RESERVATÓRIO DE ÁGUA DE CHUVA PARA REUSO NAS ATIVIDADES DE MINERAÇÃO NO PERÍODO DE SECA Joelson Gomes Machado, Chefe de Planejamento de Lavra, jgmachado@sama.com.br Laércio Silva Rocha, Supervisor de Planejamento de Lavra Vandair Batista Gomides, Supervisor de Mistura William Bretas Linares, Gerente de Planejamento e Engenharia Joselito Dásio da Silva, Gerente Industrial RESUMO Preservação e conservação ambiental são de extrema importância na política da SAMA, que incentiva o uso racional dos recursos naturais. Apesar de ter outorga de captação suficiente para atender suas necessidades, a empresa opta por armazenar água no interior da mina no período chuvoso para aproveitá-lo no período de estiagem. Isto faz com que se evite a utilização de água potável e também do ribeirão que corta a região, deixando com que estas águas sigam seu curso natural, disponibilizando-a para as necessidades à jusante. Esta armazenagem é possível devido ao planejamento dos avanços da lavra bem executados, priorizando a extração mineral na cava B e nos pisos superiores da cava A, que teve um piso inundado com água que foi armazenada para umidificação de pistas e rocha desmontada, diminuindo despesas com caminhão pipa e combustível, com economia de R$196.000/ano. Palavras-chave: preservação; água; armazenagem. ABSTRACT Environmental preservation and conservation are extreme important in the policy of SAMA, which encourages the rational use of natural resources. Despite granting of funding sufficient to meet their needs, the company chooses to store water within the mine during the rainy season to use it in the dry season. These avoid the use of potable water and also the stream that crosses the region leaving with these waters to follow its natural course, delivering it to the needs downstream. This storage is possible because of advances in mine planning and implemented, giving priority to mining in the pit B and the upper floors of the pit A, which had a floor flooded with water that was stored and these water are use for humidification of the slopes and dismantled rock, decreasing costs of fuel and water truck, with savings of R$ 196.000/year. Keywords: conservation; water; storage.
INTRODUÇÃO O trabalho a seguir apresenta os aspectos considerados para a avaliação do projeto bem como a geomorfologia da mina de Cana Brava e o aspecto climático da região com base na análise de registros pluviométricos. Outro ponto abordado é a distribuição da mina em duas cavas, aqui denominadas como Cava A e Cava B, o que possibilitou a aplicação do planejamento de lavra sem prejuízos a extração dos recursos minerais ou influência no processo de beneficiamento. Veremos como o acúmulo da água das chuvas contribuiu para a redução de custos, captação de recursos naturais e total controle de emissões de particulados na atmosfera, reafirmando assim o compromisso da empresa para com a segurança e preservação do meio ambiente. GEOMORFOLOGIA A Serra de Cana Brava está localizada entre as coordenadas 8.500.000-790.000 e 8.540.000-810.000 e é constituída por rochas Ultramáficas do tipo Metagabronoritos e Metapiroxenitos, sendo rochas com idade do Paleoproterozóico deformadas durante os Ciclos tectônicos Uruaçuano e Brasiliano. Pode ser vista como um divisor de águas (topográfico), com altitude média de 750 m, que está sob influência da Bacia de Drenagem do Rio Tocantins, está alinhada no sentido N-S e é circundada a Leste e Oeste por relevos de dissecação suaves, situados nos vales dos rios Maranhão e Cana Brava, respectivamente. O padrão de drenagem predominante na região é o dentrítico e as drenagens predominantes na Serra são as de 1º ordem. O empreendimento mineiro da SAMA S.A. Minerações Associadas, chamado de Mina de Cana Brava, é composto por duas Minas a céu aberto denominadas de Cava A e B. As Cavas estão localizadas ao Sul da Serra de Cana Brava e alinhadas no sentido N-S, com a Cava A estando ao Norte e a Cava B ao Sul (Figura 1).
