A singularidade do ser humano oferece à enfermagem um cenário rico de diversidade nas ações do cuidado (Oliveira et al, 2000)



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Transcrição:

Faculdade de Enfermagem - Departamento de Enfermagem Básica Disciplina: Administração em Enfermagem I Docente: Bernadete Marinho Bara De Martin Gama Assunto: As dimensões do Cuidar e as Competências da Equipe de Enfermagem. Objetivos: Compreender as dimensões do cuidar em enfermagem numa visão de integralidade e complementaridade; discutir as competências da equipe de enfermagem mediante as dimensões do cuidar. A singularidade do ser humano oferece à enfermagem um cenário rico de diversidade nas ações do cuidado (Oliveira et al, 2000) I. Introdução O ritmo acelerado da experiência do homem na sociedade contemporânea se revela nas diversas formas de seu agir, na sua vida pessoal, social e nas suas relações de trabalho. As alterações que vem caracterizando o mundo em que vivemos, onde se observa a quase ausência de fronteiras, o acesso aparentemente universal à informação, uma supervalorização da tecnologia, as mudanças do modo de produção voltadas para o mundo do trabalho, cada vez mais competitivo, exigente e desumano, trazem consigo novos desafios. A relação com a realidade concreta afeta a vida humana naquilo que ela possui de mais essencial: o cuidado. Tudo que existe e precisa continuar existindo, deve ser cuidado e a falta de cuidado tem transformado em estigma de nosso tempo. O contrário de descuido e descaso é o cuidado, e se constitui em algo mais que um simples ato, pois é uma atitude, portanto abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro (Boff, 1999). Um dos primeiros e marcantes momentos da história da enfermagem foi quando Florence pretendia que o próprio doente se fortalecesse e promovesse sua cura, o que levou a mesma a lutar para conseguir mudanças nos comportamentos das pessoas que deles cuidavam e até da estrutura hospitalar. Desta forma o cuidado passou a ser um valor em si mesmo e condição para a cura. Podemos afirmar, de maneira simplificada, que a finalidade do trabalho de enfermagem é prestar cuidados de saúde adequados ao ser humano e seu objeto de trabalho é o homem integral, constituído de corpo-mente-espírito. Cuidar é a essência da prática da enfermagem. Cuidados de saúde adequados pressupõem a existência de condições materiais e humanos compatíveis com a qualidade do cuidado (Lunardi, 1996). Nesta reflexão sobre o cuidar, enquanto finalidade do trabalho de enfermagem discutiremos as dimensões do cuidar propostas por Guimarães e Bastos (2000) e as competências da equipe de enfermagem.

Administrar Assistir CUIDAR Educar II. O Conceito de Cuidar Investigar (adaptado de Guimarães e Bastos, 2000) Buscando compreender seu significado alguns autores derivam cuidar do latim cura (coera), palavra usada num contexto de relações de amor e de amizade, que expressa a atitude de cuidado, de desvelo, de preocupação e de inquietação pela pessoa amada ou por um objeto de estimação. Outros derivam cuidado de cogitare-cogitatus e o sentido é o mesmo de cura. O cuidado somente surge quando a existência de alguém tem importância para mim. Passo então a dedicar-me a ele; disponho-me a participar de seu destino, de suas buscas, de seus sofrimentos e de seus sucessos, enfim, de sua vida (Boff, 1999). Para os gregos, terapeuta é aquele que de alguma maneira cuida de modo integral do ser humano e tem por determinação o cuidar do corpo, o cuidar do imaginário, o cuidar do desejo e o cuidar do outro (Leopardi, 1997). Em pesquisa realizada com 40 enfermeiros, Waldow (1996) caracterizou o conceito de cuidar, que abrange: assistência, administração e ensino, presença, ajudam, ação e comportamento, zelo e manter o bem estar. O estudo mostra que o cuidado é uma característica humana, um componente inerente ao ser humano, relacionado ao respeito e à dignidade do cliente como ser humano, significando também, afeto e interação interpessoal. Segundo a mesma autora o cuidar envolve ações e atitudes de assistir, capacitar e facilitar, que influenciam o bem estar ou o status de saúde de indivíduos, famílias, grupos e instituições, bem como condições humanas gerais, estilos de vida e contexto ambiental. Este cuidar pressupõe conhecimentos, valores, habilidades e atitudes na busca de favorecer a condição do ser humano no seu processo de existir viver e morrer. O cuidar em enfermagem não pode ser compreendido apenas como a realização de uma tarefa ou atividades relacionadas apenas ao assistir direto. O cuidado prestado pelo enfermeiro deve ser entendido numa visão ampla, numa ótica multidimensional, abrangendo ações de natureza administrativa, educativa, investigativa e de assistência. Isto vai exigir do enfermeiro não apenas competência técnica, mas também humana e política (Guimarães e Bastos, 2000).

