AVALIAÇÃO DOS RISCOS DE SECA PARA O MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA-BA ASSOCIADO À INFLUÊNCIA DO EL NIÑO NO SEMI-ÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO



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Transcrição:

18 AVALIAÇÃO DOS RISCOS DE SECA PARA O MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA-BA ASSOCIADO À INFLUÊNCIA DO EL NIÑO NO SEMI-ÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO Aline F. Diniz¹ Rosângela Leal Santos² Sandra Medeiro Santo³ Resumo O risco de seca para o município de Feira de Santana-BA é associado principalmente ao ritmo da distribuição pluviométrica, processo aleatório, que não permite uma previsão determinística com grande antecedência, mas que possui uma relativa periodicidade. O problema da seca é resultado de vários fatores externos à região, como o processo de circulação dos ventos e as correntes marinhas que se relacionam com o movimento atmosférico, impedindo a formação de chuvas em determinados locais, e de outros internos como a vegetação pouco robusta, a topografia e alta refletividade do solo. A influência do El Niño destaca-se como um fator condicionante das secas na região e o município citado é afetado, pois tem suas principais atividades ligadas à agricultura. Este trabalho tem como objetivo caracterizar a distribuição pluviométrica anual no município de Feira de Santana-BA no período de 10 anos relacionado com o fenômeno do El Niño no nordeste brasileiro. Palavas-chave: Seca. Precipitação Pluviométrica. El Nino. La Nina. Estação Climatológica. 1 Introdução O município de Feira de Santana-BA tem como localização oficial (sede do município) as coordenadas 12º 15 24 S e 37º 57 53 W, com altitude média de 230m, situando-se na bacia do Rio Paraguaçu. Está localizado a 108 km de Salvador-BA, numa zona climaticamente intermediária entre a zona úmida do litoral e a semi-aridez das áreas mais interioranas (Figura 01). Figura 1: Localização de Feira de Santana Segundo a classificação climática de Köppen (1948), é do tipo quente e úmido (Cw), já para Thorntwaite (1955), o clima do município de Feira de Santana-BA é de sub-úmido a seco. Apresenta precipitação média anual de 848 mm e temperatura média anual de 24º C, podendo, no verão, atingir médias mensais de 27ºC e, no inverno, de 21º C. O risco de seca para o município de Feira de Santana-BA está associado principalmente ao ritmo da distribuição pluviométrica, processo aleatório que não permite uma previsão determinística com grande antecedência, mas que possui uma relativa periodicidade. O problema da seca não é novo nem exclusivo do nordeste brasileiro, é resultado de vários fatores externos à região, como o processo de circulação dos ventos e as correntes marinhas, que se relacionam com o movimento atmosférico, impedindo a formação de chuvas em determinados locais, além de outros 1 Graduanda do Curso de Licenciatura e Bacharelado em Geografia pela Universidade Estadual de Feira de Santana/ Bolsista PROBIC/ Estagiária da Estação climatológica 83221. e-mail: alinefrancodiniz@ig.com.br. 2 Geógrafa Profª Doutora em Engenharia dos Transportes/ Politécnica USP/ Profª Assistente da UEFS/ Coordenadora da Estação Climatológica 83221. e-mail: rosaleal@uefs.br 3 Geógrafa Profª Mestra em Arquitetura e Urbanismo UFBA/ Profª Assistente da UEFS/ Vice-coordenadora da Estação Climatológica

