Panorama do conhecimento geral e da participação no programa de coleta seletiva da comunidade acadêmica da FCAT/UNESP Overview of general knowledge and FCAT/UNESP community s selective waste collection participation ALESSANDRA BARONI RODRIGUES NEVES* 1 ; JOÃO VITOR FRANÇA PIROLA 1 ; CELSO TADAO MIASAKI 1 ; PAULO RENATO MATOS LOPES 1. 1 Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas, UNESP - Universidade Estadual Paulista, Câmpus de Dracena. Rodovia Comandante João Ribeiro de Barros, km 651, CEP 17900-000, Dracena, Brasil. *alee_rodrigues06@hotmail.com RESUMO O grande avanço da sociedade moderna trouxe, além de muitos benefícios, alguns problemas ambientais como o aumento da geração de resíduos sólidos urbanos. Assim, o trabalho destaca uma importante ferramenta socioambiental: a coleta seletiva. Foram avaliados o conhecimento e a participação da comunidade acadêmica da FCAT/UNESP no programa por meio de uma pesquisa exploratória e descritiva, além de revelar os motivos mais relevantes quanto a sua participação ou não. Os resultados demonstraram que há uma preocupação com o meio ambiente, visto que 60% realizam a segregação dos resíduos orgânicos e recicláveis. No entanto, foi observado que quanto menor o grau de escolaridade do entrevistado, menor o percentual de adesão à coleta seletiva. Além disso, pessoas que moram sozinhas geralmente não costumam realizar esta separação e, por outro lado, a vivência com familiares demonstrou ser um fator importante na conscientização ambiental pela maior participação efetiva ao programa. INTRODUÇÃO O desenvolvimento da sociedade moderna trouxe inúmeros avanços para o homem, porém existem algumas dificuldades quando se trata da sua relação com o meio ambiente. Neste sentido, a geração de resíduos sólidos urbanos vem crescendo de forma alarmante, provocando diversos problemas ambientais e à saúde pública. Portanto, o desenvolvimento de estratégias torna-se essencial para reverter esta situação perigosa em que os próprios cidadãos se inserem (BECK, 1994). O padrão de vida social nos dias atuais está intimamente ligado a esta problemática. A grande transição do modelo rural para a vida urbana acarretou uma maior geração de 519
resíduos sólidos, tornando necessário um sistema diferenciado de coleta e de destinação final para estes materiais (OPS, 2005). No Brasil, mais de 80% da população vive nas cidades e este número vem aumentando durante os anos. Assim, observa-se que, entre 1992 e 2000, a produção de resíduos em nível nacional cresceu 49%, sendo cerca de três vezes maior do que o crescimento populacional (16%). Além disso, há uma situação agravante no cenário brasileiro: o destino final destes resíduos é muitas vezes locais inapropriados, como lixões a céu aberto (IBGE, 2001). Este quadro exige soluções conjuntas entre o poder público e a população, englobando todas as etapas do gerenciamento dos resíduos sólidos, desde sua produção até seu destino (BRINGHENTI, 2004). Um importante instrumento de gestão ambiental acerca dos resíduos sólidos urbanos é a coleta seletiva. Os primeiros registros da implantação desta estratégia no Brasil ocorreram em 1986. Contudo, apenas em 1990 administrações municipais e catadores organizados entraram em acordo para a execução do programa, o que resultou na redução de custos e a criação de uma política pública de manejo de resíduos (RIBEIRO; BESEN, 2007). A coleta seletiva é a separação de resíduos em metais, papéis, vidros, plásticos, orgânicos e outros. Logo, há uma diferenciação da coleta urbana em dois tipos: (a) materiais recicláveis e (b) resíduos orgânicos e rejeitos. Esta simples ação representa uma redução de 30% na geração de resíduos domésticos, contribuindo por um maior tempo de vida útil dos aterros sanitários (IBGE, 2001). Para Waite (1995), inúmeros benefícios são obtidos pela adoção da coleta seletiva em centros urbanos: economia de recursos naturais como matérias-primas e energia, geração de fonte de renda, aumento da capacidade de utilização dos aterros sanitários, criação de consciência ambiental na população, entre outros. No entanto, esses programas apresentam algumas dificuldades como a ausência de incentivo do poder público, a falta de organização e a baixa capacitação técnica (RIBEIRO; BESEN, 2007). Portanto, o trabalho propôs avaliar, por meio de uma pesquisa exploratória e descritiva, o conhecimento e a participação da comunidade acadêmica da FCAT/UNESP, câmpus de Dracena, no programa de coleta seletiva do município, estabelecendo relação com a escolaridade e o tipo de moradia dos entrevistados, além de demonstrar os motivos mais relevantes pelos quais as pessoas participam ou não desta atividade socioambiental. 520
MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi realizada na Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas, Universidade Estadual Paulista, câmpus de Dracena, no mês de agosto de 2016. Foram distribuídos formulários para toda a comunidade acadêmica, abrangendo estudantes de graduação e de pós-graduação, servidores técnico-administrativos e docentes. Participaram da pesquisa 137 pessoas, sendo 50 do sexo feminino e 87 do sexo masculino. Um questionário com 18 questões foi aplicado. Posteriormente, foi realizada a análise das respostas. abaixo: Para este trabalho foram consideradas as questões 3, 5, 9, 10 e 11 apresentadas 3. Escolaridade ( ) Sem formação ( ) 1º grau incompleto ( ) 1º grau completo ( ) 2º grau incompleto ( ) 2º grau completo ( ) Superior incompleto ( ) Superior completo ( ) Pós-graduação 5. Moradia ( ) Sozinho (a) ( ) Pensionato ( ) República ( ) Com familiares 9. Você separa os materiais recicláveis dos resíduos orgânicos na sua residência? ( ) Sim ( ) ( ) 10. Qual o grau de importância destes motivos faz/faria você NÃO participar do programa de coleta seletiva? *responder os itens de A a F de acordo com a escala: Sem importância (Muito fraco), Pouca importância (Fraco), Neutra (Médio), Importante (Forte) e Muito importante (Muito forte). A. Ausência de coleta seletiva no município B. Baixa geração de recicláveis na residência C. Falta de organização entre os moradores da residência D. Desconhecimento de quais materiais podem ser separados E. Desinteresse próprio pela programa de coleta seletiva F. Tempo disponível para separação dos materiais 11. Qual o grau de importância destes motivos faz/faria você PARTICIPAR efetivamente do programa de coleta seletiva? *responder os itens de A a F de acordo com a escala: Sem importância (Muito fraco), Pouca importância (Fraco), Neutra (Médio), Importante (Forte) e Muito importante (Muito forte). A. Criação de consciência ambiental entre os moradores da residência B. Comprometimento com o meio ambiente 521
Sim Sim Sim 1º Encontro Internacional de Ciências Agrárias e Tecnológicas C. Exercício da cidadania D. Geração de novas fontes de renda e empregos E. Influência da mídia (TV, internet, jornais, etc.) F. Incentivo de políticas públicas, como programa de coleta seletiva Os resultados foram expressos em gráficos e tabelas revelando o grau de importância de diferentes motivos entre os entrevistados para sua participação efetiva ou não no programa de coleta seletiva (Questões 11 e 10, respectivamente). Além disso, foi possível estabelecer relações entre: a separação de materiais recicláveis nas residências com a escolaridade (Questões 3 e 9) e com o tipo de moradia de cada entrevistado (Questões 5 e 9). RESULTADOS E DISCUSSÃO Em relação à separação de materiais recicláveis dos resíduos orgânicos nos domicílios (Questão 9), os resultados revelaram que 60,0% dos entrevistados participam da coleta seletiva. Por outro lado, observa-se que 24,4% e 15,6% das pessoas não fazem ou raramente separam os materiais recicláveis em suas residências. Ao relacionar estes dados com a escolaridade da comunidade acadêmica (Questões 3 e 9, Figura 1 e Tabela 1), verificou-se que aqueles com ensino superior incompleto tiveram menor participação no programa. Em contrapartida, os que não separam e que raramente separam os materiais recicláveis compreendem 44,8%. Sendo assim, é possível afirmar que uma quantidade expressiva deste grupo não possui o hábito de separar os resíduos recicláveis dos orgânicos em suas residências. 70 60 50 Número de pessoas 40 30 20 10 0 Superior incompleto Superior completo Pós-graduação Figura 1. Relação entre a escolaridade e a separação de materiais recicláveis. 522
