A missão no contexto asiático



Documentos relacionados
Uma leitura apressada dos Atos dos Apóstolos poderia nos dar a impressão de que todos os seguidores de Jesus o acompanharam da Galileia a Jerusalém,

Aula 5.2 Conteúdo: As grandes Religiões de matriz Orientais Hinduísmo - Índia Budismo - Índia Taoísmo - China Xintoísmo - Japão ENSINO RELIGIOSO

A história da Igreja e sua problemática A história da Igreja na Idade Antiga

f r a n c i s c o d e Viver com atenção c a m i n h o Herança espiritual da Congregação das Irmãs Franciscanas de Oirschot

Easinfluências do Oriente.

Aula 5.1 Conteúdo: As grandes Religiões de matriz ocidental Judaísmo Cristianismo Islamismo ENSINO RELIGIOSO CONTEÚDO E HABILIDADES

Diferença entre a Bíblia Católica e a Protestante

Catecumenato Uma Experiência de Fé

Colégio Senhora de Fátima

Fundamentos, conceitos e paradigmas da evangelização

Os aparelhos de GPS (Sistema de Posicionamento Global) se tornaram

ORIENTE MÉDIO CAPÍTULO 10 GRUPO 07

Uma volta no tempo de Atlântida

Prova bimestral. história. 4 o Bimestre 3 o ano. 1. Leia o texto e responda.

O Budismo começou com a história do príncipe Siddartha Gautama que um dia abandonou: Buda e passou a pregar pelos quatro cantos da

O SR. ISAÍAS SILVESTRE (PSB-MG) pronuncia o. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,

E.E. Dr. João Thienne Geografia

Unidade III. Aula 17.1 Conteúdo Países árabes; Turquia. Cidadania e Movimento FORTALECENDO SABERES DINÂMICA LOCAL INTERATIVA CONTEÚDO E HABILIDADES

FORTALECENDO SABERES DESAFIO DO DIA DINÂMICA LOCAL INTERATIVA I CONTEÚDO E HABILIDADES HISTÓRIA. Conteúdo:

THEREZINHA OLIVEIRA REENCARNAÇÃO É ASSIM. 3 a ed.

PLANEJAMENTO DE GEOGRAFIA

MESOPOTÂMIA ORIENTE MÉDIO FENÍCIA ISRAEL EGITO PÉRSIA. ORIENTE MÉDIO origem das primeiras civilizações

ABSTRACT. Diagnóstico e situação das cooperativas de produção no Paraguai

Ambiência escolar Marista: desafios da educação popular na evangelização

GRUPO XI 4 o BIMESTRE PROVA A

...E os discípulos puderam finalmente crer...

Fenômeno Religioso. Pontos de partida ao Fenômeno Religioso

Projeto de Plantação da Congregação da Segunda Igreja Presbiteriana de Porto Alegre

Servimo-nos da presente para apresentar os projetos e programas oferecidos pela Israel Operadora.

Expectativas para 2015

Sempre Abundantes. IDE Curso E1 - Células. Lição 6 Multiplicando a sua célula

A IMPRENSA E A QUESTÃO INDÍGENA NO BRASIL

A escrita primitiva da China, que era feita em ossos e utilizava desenhos simples para representar palavras, tornou-se a base da língua escrita

São Paulo ganha dos companheiros. São atribuías a S.Paulo 14 cartas. Umas são dele mesmo: Romanos, 1 e 2 aos Corintios, a Filemom, aos Gálatas, aos

PROVA BIMESTRAL História

Gabarito 7º Simulado Humanas

ATIVIDADES EXTRAS. Data: Entrega:

Gr.Bíblico. Evangelho de. Nossa Senhora Conceição. São Mateus Ano litúrgico A

ITAICI Revista de Espiritualidade Inaciana

É o estudo do processo de produção, distribuição, circulação e consumo dos bens e serviços (riqueza).

LISTA DE EXERCÍCIOS 01

IIIDomingo Tempo Pascal- ANO A «..Ficai connosco, Senhor, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite

Missões para os índios americanos

A iniciação cristã como pedagogia de vida comunitária

A Dança é a arte de mexer o corpo, através de uma cadência de movimentos e ritmos, criando uma harmonia própria. Não é somente através do som de uma

E quem garante que a História é uma carroça abandonada numa beira de estrada? (Hollanda, C. B; Milanes, P. Canción por la unidad latinoamericana.

Caros irmãos e amigos. A graça e a paz do Senhor Jesus. Grandes coisas tem feito o Senhor por nós por isso estamos alegres.

Para onde vou Senhor?

