FORMAÇÃO DE PROFESSORES E CLASSES MULTISSERIADAS: estudo numa escola da zona rural de Igarapé-Açu /PA Ana Camila Costa de Oliveira 1 - UEPA Adria Leticia Morais dos Anjos 2 - UEPA Adriana Dias da Cruz 3 - UEPA Eixo Educação indígena, quilombola e do campo Agência financiadora: não contou com financiamento Resumo Este estudo objetivou investigar a formação dos professores que atuam nas turmas multisseriadas localizadas em uma escola da zona rural no Munícipio de Igarapé-Açu /Pará. Como acadêmicas do Curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Pará UEPA/ Campus X e bolsistas do Programa Institucional de Iniciação à Docência PIBID, temos nos inquietado no que diz respeito às ações desenvolvidas pelos professores nessa realidade, a qual temos proposto o desenvolvimento de diferentes atividades pedagógicas e numa perspectiva lúdica pelo Programa, no intuito de contribuir com a ação docente e no processo de ensino e aprendizagem das crianças atendidas nesse espaço. Metodologicamente, foi feito inicialmente um levantamento bibliográfico acerca do tema com base em autores que discutem sobre formação de professores e classes multisseriadas. Em seguida desenvolvemos a pesquisa de campo junto às duas professoras da escola, utilizando como instrumento de coleta de dados a observação das atividades docentes desenvolvidas em sala de aula e uma entrevista semiestruturada, previamente elaborada pelas pesquisadoras/ bolsistas. Como resultado do estudo conseguimos perceber e podemos afirmar que a formação docente é determinante para uma educação de qualidade, contextualizada e significativa na vida dos alunos que estão inseridos na zona rural e nas classes multisseriadas pois essa formação é que dará condições para que o professor atue de forma diferenciada e motivadora. A realidade da multissérie é diferenciada e apresenta características próprias e assim, as práticas pedagógicas precisam atender à demanda das crianças no seu cotidiano escolar. E na escola onde estamos inseridas com o PIBID as práticas educativas nessa perspectiva farão um grande diferencial na formação das crianças. Palavras-chave: Formação de professores. Classes multisseriadas. Ensino e aprendizagem 1 Graduanda do Curso de Licenciatura em Pedagogia pela Universidade do Estado do Pará-Campus X. Bolsista no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência- PIBID. E-mail: bella.camila10@gmail.com 2 Graduanda do Curso de Licenciatura em Pedagogia pela Universidade do Estado do Pará-Campus X. Bolsista no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência- PIBID. E-mail: leticiaanjos0998@gmail.com 3 Graduanda do Curso de Licenciatura em Pedagogia pela Universidade do Estado do Pará-Campus X. Bolsista no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência- PIBID. E-mail: adrianadiascruz1@gmail.com ISSN 2176-1396
22552 Introdução Este trabalho tem como objetivo investigar a formação dos professores que atuam nas classes multisseriadas na Escola Dom Pedro II localizada em uma comunidade da zona rural no Município de Igarapé-açu/PA, onde a mesma tem recebido as ações do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) da Universidade do Estado do Pará- UEPA/ Campus X, vinculado ao Curso de Pedagogia. Como acadêmicas desta IES e bolsistas do Programa acima citado, temos percebido e nos inquietado diariamente com as ações docentes que tem sido desenvolvida nesse espaço, ao percebemos que existe uma precariedade na formação do professor que atua e nas práticas pedagógicas desenvolvidas em sala de aula. A formação dos professores e as classes multisseriadas É importante ressaltar que os professores que atuam nestas classes enfrentam diversos impasses diante da realidade que é a educação no campo, onde a maioria das escolas são multisseriadas, estas por sua vez são espaços marcados predominantemente pela heterogeneidade reunindo grupos com diferenças de série, de sexo, de idade, de interesses, de domínio de conhecimentos, de níveis de aproveitamento, etc. (HAGE, 2005 p. 5), ou seja, um único docente é responsável pela educação de vários alunos que estão em séries diferentes e estudam em uma mesma sala. Porém, a maioria desses professores apresentam dificuldades em lecionar nestas classes, pois necessitam ter uma formação inicial e continuada adequada para ter êxito no ensino e aprendizagem do aluno. Somando a isto, observa-se que na maioria das vezes os docentes atuantes na multissérie ainda tem a formação do curso de magistério, que era feito no antigo segundo grau, não possuindo assim uma base teórica e metodológica adequada para atuar de maneira eficiente, ou seja, a formação torna-se o principal fator na qualidade do ensino, e que para isso é preciso conhecer o que existe sobre o assunto buscando de novos conhecimentos GUIMARAES (apud ROCHA e COLARES, 2012, p. 46). Desta forma, existem alguns projetos de incentivo à formação de professores, podemos citar o PARFOR - Plano Nacional de Formação de Professores, que através dele o docente que atua na rede pública de ensino tem a oportunidade de fazer um curso superior, e conhecer novas práticas pedagógicas, ampliando assim seu campo de conhecimento.