Sim Sim Sim Número de pessoas 1º Encontro Internacional de Ciências Agrárias e Tecnológicas Tabela 1. Percentuais da relação entre a escolaridade e a separação de materiais recicláveis. Escolaridade Separação de materiais recicláveis Sim TOTAL Superior incompleto 55,2% 24,8% 20,0% 77,8% Superior completo 71,4% 28,6% 0,0% 10,4% Pós-graduação 81,3% 18,8% 0,0% 11,9% TOTAL 60,0% 24,4% 15,6% 100,0% No entanto, essa situação não foi constatada com os entrevistados que possuem ensino superior completo e pós-graduação, visto sua participação efetiva de 71,4% e 81,3%, respectivamente. Portanto, à medida que o grau de escolaridade aumenta, tem-se maior adesão à coleta seletiva. Na Figura 2 e na Tabela 2 está apresentada a relação entre o tipo de moradia com a separação de materiais recicláveis e suas porcentagens, respectivamente (Questões 5 e 9). Verificou-se uma grande diferença quando se compara as pessoas que moram sozinhas, em repúblicas ou com familiares. 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Sozinho(a) República Com familiares Figura 2. Relação entre o tipo de moradia e a separação de materiais recicláveis. Tabela 2. Percentuais da relação entre o tipo de moradia e a separação de materiais recicláveis. Moradia Separação de materiais recicláveis Sim TOTAL Sozinho (a) 37,5% 50,0% 12,5% 11,9% República 51,8% 26,8% 21,4% 41,5% Com familiares 73,0% 14,3% 12,7% 46,7% TOTAL 60,0% 23,7% 16,3% 100,0% 523
O quadro mais grave quanto à adesão ao programa está nas pessoas que moram sozinhas. Destas, apenas 37,5% fazem a segregação de recicláveis e orgânicos, sendo que a maioria (62,5%) não participa efetivamente da coleta seletiva. Quanto às repúblicas, os resultados revelaram que cerca de metade das pessoas estão envolvidas (51,8%) e a outra metade raramente ou não fazem a separação de materiais recicláveis. A situação apresenta um saldo positivo quando se observa somente os entrevistados que vivem com familiares (Figura 2 e Tabela 2). A adesão à coleta seletiva neste grupo representa 73,0% contra 14,3% e 12,7% de pessoas que não fazem ou raramente separam os resíduos. Notou-se que, de acordo com o tipo de moradia, houve diferentes perfis quanto à separação de resíduos orgânicos e recicláveis. Quando há mais de uma pessoa na casa, a participação no programa de coleta seletiva aumenta. Foi observado que pessoas que moram sozinhas geralmente não costumam realizar esta segregação e, quando se considerou repúblicas ou famílias nas residências, este percentual aumenta consideravelmente. Além disso, a vivência com familiares demonstrou ser um fator importante na conscientização ambiental pela maior adesão à coleta seletiva dentre os entrevistados. A partir dos perfis de escolaridade e moradia apresentados anteriormente, o trabalho também avaliou os motivos mais relevantes para os entrevistados participarem ou não do programa de coleta seletiva (Figuras 3 e 4). Na Figura 3 abaixo, apresentam-se os resultados obtidos por meio da Questão 10 que relaciona os motivos pela não adesão à coleta seletiva. Foi possível observar que 61,3% julgam a coleta seletiva no município importante ou muito importante (Figura 3A) e que 51,9% não consideram a quantidade de resíduos gerados um fator limitante para sua participação (Figura 3B). Constatou-se que a organização entre os moradores da residência é um motivo que apresentou bastante variação, uma vez que há praticamente uma igualdade no grau de relevância dessa resposta (Figura 3C). Em se tratando do desconhecimento sobre quais materiais podem ser recicláveis, este fator não se apresenta como um gargalo para a adesão dos entrevistados à separação dos resíduos. Visto que a maioria das embalagens apresentam símbolos e frases de incentivo à reciclagem, 63,4% consideraram este motivo como sendo não importante ou pouco importante (Figura 3D). 524
Além disso, a maioria revelou que possui interesse por programas de coleta seletiva (62,0%, Figura 3E) e metade dos entrevistados não consideram o tempo como um agravante para a sua realização (50,4%, Figura 3F). Figura 3. Grau de importância dos motivos que faz/faria você não participar do programa de coleta seletiva. (A) ausência de coleta seletiva no município; (B) baixa geração de recicláveis na residência; (C) falta de organização entre os moradores da residência; (D) desconhecimento de quais materiais podem ser separados; (E) desinteresse próprio pela programa de coleta seletiva; (F) tempo disponível para separação dos materiais. Por outro lado, o trabalho também propôs analisar os motivos que tornam as pessoas participantes efetivos do programa de coleta seletiva do município. Da mesma forma como 525
