Aterros de resíduos sólidos urbanos Introdução A disposição final ambientalmente adequada é prevista na Lei nº 12.305/2010 também conhecida como Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Desde 1998, com a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605), a disposição de resíduos sólidos em lixões é proibida em todo território nacional. Embora a disposição final seja apenas a última prioridade na gestão e no gerenciamento de resíduos sólidos, a PNRS traz como opção ambientalmente adequada a disposição em aterros sanitários, influenciando, também, a adaptação de lixões em aterros controlados e, posteriormente, em aterros sanitários. Ao final desta aula, você será capaz de: identificar os tipos de aterros e conceitos principais, analisando suas características físicas; esboçar a construção e operação de um aterro sanitário, detectando as práticas necessárias para garantir o tratamento final adequado dos resíduos. Conceitos principais e tipos de aterros Os aterros sanitários são definidos, segundo a NBR 8419 (ABNT, 1992), como uma técnica de [...] disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se necessário.(p. 1, grifos nossos). - 1 -
Figura 1 - Aterro sanitário em Lachengraben (Alemanha) Fonte: Bildagentur Zoonar GmbH / Shutterstock Em contrapartida, locais onde não há cuidados na disposição dos resíduos são denominados de lixões. São áreas em que o resíduo é depositado e enterrado sem qualquer forma de monitoramento, seja da água, do solo ou do ar (Figura 2). - 2 -
Figura 2 - Lixão Fonte: Dalibor Danilovic / Shutterstock O monitoramento e controle em aterros sanitários urbanos são previstos na NBR 13896 (ABNT, 1997), sobre aterros de resíduos não perigosos critérios para projeto, implantação e operação. Nessa norma, estão previstas orientações para a impermeabilização do solo e o monitoramento de gases e água subterrânea. A impermeabilização do solo (Figura 3) é realizada com a colocação de camadas de materiais artificiais ou naturais, para impedir ou reduzir substancialmente a infiltração no solo dos líquidos percolados, através da massa de resíduos (ABNT, 1997, p. 1). - 3 -
Figura 3 - Impermeabilização do solo em aterros sanitários Fonte: MikeDotta / Shutterstock O monitoramento dos gases é uma operação realizada através da medição da concentração e vazão dos gases gerados no aterro (ABNT, 1997, p. 2) (Figura 4), enquanto o monitoramento de águas subterrâneas é realizada a partir de uma rede de poços que tem por finalidade permitir a avaliação de possíveis influências do líquido percolado na qualidade das águas do lençol freático, conforme a NBR 13895 (ABNT, 1997, p. 2). - 4 -
Figura 4 - Monitoramento de gases Fonte: CW design luncher / Shutterstock Os aterros controlados são aqueles que apresentam alguma falha ou falta em comparação a aterros sanitários, como impermeabilização do solo, ausência de coleta ou tratamento do chorume e a não coleta dos gases produzidos. FIQUE ATENTO O chorume, também denominado de líquido percolado ou lixiviado, é um poluente de coloração escura e forte odor, resultado de reações biológicas, químicas e físicas da decomposição da matéria orgânica do resíduo. Quando não há impermeabilização do solo a água das chuvas lava os compostos orgânicos presentes nos lixões e aterros controlados, levando-os para o meio ambiente. - 5 -
Construção e operação de aterros O primeiro procedimento a ser realizado para a construção de aterros sanitários urbanos está descrito na NBR 8419 (ABNT, 1992), intitulada Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. Além disso, a legislação ambiental brasileira exige um diagnóstico de todos os resíduos antes que sejam destinados à disposição final. Este diagnóstico é denominado Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos. gravimetria dos resíduos, geralmente contidos no Plano O primeiro procedimento a ser realizado na implantação do aterro é a impermeabilização do solo. Essa impermeabilização se dá com a aplicação de geomembranas de polietileno de alta densidade, de 2,0 mm de espessura. Outros materiais que atendam a não infiltração no solo podem ser utilizados para manter a qualidade do solo e das águas subterrâneas. Figura 5 - Preparação do solo Fonte: ImagineStock / Shutterstock Na operação dos aterros, os resíduos são compactados por equipamentos especiais, formando células de formato prismático, cobertas com material terroso. Este procedimento tem, como finalidade, estabilizar o resíduo e evitar a infiltração das águas de chuva, a proliferação de vetores e as emissões de gases. SAIBA MAIS Você quer saber mais como funcionam os aterros sanitários? Assista aos vídeos Como funciona um aterro sanitário e Aterro sanitário. - 6 -
