PROJETO PROVEDOR DE INFORMAÇÕES SOBRE O SETOR ELÉTRICO RELATÓRIO MENSAL ACOMPANHAMENTO DA CONJUNTURA: BIOELETRICIDADE & EÓLICA JULHO de 2009 Nivalde J. de Castro Guilherme de A. Dantas Vinicius Cunha Ferreira
PROJETO PROVEDOR DE INFORMAÇÕES ECONÔMICAS FINANCEIRAS DO SETOR ELÉTRICO Índice SUMÁRIO EXECUTIVO... 3 1 BIOELETRICIDADE... 3 2 ENERGIA EÓLICA... 5 Relatório Mensal de Acompanhamento da Conjuntura: Bioeletricidade e Eólica 1 Nivalde J. de Castro 2 Guilherme de A. Dantas 3 Daniel Mendonça 4 1 Participaram da elaboração deste relatório como pesquisadores Roberto Brandão, Bruna de Souza Turques, Rafhael dos Santos Resende, Diogo Chauke de Souza Magalhães, Débora de Melo Cunha e Luciano Análio Ribeiro. 2 Professor do Instituto de Economia - UFRJ e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico 3 Doutorando do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ e Pesquisador-Sênior do GESEL/IE/UFRJ. 4 Assistente de Pesquisa do GESEL-IE-UFRJ
SUMÁRIO EXECUTIVO No mês de Julho mantém-se a tendência de consolidação das energias limpas no Brasil. As empresas do setor a fim de possibilitar essa contínua expansão estão ficando cada vez mais dinâmicas. Um exemplo disso foi a mudança na estrutura de capital dessas empresas. Muitas delas estão abrindo seu capital. Ao tomarem essa postura seu intuito é crescer. Um bom exemplo de empresa do setor que tomou essa atitude é a pioneira Renova Energia do setor eólico que abriu o capital esse mês. A bioeletricidade encontra-se em um processo mais avançado nesse processo visto que suas usinas já estão estabelecidas há mais tempo. Esse reflexo de consolidação do setor foi aferido no relatório divulgado pela UNEP (United Nations Environment Programme) instituição vinculada a ONU, nesse mês. Os investimentos em energia sustentável chegaram a US$ 162 bilhões em 2009. Colocando, assim, o Brasil na posição de quinto maior investidor em energias limpas no ano passado tendo gastado US$S 7,8 bilhões desse total. Podemos confirmar essa consolidação devido aos anúncios que têm sido feitos na grande mídia quanto a investimentos no setor. No setor eólico tivemos o anúncio da construção de dois granes parques eólicos no nordeste, que tem recebido a maior parte dos investimentos em energia eólica. Um deles será na Bahia e outro no Piauí. Além disso, o Nordeste também é onde estão inscritos a maior parte dos projetos inscritos no próximo leilão de fontes renováveis que se realizará em agosto próximo. Espera-se que esses projetos movimentem uma cifra em torno de R$ 11 bilhões. Já na biomassa houve o anúncio de uma grande companhia do setor da inauguração de seu primeiro projeto. A CPFL energia também possui diversos outros projetos no setor em curso e as perspectivas são boas visto que a empresa tem planejado investir mais no setor. Esses projetos têm conseguido sucesso por meio da parceria que a CPFL faz com as usinas sucroalcoleiras. Em troca da utilização do potencial da usina para produção de energia elétrica são feitas modernizações, assim a usina ganha em rendimento e a CPFL por
meio desse acordo ganha permissão para fazer uso da energia térmica liberada na transformação da cana em seus subprodutos para geração de eletricidade. Dessa forma, a usina ganha com os novos equipamentos e a CPFL é remunerada com a comercialização da energia. Outro fator fundamental para esse sucesso é o crédito disponibilizado pelo BNDES que tem sido um grande facilitador desses projetos, pois facilita o processo de financiamento.