apresentado na Figura 3, os entrevistados responderam o grau de relevância de alguns motivos quanto à sua adesão. Os resultados desta Questão 11 podem ser visualizados na Figura 4. Figura 4. Grau de importância dos motivos que faz/faria você participar efetivamente do programa de coleta seletiva. (A) criação de consciência ambiental entre os moradores da residência; (B) comprometimento com o meio ambiente; (C) exercício da cidadania; (D) geração de novas fontes de renda e empregos; (E) influência da mídia (TV, internet, jornais, etc.); (F) incentivo de políticas públicas, como programa de coleta seletiva. Inicialmente, observa-se na Figura 4A, que a criação de consciência ambiental entre os moradores é um fator fundamental, pois 84,7% julgaram este motivo como importante ou muito importante. De forma ainda mais expressiva está a relação que os entrevistados fizeram 526
entre sua participação na coleta seletiva e o comprometimento com o meio ambiente. Neste caso, 94,2% assumiram ser importante ou muito importante e nenhuma pessoa considerou este motivo como sendo sem importância ou pouco importante (Figura 4B). Quanto ao seu papel na sociedade, foi observado que aproximadamente três quartos dos entrevistados consideram como motivos importantes o exercício da cidadania (73,7%; Figura 4C) e a geração de novas fontes de renda e empregos (74,5%; Figura 4D). O estudo ainda revelou que o incentivo de políticas públicas é um dos fatores chaves para a participação da população no programa, uma vez que este motivo é importante ou muito importante para 70,8% e apenas para 11,7% é de pouca ou nenhuma importância (Figura 4F) Por fim, tem-se que a mídia influencia parcialmente as pessoas em separar os resíduos recicláveis dos orgânicos. O resultado apresentado na Figura 4G demonstra uma distribuição semelhante entre os níveis de relevância, sendo o neutro com maior valor (28,5%). CONCLUSÃO Concluiu-se que, dentre os entrevistados na comunidade acadêmica da FCAT/UNESP, há uma preocupação entre a separação dos resíduos orgânicos e recicláveis. No entanto, verificou-se que quanto menor o grau de escolaridade, menor é a adesão à coleta seletiva. Àqueles que moravam sozinhos também foram os que menos aderiram ao programa em contraste às residências familiares que tinham maior percentual de participantes. Dentre os motivos por trás destes resultados, tem-se que a ausência de coleta seletiva no município e a falta de organização entre as pessoas da casa foram considerados os mais importantes para a não separação dos resíduos. Quanto à participação no programa, a maioria dos fatores foi considerada importante, destacando-se o comprometimento com o meio ambiente e a criação de consciência ambiental entre os moradores. Visto que a mídia não se demonstrou como uma grande influenciadora, torna-se essencial a criação de estratégias e o desenvolvimento de ações diretas para que a abrangência deste importante programa socioambiental atinja uma maior parcela da população e seja ainda mais eficiente em reduzir a geração de resíduos domésticos. REFERÊNCIAS BECK, U. Risk society. London: Sage Publications, 1994. 527
BRINGHENTI, J. Coleta seletiva de resíduos sólidos urbanos: aspectos operacionais e da participação da população. 316 f. Tese (Doutorado em Saúde Ambiental) - Faculdade de São Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, 2004. IBGE INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 1991. Rio de Janeiro, 1992. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000. Rio de Janeiro, 2001. OPS Organización Panamericana de la Salud. Informe regional sobre la evaluación de los servicios de manejo de residuos sólidos en la Región de América Latina y el Caribe. Washington (DC), 2005. RIBEIRO, H.; BESEN, G.R. Panorama da coleta seletiva no Brasil: desafio e perspectiva a partir de três estudos de caso. Interfacehs, Revista de gestão integrada em saúde do trabalho e meio ambiente, v.2, n.4, Artigo 1, ago 2007. WAITE, R. Household waste recycling. London: Earthscan Publications, 1995. 528