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D A T R A M A D A S M I N H A S M E M Ó R I A S O F I O Q U E T E C E A D E P R E S S Ã O : E S Q U E C I M E N T O D I R I G I D O E M E M Ó R I A A U T O B I O G R Á F I C A N A D E P R E S S Ã O M A J O R
Dissertação de Doutoramento em Psicologia, na especialidade de Psicologia Clínica sob orientação do Prof. Doutor Paulo P.P. Machado apresentada à Universidade do Minho em 2002. Esta investigação foi apoiada por uma bolsa PRAXIS XXI da Fundação para a Ciência e Tecnologia TÍTULO: DA TRAMA DAS MINHAS MEMÓRIAS O FIO QUE TECE A DEPRESSÃO: ESQUECIMENTO DIRIGIDO E MEMÓRIA AUTOBIOGRÁFICA NA DEPRESSÃO MAJOR AUTOR: VICTOR CLAUDIO ã INSTITUTO SUPERIOR DE PSICOLOGIA APLICADA RUA JARDIM DO TABACO, 34, 1149-041 LISBOA TELEFONE: 21 881 17 30 / FAX: 21 886 09 54 1.ª EDIÇÃO: ABRIL DE 2004 CONCEPÇÃO GRÁFICA: INSTITUTO SUPERIOR DE PSICOLOGIA APLICADA NA CAPA GRAVURA DE MATHIAS CORENTER, SÉC. XVIII, PHILADELPHIE, MUSEU DAS ARTES COMPOSIÇÃO: INSTITUTO SUPERIOR DE PSICOLOGIA APLICADA IMPRESSÃO E ACABAMENTO: PRINTIPO INDÚSTRIAS GRÁFICAS, LDA. DEPÓSITO LEGAL: 192032/03 ISBN: 972-8400-55-1
Victor Claudio DA TRAMA DAS MINHAS MEMÓRIAS O FIO QUE TECE A DEPRESSÃO: ESQUECIMENTO DIRIGIDO E MEMÓRIA AUTOBIOGRÁFICA NA DEPRESSÃO MAJOR I S P A L i s b o a
Ao meu filho Rafael À minha mãe
í n d i c e Agradecimentos... 13 Resumo... 15 Abstract... 17 INTRODUÇÃO... 19 PARTE I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA... 25 Capítulo I As Emoções... 27 Breve abordagem da perspectiva de Platão... 30 A perspectiva de William James... 34 A perspectiva de Bower... 35 A perspectiva de Schachter e Singer... 37 A perspectiva de Mandler... 38 A perspectiva de Lazarus... 38 A perspectiva de Oatley e Johnson-Laird... 41 A perspectiva de Leventhal e Scherer... 50 A perspectiva de Izard... 53 A perspectiva de Barnard e Teasdale... 55 A perspectiva de Power e Dalgleish... 57 Capítulo II Depressão: Perspectiva(s) Cognitiva(s)... 65 O modelo cognitivo da depressão de Beck... 69 Esquemas... 71 Os conteúdos dos esquemas na depressão... 72 A estrutura dos esquemas na depressão... 78 Esquema do Self na depressão... 80 O Processamento de Informação... 83 Modos... 87 7
Vulnerabilidade à Depressão... 89 Estrutura de personalidade e vulnerabilidade... 89 Esquemas disfuncionais e vulnerabilidade... 90 A hipótese da activação diferencial... 93 A hipótese da dependência do humor... 94 A perspectiva de Power e Dalgleish... 95 Síntese... 96 Capítulo III Memória e Depressão... 101 A teoria de rede associativa semântica... 104 O modelo ICS... 106 O enviesamento mnésico na depressão... 109 O esquecimento... 111 As memórias autobiográficas... 112 A organização das memórias autobiográficas... 114 A perspectiva de Brewer... 116 A perspectiva de Neisser... 118 A perspectiva de Linton... 119 A perspectiva de Barclay... 120 As estratégias de evocação das memórias autobiográficas... 122 As memórias autobiográficas e a depressão... 128 PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL... 131 Introdução... 133 Capítulo IV 1º Estudo Esquecimento Dirigido... 137 Objectivo... 139 Método... 140 Participantes... 140 Sujeitos com diagnóstico de depressão major... 140 Sujeitos com diagnóstico de perturbação de pânico... 142 Sujeitos sem alteração psicopatológica... 143 Instrumentos... 144 Tarefa de esquecimento dirigido... 144 Selecção dos adjectivos utilizados... 144 Tarefa solicitada aos estudantes que constituíram a amostra... 144 Análise das respostas dos estudantes... 145 Adjectivos seleccionados... 145 Elaboração da tarefa de esquecimento dirigido... 145 Aplicação da tarefa de esquecimento dirigido... 145 Instrução para a primeira lista... 145 Instrução para a segunda lista... 146 Apresentação dos adjectivos... 146 8
Instrumentos de avaliação clínica... 146 Entrevista estruturada... 147 Escala da depressão de Hamilton... 147 O inventário da depressão de Beck... 148 Escala de ansiedade de Hamilton... 149 Inventário de ansiedade estado e traço (forma y)... 149 Questionário de esquemas... 150 Escala de atitudes disfuncionais... 151 Sub-teste verbal da escala de Wechsler para adultos... 152 Procedimento... 152 Aplicação para treino e correcção... 152 Ordenamento de apresentação do protocolo de investigação... 153 Follow-up... 154 Análise dos resultados... 154 Análise dos resultados no sub-teste de Vocabulário da WAIS... 155 Análise dos resultados obtidos nas escalas clínicas... 156 Escala de Hamilton para a depressão... 156 Inventário da depressão de Beck... 157 Escala de Hamilton para a ansiedade... 158 STAI estado e traço... 159 Questionário de esquemas... 161 Escala de atitudes disfuncionais... 163 Discussão... 165 Síntese... 175 Análise dos resultados da tarefa de esquecimento dirigido... 176 Total de palavras evocadas... 178 Palavras positivas evocadas... 179 Palavras negativas evocadas... 