22553 A precariedade na formação de professores é encontrada especialmente nos cursos de licenciatura, visto que pouco se aborda sobre questões relacionadas à multissérie e Educação no Campo, ocasionando uma lacuna na qualificação dos futuros profissionais. A realidade da multissérie é tão presente atualmente, pois as classes multisseriadas compõem a grande maioria das escolas do campo, e é através dessas que muitas crianças possuem a oportunidade de estudar. Mas para que essas crianças tenham um ensino de qualidade é necessário que haja uma formação adequada deste docente, neste sentido, entendemos que deveria ser incluído no currículo dos cursos de licenciatura mais disciplinas que considerassem essa realidade e que oportunizasse aos acadêmicos uma inserção mais concreta nesse contexto. Outro ponto importante a ressaltar é como a multissérie é percebida pelos órgãos competentes quanto ao seu funcionamento pedagógico, pois: Os professores da multissérie se sentem pressionados pelo fato das secretarias de educação definirem encaminhamentos padronizados no que se refere à definição de horário do funcionamento das turmas e ao planejamento e listagem de conteúdos, reagindo de forma a utilizar sua experiência acumulada e criatividade para organizar o trabalho pedagógico com as várias séries ao mesmo tempo e no mesmo espaço, adotando medidas diferenciadas em face das especificidades de suas turmas. (HAGE, 2005, p. 38) Desta forma, percebemos que há um descaso dos gestores do município e Secretaria de Educação com as escolas do campo, começando pelo planejamento escolar, que é desenvolvido com a direção e corpo docente apenas das escolas urbanas, com foco somente nas necessidades destas. Após a elaboração deste planejamento ele é encaminhado para as escolas rurais sem que os docentes destas tenham a chance de expor suas necessidades pedagógicas, já que o ensino no campo se dá pelas classes multisseriadas e é uma realidade totalmente distinta das classes seriadas. Com isso, os professores têm que elaborar seu próprio planejamento, de acordo com as especificidades de sua classe e do contexto que está inserido. O PIBID e suas ações na escola pesquisada O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), possui uma grande contribuição para a formação docente, pois se trata de um programa que tem o objetivo de inserir o acadêmico na realidade da sala de aula. Diante disso, o subprojeto do PIBID/ UEPA-CAMPUS X- PEDAGOGIA vem contribuindo nas práticas dos professores da escola Dom Pedro II, uma vez que um dos objetivos do subprojeto é que coloquemos em
22554 prática todo o conhecimento que estamos adquirindo no decorrer do curso, e junto com o docente atuante da escola que possamos construir práticas pedagógicas inovadoras para as classes multisseriadas. Desta forma, buscamos trabalhar, atividades de caráter lúdico, através de jogos, brincadeiras, dinâmicas, com o intuito de despertar o interesse e a atenção pelo ensino, sem que haja pressão ou que seja algo monótono, pois o lúdico é isso, propor atividades que seja dinâmica, livre, descontraída, mas que tenha um fim pedagógico, fazer de uma simples brincadeira um instrumento de ensino e aprendizagem, e desmistificar a visão tradicional de se ensinar apenas com quadro e giz, e de que a multissérie não é algo impossível de se trabalhar, uma vez que, através de atividades lúdicas observamos o desenvolvimento cognitivo, comunicativo, social, e outros aspectos desses alunos. Durante este estudo na escola Dom Pedro II, realizamos juntamente com as professoras da mesma, algumas atividades com o intuito de trabalhar a leitura, a oralidade, participação