ANÁLISE MORFOESTRUTURAL E DO CONDICIONAMENTO DA COMPARTIMENTAÇÃO GEOMORFOLÓGICA NA BACIA DO RIBEIRÃO CABREÚVA - SP

Documentos relacionados
INFLUÊNCIA ESTRUTURAL NA COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO NA BACIA DO RIO JUNDIUVIRA SP

ANÁLISE MORFOESTRUTURAL NA BACIA DO RIO IPANEMA, REGIÃO DE SOROCABA SP

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA MORFOESTRUTURAL NA REDE DE DRENAGEM DA BACIA DO RIO DO PEIXE SP

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA SEDIMENTAR E AMBIENTAL GEOMORFOLOGIA E FOTOGEOLOGIA FORMAS DE RELEVO

ESTUDO DAS ANOMALIAS DE DRENAGEM COMO INDICADOR DE NEOTECTÔNICA NA BACIA DO RIO DOURADINHO, MUNICÍPIO DE LAGOA DA CONFUSÃO TO.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O PERFIL LONGITUDINAL E ÍNDICE RDE DO RIBEIRÃO ARAQUÁ, MUNICÍPIO DE SÃO PEDRO E CHARQUEADA-SP

Compartimentação Geomorfológica

DISSECAÇÃO DO RELEVO NA ÁREA DE TERESINA E NAZÁRIA, PI

São Paulo FAPESP. 1 Trabalho realizado a partir de Iniciação Científica financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de

GEOTECNOLOGIAS E MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DO PEIXE, OESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO

ANALISE DA REDE DE DRENAGEM NA BACIA DO RIO MACAÉ (RJ) A PARTIR DA ABORDAGEM MORFOESTRUTURAL

MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE ARAXÁ MG, UTILIZANDO TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO ROCHA, M. B. B. 1 ROSA, R. 2

GEOGRAFIA PROF. CARLOS 1ª SÉRIE ENSINO MÉDIO

COMPARTIMENTAÇÃO MORFOLÓGICA DA BACIA DO RIO SÃO THOMÉ, MUNICÍPIOS DE ALFENAS, SERRANIA E MACHADO (MG)

MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DO PLANALTO DA IBIAPABA: ENFOQUE NAS FEIÇÕES MORFOESCULTURAIS DOS MUNICÍPIOS DE TIANGUÁ E UBAJARA CE

ANÁLISE GEOMORFOLÓGICADA BACIA DO RIBEIRÃO SÃO THOMÉ SERRANIA MG.

GEOMORFOLOGIA E USO DE GEOTECNOLOGIAS NA CARTOGRAFIA DO ALTO SERTÃO SERGIPANO

9. Domínios de Dissecação

BRASIL: RELEVO, HIDROGRAFIA E LITORAL

Geologia do Brasil. Página 1 com Prof. Giba

ANÁLISE DA DRENAGEM E DO RELEVO DA BACIA DO RIBEIRÃO SÃO THOMÉ SERRANIA MG, BORDA SUL DO RESERVATÓRIO DE FURNAS.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS DA TERRA DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA GEOMORFOLOGIA BÁSICA E ESTRUTURAL - GB 128 TEMA 1

Relevo da Bacia do Rio das Antas (GO): Revisão Bibliográfica

GEOMORFOLOGIA E NEOTECTÔNICA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO ALTO TAPEROÁ, PARAÍBA, BRASIL

COMPARTIMENTAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO LAGO VERDE, MUNICÍPIO DE LAGOA DA CONFUSÃO, TO.

Geologia e relevo. Bases geológicas e Classificação do relevo

10. Evolução Geomorfológica da Bacia do Rio Grande e evidências de capturas

PROPOSTA PRELIMINAR DE MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DA BACIA DO RIO SERIDÓ RN/PB.

MAPEAMENTO DE ÁREAS DE RETENÇÃO E EVASÃO DA SEDIMENTAÇÃO QUATERNÁRIA COM BASE NA ANÁLISE DE DESNIVELAMENTO ALTIMÉTRICO

UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO SALOBRA - SUDOESTE DE MATO GROSSO

CARACTERIZAÇÃO DA DINÂMICA DA PAISAGEM GEOMORFOLÓGICA SOBRE A PORÇÃO SUL DA BACIA DO ALTO PIABANHA DO DISTRITO SEDE DO MUNICÍPIO DE PETRÓPOLIS-RJ

TÉCNICA AUTOMÁTICA DE ELABORAÇÃO DA CARTA DE PROFUNDIDADE DE EROSÃO UTILIZANDO O SOFTWARE ARCGIS

Caracterização da Ecorregião do Planalto Central

Geografia. Estrutura Geológica do Brasil. Professor Luciano Teixeira.