A localização dos aterros também deve atender critérios técnicos específicos, principalmente tendo em vista a proteção ambiental e da saúde pública. Para tanto, os aterros devem ser localizados fora da área de mananciais; distantes e isolados no mínimo a 500 metros de qualquer habitação; apresentar aspectos geológicos apropriados, como relevo pouco acidentado e áreas muito permeáveis (para mais detalhes, consulte o artigo de SILVA, 1995); e ter todas as licenças ambientais emitidas pelos órgãos pertinentes. Embora seja uma técnica relativamente simples, os aterros sanitários exigem cuidados especiais e procedimentos específicos que devem ser seguidos desde a escolha da área até a sua operação e monitoramento. FIQUE ATENTO Outro aspecto importante na operação de aterros, é a drenagem dos líquidos percolados (chorume), para que ele possa ser coletado e encaminhado para uma estação de tratamento. Essa coleta e transporte é realizada por drenos, geralmente canaletas preenchidas com pedra brita. Outra drenagem que ocorre é a de biogás gerado (a decomposição da matéria orgânica gera diversos gases, sendo o metano, o principal). A remoção desse gás é feita por dutos verticais, situados da base ao topo das células. Após a remoção, o metano é queimado, eliminando para a atmosfera dióxido de carbono. EXEMPLO Em 2011, uma comitiva do Governo de Santa Catarina visitou a Usina da Doosan, um aterro sanitário localizado em Seul, na Coreia do Sul. Esse aterro se transformou em uma lucrativa área que, além de maximizar a recuperação do aterro, ainda gera energia para 24 milhões de pessoas, a partir da combustão de seus gases. Confira mais em no artigo Comitiva conhece novo modelo de aterro sanitário na Coreia do Sul. Recomenda-se que a construção de aterros seja realizada com uma previsão de vida útil mínima de 10 anos. O seu monitoramento deve prolongar-se, no mínimo, por mais 10 anos após o seu encerramento. Fechamento As legislações ambientais brasileiras tornaram a disposição em aterros sanitários como a ambientalmente adequada. Embora a disposição seja apenas a última prioridade da PNRS, a adaptação de lixões em aterros sanitários são obras necessárias e grandes desafios para toda a sociedade. Como vimos nesse tema, as obras de implantação de aterros devem atentar para vários fatores a fim de gerar o menor impacto possível no meio em que será inserido. Nesta aula, você teve a oportunidade de: verificar e diferenciar os tipos de aterros e conceitos principais; - 7 -
identificar os processos de construção e operação de um aterro sanitário para assegurar a destinação ambientalmente adequada dos resíduos sóidos. Referências ABNT. NBR 8419: Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. Rio de Janeiro, 1992. ABNT. NBR 13896: Aterros de resíduos não perigosos Critérios para projeto, implantação e operação. Rio de Janeiro, 1997. BRASIL. Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasília: Câmara dos Deputados. Edições Câmara, n. 81, 2012. COMITIVA conhece novo modelo de aterro sanitário na Coreia do Sul. Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável, 25 out. 2011. Disponível em: < http://www.sds.sc.gov.br/index.php /noticias/767-comitiva-conhece-novo-modelo-de-aterro-sanitario-na-coreia-do-sul>. Acesso em: 10/1/2018. SILVA, H. V. Critérios geológicos básicos para a seleção de áreas para aterros sanitários. Boletim de Geografia, v. 13, n. 1, 1995. Disponível em: < http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/bolgeogr/article/view/13495>. Acesso em: 10/1/2018. - 8 -