Aperfeiçoamento da técnica de curtimento de couro de peixe usando taninos vegetais

Documentos relacionados
Catálogo Denusa Demarchi bolsas ecológicas

PRODUÇÃO DE BIOPLÁSTICO A PARTIR DO AMIDO DE MANDIOCA

A CURTIMENTA DO COURO

Viabilidade do aproveitamento de resíduos orgânicos da atividade pesqueira como instrumento de. tradicionais de Caraguatatuba - SP

DESENVOLVIMENTO DO FIO DE FIBRA DE BANANEIRA

Isolamento, Seleção e Cultivo de Bactérias Produtoras de Enzimas para Aplicação na Produção mais Limpa de Couros

CADASTRO PROJETO. Título do Projeto Elaboração de esmalte para unhas com pigmento da casca da Beterraba

Resumo Expandido. Título da Pesquisa: UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DA INDÚSTRIA FRIGORÍFICA NA FERTILIZAÇÃO DE PLANTAS FORRAGEIRAS DO GÊNERO BRACHIÁRIA

Tingimento natural: Alternativa ecológica no aproveitamento de escamas de peixes. Natural dye: Eco alternative in the use of fish scales.

MSc. Wagner Fernando Fuck Letícia Pavoni Grasselli Drª Mariliz Gutterres

Julliana Gadelha de Medeiros 1 ; Adriana Enriconi 2

ESTUDO PARA UTILIZAÇÃO DE AREIA DE FUNDIÇÃO EM ELEMENTOS DE CONCRETO DE CIMENTO PORTLAND 1

PROJETO: CONSTRUÇÃO DE BLOQUETES ECOLÓGICOS SEXTAVADOS DE CONCRETO COM A UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO QUANTO À RESISTÊNCIA MECÂNICA DE PAVERS FABRICADOS COM CINZA DE BAGAÇO DE CANA DE AÇÚCAR COMO AGREGADO MIÚDO

ANÁLISE ESTATÍSTICA E CURVA DE SUPERFÍCIE DOS RENDIMENTOS DA EXTRAÇÃO POR SOLVENTE DO ÓLEO DE PINHÃO MANSO

ACEITABILIDADE DE OVOS COM BASE NA DEGUSTAÇÃO E PIGMENTAÇÃO DA GEMA

Introdução. Graduanda do Curso de Engenharia Química FACISA/UNIVIÇOSA. 2

Solidez à luz de artigos em pele ditos naturais nubucks, anilinas,

FORMULÁRIO PARA INSCRIÇÃO DE PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

AJUSTE DE DADOS EXPERIMENTAIS DA SOLUBILIDADE DA UREIA EM SOLUÇÕES DE ISOPROPANOL+ÁGUA COM O USO DE EQUAÇÕES EMPÍRICAS

Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Apucarana Professora: Patrícia Mellero Machado Cardoso MATERIAIS TÊXTEIS

18 Comercialização e Agregração de Valor

Resíduo do tratamento por vapor em madeira de eucalipto como possível corante natural para tingimento de algodão

FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA PESQUEIRA

ELABORAÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS VOLTADOS PARA O ENSINO DE SOLOS

Prof. Cristiano Ferrari

PROF. CRISTIANO FERRARI

Palavras-Chave: INTRODUÇÃO

Cap 3 Introdução à Experimentação

CONTEXTUALIZAÇÃO EM AULAS DE QUÍMICA: UTILIZANDO FLORES DA REGIÃO COMO INDICADORES NATURAIS

Inspeção de pescado. Pescado Definições. Pescado Definições PESCADO COMO ALIMENTO LEGISLAÇÕES IMPORTÂNCIA NUTRICIONAL 06/05/2011

PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ÂNGELO SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO CHAMADA PÚBLICA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR 2 SEMESTRE ANO 2017 QUANTIDADE ESTIMADA

INSTRUÇÃO NORMATIVA N o 23, DE 1º DE JUNHO DE 2011.

