Impacto do Fenômeno El Niño na Captação de Chuva no Semi-árido do Nordeste do Brasil



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Transcrição:

Impacto do Fenômeno El Niño na Captação de Chuva no Semi-árido do Nordeste do Brasil Vicente de Paulo Rodrigues da Silva, Hiran de Melo (Professor DEE/CCT/UFPB), Antônio Heriberto de Castro Teixeira (EMBRAPA Semi-Árido), José Homero Feitosa Cavalcanti (Professor DEE/CCT/UFPB) DCA/CCT/UFPB E-mail: vicente@dca.ufpb.br) Resumo Neste estudo foram utilizados os totais anuais de precipitação pluvial de 88 postos pluviométricos do Nordeste do Brasil. Os desvios de precipitação pluvial de cada posto foram obtidos com relação á média climatológica de 82 anos de dados. As distribuições espacial dos desvios de precipitação pluvial do Nordeste do Brasil foram analisadas nos anos de ocorrência apenas dos eventos fortes do fenômeno El Niño compreendidos no período de 1911 a 1992. INTRODUÇÃO A grande variabilidade espacial e temporal da precipitação pluvial no Nordeste do Brasil é provocada pela atuação dos vários sistemas de circulação atmosférica que atuam na região. O desvio médio em relação à normal climatológica é superior a 25%. A estação chuvosa do Nordeste é geralmente curta e se concentra, na maior parte, nos meses de fevereiro a maio. Na faixa do litoral a média da precipitação anual atinge 2.000 mm, enquanto que na região do polígono das secas a média varia em torno de 800 mm, existindo, entretanto, localidades no interior do semi-árido como Cabaceiras e Olho D água, no Estado da Paraíba, com média anual em torno de 300 mm e 1000 mm, respectivamente (Rodrigues da Silva et al., 1998). As secas que assolam periodicamente o Nordeste do Brasil constituem um fenômeno de natureza devastadora que provoca grandes impactos sociais, econômicos e ambientais. A população dessa região não convive satisfatoriamente com a instabilidade climática, tornando o flagelo da seca, desde o século XIX, um grande problema de política governamental, sem nenhuma ação concreta para minimizar seus efeitos, sobretudo no que se refere à captação de água para o consumo humano e animal. As principais conseqüências das secas são relacionadas, principalmente, com a baixa produtividade na agricultura, pecuária e abastecimento d água aos centros urbanos e comunidades rurais. As anomalias positivas das Temperaturas da Superfície do Mar (TSM) no oceano Atlântico ocorridas no ano agrícola de 1982/1983 provocaram conseqüências desastrosas para agricultura e pecuária do Nordeste do Brasil. A ocorrência do fenômeno forte de 1998 foi mais severo do que o de 1983 e um dos maiores do século, onde as anomalias da TSM do oceano Pacífico superaram 6 0 C. Nos últimos anos a agricultura nordestina vem sofrendo uma profunda crise, fundamentalmente devido às periodicidade das secas que desestimulam o plantio em sistema de sequeiro. Essa situação agrava-se mais ainda com relação ao uso consultivo das águas. A persistência das secas ocorridas nas ultimas décadas, contribuíram indubitavelmente para redução dos níveis de água dos grandes reservatórios. Os pequenos e até mesmos os médio açudes foram praticamente extintos, decorrente do déficit acumulado de captação de água provocado pelas grande secas, ocorridas no passado, como por exemplo as que ocorreram apenas nesse século: 1915, 1919, 1932, 1942, 1951, 1952, 1953, 1958, 1966, 1970, 1976, 1982, 1983 e a de 1998.

