RECURSOS CIVIS Aula 2 Temas: I) Princípios aplicáveis aos Recursos Civis Prof.: Denis Domingues Hermida A- OBJETO DE ESTUDO 1- PRINCÍPIOS: conceito e atuação na ciência do direito 2- PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AOS RECURSOS CIVIS 1- PRINCÍPIOS Conceito e atuação na ciência do direito a) Conceito: Princípios são valores, ideias centrais de um sistema que lhe dão sentido lógico, harmônico, racional, permitindo a compreensão do modo de organizar-se do sistema. São regrasmestras dentro do sistema positivo que identificam as estruturas básicas, os fundamentos e os alicerces desse sistema, iluminando a compreensão de setores normativos, imprimindolhes caráter de unidade e servindo, em virtude dessa mesma unidade, de fator de agregação das normas integrantes dos respectivos setores normativos 1
a.1) Funções dos princípios Função INTERPRETATIVA (também denominada descritiva ou informativa): atuação no processo de interpretação dos textos legais, selecionando, mediante análise de compatibilidade das possibilidades interpretativas possíveis do texto legal com os princípios (valores) aplicáveis ao tema; Função NORMATIVA SUBSIDIÁRIA: atuação como fonte normativa (elemento de produção de normas jurídicas) nas situações de ausência de outras regras jurídicas utilizáveis pelo interprete/aplicador do direito positivo frente a um determinado caso concreto; Função NORMATIVA CONCORRENTE: determinados princípios, em certas situações concretas, passam a ter um papel prevalecente sobre demais normas jurídica. Tais características incidem principalmente em relação a princípios tidos como essenciais ao sistema jurídico. 2- PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AOS RECURSOS CIVIS Regras lógicas e técnicas ORIGENS Normas Constitucionais Normas Infraconstitucionais A - PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO - Conteúdo: em regra, as decisões judiciais não se sujeitam necessariamente a um único grau de julgamento, permitindo-se a possibilidade de impugnação das referidas decisões; - Não há previsão expressa desse princípio na Constituição Federal, nem sequer na Legislação Infraconstitucional, decorrendo a sua existência dos seguintes pontos: Direito ao contraditório nos termos do art. 5, LV, da Constituição Federal (a manifestação de inconformismo e a possibilidade de impugnação da decisão judicial são necessárias ao exercício do contraditório em relação à decisão judicial) ; Organização Judiciária e distribuição de competências nos termos dos artigos 92 a 126 da Constituição Federal; Tratamento jurídico dos recursos seja na Constituição Federal, seja na Legislação Infraconstitucional. 2
- Nem sempre o reexame será realizado por outro órgão do Poder Judiciário. Ex: Lei 9099/95 art.41, 1º Lei 6830/81 art. 34 - Há situações em que a Constituição Federal fixa competência originária e única a determinados Tribunais. Ex: Constituição Federal art. 102 B PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE - Conteúdo: o cabimento e a forma do recurso não dependem da vontade da parte, mas de previsão legal expressa; - O elenco de recursos cabíveis, bem como as respectivas hipóteses de cabimento e a forma do seu exercício devem ser previstas em lei, não se esgotando, entretanto, nas hipóteses do artigo 994 do CPC, havendo outras leis infraconstitucionais que fixam recursos e seus respectivos cabimento e forma de exercício (Ex.: Lei 9.099 art. 41; Lei 6830/81 art 34; etc) C- PRINCÍPIO DA SINGULARIDADE - Princípio da Unirrecorribilidade ou da unicidade - Conteúdo: para cada ato decisório recorrível há só recurso admitido pelo ordenamento jurídico. - Analisar questão dos embargos de declaração* - simultaneidade x sucessividade - Exceção aparente: art. 1029 do CPC possibilidade simultânea dos recursos especial (para o STJ) e extraordinário (para o STF) para impugnação de um mesmo acordão 3
E- PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE - Conteúdo: quando houver dúvida relevante sobre qual recurso a ser oposto/interposto, é admitido o recurso equivocadamente oposto/interposto, para fins de realização do reexame requerido no mesmo; - Construção jurisprudencial - Requisitos: a) dúvida objetiva acerca de qual o recurso cabível; b) inexistência de erro grosseiro; c) observância do prazo próprio do recurso adequado - Hipóteses expressamente previstas nos artigo 1032 e 1033 do CPC: CPC. Art. 1032. Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso especial versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15(quinze) dias para que o recorrente demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional. (...) CP. Art. 1033. Se o Supremo Tribunal federal considerar como reflexa a ofensa à Constituição afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de Justiça para julgamento como recurso especial. F- PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE - Conteúdo: exigência no sentido de que todo recurso seja formulado por meio de petição na qual a parte não apenas manifeste sua inconformidade com a decisão judicial, mas também e necessariamente indique os motivos de fato e de direito pelos quais requer o reexame da decisão judicial impugnada, sujeitando tais motivos ao debate com a parte contrária. - Origem: direito ao contraditório (art. 5º, LV, da Constituição Federal) e expressas disposições de leis infraconstitucional (exemplos: art. 1010, III, do CPC; art. 1016 do CPC, II e III, do CPC; art. 1023 do CPC; ; art. 1028 do CPC; art. 1029, I e III, do CPC) 4
G- PRINCÍPIO A VOLUNTARIEDADE - Conteúdo: sem a formulação de recurso pela parte, não é possível que o tribunal o aprecie. Isto é, o Juízo prolator da decisão não tem o poder de, ex officio, recorrer pela parte, ainda que se trate de incapaz - Remessa necessária Art. 496/CPC tem natureza de recurso? - Art. 998 do CPC (possibilidade de desistência de recurso pela parte) Consequência do princípio da voluntariedade: H- PRINCÍPIO DA IRRECORRIBILIDADE EM SEPARADO DAS DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS - Conteúdo: em regra as decisões interlocutórias não são prontamente recorríveis, devendo a impugnação das mesmas ser realizada quando da interposição de recurso contra a sentença/acórdão, à exceção das hipóteses expressamente previstas em lei que permite recorribilidade imediata de decisão interlocutória sobre determinada temática, como, por exemplo, o contido no art. 1015 do CPC. I- INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIEDADE NOS RECURSOS CIVIS - Conteúdo: não se aplica aos recursos civis a possibilidade prevista no Código de Processo Penal (art. 578 c/c art.588 do CPP) de interposição de recurso deixando a apresentação dos motivos (fundamentos fáticos e jurídicos/de direito) para momento posterior. 5
J- PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEJUS - Conteúdo: o órgão judicial responsável pela apreciação do recurso não pode proferir decisão mais desfavorável ao recorrente do que aquela contra a qual foi interposto o recurso - Exceções: Hipóteses de conhecimento de ofício de matérias de ordem pública; Hipótese do art. 1013, 3º, do CPC 6