III. As Dimensões do Cuidar Dimensão Assistir Usualmente referida como o cuidado direto e deve estar orientado no planejamento como instrumento fundamental para a assistência de qualidade. O enfermeiro é o responsável pela equipe de enfermagem e pelas ações assistenciais, sendo que o contexto dos serviços de saúde dificulta, às vezes, sua participação no cuidado direto. No entanto, não podemos delegar a outras categorias profissionais o planejamento, o estabelecimento das intervenções de enfermagem, as atividades e situações de maior complexidade que são privativas do enfermeiro. (delegar abdicar) O enfermeiro deve estar atento para a humanização da assistência e o domínio da tecnologia não pode levar o enfermeiro à inversão de valores e à perda do domínio de si mesmo (Caldas, 1982). Neste contexto torna-se fundamental considerar o paciente/cliente/usuário, não só como objeto do trabalho do enfermeiro, mas também sujeito do seu próprio tratamento. Dimensão Investigar A pesquisa é de fundamental importância para a resolução de problemas do cotidiano da enfermagem, relacionados à assistência ou à compreensão de sua própria prática. A dimensão investigativa significa além de produção de conhecimento, também a utilização de conhecimento, que podem responder a questionamentos que emergem da prática. É importante ressaltar que a dimensão investigativa do cuidar, não deve ser uma dimensão compreendida como uma necessidade da academia. A atualização e a qualificação dos enfermeiros de serviços e o trabalho pautado na produção cientifica é, hoje, considerada uma condição para o cuidar de qualidade (Guimarães e Bastos, 2000). Dimensão Educar O enfermeiro é um educador por natureza. Socializar conhecimentos e informações é mais que uma responsabilidade do enfermeiro, é condição para uma assistência de qualidade (Guimarães e Bastos, 2000). A dimensão educativa do enfermeiro pode ser traduzida por sua atuação em processos de educação permanente (educação em serviço, continuada, programas de treinamento técnico, introdutório,...) que devem atender as expectativas/necessidades individuais e institucionais. Dimensão Administrar Se para Vicentin et al (1991) administrar é aplicar conhecimentos da Administração como meio para gerir a prestação da assistência de enfermagem ao paciente, família e comunidade, a dimensão administrar não é compreendia de forma isolada ou mesmo dicotômica em relação ao assistir. Compreendendo o cuidar como objeto do fazer do enfermeiro nas suas multidimensões, a dimensão administrativa é muito mais complementar que antagônica às demais (Guimarães e Bastos, 2000).

Ao exercer a dimensão administrativa do cuidar o enfermeiro cria condições e qualifica ações que favorecem a realização do assistir, educar e investigar. A administração flexível é a expressão da dimensão gerencial do cuidar do enfermeiro, pois preconiza a tomada de decisões de forma horizontalizada, a participação, o compartilhar, a integração e a valorização das experiências do grupo, criando um ambiente favorável ao assistir, investigar e educar. O processo de avaliação merece destaque nessa dimensão, porque é fundamental no sentido de redirecionar ações, repensar estratégias, redefinir programas, estabelecer metas ou consolidar ações, fornecendo subsídios para o processo decisorial do enfermeiro e de toda equipe de enfermagem. IV. A Articulação das Multidimensões do Cuidar Os diferentes significados embutidos no conceito do cuidar exercido pelo enfermeiro apontam para a compreensão multidimensional do termo. Diante disso, propõe-se uma ruptura com a visão de dicotomia, adotando a concepção de integralidade e complementaridade entre o assistir e o administrar, uma vez que fazem parte do mesmo todo o cuidar. Desta maneira compreendemos que a articulação das multidimensões do cuidar torna-se imprescindível para a efetivação do próprio cuidar. Numa visão prática, no dia-a-dia de um serviço de enfermagem, como podemos perceber isto? Este entendimento vem consolidar o significado de que a enfermagem é uma unidade, ou pelo menos deveria ser e que o enfermeiro pode exercer atividades relacionadas a uma das diferentes dimensões da forma mais evidente. O cuidar multidimensional em alguns momentos da trajetória de trabalho do enfermeiro pode significar o administrar, ou o investigar, ou o assistir ou o educar. E mesmo que ele exerça mais intensamente ora uma dimensão e ora outra, não perde a característica de integralidade, pois estão a serviço do mesmo objeto, o ser humano (Guimarães e Bastos, 2000). V. As Competências da Equipe de Enfermagem Se nossa proposta é compreender as dimensões do cuidar em enfermagem numa visão de integralidade e complementaridade, para discutir as competências da equipe de enfermagem mediante essas dimensões, primeiramente se faz necessário lembrarmos de alguns pontos importantes: Reorganização da prática de enfermagem em função de redução das desigualdades sociais para garantir o direito à saúde dos indivíduos e das organizações de saúde; Assistência de enfermagem exercida por profissionais de diversas categorias com formação profissional diferenciada e a própria definição de assistência de enfermagem e de equipe de enfermagem; O maior contingente de pessoal de um serviço de saúde é o de enfermagem participação no processo de trabalho em saúde; Surgimento do trabalho de enfermagem como atividade organizada e sistematizada e como extensão do trabalho de outro profissional o médico; Divisão do trabalho de enfermagem intelectual x manual; A fragmentação do objeto de trabalho da enfermagem cuidado direto e indireto.