As altas taxas de evaporação, que em dias de pico pode superar 10 mm, afetam substancialmente a regularização do nível d água dos reservatórios de água do Nordeste. A construção desordenada de pequenos e médios açudes a montante das grande barragens retém a água precipitada na bacia que eventualmente chegaria no reservatório principal. Com isso, a contínua redução dos níveis de água dos reservatórios que abastece a população urbana e rural tornou-se abrupta com a grande seca 1998, provocando um colapso no abastecimento de água para o consumo humano em praticamente todo Nordeste do Brasil. As grandes secas ocorridas no Nordeste são atribuídas a ocorrência dos eventos fortes do fenômeno El Niño, sendo considerados os mais fortes aqueles que ocorreram nos anos de 1983 e 1998. Nesse contexto, o presente trabalho objetiva analisar a influência dos eventos fortes do fenômeno El Niño na captação de chuva pelos reservatórios de água do Nordeste do Brasil e localizar as áreas mais afetadas pelo fenômeno dentro do polígono das secas. MATERIAL E MÉTODOS Os eventos quentes das anomalias da TSM nas regiões do Pacífico Niño 1, Niño 2 e Niño 3 são denominados de El Niño. Alguns pesquisadores observaram que o evento quente é relacionado com seca no Nordeste e chuva no sul do Brasil (Aragão, 1986; Roucou et al., 1996). A região do Pacífico Niño 3 é a que mais se relaciona com chuva e compreende uma área entre os paralelos 5 0 S - 5 0 N e meridianos de 90 0-15 0 W. Neste estudo foram utilizados os totais anuais de precipitação pluvial de 88 postos pluviométricos do Nordeste do Brasil. Os desvios de precipitação pluvial de cada posto foram obtidos com relação à média climatológica de 82 anos de dados. As distribuições espacial dos desvios de precipitação pluvial nos anos de ocorrência do fenômeno El Niño forte foram analisadas no período de 1911 a 1992. Com base nas anomalias de TSM ao longo da costa do Equador-Peru, o fenômeno El Niño pode ser classificados como: forte (>2,9 0 C), moderado (2,0 2,9 0 C) e fraco (<2,0 0 C) (Quinn et al., 1978) citado por Kane (1997). Os anos que ocorreram os eventos fortes do fenômeno El Niño, no período estudado, foram os seguintes: 1918, 1925, 1941, 1957, 1982 e 1983 (Aragão, 1986). Como os eventos classificados com fracos e moderados do fenômeno exerce pouca influência no regime de chuva do Nordeste do Brasil (Rodrigues da Silva et al., 1998), somente serão analisadas os eventos classificados como fortes. RESULTADOS E DISCUSSÃO As distribuições espacial dos desvios de precipitação pluvial do Nordeste do Brasil nos anos de ocorrência dos eventos fortes do fenômeno El Niño são apresentadas nas Figs. 1. As área hachuradas correspondem aos desvios de precipitação igual ou superior a média e as não hachuradas aos desvios inferiores à média climatológica de 82 anos de dados de chuva. Observa-se que o El Niño provoca precipitação abaixo da média na região, numa área maior na parte norte e numa área menor na parte sul do semi-árido, apresentando, inclusive, no ano de 1983 chuva acima da média no litoral sul do Estado da Bahia (Fig. 6). Independente da extensão da área, em todos os anos de ocorrência do fenômeno, a parte semi-árida da região é invariavelmente atingida. Mesmo no ano de 1925 (Fig. 2), onde o relacionamento do fenômeno com chuva na região foi menor do que nos outros anos, o El Niño provocou precipitação abaixo da média no semi-árido do Nordeste. Os fenômenos El Niño de 1918 (Fig. 1), 1941 (Fig. 3), 1957 (Fig. 4), 1992 (Fig. 5) e de 1983 (Fig. 6) foram os mais relacionados com seca; enquanto que, o El Niño de 1925 (Fig. 2) foi o que menos apresentou desvios negativos de chuva. O ano mais atingido pela seca foi 1983 e menos atingido 1925. A medida que ocorre um novo evento forte do fenômeno El Niño, aumenta significativamente a área afetada na parte semi-árida da região Nordeste do Brasil. Isto é comprovado pelo exame das

Figs. 3-6. Muito embora o evento forte do fenômeno El Niño que teve início em 1997 não tenha sido analisado nesse estudo, também reflete sua influência na grande seca de 1998. Figura 1. Desvios de precipitação pluvial no Nordeste do Brasil no ano de 1918. Figura 2. Desvios de precipitação pluvial no Nordeste do Brasil no ano de 1925. Figura 3. Desvios de precipitação pluvial no Figura 4. Desvios de precipitação pluvial no

Nordeste do Brasil no ano de 1941. Nordeste do Brasil no ano de 1957. Figura 5. Desvios de precipitação pluvial no Nordeste do Brasil no ano de 1982. Figura 6. Desvios de precipitação pluvial no Nordeste do Brasil no ano de 1983. O exame das Figs. 1-6 evidencia ainda que os eventos fortes do fenômeno El Niño ocorridos nesse século provocaram um redução acumulado na captação de chuva pelos pequenos, médios e grandes reservatórios d água do Nordeste do Brasil. E que a grande crise no abastecimento d água nos centros urbanos e rurais ocorrida no ano de 1998 foi provocado por essa acumulação do déficit de captação de água nos anos de ocorrência desse fenômeno. CONCLUSÕES Os resultados apresentados permitem concluir o seguinte: nos anos que ocorrem o evento forte do fenômeno El Niño o semi-árida da região Nordeste do Brasil apresenta, invariavelmente, precipitação pluvial abaixo da média; sendo a parte norte mais atingida do que a parte sul; a medida que ocorre um novo evento forte do fenômeno El Niño, aumenta significativamente a área afetada pela seca na parte semi-árida da região Nordeste do Brasil; a redução acumulada na captação de chuva pelos açudes do Nordeste do Brasil, durante os anos de ocorrência do fenômeno El Niño, foi o principal responsável pela crise no abastecimento de água na região durante o ano de 1998. REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS ARAGÃO, J.O.R. A general circulation model investigation of the atmospheric response to El Niño. Ph. D. Dissertation. University of Miami, Coral Gables, Florida/USA, 144p, 1986. KANE, R.P. Prediction of droughts in North-east Brazil: Role of ENSO and use of Periodicities. International Journal of Climatology, v.17, p. 65565, 1997.

ROUCOU, P., ARAGÃO, J.O.R., HARZALLAN, A, FONTAINE, B., JANICOT, S. Vertical motion changes related to north-east Brazil rainfall variability: A GCM Simulation. International Journal of Climatology, v.16, p.87991, 1996. RODRIGUES DA SILVA, V.P., MACIEL, G.F.; GUEDES, M.J.F. Influência dos eventos fortes do fenômeno El Niño na precipitação pluvial do Nordeste do Brasil. In: Congresso Brasileiro de Meteorologia, 10, e Congresso da FLISMET, 8, 1998, Brasília, Anais... Brasília: Sociedade Brasileira de Meteorologia, 1998, CD.