ABORDAGEM DA CADEIA DO BIODIESEL SOB A ÓTICA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

TÍTULO: O USO DE COAGULANTES ORGÂNICOS NO TRATAMENTO DE ÁGUA COMO FORMA DE GERAR CONHECIMENTO NA ÁREA DE QUÍMICA

Eco sustentável. Aromatizador de Ambientes; Reciclagem de sabonetes e sabonete líquido

CORANTES A Química nas Cores. Brasil. Pau brasil. Da árvore, o corante. Das cores, o carnaval. Nas cores, a química!

AVALIAÇÃO DA ESPUMA DE POLIURETANO COMO MATERIAL SORVENTE PARA REMEDIAÇÃO DE ÓLEOS E GRAXAS

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento A CULTURA DO URUCUM

CADERNO DE PROGRAMA AMBIENTAL EDUCACIONAL. Escola SENAI Celso Charuri Unidade Sumaré CFP 512. Programa de Coleta de Óleo Comestível Usado

O USO RACIONAL DE COSMÉTICOS E O SEU DESCARTE CONSCIENTE E APELO DO USO POR PRODUTOS DE ORIGENS ORGÂNICA E NATURAL

V Semana Acadêmica da UEPA - Campus de Marabá As problemáticas socioambientais na Amazônia Oriental 22 a 24 de Outubro de 2014

ESTUDO DA ADSORÇÃO DO CORANTE BÁSICO AZUL DE METILENO POR CASCAS DE Eucalyptus grandis LIXIVIADAS

O êxito na preparação de defumados, não depende unicamente da aplicação da fumaça e sim, da combinação de fatores físicos e químicos, sendo

ESTUDO EM CÉLULAS EXPERIMENTAIS DE RESÍDUOS SÓLIDOS: UMA SIMULAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS

Colégio Estadual Professor Ernesto Faria

ESTUDO DA ESTABILIDADE DE ANTOCIANINAS EXTRAÍDAS DOS FRUTOS DE AÇAÍ (Euterpea oleracea Mart.)

Boletim de preços de produtos agropecuários e florestais do Estado do Acre

ESTUDO DA EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE SEMENTE DE UVA DA VARIEDADE BORDÔ POR PRENSAGEM

CONTRIBUIÇÃO DA COHIBRA NO MELHORAMENTO GENÉTICO DO COQUEIRO NOS ÚLTIMOS 30 ANOS

PROCESSAMENTO E BENEFICIAMENTO DO PESCADO NA COMUNIDADE DE MITUAÇU, CONDE, PARAÍBA

Petróleo. O petróleo é um líquido oleoso, menos denso que a água, cuja cor varia segundo a origem, oscilando do negro ao âmbar.

CETAM - Centro de Treinamento de Montenegro

PROPOSTA. Pregão. Proposta(s) Item: 0001 Descrição: LOTE 01 - ENLATADOS E ENSACADOS Quantidade: 1 Unidade de Medida: Unidade

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

6 SACOLA ECOBENG: ecodesign, uma alternativa de sustentabilidade ambiental.

CETAM - Centro de Treinamento de Montenegro

OCEANOS, MARES E RECURSOS MARINHOS

RELAÇÃO DE ITENS - PREGÃO ELETRÔNICO Nº 00001/ SRP

RESULTADO OFICIAL Nº TÍTULO DO PROJETO DO ORIENTADOR PLANO DE TRABALHO DO BOLSISTA ORIENTADOR (A) PROGRAMA

Evolução da piscicultura na região de Morada Nova de Minas

Sabão Ecológico - Espuma & Brilho

Valorização dos Resíduos Plásticos

BALANÇO DE MASSA NA PRODUÇÃO DE PÃO DE QUEIJO CONGELADO NA INDÚSTRIA FRUTPRES. Camila Mendes Correa (1) ; Raquel Clasen Pich (2).

