CO-17 EVOLUÇÃO POPULACIONAL DOS ADULTOS DO BICHADO- DA-CASTANHA, CYDIA SPLENDANA

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Transcrição:

CO-17 EVOLUÇÃO POPULACIONAL DOS ADULTOS DO BICHADO- DA-CASTANHA, CYDIA SPLENDANA HUBNER (LEPIDOPTERA, TORTICIDAE) E PREJUÍZOS OBSERVADOS NA ILHA TERCEIRA Lopes, D. J. Horta 1 ; Macedo, N. 1 ;Figueiredo, A. 1 ; Zorman, M. 2 ; Martins, J.T. 3 ; Pimentel. R. 1 ;Ventura, L.B. 1, Pombo, D.A. 4 1 Universidade dos Açores, Centro de Biotecnologia dos Açores, Departamento de Ciências Agrárias, Secção de Protecção de Plantas, 9701-851 Terra chã, e-mail: dlopes@uac.pt 2 Faculty of Agriculture, Vrbanska 30, SI-2000 Maribor, Slovenia 3 Divisão de Protecção das Culturas, Serviço de Desenvolvimento Agrário da Terceira, Vinha Brava - 9700-236 Angra do Heroísmo, e-mail: Jorge.TT.Martins@azores.gov.pt 4 Universidade da Madeira, Departamento de Biologia, Penteada, 9000-390 Funchal, Madeira, e-mail: aguin@uma.pt Resumo O bichado-da-castanha é actualmente uma das principais pragas que afecta a produção de castanhas na Ilha Terceira. Com base nos trabalhos desenvolvidos pelo Projecto INTERFRUTA II, projecto de cooperação interregional entre três regiões insulares (Açores, Madeira e Canárias), foi identificada a espécie Cydia splendana Hubner (Lepidoptera: Tortricidae) como sendo a causadora dos estragos nas castanhas. Recorrendo ao GPS e ao software ArcGis 8.0 foi possível elaborar um mapa SIG de localização na Ilha Terceira dos pomares de castanheiros e seleccionar os que iriam ser estudados. Através da monitorização desta praga, usando armadilhas Delta com feromona sexual, foi possível conhecer a sua curva de voo e definir o período de actividade dos seus adultos que se inicia no mês de Junho e termina no fim de Outubro, registando nesse mês um pico populacional que coincide com a época de início da colheita das castanhas. No ano de 2007 foi registado um pico populacional anormal no mês de Agosto que não se tinha observado em 2006. A determinação das taxas de infestação dos frutos assentou numa amostragem de 2.500 castanhas por parcela. A nível de prejuízos nos frutos, em 2006, registou-se um máximo de infestação na ordem dos 38% na freguesia da Terra Chã, exposta a Sul, a uma cota de 218m de altitude. Em 2007, houve um aumento nas taxas de infestação dos frutos registando-se um máximo de 77% de frutos infestados na zona da Terra chã. Na freguesia dos Biscoitos exposta a Norte apesar de ter-se registado a captura de dois adultos, até ao momento não foi detectado qualquer sinal de infestação dos frutos por esta praga. Palavras-chave: Bichado-da-castanha, Cydia splendana, monitorização, percentagem de infestação, curva de voo. Introdução Na Europa, o cultivo de castanheiro estende-se pela região mediterrânea, pelo centro, oeste e Arquipélagos dos Açores, Madeira e Canárias (Ventura, 2005) (cit. Fernandes, 1987). A presença do castanheiro nos Açores parece remontar o início do século XIX. Onde o castanheiro é cultivado nos Açores, entre os 100 e 200m de altitude, em locais abrigados do vento, de solo profundo e permeável (Fernandes, 1987) (cit. Ormonde, 1994). A importância económica e social desta cultura atingiu proporções significativas na Ilha Terceira. O local de maior área desta cultura foi, e ainda continua a ser, a freguesia da Terra-chã e as suas freguesias limítrofes (S. Pedro, Posto Santo, S. Mateus e S. Bartolomeu). Na parte Norte da Ilha, podemos também encontrar alguns pomares isolados, dispersos por uma vasta área (Altares, Biscoitos, Quatro Ribeiras). Nas restantes freguesias da Ilha, a cultura é residual ou inexistente (Ormonde, 1994). O bichado-da-castanha (C. splendana) é actualmente a principal praga que começa a comprometer a produção com qualidade de castanhas e a rentabilidade desta cultura na Ilha Terceira. Daí ser necessário estudar formas que contribuam para a diminuição do impacto económico desta praga, que se expressa principalmente pela acção da sua fase larvar que se desenvolve no interior do fruto, onde faz galerias à medida que se vai alimentando. O principal problema relaciona-se com a produção de um orifício na sua 95 ACTAS DO I CONGRESSO DE FRUTICULTURA E VITICULTURA