É um dos países mais complexos do nosso planeta. Com

Expectativa de vida do brasileiro cresce mais de três anos na última década

A importância do continente europeu reside no fato de este ter

FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO

IGREJA DE CRISTO INTERNACIONAL DE BRASÍLIA ESCOLA BÍBLICA

INTRODUÇÃO A ANTROPOLOGIA RELIGIOSA

DISCURSO SOBRE LEVANTAMENTO DA PASTORAL DO MIGRANTE FEITO NO ESTADO DO AMAZONAS REVELANDO QUE OS MIGRANTES PROCURAM O ESTADO DO AMAZONAS EM BUSCA DE

EJA 4ª FASE PROF. LUIS CLAÚDIO

História e Teologia de Missões

A desigualdade de renda parou de cair? (Parte I)

A Literatura no Brasil está dividida em duas grandes eras: Que parâmetros foram utilizados para estabelecer tais era?

Lista de Recuperação de Geografia 2013

Palestra: História da Cana-de. de-açúcar no Centro-Oeste Professora: Ana Paula PROJETO: PRODUÇÃO DO AÇÚCAR ORGÂNICO NA JALLES MACHADO S/A

Terra à vista! Nesta aula, utilizaremos os mapas para situar

Dinâmica demográfica e qualidade de vida da população brasileira Parte II

O CÂNON Sagrado compreende 46 Livros no ANTIGO TESTAMENTO e 27 Livros no NOVO TESTAMENTO.

Assembléia dos Bispos Regional Sul 1 junho/julho 2010 Aparecida, SP

GRUPOS NO JUDAISMO NA ÉPOCA DE JESUS

Módulo II Quem é o Catequista?

Para a grande maioria das. fazer o que desejo fazer, ou o que eu tenho vontade, sem sentir nenhum tipo de peso ou condenação por aquilo.

Para saber mais! Nações sem Território IDH. 8ºANO Expedição 1 Professora Bruna Andrade

Comitê de Autossuficiência da Estaca

Nº 8 - Mar/15. PRESTA atenção RELIGIÃO BÍBLIA SAGRADA

INFORMATIVO BASE MUNDIAL DE MISSÕES DE SÃO PAULO

Fé, Verdade, Tolerância. O Cristianismo e as Grandes Religiões do Mundo

Informativo G3 Abril 2011 O início do brincar no teatro

História/15 6º ano Turma: 2º trimestre Nome: Data: / / RECUPERAÇÃO FINAL 2015 HISTÓRIA 6º ano

Século XVIII e XIX / Europa

Estudos bíblicos sobre liderança Tearfund*

E Deus viu que tudo era bom

SEDUC SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO ESCOLA ESTADUAL DOMINGOS BRIANTE ANA MARIA DO NASCIMENTO CAMPOS

E.E.I.E.F SÃO FRANCISCO ROTEIRO DO CURTA METRAGEM TEMA: A LENDA DA PEDRA DA BATATEIRA- MITO E REALIDADE 1ª PARTE

LUGARES E PAISAGENS DO PLANETA TERRA

Unidade III. Aula 16.1 Conteúdo Aspectos políticos. A criação dos Estados nas regiões; os conflitos árabe-israelenses. Cidadania e Movimento

CURSO DE HISTÓRIA: EMENTAS DAS DISCIPLINAS NÍVEL I

4ª FASE. Prof. Amaury Pio Prof. Eduardo Gomes

SUMÁRIO 1. AULA 6 ENDEREÇAMENTO IP:... 2

Expedição 1. 7º ANO_ PROFª BRUNA ANDRADE

Estudo Sobre A Ceia Do Senhor: Livre Ou Restrita?

População é o conjunto de habitantes de um determinado lugar em um determinado tempo;

Por ocasião da Marcha para Jesus, o deputado Wasny de Roure. (PT-DF) pronuncia o seguinte discurso: No próximo dia 11 de

A DOMINAÇÃO JESUÍTICA E O INÍCIO DA LITERATURA NACIONAL

CONFISSÕES RELIGIOSAS 1. Refugiados (internos)*: * Refugiados estrangeiros a viver neste país. ** Cidadãos deste país a viver no estrangeiro.

CONTEXTO HISTORICO E GEOPOLITICO ATUAL. Ciências Humanas e suas tecnologias R O C H A

coleção Conversas #14 - outubro e r r Respostas perguntas para algumas que podem estar passando pela sua cabeça.

---- ibeu ---- ÍNDICE DE BEM-ESTAR URBANO

Objetivo. Justificativa

Para nós, este é um pequeno gesto de amor, mas para cada criança beneficiada, significa a esperança de realizar sonhos e ter um futuro diferente.