ASSOCIAÇÃO ENTRE GERMINAÇÃO NA ESPIGA EM PRÉ-COLHEITA E TESTE DE NÚMERO DE QUEDA EM GENÓTIPOS DE TRIGO

152- Resgate do artesanato com fibra de camalote (Limnocharis laforestii Duchass) no distrito de Albuquerque, em Corumbá, MS

A calidez da madeira com uma resistência extrema

UTILIZAÇÃO DA GLICERINA OBTIDA NA PRODUÇÃO DE BIODIESEL PARA NEUTRALIZAÇÃO DE ÓLEO VEGETAL RESIDUAL

"AVANÇOS EM TECNOLOGIA DE PROCESSAMENTO DE PESCADO PARA PEQUENAS INDÚSTRIAS QUE DESENVOLVEM PRODUTOS DE VALOR AGREGADO"

AVALIAÇÃO DO BIOCRETO COM FIBRAS MINERALIZADAS DE BANANEIRA. Viviane da Costa Correia 1, José Dafico Alves 2

PADRÕES PARA CLASSIFICAÇÃO - AMENDOIM

ESTUDO DA VIABILIDADE NA REUTILIZAÇÃO DE AREIA DE FUNDIÇÃO NA PRODUÇÃO DE BLOCOS DE CONCRETO 1. Geisiele Ghisleni 2, Diorges Carlos Lopes 3.

DESSULFURIZAÇÃO ADSORTIVA DO CONDENSADO ORIUNDO DA PIRÓLISE DE PNEUS INSERVÍVEIS

Criopreservação do Sêmen de Tambaqui em Criotubos: Influência da Velocidade de Descongelamento

Uso de extratos vegetais como indicadores naturais de ph: uma ferramenta didática pedagógica

UTILIZAÇÃO NA AGRICULTURA DE RESÍDUOS SÓLIDOS PROVINDOS DA BIODIGESTÃO.

Câmaras Frigoríficas

AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DE CIÊNCIAS NATURAIS. Aluno (a): 9 ano Turma:

ESTRUTURA CURRICULAR DO CURSO DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS UNIDADE VALENÇA 3 0 PERÍODO CARGA HORÁRIA SEMESTRAL

Produção e estudo da aceitabilidade sensorial do licor de jambo vermelho

FICHA TÉCNICA DO PRODUTO

ECOBAGS: REUTILIZAÇÃO DE BANNERS NA PRODUÇÃO DE BOLSAS

5º CONGRESSO NORTE-NORDESTE DE QUÍMICA 3º Encontro Norte-Nordeste de Ensino de Química 08 a 12 de abril de 2013, em Natal (Campus da UFRN)

CPV seu pé direito também na Medicina

Catálogo de Produtos Rua João Franco de Oliveira, 980 Distrito Industrial Unileste Piracicaba SP

PROTOTIPAGEM DE MICRORREATORES FOTOCATALÍTICOS E TESTES DE FOTODEGRADAÇÃO DE CORANTES ORGÂNICOS

ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE UM COMPÓSITO NATURAL DESENVOLVIDO COM FIBRA DE CARNAÚBA

GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS POR UM ESTABELECIMENTO COMERCIAL EM TERESINA-PI

UTILIZAÇÃO DE CORANTES NATURAIS NO TINGIMENTO DE SUBSTRATOS TÊXTEIS 1 Use of natural dyes in dyeing of textile substrates

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS

Exercitando Ciências Tema: Solos. Esta lista de exercícios aborda o conteúdo curricular Solos Origem e Tipos de solos.

DESIGN E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL: potencialidade de aproveitamento da pele da pescada amarela

EDITAL N 87, DE 19 DE ABRIL DE 2017

FISPQ. Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico. DETERGENTE MALTEX (Neutro, Citrus, Coco, Guaraná, Laranja, Limão, Maça, Maracujá)

Blocos de Vedação com Entulho

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ UNESPAR PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA - PIBID

DETERMINAÇÃO DE PROPRIEDADES DO ÓLEO RESIDUAL DE FRITURAS, COM E SEM FILTRAÇÃO, EM DIFERENTES TEMPERATURAS

PRODUÇÃO DO COLORÍFICO

1 - Objetivos. 2 Materiais e Métodos. Confecção dos Coletores

Limpando DNA com detergente. Anderson Felipe dos Santos Cordeiro*, Milena Cristina Moraes, Mônica Rosa Bertão,

Transcrição:

Aperfeiçoamento da técnica de curtimento de couro de peixe usando taninos vegetais Camila Andrade dos Santos 1, Mariana Marta Ferreira Varela 2, Isabela Camara Dias 3, Emanuelle Francisca Nunes Gomes 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Design UFMA. e-mail: camila@ifma.edu.br 2 Aluna do Curso Técnico Integrado ao Médio de Design de Produto - IFMA. Bolsistas do PIBIC Jr./CNPq. (2010-11) e-mail: marianinha_marta@hotmail.com 3 Alunas do Curso Técnico Integrado ao Médio de Comunicação Visual - IFMA. Bolsistas do PIBIC Jr./CNPq. e-mails: srtamanu10@hotmail.com, is_abela_cd@hotmail.com Resumo: Este artigo origina-se da pesquisa intitulada Aperfeiçoamento da técnica de curtimento vegetal de couro de peixe para o desenvolvimento de produtos, usando taninos encontrados no estado do Maranhão, realizada no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica Jr. (PIBIC Jr./CNPq/IFMA). A pesquisa teve como objetivo, a partir da técnica de curtimento vegetal de couro de peixe (SANTOS et al. 2009; SANTOS, 2009), produzir uma matériaprima possível de ser utilizada no desenvolvimento de produtos. Esta pesquisa, juntamente com outras que estão sendo realizadas pela equipe, compõem as iniciativas de estudo e valorização desta matériaprima subaproveitada no Estado. No estudo, buscou-se aperfeiçoar e diversificar as técnicas de curtimento de pele de peixe, experimentando taninos extraídos de espécies vegetais encontrados na região, testando técnicas de coloração dos couros, a fim de desenvolver produtos a partir desta matéria-prima. Foram realizadas experiências com peles de peixes de diferentes tamanhos, uso de novos taninos e técnicas de coloração. Palavras chave: couro de peixe, tanino, curtimento vegetal, design de produtos 1. INTRODUÇÃO O couro de peixe apresenta-se como alternativa a outros couros no uso em produtos, não somente por atributos estéticos, mas também por questões ambientais. Produtos desenvolvidos com esta matéria prima têm significativo valor agregado, dada à inovação e sustentabilidade. O seu uso pode ser considerado como aproveitamento de resíduos, comumente descartado, além da possibilidade de ser uma alternativa de renda para pescadores, influenciando na abertura de um mercado local. A economia da pesca artesanal no Estado é bastante desenvolvida. Alguns peixes são comercializados beneficiados. O beneficiamento produz, através da técnica de filetagem, o filé do peixe, separando a carne da espinha e da pele. Neste caso, em muitas das vezes, conforme avaliação em feiras e mercados, a pele de peixe é descartada. A pesar dos casos de sucesso em algumas regiões do Brasil em que o couro de peixe é curtido, transformado em produtos que são vendidos dentro e fora do país, no Maranhão esta prática inexiste. Conseguir que a pele seja aproveitada para o curtimento e, ainda, que este processo seja ambientalmente correto, foi um dos desafios desta pesquisa. O estudo teve suas ações voltadas para a investigação da viabilidade de curtimento de peles de peixes encontradas no Maranhão; levantamento e coleta de amostras das espécies vegetais encontradas no estado, verificando suas propriedades curtentes após extração de tanino; pesquisas e aperfeiçoamento de processos de curtimento vegetal; realização de experimentos de curtimento com taninos em espécies de peixes anteriormente levantadas e coletadas; teste de técnicas de coloração dos couros; criação de critério para testes de qualidade do produto intermediário (couro de peixe); desenvolvimento de idéias de produtos a partir da matéria prima. 2. MATERIAL E MÉTODOS Para que a pele de peixe seja transformada em couro é necessário que ela seja curtida. Existem diversas técnicas de curtimento de couro de peixe, diferenciando-se pelo processo em si, materiais