saída do fruto, para pupar no solo, o que vai depreciá-lo comercialmente, tornando-o difícil a sua venda por se tornar impróprio para consumo. Os objectivos deste estudo passaram por: (i) identificação de qual a espécie (s) presente (s) nos pomares da Ilha Terceira; (ii) conhecimento da curva de voo dos adultos de C. splendana (iii) identificação dos períodos de maior actividade dos adultos de C. splendana e (iv) avaliação dos prejuízos causados nos frutos. Material e Métodos Para a construção do mapa de localização dos pomares de castanheiros, recorreu-se à utilização do GPS (Garmin), sendo marcados neste os pontos de localização de cada pomar. Posteriormente recorreu-se ao software ArcGis 8.0 procedeu-se à introdução das referidas localizações, o que permitiu não só construir um mapa de localização espacial dos pomares de castanheiros, mas também seleccionar as parcelas a acompanhar no decorrer deste estudo (Fig. 1). Figura 1 - Mapa com a localização dos pomares de castanheiros estudados, na Ilha Terceira. Figura 2 - Armadilha Delta com feromoma sexual e base de cola, usada na monitorização do adultos de bichado-dacastanha. Inicialmente, em 2006, nos pomares de castanheiro seleccionados, com o objectivo de determinar qual das três espécies referenciadas para o castanheiro estariam presentes nas parcelas da Ilha Terceira: Cydia splendana, Pammene fasciana ou Cydia fagiglandana, foram colocadas armadilhas Delta com feromona sexual específica para a captura de cada uma das três espécies (Fig. 2), à razão de uma por cada pomar, durante quatro meses (Julho a Outubro), nos 6 pomares de castanheiros das três zonas estudadas: Terrachã, Posto Santo e Biscoitos. Outro objectivo passou pela avaliação dos prejuízos causados pelas lagartas do bichado-da-castanha nos frutos e para isso recolheram-se, quer em 2006 quer em 2007, 2.500 castanhas em cada uma das parcelas nas zonas estudadas. Posteriormente, em laboratório, estes frutos foram abertos e observado o seu interior para determinação das suas percentagens de infestação (Fig. 3). Figura 3 - Aspecto do processo de avaliação dos prejuízos nos frutos causados pelo bichado-da-castanha (C.splendana). Resultados e Discussão As armadilhas colocadas no campo com as três diferentes feromonas sexuais permitiram, para além de identificarem qual a espécie presente ou predominante, conhecer, quer os picos populacionais dos adultos quer a curva de voo dos adultos do bichado-da-castanha na Ilha Terceira, uma vez que esta era desconhecida pelos investigadores e, sobretudo, dos produtores. ACTAS DO I CONGRESSO DE FRUTICULTURA E VITICULTURA 96

De acordo com os resultados obtidos e com a colaboração dos investigadores da Universidade da Madeira (Departamento de Biologia), foi possível concluir que todos adultos capturados pertenciam apenas a uma espécie, C.splendana. Analisando as capturas dos adultos em 2006, por cada uma das subdivisões altimétricas criadas, em cada uma das três zonas estudadas (Fig. 4), verificou-se que as maiores capturas se registaram nas zonas expostas a Sul, sobressaindo de entre estas, a zona do Posto Santo (260m), com um total acima dos 100 adultos, durante os quatro meses que durou este estudo. No entanto, convém referir que esta parcela de castanheiros tem pouca intervenção em termos de práticas culturais principalmente as relativas à recolha de frutos do chão e, portanto, não se realizam quaisquer medidas culturais de limitação de populações. Nas três parcelas situadas na Terra-chã, a da zona baixa (133m), foi a que registou o maior número de capturas (83 adultos). Nas zonas altas (218m) e médias (153m), estas não foram além dos 10 adultos por armadilha. Na zona dos Biscoitos, apesar da sua elevada altimetria (192m), pela sua exposição a Norte, apenas foram capturados 2 adultos. Assim, a partir dos dados obtidos podemos concluir que não existe uma distribuição dos adultos do bichado-da-castanha de acordo com o gradiente de altitude e observou-se uma abundância dos adultos de C. splendana principalmente nas zonas expostas a Sul (Fig. 