CAPÍTULO 3 ÁREA DE ESTUDO

7. o ANO FUNDAMENTAL. Prof. a Andreza Xavier Prof. o Walace Vinente

O relevo e suas formas MÓDULO 12

CARACTERISTICAS MORFOMÉTRICAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO IBICUÍ CARACTERISTICAS MORFOMÉTRICAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO IBICUÍ

GEOGRAFIA - 1 o ANO MÓDULO 07 ESTRUTURA GEOLÓGICA BRASILEIRA

A análise morfométrica por meio da aplicação de índices geomórficos tem sido amplamente utilizada na literatura (COX, 1994; ETCHEBEHERE, 2000;

MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO COMO SUBSÍDIO AO PLANEJAMENTO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ/CE.

Atividade 14 Exercícios Complementares de Revisão sobre Geologia Brasileira

5.1 compartimentação geomorfológica do Hemigráben do Tacutu

ANÁLISE DA APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE HACK E DO PERFIL LONGITUDINAL NO RIO PRETO, SERRA DO ESPINHAÇO, MG

IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DOS COMPARTIMENTOS GEOMORFOLÓGICOS DA UNIDADE GEOMORFOLÓGICA DO TABULEIRO INTERIORANO DE FEIRA DE SANTANA-BA

Estrutura Geológica e o Relevo Brasileiro

MAPEAMENTO DE UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS NA BORDA NORDESTE DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO MG

45 mm. Av. Colombo, 5.790, Bloco J-12, Zona 7, Maringá, Paraná, Brasil. Fone: (44)

CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DO MÉDIO GRÁBEN DO RIO MAMANGUAPE, BORDA ORIENTAL DO ESTADO DA PARAÍBA

Geomorfometria nas Bacias Hidrográficas do Rio Samburá e Alto Curso do Rio São Francisco na Região da Serra da Canastra-MG

BRASIL: RELEVO, HIDROGRAFIA E LITORAL

MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE PORTO, PIAUÍ MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE PORTO, PIAUÍ

Conceito de Relevo. Internas ou endógenas: constroem o relevo. Externas ou exógenas: desgastam, modificam e modelam o relevo.

A INFLUÊNCIA DA MORFOESTRUTURA NA DISPOSIÇÃO DE MORROS TESTEMUNHOS: O CASO DO SETOR DE CUESTAS DE ANALÂNDIA (SP).

CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DO BAIXO GRÁBEN DO RIO MAMANGUAPE, BORDA ORIENTAL DO ESTADO DA PARAÍBA, BRASIL

UNIDADES DE RELEVO DA BACIA DO RIO PEQUENO, ANTONINA/PR: MAPEAMENTO PRELIMINAR

REFLEXOS DA ESTRUTURA GEOLÓGICA NO MODELADO DA SERRA DE SÃO PEDRO, REGIÃO DO CARIRI CEARENSE

CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA E DINÂMICA DA PAISAGEM NO MUNICÍPIO DE CAMPOS GERAIS MG

CLASSIFICAÇÃO DO RELEVO BRASILEIRO. Prof.º Elves Alves

FORMAS DO RELEVO NA PORÇÃO NOROESTE DE ANÁPOLIS-GO. Lidiane Ribeiro dos Santos 1 ; Homero Lacerda 2

ANÁLISE COMPARATIVA DE PERFIS LONGITUDINAIS DE AFLUENTES DO RIO TIBAGI (PR)

Associação Portuguesa de Geomorfólogos Departamento de Geografia - FLUP, Via Panorâmica, S/N Porto

Universidade Metodista de Angola Faculdade de Engenharia Departamento de Construção Civil

MAPA GEOMORFOLÓGICO PRELIMINAR DA PORÇÃO SUDOESTE DE ANÁPOLIS- GO EM ESCALA 1/ Frederico Fernandes de Ávila 1,3 ;Homero Lacerda 2,3 RESUMO

Indicadores morfotectônicos de um Graben cenozóico intraplaca na Provincia Borborema, Nordeste do Brasil

ANÁLISE DE LINEAMENTOS DE DRENAGEM A PARTIR DO TRATAMENTO DE BASES TOPOGRÁFICAS EM ESCALA 1: REGIÃO SERRANA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