utilizados e, do ponto de vista ambiental, pelo impacto que podem causar ao meio ambiente. Por questões ambientais é que se apresenta o curtimento denominado vegetal, que usa taninos extraídos de espécies vegetais, como alternativa aos processos mais impactantes. O processo de curtimento utilizado na pesquisa foi o descrito em Santos (2009) e Santos et. al. (2009). Algumas variações no processo foram introduzidas e experimentadas como tempo das fases, materiais curtentes, materiais de coloração e quantidades. Foram testadas as peles dos peixes Galo (Selene setapinnis), Palombeta (Chloroscombrus chrysurus), Tambaqui (Colossoma macropomum) e Pescada Amarela (Cynoscion acoupa), com taninos de cascas da Aroieira (Schinus terebinthifolius), Mangue vermelho (Rhizophora mangle L.), Andiroba (Caraba guianensis) e Açoita Cavalo (Luehea divaricata). Foram testados também a coloração com corante natural (urucum - Bixa orellana) e artificiais. Iniciou-se o processo de pesquisa revisando as referencias de trabalhos já realizados na área para entender como se dá o processo de curtimento vegetal e identificar espécies vegetais das quais se pode extrair tanino. As fontes também foram utilizadas para classificar as espécies vegetais e animais que fizeram parte do processo de curtimento. Realizou-se pesquisa de campo em feiras e mercados para identificar aquelas espécies de peixes mais vendidas, dando destaque àquelas que eram mais comumente comercializadas em filé, cuja pele é descartada. Posteriormente à etapa de identificação das espécies vegetais e animais procedeu-se com o recolhimento das amostras para os testes de curtimento. O processo de curtimento aplicado para as peles consta das seguintes etapas: abate; retirada da pele; retirada das escamas; limpeza da pele; molho no tanino; molho na mistura óleo de girassol e detergente sem glicerina e secagem (SANTOS et al. 2009). Algumas espécies de peixe encontravamse congeladas antes do inicio do processo e outras estavam recém-pescadas. Algumas variações no processo foram introduzidas, tal como os tempos de molho e a combinação do tanino vegetal com corantes, artificial e natural além do uso da pela com escamas e sem escamas. Além disso, testaram-se novas espécies vegetais para constatar a possibilidade de extração de tanino e suas propriedades curtentes e animais, neste caso, de peles de peixe para testar como respondiam ao processo de curtimento. Foram realizados três diferentes processos de curtimento os quais se denominou Método de curtimento 01, Método de Curtimento 02 e Método de Curtimento 03, apresentados em forma de tabela no tópico Resultados e Discussão. A avaliação dos resultados obtidos em cada método deu-se de forma analítica subjetiva pois não estavam previstos testes químico e físico-mecânicos. Com a matéria-prima resultante do processo, algumas propostas de produtos foram criadas e aqui representadas através da técnica de desenho de rendering. Os produtos não foram fabricados. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 MÉTODO DE CURTIMENTO 01 No Método de Curtimento 01 as espécies de peixes utilizadas foram Galo (Selene setapinnis), Palombeta (Chloroscombrus chrysurus) e Tambaqui (Colossoma macropomum). As espécies vegetais foram (Schinus terebinthifolius) e Mangue vermelho (Rhizophora mangle L.). As tabelas 1, 2 e 3 descrevem os materiais, quantidade e tempo utilizados no processo. Tabela 1 - Componentes para o Método de Curtimento 01 Componente Quantidades Peixe Galo 600 g Peixe Palombeta 900 g Peixe Tambaqui 950 g Casca da 20 g Mangue Vermelho 20 g Óleo de girassol 180 ml Detergente neutro 45 ml

Tabela 2 - Tempo de cozimento para extração de tanino no Método de Curtimento 01 Casca Água Tempo 2,5 L 30 min Mangue Vermelho 3 L 30 min Tabela 3 - Tempo de mergulho de pele no tanino no Método de Curtimento 01 Peixe Tanino Tempo Peixe Galo 3 h Peixe Galo Mangue vermelho 3 h Peixe Palombeta 3 h Peixe Palombeta Mangue vermelho 3 h Peixe Tambaqui Mangue vermelho 3 h Durante a execução do processo de curtimento 01 foram encontradas algumas complicações tais como, na etapa de retirada de pele, as peles dos peixes Galo e Palombeta foram removidas com dificuldade e danificadas por sua pequena espessura e pelo tamanho dos peixes. As peles também foram danificadas pelo alicate utilizado na retirada das mesmas. O peixe Tambaqui obteve melhores resultados nesta etapa, porém apresentando dificuldades em razão de descuidados no processo de congelamento. A retirada das escamas do peixe Palombeta, etapa que antecede o curtimento, foi realizada com dificuldade devido ao pequeno tamanho das mesmas. Nesta pele de peixe, as áreas que permaneceram com escamas apresentaram-se mais rígidas, ao contrario das áreas sem escamas que resultaram bastante flexíveis. Após a secagem dos couros, observou-se que aqueles de menor porte e que apresentavam danos eram pouco resistentes, não adequados, por tanto, para o uso em produtos. Os resultados podem ser observados na tabela 4. Tabela 4 espécies de peixes e couros curtidos processo 01 Nome peixe Tanino Tambaqui Mangue Vermelho Palombeta

