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Transcrição:

O ano da morte de Ricardo Reis Addis-Abeba está em chamas, as ruas cobertas de mortos, os salteadores arrombam as casas, violam, saqueiam, degolam mulheres e crianças, enquanto as tropas de Badoglio se aproximam, Addis-Abeba está em chamas, ardiam casas, saqueadas eram as arcas e as paredes, violadas as mulheres eram postas contra os muros caídos, trespassadas de lanças as crianças eram sangue nas ruas Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia Ardiam casas, saqueadas eram As arcas e as paredes, Violadas, as mulheres eram postas Contra os muros caídos, Traspassadas de lanças, as crianças Eram sangue nas ruas... Mas onde estavam, perto da cidade, E longe do seu ruído, Os jogadores de xadrez jogavam O jogo do xadrez Preocupações sociais e empenhamento ideológico de Saramago. INTERTEXTUALIDADE Luís de Camões, Os Lusíadas o reaproveitamento do texto camoniano serve para criticar a falta de humanidade, o alheamento do ser humano perante a falta de respeito pelo outro. A partir de citações parciais ou da citação literal de versos da terceira estrofe da ode de Ricardo Reis, que se intrometem no que diz o jornal, que não fala de mulheres postas contra os muros caídos nem de crianças trespassadas de lanças, sobressai, portanto, a crítica à falta de humanidade, ao alheamento do ser humano perante a falta de respeito pelo outro. As palavras do narrador, relativas à indiferença com que vemos a carne e o osso das irmãs e das mães, que trazem à memória os versos de Camões da estrofe 59 do canto V de Os Lusíadas ( Converte-se-me a carne em terra dura; / Em penedos os ossos se fizeram ), bem como as que incitam à alienação da consciência social, e também registadas quase de seguida ao excerto acima transcrito, devem, pois, ser lidas no âmbito da ironia que o caracteriza: esta é a página, não outra, este o xadrez, e nós os jogadores, eu Ricardo Reis, tu leitor meu, ardem casas, saqueadas são as arcas e as paredes, mas quando o rei de marfim está em perigo, que importa a carne e o osso das irmãs e das mães e das crianças, se carne e osso nosso em penedo convertido, mudado em jogador, e de xadrez. Addis-Abeba quer dizer Nova Flor, o resto já foi dito. Ricardo Reis guarda os versos, fecha-os à chave, caiam cidades e povos sofram, cesse a liberdade e a vida, por nossa parte imitemos os persas desta história, se assobiámos, italianos, o Negus na Sociedade das Nações, cantarolemos, portugueses, à suave brisa, quando sairmos a porta da nossa casa, O doutor vai bem-disposto, dirá a vizinha do terceiro andar, Pudera, doentes é o que nunca falta, acrescentará a do primeiro, fez cada qual seu juízo sobre o que lhe tinha parecido e não sobre o que realmente sabia, que era nada, o doutor do segundo andar apenas ia a falar sozinho (p. 420). 32

O papel de Portugal no mundo de então não é mais o do tempo dos Descobrimentos, nada há de grandiloquente numa terra tão pouca. Por outro lado, no entanto, na linha do não pessimismo do autor, a alteração de a terra principia para a terra espera talvez possa ser entendida como uma nota de esperança num futuro a vir: o de um país livre e democrático. Ω O ano da morte de Ricardo Reis, Biblioteca Nacional de Portugal [excerto da 1. a página do romance]. INTERTEXTUALIDADE Cesário Verde, O sentimento dum ocidental a convocação de um passado glorioso e a impossibilidade de o reviver. Comprovando as potencialidades do recurso à intertextualidade neste romance, e que temos vindo a expor a propósito de outras matérias, as citações que fizemos permitem-nos convocar um outro nome da literatura portuguesa: Cesário Verde, e duas das estrofes do notável poema O sentimento dum ocidental (composto, como sabemos, por quatro partes Avé-Marias, Noite fechada, Ao gás e Horas mortas ) que, segundo Helder Macedo, se traduz na investigação final e definitiva de Cesário sobre a cidade 45. Citamos as estrofes 6 e 17, respetivamente de Avé-Marias e Noite fechada. E evoco, então, as crónicas navais: Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado! Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado! Singram soberbas naus que eu não verei jamais! Mas num recinto público e vulgar, Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras, Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras, Um épico doutrora ascende, num pilar! Tal como sucede na reapropriação de José Saramago dos versos de Camões, também Cesário convoca o épico para evocar um passado glorioso que contrasta com a decadência do presente: as soberbas naus já há muito que partiram; ele está em terra amarrado ao presente crepuscular 46. 45 Nós. Uma leitura de Cesário Verde. 2.ª ed. Lisboa: Plátano, 1975, p. 221. As citações de poemas de Cesário serão feitas a partir de O livro de Cesário Verde. 10.ª ed., revista por Cabral do Nascimento. Lisboa: Minerva, s./d. 46 Idem, p. 228. 38