O PAPEL DA LITO-ESTRUTURA DO CARSTE NA MORFODINÂMICA CENOZÓICA DA SERRA GERAL DE GOIÁS (GO/TO/BA): APROXIMAÇÕES INICIAIS

APLICAÇÃO DE GEOPROCESSAMENTO E DADOS SRTM NO ESTUDO GEOMORFOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE MALHADOR-SE

Revista de Geografia (Recife) V. 35, No. 4 (especial XII SINAGEO), REVISTA DE GEOGRAFIA (RECIFE)

ANÁLISE MORFOESTRUTURAL DA BACIA SEDIMENTAR DO TACUTU RR EIXO TEMÁTICO: GEOGRAFIA FÍSICA E GEOTECNOLOGIAS

MODELO EMPÍRICO DE DESENVOLVIMENTO DO RELEVO NO NORDESTE DO PLANALTO MERIDIONAL/RS.

COMPOSIÇÃO HIERARQUICA DOS CANAIS FLUVIAIS DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS AGUAPEÍ E PEIXE

O SENSORIAMENTO REMOTO NA PESQUISA GEOMORFOLÓGICA: APLICAÇÕES NO MUNICÍPIO DE ANTONINA, PARANÁ

GEOLOGIA GERAL E DO BRASIL Profº Gustavo Silva de Souza

O que é tempo geológico

AVALIAÇÃO GEOMORFOLÓGICA PARA O PLANEJAMENTO AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ALTO SOROCABUÇU, IBIÚNA, SP

ANÁLISE DOS PERFIS LONGITUDINAIS DOS RIOS SIRINHAEM, UNA E MUNDAU (PE/AL) A PARTIR DA APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE HACK

MAPEAMENTO DE UNIDADES GEOLÓGICO-GEOMORFOLÓGICAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO CURUÇU-RS 1

Orogênese (formação de montanhas): o choque entre placas tectônicas forma as cordilheiras.

A INFLUÊNCIA DOS CONTROLES ESTRUTURAIS SOBRE A MORFOGÊNESE E A SEDIMENTAÇÃO NEÓGENA NA BACIA DO RIO CARNAÚBA (RN) MUTZENBERG, D. da S.

VERIFICAÇÃO DE CONTROLE DE FRATURAS NA ORGANIZAÇÃO DA DRENAGEM DA BACIA DO RIO QUATORZE FORMAÇÃO SERRA GERAL (SW DO PARANÁ) PONTELLI, M.E.

Conceito de Relevo. Internas ou endógenas: constroem o relevo. Externas ou exógenas: desgastam, modificam e modelam o relevo.

O ZONEAMENTO AMBIENTAL URBANO E A GEOMORFOLOGIA

Quaternary and Environmental Geosciences (2009) 01(2):76-83

DISCUSSÃO SOBRE ANOMALIAS DE DRENAGEM NA SERRA DO MAR PAULISTA E REVERSO: OS CASOS DOS RIOS GUARATUBA, COTIA E CAPIVARI.

COMPARTIMENTAÇÃO MORFOLÓGICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO DO CAMBUÍ-MG, A PARTIR DE DADOS MORFOMÉTRICOS E ESTRUTURAIS

CARTA DE UNIDADES GEOAMBIENTAIS - FOLHA ITIRAPINA, ESCALA 1:

Análise da Susceptibilidade a Processos Erosivos, de Inundação e Assoreamento em Itajobi-SP a Partir do Mapeamento Geológico- Geotécnico

ESCALA GEOLÓGICA

APLICAÇÃO DO ÍNDICE DECLIVIDADE X EXTENSÃO DO CURSO (RDE) PARA AVERIGUAÇÃO DE EFEITOS DEFORMACIONAIS NEOTECTÔNICOS NA BACIA DO ALTO AIURUOCA (MG)

Análise da Simetria das Bacias de Drenagem da Região da Serra de São Pedro/SP para Identificação de Possíveis Basculamentos Tectônicos

MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE CAMPO LARGO DO PIAUÍ, PIAUÍ. MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE CAMPO LARGO DO PIAUÍ, PIAUÍ.

ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ESPINHARAS-PB

A importância dos knickpoints sua relação com a Lito-estrutura do substrato geológico na evolução da rede de drenagem na região de Três Rios, RJ

RELATÓRIO DE CAMPO - GEOMORFOLOGIA II

Morfoestruturas da Serra do Mar Paranaense

ES-BRASIL) Bricalli, Luiza Leonardi; Queiroz Neto, José Pereira

APLICAÇÃO DO ÍNDICE MORFOMÉTRICO (RELAÇÃO PROFUNDIDADE/DIAMETRO) PARA ESTUDO DE DOLINA NO BAIRRO DE CRUZ DAS ARMAS, JOÃO PESSOA, PARAÍBA, BRASIL

Transcrição:

ANÁLISE MORFOESTRUTURAL E DO CONDICIONAMENTO DA Costa, D. 1 ; Arruda, E. 2 ; 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - UFSCAR Email:daniele.dpcosta@yahoo.com.br; 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - UFSCAR Email:emersongeo@ufscar.br; RESUMO: A pesquisa apresenta a análise morfoestrutural da Bacia do Ribeirão Cabreúva, localizada em Cabreúva SP, correlacionando as propostas de compartimentação geomorfológica com a evolução tectônico-geológica regional. Utilizou-se de revisão bibliográfica e análise de dados, além da elaboração de mapas temáticos e trabalhos de campo. Constatou-se a influência de contatos litológicos e falhamentos na individualização das unidades geomorfológicas e na espacialização da rede de drenagem. PALAVRAS CHAVES: Bacia Hidrográfica; Morfoestrutura; Relevo ABSTRACT: The research presents the morphostructural analysis of the Ribeirão Cabreúva Basin, located in Cabreúva - SP, correlating the proposed geomorphological subdivision with regional geological-tectonic evolution. Was used bibliographic review and data analysis, plus the preparation of thematic maps and field work. Noted the influence of lithologic contacts and faults in the individualization of geomorphological units and the spatial distribution of the drainage network. KEYWORDS: Watershed; Morphostructure; Relief 29

INTRODUÇÃO: O trabalho integra parte das pesquisas desenvolvidas junto ao Grupo de Estudos do Quaternário, da UFSCar Sorocaba, que vem analisando a geomorfologia da região de Sorocaba. Compreende-se neste, a análise morfoestrutural da área, que serve como subsídio ao estudo da neotectônica e da morfogênese regional, levando em consideração que tal abordagem abrange feições resultantes de deformações passivas (ETCHEBEHERE, 2005), possibilitando desta forma a compreensão do acomodamento do relevo devido à ações pretéritas ocorridas naquela região. A Bacia do Ribeirão Cabreúva, situada em Cabreúva - SP, que possui uma área de 44,79 km², tem cabeceira localizada no Morro do Guaxatuba, tendo esta, forte influência da Zona de Cisalhamento Jundiuvira, o que causa um notável lineamento de seus topos e determinação do padrão da drenagem local; e na Serra do Japi, um dos acidentes geográficos mais complexos da região. Sua foz está localizada nas proximidades da Serra do Itaguá, sofrendo também grande influência dessa estrutura, e desaguando diretamente no Rio Tietê. Para se obter uma visibilidade mais ampla nos processos de formação do relevo brasileiro, se compreende que tal evento ocorreu significativamente no período de ocorrência da abertura do Atlântico Sul. Segundo Hasui (1978), em um aspecto regional da formação da Serra do Japi e adjacências se deram através dos processos tectônicos, metamórficos e magmáticos polifásicos atribuídos aos Ciclos Transamazônico e Brasiliano. Visualizando todos esses processos em uma bacia hidrográfica de pequeno porte, nota-se a influência que ações da tectônica pretérita e subatual podem impor a uma rede hidrológica e na compartimentação litológica de uma área, como os alinhamentos de escarpas e de vales fluviais, até mesmo aqueles vinculados à canais de primeira e segunda ordem, como abordado nesse trabalho. MATERIAL E MÉTODOS: Para a realização de tal pesquisa científica está sendo realizada a análise de superfícies de cimeira da bacia do Ribeirão Cabreúva, levando em conta seus processos de formação da compartimentação geomorfológica atual bem como a análise de que modo os lineamentos evidenciados no relevo e na rede de drenagem atuaram nessa compartimentação. Considerando compartimentação da área, deve-se ter conhecimento sobre a resistência das camadas rochosas, formadoras das estruturas, visando a compreensão da relação entre clima e tectônica que ocorreram e ainda ocorrem na área. Utiliza-se nesta pesquisa a abordagem sistêmica (Christofoletti, 1979) para a compreensão dos processos de entrada e saída de elementos formadores de um geossistema, e assim tendo uma visão de como os processos de intemperismo e tectônica, que se sucederam na área, influenciando sua formação. O mapeamento da área foi realizado através do software ArcGis 10.1, em que foi usada uma base Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) 27_17 da área. Utilizou-se também uma escala 1:100.000 para mapas regionais, e 1:35.000 para mapas temáticos. Oportunamente a área de estudos possibilitou uma análise da compartimentação correlacionando-a com as clássicas abordagens sobre superfícies erosivas. Deste modo, a partir dos dados obtidos, buscou-se confrontar os mapeamentos desenvolvidos, inicialmente de âmbito local, 30