4). A partir destas capturas das armadilhas foi possível construir a curva de voo desta praga e, assim, identificar o período de presença dos adultos de C. splendana, verificando-se que estes começam a aparecer a partir de meados de Junho e as suas populações vão aumentando até meados de Outubro, altura em que se registam os níveis populacionais mais elevados (Fig. 5). Face a esta distribuição das densidades populacionais dos adultos, as armadilhas com feromonas sexuais para a monitorização ou como forma de captura em massa, deverão ser colocadas no campo logo no início de Junho e apenas devem ser retiradas no fim do mês de Outubro, altura que coincide com a época de apanha das castanhas. Com esta estratégia pode-se contribuir decisivamente para prevenir e diminuir as percentagens de infestação dos frutos causada por esta praga que na zona da Terrachã onde em 2006 ultrapassou os 40% e em 2007 os 70%. Relativamente à avaliação dos prejuízos causados pelas larvas de S splendana nas castanhas, No primeiro ano de avaliação, 2006, a percentagem de castanhas não infestadas foi em todas as zonas estudadas sempre superior à percentagem das infestadas. No entanto, já nesse ano se verificou que na zona da Terra-chã a percentagem de infestação foi mais elevada nas zonas altas e médias com 40% e 30% respectivamente (C1 e C2) relativamente à zona baixa (C5) que apenas registou uma percentagem de infestação na ordem dos 20% (Fig. 6). Por outro lado, na zona dos Biscoitos, apesar de terem sido capturados dois adultos, não foram encontradas quaisquer castanhas infestadas por C. splendana (Fig. 6). Em 2007, as percentagens de infestação das castanhas subiram imenso (Fig. 7) registando-se um máximo de infestação de 77% na zona média da Terra-chã. Nas outras duas parcelas estudadas nesta zona registaram-se infestações também elevadas da ordem dos 65% (Fig. 7). 120 5 100 Curva de vôo do Bichado da castanha em 2006 Número total de capturas de adultos 80 60 40 20 N.º de in divíd uos p or arm ad ilha 4 3 2 1 0 Fonte Faneca Quinta do Bicas de Cabo Caminho do Canada Caldeiro Quinta dos Rosário Verde Concelho Parreiras Terra Chã Biscoitos Posto Santo 0 Junho Julho Agosto Setembro Outubro Zonas Figura 4. Distribuição total das capturas de adultos de C. splendana nas três zonas estudadas na Ilha Terceira, em 2006. Figura 5. Distribuição mensal das capturas dos adultos de C. splendana, em 2006. Meses 97 ACTAS DO I CONGRESSO DE FRUTICULTURA E VITICULTURA

Infestação total 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Baixa Média Alta Baixa Alta Terra Chã Biscoitos Figura 6. Percentagem de infestação de frutos por C. splendana nas duas zonas estudadas na Ilha Terceira, em 2006. Figura 7. Percentagem de infestação de frutos por C. splendana nas duas zonas estudadas na Ilha Terceira, em 2007. Ao longo do trabalho realizado, constatou-se que C.splendana tem vindo a constituir-se como uma importante praga-chave dos castanheiros na Ilha Terceira, devido aos prejuízos que causa nos seus frutos e na depreciação económica de toda a produção terceirense. A procura de soluções no domínio das medidas de combate ao bichado da-castanha, são relativamente simples e devem seguir a aplicação de medidas de protecção cultural e biotécnica. As primeiras passam pela retirada das castanhas e ouriços do solo logo após a sua queda e antes da lagarta sair do fruto e se introduzir no solo para pupar. O segundo passo passa pela utilização de armadilhas Delta com feromonas sexuais para a captura em massa de machos, que tem a vantagem de não ser prejudicial à fauna auxiliar presente nos pomares e também contribuir para uma redução efectiva dos adultos e posterior redução das populações larvares de C. splendana na Ilha Terceira. No estudo da fauna auxiliar presente nos castanheiros, os resultados provenientes das recolhas da armadilha Malaise permitiram a construção de uma tabela com todos os espécimes capturados (Quadro 1), não tendo sido encontrado qualquer exemplar do parasitóide do bichado-da-castanha, Pristomerus vulnerator (Ichneumonidae: Cremastinae) já assinalado para os Açores (Borges et al., 