Vários estudos têm sido realizados por comissões de especialistas na busca de se definir algumas competências mínimas (gerais e específicas) a serem alcançadas para a formação do enfermeiro (Ministério da Educação e Cultura / ABEn e outras). As constantes revisões de propostas de Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação de Enfermagem visam contribuir para inovação e qualidade do Projeto Pedagógico dos cursos de graduação. Em discussões recentes as competências foram definidas e agrupadas nas seguintes áreas temáticas: Bases Biológicas e Sociais da Enfermagem; Fundamentos de Enfermagem; Assistência de Enfermagem; Administração de Enfermagem; Ensino de Enfermagem (capacitação pedagógica do enfermeiro). O Conselho Nacional de Educação, através da Resolução CNE/CES n.º3, de 7 de novembro de 2001, instituiu as diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em enfermagem e define a formação generalista, humanista, crítica e reflexiva como perfil do profissional enfermeiro. Estabelece ainda as seguintes competências e habilidades gerais para o enfermeiro: atenção à saúde; tomada de decisões; comunicação; liderança; administração e gerenciamento e educação permanente. A Lei 7.498, de 25 de junho de 1986, dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem, trazendo a descrição das funções do enfermeiro, do técnico e do auxiliar de enfermagem. As atividades privativas do enfermeiro e como integrante da equipe de saúde são descritas no Art. 11. No Art.12 são apresentadas as atividades a serem exercidas pelo técnico de enfermagem e no Art.13 as especificas do auxiliar de enfermagem. Chamamos a atenção para o Art. 15 que refere-se à supervisão do enfermeiro como condição essencial para o desempenho das ações do técnico e do auxiliar de enfermagem. (Ver Lei do Exercício Profissional) VI. Considerações Finais O exercício desse cuidar pressupõe adotar preceitos da Bioética, da humanização da assistência e do processo de trabalho, da resolutividade, da qualidade, da avaliação como instrumento para transformação a serviço da humanidade e da interdisciplinaridade, com substituição da concepção fragmentaria para a unitária do ser humano Sob essa ótica, resgatar a essência do trabalho do enfermeiro o cuidar, é antes de tudo, buscar estratégias para que as quatro dimensões se realizem cada vez mais de forma integrada e indissociável. Neste contexto, a questão da dicotomia entre o administrar e o assistir ganha feições novas, podendo tornar-se complementaridade. O exercício desse cuidar não pode perder a sua referência primeira que é a melhoria de qualidade de vida do ser humano, seja ele na condição de trabalhador da saúde seja na condição de usuários de serviços (Guimarães e Bastos, 2000). O grande desafio é que o enfermeiro consolide o seu compromisso com o desenvolvimento da Enfermagem no exercício de sua prática social, na produção e utilização do conhecimento e na formação de recurso humanos... com capacidade técnica e predisposição política para qualificar a assistência de enfermagem (Sena, 1999 citada por Guimarães e Bastos, 2000).

VII. Referências BOFF, L. Saber cuidar: Ética do humano compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 1999. BRASIL, Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução nº3, de 3 de novembro de 2001. Brasília. BRASIL, Lei 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício de enfermagem e dá outras providencias. Brasília: Conselho Federal de Enfermagem, 1987. CALDAS, N.P. A enfermagem e a tecnologia apropriada: adequação da prática a realidade brasileira. Ver. Brás. Enf. DF. N35, 1982. GUIMARÃES, E.M.P.; BASTOS, M.A.R. Desarollo de Recursos Humanos em Enfermeria. Maestria em Administración de Servicios em Enfermeria. Rosario: Universidad Nacional de Rosario. BH: UFMG, 2000. LEOPARDI, M.T. Cuidado: Ação Terapêutica Essencial. In: Texto & Contexto. V.6. n.3. Florianópolis: UFSC, p. 57-67. 1997. LUNARDI, W.D.; LUNARDI, V.L. Uma abordagem no ensino de Enfermagem e de Administração em Enfermagem como estratégia de (re) orientação da prática profissional do enfermeiro. In: Texto & Contexto. V.5. n.2. Florianópolis: UFSC, p. 20-34. 1996. VICENTIN, L. et al. Administração da assistência de enfermagem e a atuação do enfermeiro. In: Jubileu de Ouro da Escola Paulista de Medicina: 1939-1989. Anais. São Paulo: Escola paulista de Medicina, 1991. WALDOW, V.R. Cuidado Humano: O resgate necessário. Porto Alegre: Sagra Luzzato, 1996. VIII. Leitura Recomendada BRASIL, Lei 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício de enfermagem e dá outras providencias. Brasília: Conselho Federal de Enfermagem, 1987. BOFF.L. Saber cuidar: Ética do humano compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 1999.