como as propostas de análise geomorfológica a partir das superfícies regionais. Para tanto, foram utilizadas as propostas de De Martonne (1943), King (1956), Ab Sáber (1962), Almeida (1964) e Valadão (1998). Optou-se por se focar nas superfícies regionais atribuídas pelos autores até o Período Terciário. Superfícies relacionadas ao Quaternário serão abordadas em estudos desenvolvidos futuramente. Houve também o levantamento de dados realizado em um trabalho de campo, no qual pode-se observar feições, até então, só reconhecidas através dos mapeamentos, e assim ter maior compreensão da morfoestrutura da área. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A análise da área a partir do mapeamento, trabalhos de campo e levantamento de bibliografias já existentes permitiu a compreensão da complexidade geomorfológica da Bacia do Ribeirão Cabreúva e Serra do Japi. A área estudada apresenta forte influência, principalmente, da Zona de Cisalhamento do Jundiuvira e da Falha de Itu, ambas localizadas à sul do limite da bacia. Além destas, outras falhas também contribuem na orientação de diversos alinhamentos, como as Falhas do Piraí, do Cururu e de Cachoeira. É através das influências de tais falhamentos que fica em evidência a predominância de direcionamento de NW-SE e SW-NE dos alinhamentos de escarpas e de canais de drenagem, como observado no mapa de Lineamentos Regionais. Pela influência da Zona de Cisalhamento Jundiuvira e a Falha de Itu se deu o encontro dos gnaisses e migmatitos do Complexo Amparo com os metassedimentos do Grupo São Roque, conjuntos que tem sua evolução tectônico-metamórfica totalmente distintas (Neves, 2005). Já para a análise hipsométrica (Mapa 1), os maiores valores estão nas áreas onde se localizam as estruturas morfológicas, sendo a variação altimétrica entre 600 a 640 metros nos vales dos rios, e passando de 880 metros nas áreas mais elevadas, mais especificamente até 1.200 metros na Serra do Japi. Igualmente se dispõem os dados de declividade, que também chegam à valores elevados consequentemente associados à escarpa, porém observa-se que ainda próxima à localização dos vales existem pontos de elevação que variam de 30% a 43% de declividade, o que evidencia a presença de interflúvios proeminentes na extensão de toda a bacia, e certamente marcados pela dissecação do sistema fluvial sobre material de baixa resistência comparando-se com o entorno quartzitico. A Serra do Japi, estrutura de maior destaque e complexidade da área, tem sua formação composta, além de material quartzitico, por rochas metamórficas, sendo essas constituídas por metassedimentos. As rochas mais antigas encontradas na estrutura foram ectinitos e migmatitos, de idade pré-brasiliana, relacionados à parte do Complexo Amparo (Hasui, 1978). Já o Morro do Guaxatuba, situado na parte sul do limite da Bacia do Ribeirão Cabreúva possui características litológicas próprias do Grupo São Roque, predominando os metassedimentos. Em análise ao mapa de rede de drenagem observa-se a presença de, além dos evidentes alinhamentos, anomalias caracterizadas como inflexões e desvios semicirculares, localizadas especificamente na parte central e ao norte dos limites da bacia, que podem corresponder tanto à influências das próprias falhas quanto de reajustes causados pela tectônica ou sedimentação ocorrida na área. Tais hipóteses continuam sob discussão. A rede de drenagem do Ribeirão Cabreúva tem seu escoamento diretamente no Rio Tietê. Outra classificação do padrão da drenagem local é seu aspecto dendrítico, por possuir 31