2 Saramago, leitor de Camões, Cesário e Pessoa Aqui o mar acaba e a terra principia (p. 9) tanto mar, a terra tão pouca (p. 86) Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera (p. 582) As armas e os barões assinalados (p. 93) já se sabe que daquela bondade estão excluídos os vilões [o povo] e os mecânicos [homens dos ofícios], gente não herdadora de bens ao luar, logo homens não bons. Porventura nem bons nem homens, bichos como os bichos que os mordem ou roem ou infestam (p. 127) Dizer isto a um morto, que lhe pode responder, com o saber feito da experiência, que o outro lado da vida é só a morte (p. 124) LUÍS DE CAMÕES OS LUSÍADAS Eis aqui, quási cume da cume da cabeça De Europa toda, o Reino Lusitano, Onde a terra se acaba e o mar começa E onde Febo repousa no Oceano. Este quis o Céu justo que floreça Nas armas contra o torpe Mauritano, Deitando-o de si fora; e lá na ardente África estar quieto o não consente. (canto III, est. 20) As armas e os Barões assinalados Que da Ocidental praia Lusitana Por mares nunca de antes navegados Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram; (canto I, est. 1) No mar tanta tormenta e tanto dano, Tantas vezes a morte apercebida! Na terra tanta guerra, tanto engano, Tanta necessidade avorrecida! Onde pode acolher-se um fraco humano, Onde terá segura a curta vida, Que não se arme e se indigne o Céu sereno Contra um bicho da terra tão pequeno? Mas um velho, d aspeito venerando, Que ficava nas praias, entre a gente, Postos em nós os olhos, meneando Três vezes a cabeça, descontente, A voz pesada um pouco alevantando, Que nós no mar ouvimos claramente, Cum saber só d experiências feito, Tais palavras tirou do experto peito: (canto I, est. 106) (canto IV, est. 94) 84

Quando, Lídia, vier o nosso outono (p. 61) Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio (p. 61) Um homem sossegado, alguém que se sentou na margem do rio a ver passar o que o rio leva (p. 406) Alguém que se sentou na margem do rio a ver passar o que o rio leva, à espera de se ver passar a si próprio na corrente (p. 413) Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio (p. 419) mais vale saber passar silenciosamente e sem desassossegos grandes (p. 532) Lídia, a vida mais vil antes que a morte (p. 61) Aos deuses peço só que me concedam o nada lhes pedir (pp. 62 e 63) Não quieto nem inquieto meu ser calmo quero erguer alto acima e onde os homens têm prazer ou dores (pp. 71-72) Deus triste, preciso talvez porque nenhum havia como tu (p. 85) RICARDO REIS, ODES Quando, Lídia, vier o nosso outono Com o inverno que há nele, reservemos Um pensamento, não para a futura Primavera, que é de outrem, ( Quando, Lídia, vier o nosso outono ) Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos.) ( Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio ) Lídia, a vida mais vil antes que a morte, Que desconheço, quero; e as flores colho Que te entrego, votivas De um pequeno destino. ( O sono é bom pois despertamos dele ) Aos deuses peço só que me concedam O nada lhes pedir. A dita é um jugo E o ser feliz oprime Porque é um certo estado. Não quieto nem inquieto meu ser calmo Quero erguer alto acima de onde os homens Têm prazer ou dores. ( Aos deuses peço só que me concedam ) Deus triste, preciso talvez porque nenhum havia Como tu, um a mais no Panteão e no culto, Nada mais, nem mais alto nem mais puro Porque para tudo havia deuses, menos tu. ( Não a ti, Cristo, odeio ou te não quero ) 90

Anexo Ricardo Reis desce até à curva, ali pára a olhar o rio, a boca do mar, nome mais do que outros justo porque é nestas paragens que o oceano vem saciar a sua inextinguível sede, lábios sugadores que se aplicam às fontes aquáticas da terra, são imagens, metáforas, comparações que não terão lugar na rigidez duma ode, mas ocorrem em horas matinais, quando o que em nós pensa está apenas sentindo (pp. 537-538) FERNANDO PESSOA Ela canta, pobre ceifeira, [ ] Ah, canta, canta sem razão! O que em mim sente stá pensando. Derrama no meu coração A tua incerta voz ondeando! ( Ela canta, pobre ceifeira ) a estas horas vai longe, navegando para o norte, em mares onde o sal das lágrimas lusíadas é só de pescadores (p. 49) Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Segunda parte: Mar Português, X. Mar Português ) Que nau, que armada, que frota pode encontrar o caminho (p. 249) Que nau, que armada, que frota Pode encontrar o caminho A praia onde o mar insiste, Se à vista o mar é sozinho? Terceira parte: O Encoberto, III. Os Tempos Terceiro / Calma ) Ai esta terra, repetiu, e não parava de rir, Eu a julgar que tinha ido longe de mais no atrevimento quando na Mensagem chamei santo a Portugal, lá está São Portugal, e vem um príncipe da igreja com a sua arquiepiscopal autoridade, e proclama que Portugal é Cristo (p. 391) Sperança consumada, S. Portugal em ser, Ergue a luz da tua espada Para a estrada se ver! (Mensagem Primeira parte: Brasão, IV. A Coroa Nun Álvares Pereira ) Você não devia ter morrido tão novo, meu caro Fernando, foi uma pena, agora é que Portugal vai cumprir-se (p. 392) Quem te sagrou criou-te português. Do mar e nós em ti nos deu sinal. Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez. Senhor, falta cumprir-se Portugal! Segunda parte: Mar Português, I. O Infante ) por isso nos deveremos começar a preparar para o pior. Mesmo que não vamos a tempo, sempre valeu a pena, seja a alma grande ou pequena (p. 489) Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena Segunda parte: Mar Português, X. Mar Português ) 99