APELAÇÃO CÍVEL N.º 0237547-39.2010.8.19.0001 APELANTE: MARIA LUIZA DE OLIVEIRA MARTINS RECORRIDOS: IBERIA LINEAS AEREAS DE ESPANA S A TAM LINHAS AEREAS S A RELATOR: DESEMBARGADOR PETERSON BARROSO SIMÃO DECISÃO MONOCRÁTICA APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. EXTRAVIO DE BAGAGEM NA VIAGEM PROFISSIONAL DE MADRID PARA LONDRES. ENTREGA DO MATERIAL TRÊS DIAS APÓS SER DESPACHADA. SENTENÇA QUE ATRIBUIU À PARTE RÉ O DEVER DE INDENIZAR OS DANOS MORAIS CONFIGURADOS EM R$ 5.000,00. APELAÇÃO DA PARTE AUTORA PELA MAJORAÇÃO DO REPARO ARBITRADO CONSIDERANDO A EXTENSÃO DA LESÃO SUPORTADA. RECURSO AUTORAL A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO PARA MAJORAR PARA R$ 12.000,00 (DOZE MIL REAIS) A INDENIZAÇÃO PELO DANO MORAL CONFIGURADO, COM FULCRO NO 1º-A DO ARTIGO 557 DO CPC. RELATÓRIO Trata-se de ação indenizatória em que a autora pleiteia indenização em razão de alegado dano moral decorrente do extravio de sua bagagem durante três dias quando da sua chegada ao destino durante viagem internacional de caráter profissional. Pedidos autorais: 3. Sejam as rés condenadas a pagar indenização no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), atualizado pelos juros legais e corrigida monetariamente a título de danos morais. 4. Sejam as rés condenadas a pagar custas e honorários advocaticios na base de 20% sobre o
valor da condenação final, com fundamento no que prescreve o art. 20 do CPC. A reclamada alegou a inexistência de ato ilícito a configurar o dano moral ensejador da reparação, e inocorrência de dano moral diante de mero aborrecimento. termos: A sentença julgou procedente o pleito autoral nos seguintes JULGO PROCEDENTE O PEDIDO para condenar os réus, solidariamente, ao pagamento de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a título de dano moral, corrigido monetariamente desta data e com juros de mora de 1% ao mês da citação. Condeno também os réus ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios que arbitro em 10% do valor da condenação. Apelação da autora pela majoração da indenização arbitrada considerando as peculiaridades do caso concreto. Contrarrazões em prestígio da sentença. DECIDO Presentes os requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade recursal. O julgamento monocrático é instrumento que confere celeridade ao procedimento recursal, sendo, no presente caso, a solução mais apropriada. O tema em debate é de amplo conhecimento no âmbito deste Tribunal de Justiça, o que permite utilizar o parâmetro delineado pela jurisprudência, para solucionar a controvérsia. A relação jurídica entre as partes é de consumo, sendo impositiva a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. A questão sob exame trata de fato do serviço, que enseja inversão do ônus da prova ope legis, por expressa disposição de lei. Conforme pacífico entendimento do STJ, nos casos de responsabilidade civil decorrente da má prestação dos serviços pela companhia aérea, aplica-se o Código de Defesa do Consumidor em
prejuízo da Convenção de Varsóvia, com suas posteriores modificações (Convenção de Haia e Convenção de Montreal), e do Código Brasileiro de Aeronáutica. No serviço de transporte, o transportador tem o dever de conduzir o passageiro e sua bagagem incólumes, no tempo e modo previstos, até seu destino. Trata-se de obrigação de resultado. Assim, a perda (definitiva) ou o extravio (temporário) da bagagem, caracteriza fortuito interno, porque ínsito à própria atividade exercida. Logo, não pode ser considerado motivo ensejador de excludente de responsabilidade, ainda que a parte ré tenha despendido esforços e logrado localizar e devolver a bagagem desaparecida. O extravio da bagagem é fato incontroverso, comprovado nos autos. E enseja dano moral in re ipsa, em virtude de a parte ré frustrar a legítima expectativa do consumidor, em receber seus objetos pessoais, intactos, logo após o desembarque. A sentença fixou a compensação por danos morais em R$ 5.000,00, valor esse que deve ser ajustado pelas peculiaridades do caso concreto. A viagem narrada na inicial referia-se a compromisso profissional, conforme comprovado na declaração do ind. 23, fazendo