos que podem sensibilizar a vítima, influenciando negativamente em seus aspectos emocionais, causando dor, angústia e sofrimento. 3- CONCLUSÃO: No presente trabalho analisamos a instituição escolar como um espaço em que se desenvolvem relações sociais que expressam o desafio da convivência com pessoas diferentes entre si. A prática do bullying expressa parte do desafio da convivência, pois qualquer ser humano pode vir a agredir dependendo das circunstâncias. A grande maioria dos agressores praticantes do bullying não são psicopatas, nem mentes doentias, são crianças normais. Daí porque a ocorrência do bullying em todas as escolas em nível mundial. As crianças e adolescentes praticantes do bullying na maioria das vezes utilizam apelidos para ressaltar as diferenças sejam elas de etnia, de características físicas, culturais ou de traços de personalidade.

Os resultados da pesquisa realizada em três escolas no município de Floriano-PI sobre a ocorrência de maus tratados repetitivos demonstram a alta ocorrência do bullying nas escolas pesquisadas e indicam que as agressões na maioria das vezes são motivadas pelas características das vítimas, consideradas feias, estranhas e diferentes. A dificuldade de aceitação da pluralidade na relação com o(a) outro(a) permeia a grande ocorrência dos casos. Faz-se necessário o desenvolvimento de programas de prevenção e combate ao bullying baseados nas práticas de diálogo, de aceitação das diferenças, de respeito às diversidades, sejam elas quais forem. REFERÊNCIAS COSTANTINI, Alessandro. 2004. Bullying: como combatê-lo? São Paulo: Itália Nova Editora. CALHAU, Lélio Braga. 2009. Bullying: o que você precisa saber. RJ, Impetus, COSTA, Larissa Silva da. 2011. Eles ficam me apelidando na escola, ficam me chamando de gorda e bolo de carne e bolo fofo BULLYING: uma das faces da violência na escola. Monografia (Bacharel em Serviço Social) Curso de Serviço Social. Centro de Ciências Sociais CCSo. Universidade Federal do Maranhão UFMA. FANTE, Cléo. 2005. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas: Verus. FANTE, Cléo. O fenômeno bullying e as suas consequências psicológicas. 2010. Disponível in: WWW.psicologia.org.br. Acesso em 08.01.2012. FANTE Cléo & José Augusto PEDRA. 2008. Bullying escolar: perguntas e respostas. Porto Alegre: Artmed. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (18 de dezembro de 2009). IBGE revela hábitos, costumes e riscos vividos pelos estudantes das capitais brasileiras. Acesso em 16 de outubro de 2011. LOPES NETO, Aramis 2005. Bullying comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de Pediatria, vol. 81, nº 5. Porto Alegre, Nov. p. 164-172. Disponível em WWW.scielo.br/pdf. Acesso em 25 de novembro de 2011.

LOPES NETO AA, SAAVEDRA LH. Diga não para o bullying programa de redução do comportamento agressivo entre estudantes. Rio de Janeiro: ABRAPIA, 2003. MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). 2000. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 17. ed., Petrópolis: Vozes. MELO, Josevaldo Araújo. 2010. Bullying na escola: como identificá-lo, comopreveni-lo, como combatê-lo. EDUPE. NETO, Aramis A. Lopes. 2005. Bullying comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de Pediatria Online. Vol. 81, nº 5 (supl.), p. 164-172, Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0021. Acesso em: 30/11/11. PLAN. Relatório final, pesquisa: 2010. Bullying Escolar no Brasil Relatório Final- São Paulo: CEATS/FIA, PEREIRA, Beatriz. Para uma escola sem violência: estudo e prevenção das práticas agressivas entre crianças. Fundação Calouste Gulbenkian. Fundação para a Ciência e Tecnologia. Ministério da Ciência e Tecnologia. Porto: Ed. Imprensa Portuguesa, 2002. SILVA, Ana Maria Beatriz Barbosa. 2010. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro: Objetiva. SILVA, Fábia Geisa Amaral. 2004. Apresentando e analisando as causas da violência escolar. Fortaleza: Ed. Blucher, TWEMLOW, Stuart. Entrevista. O bullying faz parte do nosso comportamento. Revista Veja, São Paulo, n. 730, p. 76-79, mai 2012.