Palombeta com escamas X Galo 3.2 MÉTODO DE CURTIMENTO 02 Neste método a espécie de peixe utilizada foi a Pescada Amarela (Cynoscion acoupa). As espécies vegetais foram (Schinus terebinthifolius) e Andiroba (Caraba guianensis). Os corantes utilizados foram natural (urucum - Bixa orellana) e artificial (corante comercial). As tabelas 5, 6 e 7 descrevem os materiais, quantidade e tempo utilizados no processo. Tabela 5 - Componetes para o Método de Curtimento 02 Componente Pescada Amarela Casca da Andiroba Casca da Óleo de girassol Detergente neutro Corante natural (urucum) Corante artificial (maravilha) Quantidades 600 g 50 g 20 g 720 ml 180 ml 10g 10g Tabela 6 - Tempo de cozimento para extração de tanino no Método de Curtimento 02 Casca Água Tempo 1L 30 min Andiroba 3 L 30 min Tabela 7 - Tempo de mergulho de pele no tanino no Método de Curtimento 02 Peixe Tanino Corante Tempo Pescada Amarela Andiroba X 3 h Pescada Amarela Andiroba Urucum 3 h Pescada Amarela Andiroba Rosa 3 h Pescada Amarela Urucum 2 h Pescada Amarela Rosa 2 h No processo de curtimento 02 utilizou-se uma espécie vegetal que até então ainda não havia sido testada, a casca de andiroba. Ao término da secagem, observou-se que as peles curtidas com este tanino apresentavam-se oleosas, revelando as características naturais do vegetal resinoso que tornou a pele pouco permeável, por tanto, dificultando a penetração dos agentes curtentes. As peles testadas com o tanino da casca da aroeira apresentaram resistência à decomposição. Estas também apresentaram aspecto plástico, porém maleável. Para o tingimento das peles neste processo foram utilizados os corantes natural (urucum) e artificial. Os mesmos responderam bem ao processo, resultando nas colorações desejadas.

Os resultados podem ser observados na tabela 8. Tabela 8 espécies de peixes e couros curtidos processo 02 Tanino Corante Nome peixe Pescada Amarela Andiroba X Andiroba Urucum Andiroba Rosa Rosa 3.3 MÉTODO DE CURTIMENTO 03 No curtimento 03 a espécie de peixe foi a Pescada Amarela (Cynoscion acoupa), as espécies vegetais foram a (Schinus terebinthifolius) e o Açoita Cavalo (Luehea divaricata) e corantes artificiais (Corante comercial) em diversas cores. As tabelas 9, 10 e 11 descrevem os materiais, quantidade e tempo utilizados no processo. Tabela 9 - Componetes para o Método de Curtimento 03 Componente Quantidades Pescada Amarela 2400 g Casca do Açoita cavalo 100 g Casca da 180 g Óleo de girassol 900 ml Detergente neutro 225 ml Corante artificial (amarelo) 5g