confluência em ângulos retos, constituindo anomalias que se devem atribuir, em geral, aos fenômenos tectônicos (Christofoletti, 1980). A área de alta bacia é caracterizada pela presença das escarpas da Serra do Japi e a de Guaxatuba. Devido aos diferentes processos erosivos compreendidos na extensão na bacia, verifica-se a capacidade de divisão da compartimentação geomorfológica da área, havendo o encontro de materiais quartizicos e metassedimentos, de diferentes resistências. Percebe-se assim, as variações de capacidade erosivas em cada uma das superfícies, sendo a Serra do Japi a mais preservada, de um segmento de superfície de erosão ainda da idade eo-terciária (Hasui, 1978 aput Almeida, 1964). Conclui-se diante de vários aspectos encontrados na área, que as evoluções tectônico-morfológicas locais, em todos os âmbitos, correspondem diretamente para a caracterização morfoestrutural que a bacia possui, exemplificando assim o caráter de sistema e seus fluxos, dinamizando assim o sistema geomorfológico. Mapa de Lineamentos da Bacia do Ribeirão Cabreúva - Cabreúva - SP. Imagem 1 - Mapa de Lineamentos da Bacia do Ribeirão Cabreúva - Cabreúva - SP. (COSTA, D.P,2014) 32

Mapa Hipsométrico da Bacia do Ribeirão Cabreúva - Cabreúva - SP Imagem 2 - Mapa Hipsométrico da Bacia do Ribeirão Cabreúva - Cabreúva - SP (COSTA,D.P, 2014) CONSIDERAÇÕES FINAIS: Analisando a morfoestrutura de uma área torna-se essencial a correlação dos fenômenos litológicos e sedimentares ali existentes. Na própria Bacia do Ribeirão Cabreúva há a exemplificação com três grandes estruturas e seus diferentes processos de sedimentação, devido o contato de tipos de litologias distintas, ainda que com lineamentos evidenciando uma mesma influência de direção, colocando a morfoestrutura como elemento chave na análise da compartimentação local. Através da compreensão das influências que as áreas de falhamentos podem ter, condicionando tanto o relevo quanto a drenagem, pode-se exemplificar o funcionamento de todo um sistema geomorfológico. 33

Considerou-se que os mapas produzidos constituem importante função para tal análise, e associados ao trabalho de campo permitiram o entendimento dos aspectos que consistem na estruturação do relevo regional. Certamente, novos trabalhos estão sendo desenvolvidos a fim de complementar o histórico de evolução geomorfológica da área. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: AB SABER, A. N. Compartimentação topográfica e domínios de sedimentação Pós- Cretácios do Brasil. 1962. AB SABER, Aziz Nacib. Participação das depressões periféricas aplainadas na compartimentação do Planalto brasileiro. Geomorfologia, São Paulo. n. 28, p. 1-38. 1972. ALMEIDA, F. F. M. Os fundamentos geológicos do relevo paulista. Boletim do Instituto de Geografia e Geolologia, São Paulo. n. 41, 1964. CHRISTOFOLETTI, A. Análise de Sistemas em Geografia. Editora Hucitec. Editora da Universidade de São Paulo, USP, São Paulo. 1979. DE MARTONNE, E. Problemas morfológicos do Brasil Tropical Atlântico. Revista brasileira de Geografia, São Paulo. v. 5, n. 4, p. 532-550. 1943. ETCHEBEHERE, M.L.C. Análise Morfoestrutural Aplicada no Vale do Rio Peixe (SP): Uma contribuição ao estudo da neotectônica e morfogênese do Planalto Ocidental Paulista. Revista Universidade Guarulhos. Geociências, (X)- 6: 45-62; 2005. HASUI, Y.; SOARES, A.A.T.L.; CSORDAS, S.M. Geologia e Tectônica da Serra do Japi. Boletim IG. Instituto de Geociências, USP, São Paulo. V, 9:17, 1978. KING, L. C. A Geomorfologia do Brasil Oriental. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro. v. 18, n. 2, p. 147-266. 1956. NEVES, M. A. Análise integrada aplicada à exploração de água subterrânea na Bacia do Rio Jundiaí (SP). Instituto de Geociências e Ciências Exatas, UNESP- Rio Claro. 2005. NEVES, M. A. Evolução Cenozóica da Região de Jundiaí (SP). Instituto de Geociências e Ciências Exatas, UNESP- Rio Claro. 1999. 34

VALADÃO, R.C. Evolução de Longo- Termo do Relevo do Brasil Oriental (Desnudação, Superfícies de Aplanamento e Soerguimentos Crustais). Câmara de Ensino, Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Federal da Bahia, Salvador- BA; 1998. 35