Viva Rio lança trabalho socioambiental que contempla Nova Friburgo

PARTE IV. O chamado para a especialização

ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DR. VIEIRA DE CARVALHO Planificação Educação Moral e Religiosa Católica. Ano Letivo 2015/2016 3º Ciclo 7º Ano

Grandes Santos de Deus

Transcrição:

A missão no contexto asiático Pe. Joachim Andrade SVD Introdução O continente asiático é tão grande e tão diverso é muito difícil dar uma visão clara e contextual da missão dentro de poucos minutos. Além disso, sendo indiano, conheço pouco sobre outros países asiáticos pessoalmente a não ser através da leitura. O continente asiático sendo muito diverso lingüisticamente, culturalmente e no aspecto religioso e étnico dificultaria a apresentar uma visão da Igreja e suas atividades missionárias. Tentarei nesta breve abordagem, apresentar em primeiro lugar a diversidade geográfica que causou a diversidade religiosa e cultural; em segundo lugar trataremos focar no universo cristão, sendo que a Ásia também um berço das grandes religiões e que sempre mostrou o rosto oriental do cristianismo que é desconhecido para grande maioria dos cristãos. Por fim, abordaremos o contexto atual da missão, suas teologias nativas, preocupações da Igreja em diversos países asiáticos. Contexto geográfico A Ásia é maior continente do planeta, geograficamente extenso, iniciando na parte ocidental logo apos a Turquia e terminando com as Ilhas de Nova Guiné no extremo oriente. O continente pode ser dividido em três partes: os desertos, as terra férteis e montanhas e por fim, as ilhas que por sua podem ser divididas em porção insular e porção continental. Cada uma dessas regiões proporcionaram para vida adequada, dando origem as culturas e religiões. 1. Desertos: Os desertos se encontram no extremo ocidente da Ásia e se estendem ate Ulan Bator, capital da Manglolia passando pelos todos paises de oriente médio, Paquistão, Afeganistão, noroeste da Índia, noroeste da China e Magnólia. Existem dois desertos principais, Gobi e Thar. Essa região deu a origem as três religiões mais importantes, Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Alem disso deu a origem a cultura nômade. Hoje a região desértica e predominada pelo islamismo.

2. A região da terra fértil e montanhas se encontram maior parte da região da Índia e China. Os Himalayas servem como divisão entre esses dois paises. As região terra fértil proporcionou a agricultura. Nesta região se encontram muitos rios dando as possibilidades para variadas formas de cultivo e espaço para desenvolvimento de industrias. A região deu a origem ao Hinduísmo, Budismo, Taoísmo, Confucionismo. 3. As ilhas podem ser divididas em duas partes, a região insular e região continental. A região insular composta de milhares de ilhas em diversos países de sudeste asiático e a sobrevivência da população depende mais da pesca e também da agricultura. Enquanto a região continental possui uma vasta área de floresta e também a região é propícia para agricultura. Nesta região havia as religiões primitivas, mas contemporaneamente predomina o Budismo, Islamismo e as religiões chinesas. Historia do Cristianismo O Cristianismo é uma religião da Ásia, que nasceu na estepe de Palestina no ambiente do semideserto. Mas em termos de números o Cristianismo não teve avanço no continente como a exceção das Filipinas que possui atualmente 83% da população cristã. Podemos identificar três etapas distintas da expansão do cristianismo no continente asiático. a) São Tomé São Tomé um dos discípulos de Jesus esteve na Índia já no ano 52 d.c que converteu 7 famílias brâmanes ao cristianismo, que posteriormente essas famílias evangelizaram o sul da Índia. Esse cristianismo possui o rosto ortodoxo, pois foi cuidado pela Igreja da Síria. No modo geral o conhecemos o cristianismo pregado pelo São Paulo e São Pedro que tiveram a tendência de ir a Roma ou Ocidente, enquanto outros discípulos também fizeram a evangelização da região de Ásia Menor que infelizmente os concílios de Nicéia (325) e Calcedônia (451) condenou dois monges Arius e Nestorius que tiveram uma influência muito grande sobre o cristianismo desta região. Muitos cristãos da região apoiaram os dois monges, então nasce um cristianismo com rosto oriental inclusive da Índia. Os Nestorianos evangelizaram o extremo oriente até séculos V e VI. Mais tarde nos séculos XII havia também certa influência dos Franciscanos especificamente na China. 2