N Mina de Cana Brava Figura 1 MDT (Modelo Digital de Terreno) da região em estudo mostrando a disposição da Mina de Cana Brava dentro do contexto geomorfológico da região. ASPECTOS CLIMÁTICOS A região possui clima classificado, segundo Köeppen, como do tipo Tropical de Savana (Aw), pois apresenta a temperatura do mês mais frio (julho) mais alta que 18ºC. Para a Savana é adotado esse limite em razão da isoterma de 18ºC ser o limite de sobrevivência de algumas espécies tropicais (AYOADE, 1996), é caracterizado por uma estação chuvosa (novembro a março) e outra seca (abril a outubro). Com base na análise dos registros pluviométricos desde 1967, foram detectadas as drenagens pro meio de arquivos topográficos, imagens de satélite e modelos digitais de terreno. Pode-se traçar as drenagens e circundar a rede hídrica para se detectar estas áreas de influência. Por este método identifica-se a área superficial de influência (Figuras 2 e 3) que as precipitações pluviométricas terão sobre as duas cavas.
Figura 2 Imagem Ikonos mostrando a região de estudo em detalhe e as principais drenagens ao redor do empreendimento, assim como a área de influência das cavas.
Figura 3 Topografia da Mina de Cana Brava e parte da Serra Homônima. No ano, têm-se basicamente, duas estações muito bem definidas no gráfico 1, uma chuvosa (entre novembro e março) e outra seca (entre abril e outubro). Observam-se algumas discrepâncias em alguns anos, mas nada que altere significativamente o padrão geral do gráfico.
mm 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 Precipitação JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Meses Gráfico 1 Histórico das precipitações por época do ano desde 1967 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 PROJETO DO RESERVATÓRIO DE ÁGUA A extração do minério e remoção do estéril é realizada simultaneamente em duas cavas com pits fechados, a céu aberto, com aproximadamente 156 m de profundidade. Toda água que se direciona para o interior da cava (fluxos de águas subterrâneas e pluviométricas) é bombeada por meio de dois estágios de bombas em paralelo, com vazão aproximada de 1.000 m 3 /h em cada cava, para permitir o acesso dos equipamentos e a lavra em profundidade do corpo mineral. Esta operação criava uma situação em que tínhamos que descartar toda água no período chuvoso para permitir a lavra no fundo da cava e interromper temporariamente (algumas horas em alguns dias) as operações por falta de água no período de estiagem para não haver emissão de particulados na atmosfera. Além disso, era necessária a captação de água no Ribeirão Bonito que está a 2.123 m da mina, sendo que os pontos normais de captação estão dentro das duas cavas (Figura 4). Isto levava a um aumento do custo operacional do caminhão pipa. A partir de um estudo detalhado das reservas e da qualidade do minério que atendam às necessidades de vendas, o departamento de Planejamento de Lavra elaborou, num trabalho conjunto com a Operação da Mina e utilizando como ferramenta o software VULCAN, um plano de lavra anual que adia a extração do minério nos níveis inferiores de uma das cavas, para o mês de novembro quando se inicia o período chuvoso. Este plano permitiu o armazenamento de toda a chuva que precipita de janeiro a março e conseguimos reservar 400.000 m 3 de água dentro de uma das cavas (Figura 5).
Considerando que no período de estiagem o consumo de água para umidificação dos acessos da mina e da rocha fragmentada, é de 1.800 m 3, esta reserva nos garante água para aproximadamente 140 dias (já descontando as perdas por evaporação e infiltração do reservatório que não tem nenhuma preparação de impermeabilização, pois se trata da própria cava). Esta quantidade é mais do que suficiente para realização das operações de umidificação da rocha desmontada (Figura 6) e aspersão nos acessos da mina (Figura 7) durante o período de estiagem. Figura 4 Distância da captação até a mina
Figura 5 Cava com água de chuva armazenada 400.000m 3 Figura 6 Umidificação de rocha desmontada
Figura 7 Aspersão nos acessos da mina CONCLUSÃO O projeto gerou ganhos de nível ambiental para a empresa e comunidade, pois 252.000 m 3 é o volume anual que deixa de ser captado do Ribeirão Bonito e que segue seu curso natural. E, 60.900 litros de combustível deixam de ser queimados, reduzindo a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa, que gera o aquecimento global. Além disso, o ganho financeiro se refletiu através da economia anual total com despesas do caminhão pipa (mão de obra, manutenção, pneus, combustível) que não faz o percurso de 2.123 m até a captação no rio foi de R$ 196.000. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Peel, M. C., Finlayson, B. L., and McMahon, T. A. (2007), Updated world map of the Köppen-Geiger climate classification, Sci., 11, 1633 1644. Ayoade, J. O. (1996), Introdução à climatologia para os trópicos. 4.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 120.