Proposta de uma Metodologia Via Dados Geológico-Geotécnicos para Reduzir a Instabilidade de Encostas Naturais.

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Transcrição:

Proposta de uma Metodologia Via Dados Geológico-Geotécnicos para Reduzir a Instabilidade de Encostas Naturais. Paola Cristina Alves, Othavio Afonso Marchi, Maria Lúcia Calijuri. Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais. RESUMO: O presente trabalho descreve e discute a proposição de uma metodologia específica para área urbana do município de Ponte Nova, MG, com vistas a minimizar a instabilidade das encostas de elevado risco geológico a partir da análise da estabilidade dos taludes, da identificação de seus mecanismos de ruptura e das características geológicas e geotécnicas. Foi realizado um levantamento sistemático de campo, a coleta de amostras de solos, e ensaios de laboratório para caracterização e determinação dos parâmetros de resistência. De posse desses dados fez-se a análise computacional e a proposição de alternativas com vistas a estabilização do talude. PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de Encostas Naturais, Ensaios de Laboratório, Contenção. 1 INTRODUÇÃO A acelerada expansão dos centros urbanos traz consigo vários problemas. A ocupação desordenada em encostas é uma das mais freqüentes questões enfrentadas pela maioria das cidades brasileiras. As massas de solo que constituem encostas naturais tendem a descer para atingir um nível de base. Os coeficientes de segurança de encostas naturais estão, geralmente, próximos de 1 (Massad 2003) e, portanto, uma pequena intervenção do homem ou uma chuva atípica, pode desencadear um processo de desestabilização da encosta. A legislação brasileira fixou normas para o uso e ocupação racionais do solo, em decorrência dos grandes prejuízos econômicos e sociais causados pelos freqüentes casos de escorregamentos em regiões urbanizadas. Assim, é de extrema importância, um levantamento detalhado das variáveis que regem a estabilidade de encostas naturais, indicando suas restrições e potencialidades para o estabelecimento das limitações legais e a apresentação de planos e projetos de intervenção, de caráter preventivo ou corretivo, por meio de medidas estruturais ou nãoestruturais. Os métodos de análise de estabilidade estão disponíveis em softwares diversos, executáveis em microcomputadores, facilitando sua difusão e utilização. Apesar da importância da análise de estabilidade, deve-se sempre ter em mente que a qualidade e a confiabilidade dos resultados obtidos com estes métodos são diretamente dependentes dos parâmetros que alimentam os diferentes modelos de análise, reforçando a importância da caracterização geológico-geotécnica e da correta definição dos agentes, causas e geometria do escorregamento analisado (Augusto Filho e Virgili 1998). Portanto, trabalhos de campo e de laboratório são necessários para que se complete um estudo dessa natureza. 2 METODO DE ANÁLISE 2.1 Localização da Área Do ponto de vista geográfico, o distrito sede do município de Ponte Nova localiza-se a 20 25 de latitude sul e a 42 55 de longitude oeste. Situado na Zona da Mata Mineira, Ponte Nova ocupa uma área de 471,07 km². A figura 1 mostra a localização do município no contexto estadual. O relevo apresenta, segundo o IBGE, 20% de áreas planas, 60% onduladas e 20% de sua área total, montanhosa. As principais formas de erosão na região são as planares, caracterizadas pelos rastejamentos e deslizamentos de terra, evento freqüente nas vertentes cobertas por pastagem. (Pleds 2003).