Corante artificial (laranja) Corante artificial (verde) 5g 10g Tabela 10 - Tempo de cozimento para extração de tanino no Método de Curtimento 03 Casca Água Tempo Açoita cavalo 2,5 L 30 min 6 L 30 min Tabela 11 - Tempo de mergulho de pele no tanino no Método de Curtimento 03 Peixe Tanino Corante Tempo Pescada Amarela Açoita cavalo X 3 h Pescada Amarela Amarelo 3 h Pescada Amarela Laranja 3 h Pescada Amarela Verde 3 h No esperimento 03 de curtimento foram submetidas ao teste a casca de açoita cavalo. Depois de alguns dias de secagem, notou-se a presença de moscas no local. Na conclusão desta etapa, as peles encontravam-se em processo de decomposição, apresentavam mau cheiro e algumas partes corroídas por insetos. Conclui-se que a casca de açoita cavalo não apresenta quantidade satisfatória de propriedades curtentes, não protegendo a pele após o curtimento, por tanto, o seu uso não é indicado. Foram testadas também algumas peles com escamas que não alcançaram resultados satisfatórios. Uma parte significativa de escamas foi retirada na etapa de limpeza da pele. As áreas que permaneceram com escamas dificultaram a permeabilidade do tanino, retardando o processo de curtimento. As peles tingidas com os corantes estavam em boas condições, atingindo as cores esperadas. Todas elas apresentaram bastante resistência. Os resultados podem ser observados na tabela 12. Tabela 12 espécies de peixes e couros curtidos processo 03 Tanino Corante Nome peixe Pescada Amarela Açoita Cavalo X Amarelo

(peixe com escama) Amarelo Laranja Verde 4. RENDERING DE PROPOSTA DE PRODUTOS Algumas propostas de produtos usando o couro de peixe como matéria prima, foram desenvolvidas com objetivo de criar possibilidade de desdobramentos futuros para pesquisa, através da técnica de desenho de rendering, porém estas não foram fabricadas. Figura 1 Luminárias e mesa de centro usando o couro associado de outros materiais. 5. CONCLUSÕES Baseando-se nos resultados obtidos nos vários testes realizados, pode-se considerar que nem todas as espécies vegetais encontradas na região possuem tanino com propriedades curtentes, ou seja, apenas algumas são capazes de auxiliar na transformação da pele do peixe em couro. Destacam-se as cascas da aroeira e mangue vermelho, as quais se mostraram adequadas para a utilização no processo de curtimento de pele de peixe, cumprindo com as suas funções de proteger de ações de fungos e bactérias, impedindo o processo natural de degradação. Por outro lado os taninos das cascas da andiroba e de açoita cavalo não atingiram o objetivo, apresentando falhas no processo. As peles curtidas com esta espécie apresentam aspecto resinoso, não secando de maneira satisfatória. Com relação às espécies animais, observou-se algumas dificuldades na execução de algumas etapas devido às características físicas dos peixes menores, dentre os quais, estão o peixe Galo e

Palombeta, como a difícil retirada e conservação da pele. Observa-se, por conseqüência, que as peles de peixes maiores são mais apropriadas para este processo, tendo em vista o melhor aproveitamento. Tanto as colorações feitas com corante natural como as feitas com o artificial tiveram apresentam-se satisfatórias. O couro de peixe apresenta-se como material alternativo para o desenvolvimento de produtos. Apresenta bastante resistência e valor estético único, dada a morfologia das peles. Algumas peles testadas apresentam resultados satisfatórios para o uso como matéria-prima, outras ainda necessitam um maior estudo para o aprimoramento e alcance de melhores resultados. REFERÊNCIAS FERREIRA, Mario dos Santos. A Função Design e a Corrente da Sustentabilidade: Eco-Eficiência de um Produto. In: Anais do 2o. Congresso Internacional de Pesquisa em Design. Rio de Janeiro: Anped, 2003. SANTOS, Camila Andrade et al. Curtimento de couro de peixe: identificando um potencial local. In: Anais do III encontro de pesquisadores de poluentes orgânicos em ambientes aquáticos e terrestre e I Seminário do Curso de Pós-Graduação em Educação Ambiental e Gestão Participativa de Recursos Hídricos. São Luís: EPPOAT, 2009. SANTOS, Camila Andrade dos. Educação ambiental e desenvolvimento local com base no ecodesign: o caso do couro de peixe. Monografia. Pós-graduação em educação ambiental e gestão participativa de recursos hídricos. São Luís: IFMA, 2009. SOUZA, Maria Luiza Rodrigues de. Tecnologia para peles de peixe: processo de curtimento. Maringá: Eduem, 2004. VIEIRA, Ariana Martins et al. Curtimento de pele de peixe com taninos vegetal e sintético. Disponível em <www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/actascianimsci/article/viewfile/5717/5717>. Acesso em 29 jul. 2009.