19 internos como a vegetação pouco robusta, a topografia e alta refletividade do solo. A influência do fenômeno El Niño se destaca como um importante fator condicionante das secas na região, e o município de Feira de Santana-BA também é afetado, tanto nas suas características climáticasambientais como sócio-econômicas, pois tem suas principais atividades ligadas à agricultura, logo depende da precipitação pluvial. Este trabalho tem como objetivo caracterizar a distribuição pluviométrica anual no município de Feira de Santana- BA no período de 10 anos relacionado com o fenômeno do El Niño no nordeste brasileiro. 2 Metodologia 2.1 Material Série pluviométrica do município de Feira de Santana-BA dos últimos 10 anos, fornecidos pela Estação Climatológica da Universidade Estadual de Feira de Santana. Cartas básicas 1: 250 000 do município (isoietas, isotermas e hipsometria). Computador. 2.2 Métodos Nesta etapa serão utilizadas as técnicas de análise estatística da precipitação (média, média anual, variância e análise trimestral (média móvel)) e a correlação com a ocorrência do fenômeno El Niño (correlação simples). Os tratamentos estatísticos serão realizados no Software Excel disponível em todos os computadores. 3 Resultados e discussões O fenômeno do El Niño vem ocorrendo há muitos séculos, mas só a partir de 1982-1983 ele foi descoberto devido à causa da escassez da pesca na época do Natal, pelos pescadores peruanos que perceberam em alguns anos que os peixes sumiam e a água do mar ficava aquecida. O nome El Nino é de origem espanhola e significa o menino Jesus. Referese, no contexto de uso, à presença de águas quentes que todos os anos aparecem na costa norte de Peru na época do Natal. Segundo Reis (1998, p.77) O El Niño é o aquecimento da água do mar acima da média histórica. Existem dois pontos - na ilha de Taiti e na cidade de Darwin - onde há medidas de pressão atmosférica. Com as informações coletadas nesses dois pontos, verificou-se que, em anos considerados normais, quando não ocorre o El Niño, a pressão atmosférica em Taiti é maior do que a de Darwin e em anos de El Niño, a pressão atmosférica de Darwin é maior; a situação inverte-se. As palavras de Reis (1998) são esclarecedoras, quando ditas sobre a relação da pressão atmosférica nestes dois pontos, pois através deste processo pode-se acompanhar a movimentação do centro de alta pressão. Essa relação entre a pressão atmosférica de Darwin e Taiti é conhecida como Índice de Oscilação Sul (IOS). Já a análise do El Niño e o Índice de Oscilação Sul são conhecidos como ENSO (Figura 02). Nessa figura, as águas ficam mais aquecidas na parte em vermelho atingindo o Peru e também a costa brasileira, que sofrem as oscilações do El Niño. Ao longo do mapa, as cores vão se diversificando, logo a atuação do El Niño é menor.

20 Figura 02: Atuação do El Niño e o Índice de Oscilação Sul (ENSO) Fonte: http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/geografia/geoem/elnino/home.htm O evento do El Niño tem uma tendência a se alternar no período de dois a sete anos. Caracteriza-se pela elevação da temperatura na superfície do mar e da atmosfera, apresentando uma condição anormal durante um período de doze a dezoito meses. Em anos que o El Niño está presente, a evolução típica do fenômeno inicia no começo do ano, atinge sua máxima intensidade durante dezembro do mesmo ano (e janeiro do próximo ano), enfraquecendo-se na metade do segundo ano. Entretanto, com as alterações climáticas que vêm ocorrendo no planeta, tanto a periodicidade quanto a duração ou mesmo a época tem variado. O surgimento da fase positiva (El Niño) está associado ao enfraquecimento dos ventos alísios, e caracteriza-se pelo aquecimento das águas superficiais do Pacífico Tropical e pelo registro negativo do IOS (Figura 03 e 04). Na Figura 03, os ventos alísios se enfraquecem, e a cor vermelha significa a atuação do El Niño, com o aumento da temperatura do mar e consequentemente da atmosfera. Já a Figura 04 é um gráfico com a medida do Índice de Oscilação Sul (IOS) no período do El Niño e Lã Nina. Os quadrados em amarelos são os registros do El Niño e os quadrados em rosa o Lã Niña. Constatou-se em 1983 que o El Niño causou muitas chuvas no Peru, secas no Nordeste e chuvas no Sul do Brasil, secas na Austrália e na África, chuvas fortes na América do Norte e na Europa (REIS, 1998, p.77). Mas mas segundo JESUS (1991, p. 56), A excepcional intensidade do fenômeno El Niño, ocorrida nos anos 80, corresponde a um indício bastante forte a ser considerado sobre a questão das flutuações climáticas que vêm ocorrendo ultimamente. As principais anomalias climáticas ou, meramente, distúrbios climáticos, que estão vinculados às prováveis mudanças no clima global ligadas ao fenômeno El Niño são: Figura 03: Enfraquecimento da velocidade dos ventos alísios e aquecimento das águas no Pacífico Tropical. Fonte: http://ciram.epagri.rct-sc.br:8080/cms/meteoro/el_nino.jsp