2.2 Metodologia Figura 1. Localização do município de Ponte Nova. A zona urbana, com aproximadamente 29,94 km², apresenta uma característica comum às das cidades da Zona da Mata Mineira, conformada pelos seus relevos acidentados e uma ocupação desordenada. O problema de erosões na zona urbana se apresenta de forma acentuada, uma vez que a ocorrência de desabamentos e voçorocas vem sendo constantemente observados. A figura 2 mostra uma vista panorâmica de um dos taludes na área urbana de Ponte Nova, com indicação da encosta analisada. Embora vários outros tenham sido analisados, os dados apresentados neste trabalho referem-se somente ao talude em questão. Uma série de atividades que vão desde o levantamento de dados até a proposição de uma metodologia de prevenção de acidentes, foi realizada neste trabalho. Foram executadas sondagens de simples reconhecimento - SPT, com extração de amostras representativas do solo de modo a permitir a identificação das camadas do perfil investigado, e a realização de uma classificação táctil-visual dos materiais. O processo executado no campo consistiu na coleta de amostras deformadas para realização de ensaios de caracterização, e de amostras indeformadas para obtenção dos parâmetros de resistência ao cisalhamento dos solos. Para isso, extraiu-se 3 amostras deformadas e 3 indeformadas. A figura 3 representa uma das seções da área de estudo, onde estão indicadas as camadas analisadas. Figura 3. Camadas constituintes do talude. Figura 2. Vista geral do talude. Realizaram-se ensaios de caracterização do solo limites de consistência, massa específica dos sólidos e granulometria. Os parâmetros de resistência mecânica, do solo compactado com energia normal, foram obtidos em ensaios triaxiais consolidados para as três camadas de solo formadoras do talude, bem como, o possível solo utilizado para construção do aterro para estabilização do maciço. Os ensaios foram realizados no Laboratório de Geotecnia do Departamento de Engenharia Civil (LEC) da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

As análises de estabilidade foram realizadas considerando os taludes como corpos bidimensionais, utilizando-se o método do equilíbrio-limite. Assim, admitiu-se superfícies de deslizamento circulares, adotando-se o critério de ruptura de Mohr-Coulomb, em termos de tensões efetivas. A análise computacional da estabilidade foi realizada com o software SLOPE/W versão 4.21 de 1998, da GEO-SLOPE International Ltd. Os parâmetros de resistência dos solos, coesão e ângulo de atrito, foram obtidos nos ensaios triaxiais drenados, realizados sobre os corpos de prova extraídos de amostras indeformadas de cada uma das camadas de solo constituintes do talude. Ensaiaram-se as amostras indeformadas coletadas nas três camadas em condições de umidade natural, tal qual a situação em que se encontravam no campo. As envoltórias de resistência foram obtidas com aplicação de tensões de confinamento de 50kPa, 100kPa e 200kPa, e velocidade de 0,15 mm/min. O ensaio de cisalhamento direto foi utilizado para se obter a resistência residual das três amostras coletadas. Eles foram realizados em amostras saturadas, sob uma tensão normal de 50kPa, 100kPa e 200kPa, e velocidade de deformação de 0,142 mm/min. As resistências residuais obtidas representaram a situação mais crítica. Para a análise da estabilidade, utilizaram-se os parâmetros, ângulo de atrito interno e a coesão de pico, provenientes dos ensaios triaxiais. O levantamento topográfico da área foi realizado após a ruptura do talude, deste modo, elaborou-se uma recomposição da geometria da encosta a partir de uma retro-análise. Primeiramente identificou-se a cunha de ruptura nas seções elaboradas a partir do levantamento planialtimétrico, em seguida inverteu-se o sentido do movimento das mesmas, obtendo-se uma aproximação da topografia local antes da ruptura do talude. A análise da estabilidade da encosta original, ou seja, antes dos cortes (intervenções) realizados, foi elaborada com vistas a estabelecer uma comparação entre o fator de segurança da mesma e o fator de segurança do talude após o corte. Adotaram-se para a solução do problema, obras sem estrutura de contenção, que apresentam eficiência para as condições e faixas de solicitação impostas pela massa de solo e os espaços solicitados, que apesar de grande, condiz com a realidade do local. Foi projetado um retaludamento utilizando-se o método de aterro compactado assentado sobre a base do talude, de modo que este aterro pudesse agir como uma carga estabilizadora atuando como uma berma de equilíbrio na encosta. Os parâmetros de resistência adotados para a análise da estabilidade do talude, após a construção do sistema de contenção, foi o ângulo de atrito e a coesão residual, obtidos do ensaio de cisalhamento direto, para cada camada da encosta. Os dados de resistência do solo, para o aterro compactado, foram obtidos do ensaio triaxial. 3 RESULTADOS OBTIDOS 3.1 Caracterização dos Solos As tabelas 1, 2 e 3 apresentam os resultados dos ensaios de caracterização dos solos, envolvendo determinação das granulometria conjunta, limites de Atterberg, umidade natural, peso específico natural e peso específico dos sólidos. Tabela 1. Resultados das análises granulométricas dos solos A, B e C. Amostras Argila Silte Areia Pedregulho Solo A 40 20 40 - Solo B 14 19 67 - Solo C 6 21 65 8 Tabela 2. Limites de liquidez (LL) e de plasticidade (LP), índice de plasticidade (IP). Amostras LL LP IP Solo A 57 20 37 Solo B 38 20 18 Solo C 34 18 16