1 BIOELETRICIDADE Em assonância o clima de expansão do setor, em julho houve o anúncio de uma grande empresa do setor de energia quanto à inauguração do seu primeiro projeto no campo da biomassa. A CPFL energia informou que vai inaugurar na segunda quinzena de agosto seu primeiro projeto de cogeração de energia a partir de biomassa de cana de açúcar em parceria com uma usina sucroalcooleira em Pirassununga/SP. A Usina Baldin recebeu investimentos da ordem de 104 milhões e terá uma capacidade instalada de 45 MW. Assim, a usina alcançará um excedente de 30 MW que poderá ser comercializado. Essa diferença entre a capacidade e o montante comercializado representa a parcela que será consumida pela própria usina para seu funcionamento. Inicialmente, a Usina não vai trabalhar com sua capacidade máxima, a expectativa é de que a usina entre em operação com uma produção entre 14 e 15 MW e em 2014 atinja 26 MW. A expectativa de produção difere da capacidade instalada devido à disponibilidade de cana para esse projeto. Marco Antônio Siqueira, diretor de comercialização e planejamento da CPFL explica a razão dessa diferença entre a capacidade instalada e a expectativa de produção. "Embora a capacidade instalada seja maior, a cogeração depende da quantidade de cana disponível pela Baldin, que também vai crescer gradualmente", explica. O executivo disse que a energia da usina ainda não foi vendida. "Estamos estudando se vamos vender no leilão de energias alternativas que será realizado em agosto ou se iremos vender no mercado livre", diz. A empresa também está investindo em outras usinas no cogeração. No Rio Grande do Norte, a CPFL é parceira da Usina Baia Formosa, em um projeto que deve produzir 40 MW, com 28 MW excedentes. No projeto, estão sendo investidos R$ 120 milhões, de acordo com Siqueira, com o início programado para maio de 2011. A CPFL possui outros projetos no interior paulista como as três usinas do grupo Usina da Pedra. Com investimentos de R$ 360 milhões, a CPFL irá construir as instalações para cogeração de 145 MW a partir da biomassa da cana nas usinas da Pedra, Buriti e Ipê. Deste total, o excedente esperado para comercialização é de 85 MW. As usinas Buriti e Ipê entrarão em operação em junho de 2011 e a usina da Pedra deve entrar em junho de 2012.
"Hoje já temos pelo menos 200 MW de capacidade instalada. A expectativa é elevarmos esta capacidade para 720 MW até 2014", diz o executivo. Segundo ele, novas parcerias com usinas já estão sendo analisadas. Estas parcerias são estruturadas a partir de investimentos da CPFL na modernização de usinas já existentes para alavancar a produção de energia produzida da queima do bagaço. Geralmente, elas precisam de novas caldeiras e de mais eficiência na produção. O acordo é feito com a CPFL investindo na troca das caldeiras, construção de casa de força, conexão e subestações. Dessa forma, ambas as partes ganham com o acordo. A remuneração da CPFL é realizada por meio da comercialização do excedente de energia produzida pelas usinas. Todos os acordos fechados até agora tiveram apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo o diretor, nos projetos existentes, cerca de 25% a 30% do capital investido foi próprio e entre 70% e 75% veio do banco. Logo, percebe-se que os incentivos governamentais dados por meio do BNDES têm sido fundamentais para o crescimento do setor. Seguindo a tendência de estabelecimento do setor da bioeletricidade entrou em operação comercial oficialmente a Usina Cocal Comércio e Indústria Canaã Açúcar e Álcool. Com a autorização da Aneel serão produzidos 160MW por essa unidade que serão disponibilizados ao SEB.
2 ENERGIA EÓLICA O Leilão de Fontes Alternativas e o Leilão de Energia de Reserva agendados para o mês de Agosto permite que se vislumbre perspectivas para a energia eólica. Espera-se que a fonte eólica tenha papel de destaque dentre as fontes de energia alternativas. O Nordeste é forte candidato a receber a maior parte dos investimentos. No último leilão 90% dos investimentos foram direcionados para essa região e no próximo leilão 78% dos projetos inscritos serão realizados no nordeste. Isso se deve ao grande potencial eólico dessa região brasileira que ainda não foi completamente aproveitado. Estima-se que os investimentos no parque eólico nordestino possam alcançar algo em torno de 11 bilhões. Estão sendo feitos diversos anúncios de investimentos. A francesa Alstom e a brasileira Desenvix, do grupo Engevix, que anunciaram na sexta-feira assinatura de contrato para construir um parque eólico na Bahia, orçado em R$ 400 milhões. Batizado de Brotas, o complexo terá três usinas que somarão 90 MW. Em assonância com esse movimento de expansão o diretor da Usina Eólica Pedra do Sal, em Parnaíba (PI), em operação desde o início de 2009, pretende expandir a sua produção. Até o final do ano, a Tractebel, controladora da usina, pretende ampliar o parque gerador para produzir uma média 30 MW e até 2012, a usina pretende chegar a 100 MW, pela capacidade dos ventos. Mesmo com a projeção otimista, o preço que é oferecido pela energia ainda é considerado muito baixo pelos agentes do setor, apesar de ser bastante superior ao que é praticado nas usinas hidrelétricas, por exemplo. No leilão de dezembro, o preço médio ficou em R$ 148,39 por MWh e a expectativa para agosto é de algo entre R$ 152 e R$ 155 por MWh. A justificativa para o preço mais alto da energia eólica está no custo da geração, também muito maior. O custo do investimento de 1 KW instalado de geração eólica se situa R$ 4.000 e R$ 5.000 mil. Se considerada essa equação, o leilão de agosto geraria a necessidade de um aporte total de R$ 12 bilhões a R$ 15 bilhões.
Para tornar a energia mais barata e, consequentemente, mais competitiva em relação às demais fontes, os agentes do setor defendem a desoneração sobre a produção local dos equipamentos. Uma proposta foi entregue em outubro para os ministérios da Fazenda e de Minas e Energia, porém ainda não houve resposta.