b) Os Portugueses A queda de Constantinopla nas mãos dos turcos em 1453 levou os Europeus descobrirem os caminhos para as Índias e assim resolver os problemas de especiarias. Vaso da Gama foi o primeiro navegador pisar o solo indiano em 1498 e desde então os missionários portugueses e espanhóis entraram dentro da Índia e outros paises asiáticos levando a Igreja com o rosto latino. Entre eles o mais conhecido é Francisco Xavier que chegou a Índia em 1542 e evangelizou na Índia, China, Indonésia e Japão. c) Missionários Europeus Os séculos XVII, XVIII e XIX foram auge de fundação de congregações na Europa com o foco da evangelização principalmente a missão ad gentes. Muitos missionários europeus foram aos paises do extremo Oriente e tiveram sua participação marcando a presença dos cristãos em todos paises asiáticos. Mudança no paradigma Identificamos dois momentos cruciais na historia da Igreja da Ásia, onde surge a mudança no paradigma da missão. Até a década de 1950 a missão era conforme o padrão colonial, o missionário acompanhava o colonizador. Nesta década iniciou o processo de independência dos países colonizados. Depois dessa liberdade, as religiões nativas começaram a acordar e perceber os valores que elas próprias possuem. Cada religião começa se afirmar. Os missionários foram proibidos a converter as pessoas de uma religião para outra. Houve um retorno dos missionários estrangeiros e ao mesmo tempo fechamento das portas aos estrangeiros. Surge uma desconfiança mútua entre as religiões. As portas da China, Índia, Indonésia e Vietnam foram fechadas definitivamente aos missionários estrangeiros. A segunda mudança ocorre depois do Vat II, onde a atividade de missionária recebe um novo impulso. Em vez de concentrar nas conversões a Igreja na Ásia começou trabalhar com a dinâmica do Centro Periferia, quer dizer concentrar mais nas questões crucias asiáticas. Então desenvolveram diversas teologias conforme a realidade do país. Por exemplo, na Coréia do Sul, surge a teologia Minjung sobre a povo da periferia das grandes cidades; nas Filipinas a teologia da Luta e na Índia a teologia Dalit. A opção pelos pobres 3

recebe o foco principal nessa mudança. A liturgia passa ser inculturada recebendo os elementos locais incorporados. Surgiram as tentativas para elaborar o diálogo inter religioso, por fim a Igreja começa a ser Igreja da Ásia do que a Igreja na Ásia. Por quê isso? Depois do Concílio Vat II a compreensão da missão teve uma mudança principalmente na Ásia devido à sua realidade cultural e religiosa. É percebido que o Deus revela cosmicamente, biblicamente, Cristicamente e eclesialmente. Portanto encontra se uma distinção nítida entre a missão de Deus, missão de Deus em Jesus, missão de Deus no Cristo e missão de Deus na Igreja. Além disso, a cultura oriental no modo geral sustentada pelas grandes religiões, que possuem uma visão cíclica do mundo onde tudo volta ao mesmo lugar. A diferença é que no ocidente o sujeito parece ter controle sobre seu destino, ele mesmo faz acontecer às coisas. Enquanto no oriente, o sujeito faz parte do destino, ele é um objeto e o destino você te conduzindo. A missão se tornou um reconhecimento da epifania de Deus, a atividade salvífica de Deus no mundo. A epifania de Deus no mundo continua até o fim dos tempos, vai além da Igreja visível, entra nas grandes tradições onde cristo está presente numa forma anônima, mas teologicamente ainda não é definida sua presença anônima. Com essa mudança o vigor antigo das conversões iniciou a desaparecer e missão tomou o rumo diferente: co existir com o outro, acolher o outro. Contexto atual da missão Contemporaneamente na Ásia encontramos um cenário onde cada religião tentando elaborar seu conteúdo por si. A Igreja também se encontra nesse pé dando foco mais para cuidar de suas estruturas já estabelecidas do que propriamente a missão. Também encontramos certas perseguições por parte dos fundamentalistas destruindo as Igreja e escolas cristãs. Mas percebe se também os trabalhos na periferia continuam: opção pelos pobres, trabalhos com a educação, higiene, justiça e paz e diálogo inter religioso. 4

Conclusão O missionário que embarca na Ásia deve cultivar o silêncio, pois somente no silêncio surgem duas atitudes: da oração e da compaixão. A oração para cuidar de si e a compaixão é cuidar do outro. Quando essas duas atitudes estão presentes no missionário, a missão acontece. Além disso, o silêncio também ajudará o indivíduo para deixar e chegar. A missão é processo de adquirir a sabedoria: saber deixar e saber chegar. 5