Tabela 3. Umidade natural (W), peso específico natural (γnat) e peso específico dos grãos (γs) dos solos A, B e C. Amostras W γnat (kn/m³) γs (kn/m³) Solo A 14,98 16,0 26,97 Solo B 19,03 14,43 27,19 Solo C 17,20 16,77 26,82 3.2 Resistência ao Cisalhamento dos Solos Os ensaios triaxiais consolidados e drenados realizados em amostras indeformadas, nas condições de corpos de prova com umidade natural, para cada um dos solos das camadas que constituem o talude visaram fornecer, a resistência ao cisalhamento dos solos, em termos de tensões efetivas. A tabela 4 apresenta os parâmetros de resistência obtidos nos ensaios triaxiais em termos das tensões efetivas. Tabela 4. Resultado dos ensaios triaxiais. Solo Ângulo de atrito φ ( ) Coesão c (kpa) A 38 25,2 B 23 27,7 C 27 41,4 A tabela 5 apresenta os parâmetros de resistência residual obtidos nos ensaios de cisalhamento direto e utilizado nos cálculos da estabilidade do talude após a realização da obra de contenção. Tabela 5. Valores de resistência residual dos ensaios de cisalhamento direto. Solo Ângulo de atrito residual φ ( ) Coesão residual c (kpa) A 8 26 B 0 27 C 9 26 3.3 Análises de Estabilidade A tabela 6 mostra os resultados das análises computacionais de estabilidade realizadas nas quatro seções pré-determinadas do talude. Tabela 6. Resultado das análises da estabilidade do talude de corte. Seções Bishop Fellenius Morgenstern- Price Seção 1 1,167 1,167 1,159 Seção 2 1,123 1,170 1,173 Seção 3 1,107 1,156 0,835 Seção 4 1,136 1,146 1,141 Vale ressaltar que as amostras de solo, nas quais foram realizados os ensaios, não se encontravam saturadas, ou seja, o fator de segurança obtido através dos parâmetros de resistência do solo é certamente minimizado quando este solo estiver submetido a maiores níveis de saturação. 3.4 Obra de Contenção No solo utilizado para a realização da obra de contenção observou-se a predominância de grãos na fração argila, 45%. Há também 17% de silte e 38% de areia. O ensaio de compactação indicou uma umidade ótima de 26,74% para um peso especifico seco máximo de 14,93 kn/m 3, que deverão ser os parâmetros de compactação da berma na execução da obra. Obtiveram-se os parâmetros de resistência ao cisalhamento do aterro compactado a partir de ensaios triaxiais drenados e não saturados realizados nos corpos de prova moldados de acordo com a umidade ótima determinada no ensaio de compactação. Os parâmetros de resistência do aterro compactado são ângulo de atrito interno ( φ ) = 21 e coesão (c) = 95,6 kpa. O aterro, a ser construído na base do talude, deve possuir uma geometria trapezoidal com as dimensões base maior = 10m, base menor = 4m e altura = 5m. Um croqui esquematizado do aterro compactado é mostrado na figura 4. Após a construção da obra de contenção, o talude será recomposto para que sua inclinação seja a menor possível, favorecendo a estabilidade da obra, apresentado na figura 5.