21 Figura 04: Medida do Índice de Oscilação Sul (IOS) em períodos de El Niño e La Niña. Fonte: http://ciram.epagri.rct-sc.br:8080/cms/meteoro/el_nino.jsp 1. Chuvas em excesso ocorridas durante os anos 80 no Equador e Peru; 2. Secas extremamente severas que atingiram a Austrália e a Indonésia; 3. Chuvas e inundações no Sul e secas intensas no Nordeste do Brasil; 4. Aumento da intensidade de furações ao longo do pacífico Sul; 5. Maiores desvios climáticos entre os anos denominados de excepcionais; Por outro lado, o La Niña é o contrário do El Niño. A ocorrência deste último se traduz através do aumento da temperatura na água do mar, na região da costa do Pacífico, acima da média histórica. O evento La Niña ocorre quando a temperatura registra anomalias abaixo dessa média (REIS, 1998, p. 78). De acordo com Jesus (1991, p. 57), Convém ressaltar que o fenômeno La Niña só ocorre também em condições extremamente anômalas da pressão atmosférica entre o continente sul-americano e australiano. A ocorrência da La Niña está associada em nosso país com a ocorrência de muitas chuvas em toda sua porção setentrional. Já se atribuiu ao efeito La Niña a causa da intensa seca registrada em 1990 no verão do meio norteamericano, as grandes enchentes em Bangla-Desh (em 1989) e os violentos furacões ocorridos na região do Caribe e no golfo do México. Por conseguinte, percebem-se efeitos na região Nordeste devido ao El Niño, pois a mesma sofre com secas severas e a agricultura de subsistência, que é a fonte de trabalho e sustento de grande massa dos pequenos produtores rurais, é a mais afetada pela crise da seca. Esse tipo de agricultura possui baixo rendimento e os principais produtos cultivados são feijão, milho e mandioca, cultivados como agricultura de sequeiros. O município de Feira de Santana-BA se enquadra nessa produção, que é altamente vulnerável ao fenômeno da seca, pois é profundamente dependente dos períodos chuvosos. Logo, uma modificação na distribuição das chuvas ou uma redução no volume desta é o suficiente para desorganizar toda a atividade econômica, uma vez que a base produtiva da região interiorana, da qual dependem outros setores econômicos, é a atividade agrícola. Em períodos de seca, somente as áreas irrigadas têm condições de enfrentar as condições adversas do tempo. Os dados fornecidos pela Estação Climatológica (83221-INMET/DTEC), vinculada à Universidade Estadual de Feira de Santana, dispõem de uma série pluviométrica no período de 10 anos do município (Tabela 01), e que foram relacionados aos anos de ocorrência dos fenômenos do El Niño e La Niña (Tabela 03).

22 Tabela 01 - Série Pluviométrica no município de Feira de Santana-BA (10 anos) Fonte: S/R*: Os Estação dados não Climatológica foram obtidos devido 83221 à mudança INMET/UEFS/DTEC de local da Estação Climatológica. **Apenas a soma dos valores parciais (junho a dezembro) do ano de 2003. Figura 05: Histograma da distribuição média mensal de chuvas para o município de Feira de Santana (1996-2005) Distribuição de Chuvas 1996-2005 100 80 60 40 20 0 jan. fev. mar. abr. mai. jun. jul. ago. set. out. nov. dez. Distribuição de Chuvas 1996-2005 Tabela 02 Variação pluviométrica sazonal no município de Feira de Santana-BA (1996-2005) 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Verão 89,5 243,2 58,0 115,7 241,0 174,6 303,5 21,1* 358,7 184,0 Primavera 240,3 544,6 194,1 157,2 248,5 165,1 130,4 S/R** 135,8 171,6 Inverno 242,6 141,3 269,5 229,5 209,9 210,6 172,8 266,9 155,8 262,1 *Valor Outono apenas 284,2 do mês de 39,8 dezembro 66,5 de 270,6 2002, 211,1 ficaram 138,6 faltando 69,9 janeiro 173,9 e fevereiro 106,6 de 150,7 2003. Total 856,6 968,9 588,1 773,0 910,5 688,9 676,6 461,9 756,9 768,4 **S/R: Os dados não foram obtidos devido à mudança de local da Estação Climatológica. Fonte: Estação Climatológica 83221 INMET/UEFS/DTEC *Valor apenas do mês de dezembro de 2002, ficaram faltando janeiro e fevereiro de 2003. **S/R: Os dados não foram obtidos devido à mudança de local da Estação Climatológica.