presumir que havia instrumentos de trabalho dentro da mala extraviada, não havendo prova em contrário. De fato, a bagagem só foi devolvida depois de todos os compromissos profissionais a que se destinava a viagem, sendo notório o prejuízo suportado. O status de palestrante da autora não restou comprovado, não se levando em consideração documentos em língua estrangeira sem a devida tradução nos autos, sob pena de cerceamento de defesa e contraditório. O agendamento de compromissos profissionais de extrema formalidade ficaram latentes nos autos através de outros documentos. Há de ser considerado que a falta das roupas e materiais de trabalho da autora ocasionaram uma angústia superior à de quem viaja em lazer, já que envolvido o desempenho profissional da mesma. Daí a necessidade de quantificar de forma majorada a reparação do dano moral sofrido. Na hipótese, o valor arbitrado revela-se um abaixo dos parâmetros estabelecidos pela Jurisprudência desta Corte. Há de ser considerada a extensão, gravidade e repercussão do dano indenizável, sob pena de desprestigiar os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Deve-se observar ainda a condição financeira de ambas as partes. E também deve-se sopesar o
princípio do equilíbrio da cadeia de consumo no qual se insere o contrato ora discutido, sendo a preservação da ré é também um interesse social, como consectário do Princípio da Preservação da Empresa, o qual considera a importância da entidade empresarial como empregadora em massa, fonte expressiva de arrecadação de impostos e captação de matérias primas e produtos e serviços intermediários. Assim, não deve a indenização fixada ser tal alta a ensejar enriquecimento ilícito de quem a recebe, mas também não deve ser tão insignificante que suscite o sentimento de menos valia de quem já sofreu um dano moral. De tal forma, afigura-se razoável um ajuste na quantia fixada para adequá-la à praxe deste Tribunal diante de conflitos semelhantes, fixando a indenização pelos danos morais em R$ 12.000,00 (doze mil reais), considerando-se as peculiaridades existentes. Entendeu a nossa Corte recentemente em recurso semelhante: 0356766-75.2012.8.19.0001 - APELACAO DES. REGINA LUCIA PASSOS - Julgamento: 03/02/2014 - VIGESIMA QUARTA CAMARA CIVEL CONSUMIDOR Apelação Cível. Relação de consumo. Ação Indenizatória. Indenização por dano moral e material. Atraso de voo que gerou perda de conexão e postergou a chegada do consumidor em mais de 12 (doze) horas. Extravio de bagagem, que continha material de trabalho a ser utilizado em um evento internacional profissional de arquitetura, além de objetos pessoais. Sentença de procedência. Danos morais fixados em R$ 12.000,00 (doze) mil reais. Danos materiais arbitrados em R$ 5.000,00 (cinco) mil reais. Recurso de ambas as partes. Manutenção. Falha na prestação do serviço configurada. Dano moral in re ipsa. Verba reparatória que atende aos Princípios da Razoabilidade e Proporcionalidade e às circunstancias específicas do caso concreto.
Precedentes citados: AgRg no AREsp 83.338/RJ, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, UARTA TURMA, julgado em 20/09/2012, DJe 04/10/2012; 0444530-02.2012.8.19.0001 - APELAÇÃO. DES. REGINA LUCIA PASSOS - Julgamento: 10/12/2013 - VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR; 0382861-50.2009.8.19.0001 - APELAÇÃO. DES. MARCO AURÉLIO BEZERRA DE MELO - Julgamento: 13/11/2013 DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL e AgRg no AREsp 193.113/DF, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 28/08/2012, DJe 17/09/2012. DESPROVIMENTO DOS RECURSOS. Ante o exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO À APELAÇÃO INTERPOSTA PELA AUTORA PARA MAJORAR A INDENIZAÇÃO A TÍTULO DE DANO MORAL PARA R$ 12.000,00 (DOZE MIL REAIS) E A SER SOLIDARIAMENTE SUPORTADA POR AMBAS AS DEMANDADAS, MANTENDO-SE OS DEMAIS TERMOS DO JULGADO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA, INCLUSIVE QUANTO AOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS, o que faço com respaldo no 1º-A do art. 557, caput, do Código de Processo Civil. Rio de Janeiro, 1 de março de 2014. PETERSON BARROSO SIMÃO Desembargador