4 10 5 Os parâmetros de resistência utilizados foram obtidos em corpos de prova na condição saturada, ou seja, a mais crítica encontrada em campo. Outra hipótese de contenção proposta é o muro de gravidade tipo gabião-caixa mostrado na figura 6. Figura 4. Dimensões da obra de contenção. Figura 6. Muro de gravidade tipo gabião-caixa. Figura 5. Obra de contenção do talude. 3.5 Análise de Segurança da Obra de Contenção Os parâmetros de resistência utilizados na análise após a construção da contenção foram as resistências residuais obtidas do ensaio de cisalhamento direto de cada um dos três solos. A tabela 7 apresenta os resultados das análises computacionais após a construção da contenção e a obtenção do fator de segurança para cada método utilizado. As análises foram realizadas nas quatro seções pré-determinadas do talude. Tabela 7. Resultado das análises da estabilidade da contenção. Seções Bishop Fellenius Morgenstern Price Seção 1 1,329 1,268 1,328 Seção 2 1,459 1,304 1,458 Seção 3 1,317 1,361 1,384 Seção 4 1,385 1,235 1,316 Cada gabião-caixa possui 1,0 metro de altura, formando uma estrutura de 5 metros. A base da contenção possui uma largura de 2 metros, reduzindo, sucessivamente, até 0,5 metro no topo. A estrutura possui uma inclinação de 6 com a vertical de maneira a favorecer a estabilidade. A tabela 8 apresenta os resultados obtidos no software GAWACBR 2.0 da Maccaferri Gabiões do Brasil Ltda para a contenção de gabião-caixa projetada. Tabela 8. Resultados da análise da estabilidade da obra de contenção com muro de gravidade do tipo gabiãocaixa. Deslizamento Tombamento Empuxo ativo = 10,61 Momento ativo = 5,83 tf/m tfm/m Empuxo passivo Momento resistente = 0 tf/m Fator de Segurança = 1,870 = 19,74 tfm/m Fator de Segurança = 3,386 Em pesquisa realizada com prestadores de serviços de terraplanagem da região, a obra de retaludamento com o aterro compactado custaria em torno de R$ 80.000,00 ao passo que o muro de gravidade do tipo gabião-caixa custaria R$ 125,00 o metro cúbico, segundo a

Maccaferri, empresa especializada nesse tipo de obra. O muro de gabião-caixa possuirá, segundo o projeto 1.210 m³, com isso, o custo da obra chegaria a R$ 151.250,00. Verificou-se, assim uma economia de quase 50% para estabilização realizada com o retaludamento da encosta, uma vez que o espaço disponível permite a construção deste tipo de contenção. 4 CONCLUSÕES Os resultados deste trabalho permitiram concluir que: O talude encontrou-se instável na análise realizada antes da simulação da obra de contenção, apresentando fatores de segurança em torno de 1, limite do equilíbrio da massa de solo. Esta análise foi realizada a partir dos dados de resistência de pico obtidos em corpos de prova com umidade natural, como se encontravam em campo. Após o retaludamento da massa de solo com a base compactada para aumentar a estabilidade do talude, os fatores de segurança passaram a variar entre 1,2 e 1,4; calculados a partir de parâmetros de resistência residual em amostras saturadas, condição mais crítica no campo. Portanto, a obra de contenção proposta neste trabalho apresentou-se estável, com boa relação custo-benefício e facilidade de implantação em comparação com outros métodos de contenção. REFERÊNCIAS Augusto Filho, O. e Virgili, J.C. (1998) Geologia de Engenharia cap.15 Estabilidade de Taludes, São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia, 26 p. Massad, F. (2003) Obras de Terra Curso Básico de Geotecnia. São Paulo: Oficina de Textos, 170p. Pleds (2003) Plano Diretor Estratégico de Desenvolvimento Integrado e Sustentável. Prefeitura Municipal de Ponte Nova MG.