2005) Quadro 1 Listagem de todas os especímenes capturadas na armadilha Malaise colocada na parcela de castanheiros, em 2007. Ordem, Familia, Género/Espécie Araneae Clubionidae Clubiona decora Blackwall Clubiona terrestris Westring Dictynidae Nigma puella (Simon) Lathys dentichelis (Simon) Dictyna (Emblyna) acoreensis (Wunderlich) Linyphiidae Entelecara schmitzi Kulczynski Microlinyphia johnsoni (Blackwall) Mimetidae Ero flammeola Simon Salticidae Macaroeris diligens (Blackwall) Synageles venator (Lucas) Tetragnathidae Metellina merianae (Scopoli) Thomisidae Xysticus nubilus Simon Coleoptera Coccinellidae Scymnus interruptus (Goeze) /Scymnus nubilis Mulsant Corylophidae Ordem, Familia, Género/Espécie Calacalles subcarinatus (Israelson) Pantomorus cervinus (Boheman) Lathridius australicus (Belon) Phalacridae Stilbus testaceus (Panzer) Hemiptera Aphididae Dysaphis plantaginea (Passerini) Cicadellidae Opsius stactogallus Fieber Eupteryx azorica Ribaut Cixiidae Cixius azomariae Remane & Asche Delphacidae Kelisia ribauti Wagner Drepanosiphidae Theriaphis trifolii (Monell) Flatidae Cyphopterum adcendens (Herr.-Schaff.) Lygaeidae Scolopostethus decoratus (Hahn) Kleidocerys ericae (Horváth) Miridae Campyloneura virgula (Herrich-Schaeffer) ACTAS DO I CONGRESSO DE FRUTICULTURA E VITICULTURA 98

Sericoderus lateralis (Gyllenhal) Silvanidae Cryptamorpha desjardinsii (Guérin-Méneville) Diplopoda Julidae Ommatoiulus moreletii (Lucas) Hemiptera Anthocoridae Brachysteles parvicornis (A. Costa) Orius (Orius) laevigatus laevigatus (Fieber) Reduviidae Empicoris rubromaculatus (Blackburn) Neuroptera Chrysopidae Chrysoperla lucasina (Lacroix) Hemerobiidae Hemerobius azoricus Tjeder? Opiliones Phalangiidae Leiobunum blackwalli Meade Coleoptera Chrysomelidae Psylliodes chrysocephus (Linnaeus)? Epitrix cucumeris Harris Cryptophagidae Cryphophagus sp.1 Curculionidae COMUNICAÇÕES ORAIS Pilophorus perplexus (Douglas & Scott) Taylorilygus apicalis (Fieber) Pentatomidae Nezara viridula (Linnaeus) Lepidoptera Noctuidae Xestia c-nigrum (Linnaeus) Psocoptera Caeciliusidae Valenzuela flavidus (Stephens) Ectopsocidae Ectopsocus briggsi McLachlan Peripsocidae Peripsocus phaeopterus (Stephens) Trichopsocidae Trichopsocus clarus (Banks) Trogiidae Cerobasis cf sp A Thysanoptera sub-ordem Terebrantia Thripidae Frankliniella occidentalis (Pergande) Heliothrips haemorrhoidalis (Bouché) Anisopilothrips venustulus (Priesner) sub-ordem Terebrantia Phlaeothripidae Apterogothrips longiceps (Hood) Agradecimentos Ao Governo dos Açores através do programa INTERREG III-B que apoiou financeiramente através do projecto INTERFRUTA II todo este trabalho de investigação. A todos os produtores de castanha envolvidos neste trabalho pela amável cedência, permissão de entrada e pela recolha de todos os seus frutos usados na determinação das taxas de infestação, ao longo de todo este trabalho. A junta de freguesia da Terra-chã na pessoa do seu presidente e na qualidade de parceiro associado do projecto INTERFRUTA II, por todas as facilidades dadas no contacto directo com os produtores e interesse demonstrado neste trabalho. Bibliografia Borges, P.A.V., Cunha, R., Gabriel, R., Martins, A.F., Silva, L. and Vieira, V.(eds.) (2005). A list of the terrestrial fauna (Mollusca and Arthropoda) and flora (Bryophyta, Pteridophyta and Spermatophyta) from the Azores. Direcção Regional do Ambiente nas Universidade dos Açores, Horta, Angra do Heroísmo e Ponta Delgada, 317 pp. Ormonde, J. B. C. (1994). Contribuição para o estudo da cultura do castanheiro (Castanea sativa Miller) nas Ilha Terceira (Açores). Relatório de estágio em Engenharia Agrícola. Departamento de Ciências Agrárias, Universidade dos Açores. Macedo, N.; Figueiredo, A.; Martins, J. T.; Pombo, D. A.; Aguiar, A. M. F. & Lopes, D. J. H. (2007). Folha Divulgativa: Castanheiro. Série pragas nº8. Projecto INTERFRUTA II. Ventura, L. F. M. B. (2005). Introdução in vitro de Vaccinion cylindraceum e Castanea sativa. Projecto final de Licenciatura em Biotecnologia. Departamento de Ciências Agrárias, Universidade dos Açores. 99 ACTAS DO I CONGRESSO DE FRUTICULTURA E VITICULTURA