RECOMENDAÇÃO nº 01/2016 DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DA BAHIA

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Transcrição:

RECOMENDAÇÃO nº 01/2016 DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DA BAHIA Recomendação da Defensoria Pública do Estado da Bahia e da Ouvidoria Geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia ao Secretário Estadual de Educação, aos Secretários Municipais de Educação, aos Reitores, dirigentes de escolas e universidades da Rede Estadual de Ensino, referente ao movimento de ocupação dos estabelecimentos educacionais. A Defensoria Pública do Estado da Bahia, no exercício das funções institucionais previstas no art. 134 da Constituição Federal, art. 4º, incisos II, X e XI da Lei Complementar 80/1994 (Lei Orgânica Nacional da Defensoria Pública), bem como o art. 7º, inciso I e XV da Lei Complementar Estadual 26/2006 (Lei Orgânica Estadual da Defensoria Pública da Bahia), e CONSIDERANDO que as ocupações de estabelecimentos de ensino da rede pública revelam legítima forma de manifestação política de alunos e entidades estudantis que clamam por melhorias nas políticas de educação; CONSIDERANDO a necessidade de ampla discussão das alterações legislativas em debate que impactam significativamente nas políticas educacionais, a exemplo da Proposta de Emenda à Constituição nº 55/2016, atualmente em tramitação no Senado Federal, que estabelece teto para os gastos públicos pelos próximos 20 anos, da Medida Provisória nº 276/2016, que propõe a reforma do ensino médio e do Projeto de Lei nº 865/2015, que inclui, entre as diretrizes e bases da educação nacional, o "Programa Escola sem Partido"; CONSIDERANDO que o movimento de ocupação dos estabelecimentos educacionais empreendido pelos estudantes e entidades estudantis visa, prioritariamente, a abertura do diálogo e da construção coletiva de políticas públicas relacionadas ao direito fundamental à educação, repre- Página 1 de 7

sentando importante espaço político de participação, reivindicação, discussão, e de exercício da cidadania; CONSIDERANDO a necessidade de se precaver de situações que ensejem a violação dos direitos fundamentais de crianças, adolescentes e jovens envolvidos nas ocupações de escolas e universidades da rede de ensino estadual e municipal, motivadas por possíveis atuações arbitrárias de representantes do Poder Público e demais instituições que compõem o sistema de Justiça; CONSIDERANDO que deve ser repudiada a repressão às ocupações com a retirada forçada dos estudantes, utilização desmedida do aparato policial, traduzida pelo uso ilegal de algemas, emprego de força excessiva e determinação de privação de direitos humanos básicos, por meio de cortes de água, luz, alimentos, emprego de equipamentos sonoros, práticas que afrontam o Estado Democrático de Direito; CONSIDERANDO que as ocupações de estabelecimentos de ensino pelos estudantes assumem, essencialmente, caráter de utilização de bem público a título precário, no exercício do direito à reunião e a livre manifestação, inexistindo, na espécie, animus domini em relação ao bem público ocupado; CONSIDERANDO que as ocupações desses estabelecimentos têm se revelado pacíficas e desprovidas de intenção de depredar o patrimônio publico e que evidenciam, ao revés, legítimo desejo dos estudantes de defender e melhorar os seus espaços de aprendizagem; CONSIDERANDO a necessidade de se priorizar o uso da informação, do diálogo, da mediação e do respeito mútuo como ferramentas de negociação junto às lideranças do movimento; CONSIDERANDO que é dever do gestor conciliar a continuidade dos serviços públicos prestados com os direitos de crianças, adolescentes e jovens ocupantes e não ocupantes, mediante a abertura de diálogo prévio a qualquer medida unilateral de desocupação; CONSIDERANDO que a Defensoria Pública, nos termos do artigo 134 da Constituição Federal, é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos Página 2 de 7

individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do artigo 5º do texto constitucional; CONSIDERANDO que o artigo 4º, inciso XI da Lei Complementar nº 80/94 instituiu como função institucional da Defensoria Pública do Estado o exercício da defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da pessoa com deficiência, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de outros grupos sociais vulneráveis que mereçam proteção especial do Estado; CONSIDERANDO que o artigo 13 da Convenção Americana de Direitos Humanos assegura, a toda pessoa, o direito à liberdade de pensamento e de expressão e que esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e ideias de toda natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha ; CONSIDERANDO a impossibilidade de cerceamento do direito à liberdade de expressão por meios indiretos, prevista no citado artigo 13 da Convenção Americana de Direitos Humanos, segundo o qual não se pode restringir o direito de expressão por vias ou meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de papel de imprensa, de frequências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicação e a circulação de ideias e opiniões ; CONSIDERANDO a Declaração de Princípios sobre Liberdade de Expressão, aprovada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, para aplicação do artigo 13 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, que reconhece que obstaculizar o livre debate de ideias e de opiniões provoca limitação à liberdade de expressão e ao efetivo desenvolvimento do processo democrático; CONSIDERANDO que, neste sentido, a mesma Declaração dispõe ser a liberdade de expressão, em todas as suas formas e manifestações, direito fundamental e inalienável, inerente a todas as pessoas, além de constituir requisito indispensável para a própria existência de uma sociedade democrática; Página 3 de 7

CONSIDERANDO que, segundo os mesmos princípios, a interferência ou pressão, ainda que de forma indireta, sobre expressão ou opinião, através de qualquer meio, deve ser proibida, inclusive por lei; CONSIDERANDO o disposto no artigo 12 da Convenção ONU dos Direitos da Criança de 1989 que assegura o direito de as crianças serem ouvidas em todos os processos que lhes digam respeito, de acordo com a sua idade e maturidade, e que a Resolução 159 do CONANDA dispõe sobre o processo de participação de crianças e adolescentes nos espaços de discussão; CONSIDERANDO o disposto no artigo 13 da Convenção ONU de Direitos da Criança de 1989, que estabelece que a criança terá direito à liberdade de expressão e que esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e divulgar informações e ideias de todo tipo, independentemente de fronteiras, de forma oral, escrita ou impressa, por meio das artes ou por qualquer outro meio escolhido pela criança ; CONSIDERANDO que a não observância dos acordos internacionais firmados para proteção dos direitos humanos pode levar a responsabilização internacional do Estado brasileiro, bem como dos agentes estatais envolvidos; CONSIDERANDO que a Constituição Federal de 1988 assegura o exercício dos direitos fundamentais de liberdade de pensamento, liberdade de reunião e livre manifestação (artigo 5º, incisos IV, IX e XVI) e que em seu artigo 227 determina que compete à família, à sociedade e ao poder público a proteção integral de crianças e adolescentes no Brasil; CONSIDERANDO que o artigo 206 da Constituição, no que refere ao direito à educação, expressamente prevê: I igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; CONSIDERANDO que o Estatuto da Juventude (Lei 12.852/13) elenca como diretriz orientadora dos agentes públicos ou privados envolvidos com políticas públicas de juventude, o incentivo a ampla participação juvenil em sua formulação, implementação e avaliação, garantindo aos jo- Página 4 de 7

vens o direito de participação social e política e na formulação, execução e avaliação das políticas públicas de juventude; CONSIDERANDO que este mesmo Estatuto entende por participação juvenil: I - a inclusão do jovem nos espaços públicos e comunitários a partir da sua concepção como pessoa ativa, livre, responsável e digna de ocupar uma posição central nos processos políticos e sociais; II - o envolvimento ativo dos jovens em ações de políticas públicas que tenham por objetivo o próprio benefício, o de suas comunidades, cidades e regiões e o do País; III - a participação individual e coletiva do jovem em ações que contemplem a defesa dos direitos da juventude ou de temas afetos aos jovens; IV - a efetiva inclusão dos jovens nos espaços públicos de decisão com direito a voz e voto; e que a interlocução da juventude com o poder público pode realizar-se por intermédio de associações, redes, movimentos e organizações juvenis; CONSIDERANDO o disposto no artigo 16 do Estatuto da Criança e do Adolescente, no sentido de que o direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; II - opinião e expressão; V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação; VI - participar da vida política, na forma da lei ; CONSIDERANDO o disposto no artigo 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que reza que o direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais ; CONSIDERANDO que os princípios legais estabelecidos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/1996) reforçam em seu artigo 3 os seguintes aspectos: I igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II liberdade de aprender e ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV respeito à liberdade e apreço à tolerância; CONSIDERANDO a decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal nos autos da ADPF 187/DF, rel. Min. Celso de Mello, 15.6.2011. (ADPF-187), que tratou do direito à liberdade de manifestação no que tange à chamada marcha da maconha ; Página 5 de 7