dos alunos, trabalho em equipe e outros aspectos, as atividades são: ensinar sinais de trânsito através de um dominó, de maneira que o tamanho e as cores chamavam bastante atenção das crianças, aprendendo de forma bem divertida. Foi confeccionado também um alfabeto móvel, que as crianças utilizando seu próprio corpo teriam que fazer as letras conforme elas iriam vendo no alfabeto móvel, trabalhando assim os aspectos físicos e cognitivos da criança. Podemos citar também a atividade dos cinco sentidos, onde através de cinco dinâmicas as crianças iriam testar seus sentidos: olfato, paladar, visão, audição e tato, de uma maneira leve e descontraída. Estas foram algumas das mais diversas atividades já realizadas nesta classe multisseriada. Mas sempre tendo o cuidado de envolver as professoras da classe para que elas possam ter contato com essas práticas pedagógicas, para que sejam realizadas posteriormente em sala de aula, pois são atividades que na maioria das vezes engloba todos os alunos, facilitando assim o trabalho docente e o processo de ensino e aprendizagem dos discentes. Outro objetivo do Projeto do PIBID é contribuir com a formação dos professores da multissérie no sentido de proporcionar ações educativas lúdicas e interdisciplinares. E durante nossas atividades como bolsistas do Programa temos tentado construir em parceria com as professoras da escola os jogos pedagógicos, trabalhar com a música e a contação de história,
22555 propor diferentes projetos que envolvem o meio ambiente, a construção de uma horta comunitária, ações lúdicas para o momento dos intervalos das aulas, entre outros. Resultados alcançados Apresentando o espaço da escola A escola pesquisada recebe cerca de 40 alunos no período da manhã e tarde, atendendo da educação infantil ao 5º ano do ensino fundamental menor, com uma estrutura física que possui uma pequena sala de aula que recebe de 15 á 20 alunos no período da manhã e da tarde, com péssima iluminação, cadeiras danificadas, banheiro externo bastante precário, uma pequena cozinha atrás da escola contendo uma geladeira e um fogão, e a falta de merenda que ocasiona a saída mais cedo dos alunos e conta com duas professoras efetivas e uma merendeira contratada. Análise dos dados coletados Foram ouvidas as duas professoras da Escola Dom Pedro II, onde utilizamos a entrevista com perguntas abertas, além de observações em sala de aula. Desta forma, a partir da convivência e relatos destas, percebemos que as classes multisseriadas não é uma realidade impossível de se trabalhar, mas os fatores que a rodeiam é que fazem surgir algumas problemáticas, neste sentido o fator que mais se destaca, segundo as professoras entrevistadas seria: As dificuldades que há em trabalhar de maneira diferenciada com esses alunos de níveis tão distintos, isso ocorre devido à falta de uma formação continuada, que proporcione o conhecimento de novas práticas pedagógicas, fazendo com que o docente fique sem base para fazer atividades que saiam do monótono quadro e giz, prejudicando dessa forma diretamente o ensino-aprendizagem. Além das dificuldades da formação, há outro ponto que tem grande influência neste contexto, que é justamente a relação precária que há entre Escola Sede e a escola multisseriada. Não existe nenhum tipo de inclusão, preocupação, compromisso com as escolas do campo, já que a gestão da escola Sede apenas apresenta o planejamento e os projetos que tem que ser executado, sem dá espaço aos docentes de exporem suas indagações e convicções a respeito do que está sendo trabalhado. Assim, fica difícil planejar de forma diferenciada e respeitando a realidade de nossas crianças.