23 Figura 06: Distribuição pluviométrica sazonal para o município de Feira de Santana 1200 1000 800 600 400 Outono Inverno Prim avera Verão 200 0 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Tabela 03 - Análise anual da ocorrência do fenômeno El Niño e La Niña (10 ANOS) Ano de ocorrência El Niño La Nina 1996 Não ocorreu Fraca 1997 Forte Não ocorreu 1998 Forte Fraca 1999 Não ocorreu Fraca 2000 Não ocorreu Moderado 2001 Não ocorreu Moderado 2002 Fraco Não ocorreu 2003 Fraco Não ocorreu 2004 Não ocorreu Não ocorreu 2005 Não ocorreu Não ocorreu Fonte: Ciram < http://ciram.epagri.rct-sc.br:8080/cms/meteoro/el_nino.jsp> Diante das informações da Tabela 01, notase que os anos mais secos foram 1998, 2001, 2002 e 2003 com 592,5, 619,6 e 648,0 e 444,7 mm, respectivamente, e que os mesmos sofreram a influência do fenômeno El Niño. Já os anos mais chuvosos foram 1996, 1997, 1999 e 2000 com precipitação total de 886,6, 924,0, 884,2 e 873,6 mm, devido ao La Niña (Tabela 03), pois o município de Feira de Santana- BA, quando ocorre esse fenômeno, registra índice de chuva acima da média. É importante ressaltar que, no ano de 1997 o El Niño foi classificado como forte (Tabela 03) e ocorreu no período mais chuvoso numa série de 10 anos no município de Feira de Santana-BA,

com precipitação total de 924,0. O ano citado era para ser o mais seco, mas conforme a Tabela 01, percebe-se, no primeiro período (janeiro a julho), um alto índice pluviométrico somando 821,9 mm; já no segundo período (agosto a dezembro), houve uma grande redução na quantidade de chuva com 102,1 mm devido à ocorrência do fenômeno El Niño, trazendo grandes secas para toda a região. No ano de 1998, o fenômeno também foi classificado forte, apresentando o menor índice pluviométrico com 592,5 mm em Feira de Santana-BA. O ano de 2002 foi considerado um ano seco, com precipitação total de 648,0 mm, com o primeiro período (janeiro a julho) chuvoso com 526 mm, e o segundo período (agosto a dezembro) seco com precipitação de 121,6. Nota-se uma queda da precipitação devido ao El Niño. No ano de 2003 não há valores do primeiro período (janeiro a maio) devido à mudança do local da Estação Climatológica, mas, provavelmente, os valores pluviométricos que faltam foram baixos. O fenômeno oceanográfico ocorrido nesse ano foi considerado fraco (Tabela 03). A Tabela 02 e o Gráfico Distribuição Pluviométrica Sazonal (Figura 07) foram construídos para facilitar a visualização da quantidade de chuva com as estações do ano, sendo o outono e a primavera os períodos mais secos e o inverno o período mais chuvoso. Na Tabela 03, percebe-se a intensidade dos fenômenos em evidência, que podem ser classificados em fraco, moderado e forte, numa série de 10 anos. O El Niño foi mais forte em 1997 e 1998 e fraco em 2002 e 2003; por outro lado, o La Niña foi moderado em 2000 e 2001 e fraca em 1996, 1998 e 1999, não ocorrendo, portanto, esses dois fenômenos nos anos de 2004 e 2005. 24 nordestino. Nota-se a influência do El Niño no município de Feira de Santana-BA principalmente nos anos de 1998, 2001, 2002 e 2003 que obteve a precipitação total de 592,5, 619,6, 648,0 e 444,7 mm, períodos estes que o El Niño estava ocorrendo, gerando seca e impactos na agricultura. Em relação à intensidade do El Niño, verificou-se que o fenômeno foi mais intenso em 1997-1998. Uma outra questão relevante é que, apesar da infinidade de trabalhos sobre o El Niño, ainda não conseguiram definir a periodicidade exata para o acontecimento do evento. Por outro lado o fenômeno La Niña não ocorreu em 1997, 2002, 2003, 2004 e 2005. 5 Referências ASSIS, F. N.; ARRUDA, H. V.; PERREIRA, A. R. Aplicações de Estatística à Climatologia. 2. ed. Pelotas: Editora Universitária da Universidade Federal de Pelotas, 1996. 161p. EL NIÑO. Disponível em: <http://ciram.epagri.rctsc.br:8080/cms/meteor o/el_nino.jsp>. Acesso em: 25 jan. 2007. EL NINO. Disponível em: <http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/geo grafia/geoem/elnino/home.htm>. Acesso em: 23 jan. 2007. Estação Climatológica 83221 INMET/UEFS/DTEC JESUS, E. F. R. Algumas considerações a respeito das mudanças climáticas atuais. B. de Geog. Teor., n 21, p. 45-60, 1991. REIS, R. J. O fenômeno do El Niño. C. Geog. n.8, p.75-78, 1998. 4 Considerações Finais Percebe-se que o El Niño pode realmente influenciar no clima de todo o globo, e, no Brasil, está comprovado que esse fenômeno intensifica as secas no sertão