CONSIDERANDO o disposto em NOTA PÚBLICA do CONANDA expedida em 20 de outubro de 2016, na qual o Colegiado insta as autoridades públicas a reverem seus métodos de diálogo e enfrentamento da situação de ocupação de escolas na República Federativa do Brasil; Recomenda a(o)s Excelentíssima(o)s Senhora(o)s Secretária(o)s Estaduais e Municipais de Educação do Estado da Bahia, aos Magníficos Reitores e demais dirigentes de escolas e universidades da rede pública estadual e municipal de ensino que se encontram ocupadas por alunos e entidades estudantis que: I. SEJA respeitado o direito à liberdade de expressão, manifestação de pensamento, difusão de ideias, reunião e protesto pacífico, conforme previsto na legislação acima e nos autos da ADPF 187 e ADI 1969/DF do Supremo Tribunal Federal; II. III. Seja adotada, preferencialmente, a via do diálogo e da solução extrajudicial de conflitos no que tange à situação da ocupação de escolas e universidade públicas no Estado da Bahia, instando a Defensoria Pública Estadual e a Ouvidoria Geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia caso assim desejem, a atuar como ente de interlocução; Se abstenham de praticar ou solicitar medidas de retirada forçada dos estudantes, sem observância dos princípios constitucionais de legalidade e da garantia ao contraditório e à ampla defesa, sem que se estabeleça prévio diálogo na busca da construção de soluções pacíficas para o término das ocupações; IV. Se abstenham praticar ou solicitar medidas que afetem a salubridade e habitabilidade dos espaços ocupados; V. Seja proibida qualquer medida que limite o direito de expressão por vias ou meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou particulares do papel de imprensa, de frequências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusão de informação, por cerceamento de liberdade ambulatorial, limitação de acesso à alimentação, água potável, energia elétrica e medicamentos, dentre outros; Página 6 de 7

VI. Seja garantida, por todos os meios, a proteção aos movimentos e a realização de processos de negociação ao invés da utilização de força e de repressão, garantindo a integridade de crianças, adolescentes, jovens, professores, funcionários e de quaisquer pessoas que estejam no interior do estabelecimento escolar, coibindo eventual atentado à dignidade da pessoa humana e zelando pela ausência de criminalização de indivíduos; Salvador, 16 de novembro de 2016. Clériston Cavalcante de Macedo Defensor Público Geral Eva dos Santos Rodrigues Subcoordenadora da Especializada de Proteção aos Direitos Humanos George Santos Araújo Subcoordenador da 4ª Defensoria Pública Regional - Itabuna Maria Carmem de Albuquerque Novaes Subcoordenadora da Especializada de Infância e Adolescente Wescléi Amicés Marques Pedreira Subcoordenador da 5ª Defensoria Pública Regional - Juazeiro Marcelo Santana Rocha Subcoordenador da 1ª Defensoria Pública Regional Feira de Santana Márcio Marcílio de Eça dos Santos Subcoordenador da 6ª Defensoria Pública Regional - Santo Antônio de Jesus Lúdio Rodrigues Bonfim Subcoordenador da 2ª Defensoria Pública Regional Vitória da Conquista Vilma Maria dos Santos Reis Ouvidora Geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia Cristiane da Silva Barreto Nogueira Subcoordenador da 3ª Defensoria Pública Regional Ilhéus Página 7 de 7