22556 Em contrapartida a isto, temos as ações do PIBID nesta escola, que segundo as professoras tem contribuído bastante para a mudança de algumas de suas práticas, como por exemplo, a inserção do lúdico nas atividades desenvolvidas dentro da sala de aula, proporcionando o enriquecimento na formação tanto das professoras que atuam na escola, como de nossa formação acadêmica, pois, segundo o depoimento delas: Se não houvesse projetos como o do PIBID, todos estariam perdendo a grande oportunidade de vivenciar outras estratégias pedagógicas e outras relações entre a Universidade e escola pública e multisseriada localizada na zona rural. E para vocês que são alunas da UEPA essa experiência é única, sem dúvida. Quanto às maiores dificuldades que as professoras enfrentam para trabalhar em sala de aula com a turma multisseriada, elas nos relataram que são inúmeras, mas que o prazer de perceber que as crianças aprendem acaba compensando o sacrifício. As crianças trazem para a escola uma vida difícil que levam na comunidade. Mas aqui nesse espaço elas conseguem se divertir, aprender, interagir com os colegas. Tem crianças que ficam na escola de manhã e à tarde porque gostam desse ambiente. Percebemos nesse depoimento que por mais que o espaço da escola na zona rural seja precário, com poucas condições de conforto, merenda escolar, sala de aula apertada, as crianças sentem-se motivadas a ficar em dois turnos. Isso reflete o trabalho difícil e árduo das professoras, mais gratificante na medida em que os alunos sentem-se parte desse processo e contexto. [...] A figura da professora e do professor quando mora junto às populações é uma figura que extrapola seu papel escolar: é conselheiro, guardião da cultura e da memória, organizador da comunidade e dirigente... Uma figura humana com funções, saberes e habilidades múltiplas. (ARROYO 2005, p. 15, apud MOLINA p. 194) Diante de todas as dificuldades citadas e observadas nas classes multisseriadas pelas professoras e por nós como bolsistas do PIBID, percebe-se que a formação das professoras, tem ajudado de alguma forma na sua atuação, mas, em alguns momentos ainda nos deparamos com o uso excessivo do quadro, da cópia pela cópia, e diante disso, concordamos com Pereira (2005, p. 99,100) quando considera: A formação de professor combina sistematicamente elementos teóricos com situações práticas reais. É difícil pensar na possibilidade de educar fora de uma situação concreta e de uma realidade definida. Por essa razão ao se pensar no professor que trabalha nas escolas do campo se imagina que ao realizar sua formação inicial ou continuada, a ênfase tenha sido a prática como atividade formativa e um dos aspectos centrais a ser considerado, com consequência decisiva para a atuação junto aos sujeitos e a realidade que ali vivem.
22557 Nesse sentido, entendemos que a multissérie é uma realidade que precisa ser reconhecida pelo valor que tem, principalmente na vida das pessoas que são das comunidades rurais, sendo responsável por ser muitas vezes a única chance que um indivíduo que mora no campo tem de estudar. Desta maneira, é necessário pensar em políticas públicas que englobe a realidade e as necessidades vivenciadas pelos professores e alunos de uma classe multisseriada, e disponibilizar uma formação continuada para esse docente atuante, o que será refletido futuramente nas suas ações pedagógicas desenvolvidas em sala de aula. Considerações finais Ao concluirmos nosso estudo consideramos importante ressaltar que a nossa formação como acadêmicas e bolsistas do PIBID tem se configurado de maneira mais concreta e mais efetiva, uma vez que residimos no Município e que como futuros profissionais poderemos contribuir de forma mais eficaz nas comunidades rurais de Igarapé- Açu, assim como, em outros espaços. Com base nesses pressupostos, entendemos que a experiência como bolsistas desse Programa possibilitará uma inserção maior e contextualizada no espaço da escola multisseriada no município de Igarapé Açu e com a condição de contribuir com as ações pedagógicas que vem se desenvolvendo no processo de ensino e aprendizagem dos alunos.
22558 REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel. Por uma educação do campo. Petrópolis, Rio de Janeiro. Editora Vozes. 2005. GUIMARÃES, Waldenira Santos. Políticas Públicas de Educação do Campo e Formação de Professores. In: ROCHA, Solange Helena Ximenes; COLARES, Maria Lília Imbiriba Sousa (Orgs.). Formação de Professores: Pesquisa com ênfase na escola do campo. Curitiba (PR): Editora CRV, 2012. HAGE, Salomão Mufarrej. Classes Multisseriadas: desafios da educação rural no Estado do Pará/Região Amazônica. In:. (Org). Educação do Campo na Amazônia: Retratos de realidade das escolas multisseriadas no Pará. Belém: Gráfica e Editora Gutemberg, 2005. PEREIRA, Ana Claudia da Silva. Lições da educação no campo: um enfoque nas classes multisseriadas. In: HAGE, Salomão M.; PERREIRA, Ana (org.). Educação do campo na Amazônia: retratos de realidade das escolas multisseriadas no Pará. Belém: Gutemberg, 2005.