180 Relação entre as palavras positivas e negativas evocadas... 181 Análise das palavras evocadas levando em conta o efeito de primazia e recência... 181 Relação entre as palavras evocadas e a auto caracterização... 183 Relação das palavras evocadas com o nível de habilitações literárias... 188 Relação das palavras evocadas e o sub-teste de Vocabulário... 189 Relação das palavras evocadas com as escalas clínicas... 189 Relação entre as medidas de depressão e as palavras evocadas... 189 Relação entre as medidas de ansiedade e as palavras evocadas... 191 Relação entre o questionário de esquemas e as palavras evocadas... 191 Relação entre a escala de atitudes disfuncionais e as palavras evocadas... 193 Discussão e Síntese... 193 Capítulo V 2º Estudo Memória Autobiográfica... 203 Objectivo... 205 Método... 206 9
Participantes... 206 Sujeitos com diagnóstico de depressão major... 206 Sujeitos com diagnóstico de perturbação de pânico... 207 Sujeitos sem alteração psicopatológica... 209 Instrumentos... 210 Tarefa de memória autobiográfica... 210 Selecção dos substantivos utilizados... 210 Tarefa solicitada aos estudantes que constituíram a amostra... 210 Análise das respostas dos estudantes... 210 Substantivos seleccionados... 210 Elaboração da tarefa de memória autobiográfica... 211 Aplicação da tarefa de memória autobiográfica... 211 Instrução... 211 Apresentação dos substantivos... 212 Instrumentos de avaliação clínica... 212 Entrevista estruturada... 212 Escala da depressão de Hamilton... 212 Inventário da depressão de Beck... 212 Escala de ansiedade de Hamilton... 213 Inventário de ansiedade estado e traço (forma y)... 213 Questionário de esquemas... 213 Escala de atitudes disfuncionais... 213 Sub-teste verbal da escala de Wechsler para adultos... 213 Procedimento... 213 Aplicação para treino e correcção... 213 Ordenamento de apresentação do protocolo de investigação... 213 Follow-up... 213 Análise dos resultados... 214 Análise dos resultados no sub-teste de Vocabulário da WAIS... 215 Análise dos resultados obtidos nas escalas clínicas... 216 Escala de Hamilton para a depressão e ansiedade... 216 Inventário da depressão de Beck... 217 STAI estado e traço... 218 Questionário de esquemas... 220 Escala de atitudes disfuncionais (DAS)... 221 Discussão... 228 Síntese... 228 Análise dos resultados da tarefa de memória autobiográfica... 229 Análise da relação do total de acontecimentos evocados com as palavras estímulo... 235 Análise da relação entre o tempo de latência e as palavras estímulo... 240 Análise do total de acontecimentos evocados... 241 Análise das valências dos acontecimentos evocados... 242 Análise dos acontecimentos evocados por agrupamento de palavras em valências... 242 Palavras negativas... 243 Palavras positivas... 243 10
Palavras neutras... 243 Tempo de latência das palavras negativas... 243 Tempo de latência das palavras positivas... 244 Tempo de latência das palavras neutras... 244 Data dos acontecimentos evocados... 244 Análise de categorias dos acontecimentos evocados em cada uma das palavras estímulo... 244 Análise dos não-acontecimentos evocados nas palavras estímulo... 247 Relação entre os resultados obtidos nos diferentes factores de análise da tarefa de memória autobiográfica e nas escalas clínicas... 249 Análise das correlações nas duas avaliações dos sujeitos deprimidos... 249 Análise das correlações nos sujeitos deprimidos... 252 Análise das correlações nos sujeitos com perturbação de pânico... 254 Análise das correlações nos sujeitos sem alteração psicopatológica... 255 Análise das correlações entre os acontecimentos evocados por palavra estímulo e as escalas clínicas utilizadas... 256 Nas duas avaliações dos sujeitos deprimidos... 256 Nos sujeitos deprimidos... 260 Nos sujeitos com perturbação de pânico... 263 Nos sujeitos sem alteração psicopatológica... 264 Discussão e Síntese... 265 Na análise por palavras... 268 Na análise por acontecimentos... 268 Análise por valência de palavras... 268 Sujeitos deprimidos... 276 Sujeitos com perturbação de pânico... 277 Sujeitos sem alteração psicopatológica... 277 1ª avaliação dos sujeitos deprimidos... 278 2ª avaliação dos sujeitos deprimidos... 278 Capítulo VI Relação entre os resultados da tarefa de esquecimento dirigido e Capítulo VI da tarefa de memória autobiográfica... 281 Análise dos resultados nas duas avaliações dos sujeitos deprimidos... 283 Análise dos resultados nos sujeitos com perturbação de pânico... 285 Análise dos resultados nos sujeitos sem alteração psicopatológica... 286 Capítulo VII Conclusões... 287 Referências Bibliográficas... 293 11
A G R A D E C I M E N T O S Sem os muitos cúmplices que de diferentes formas me apoiaram, este trabalho não teria deixado de ser um projecto. A todos quero agradecer. Em particular agradeço: Ao Prof. Doutor Paulo Machado pela disponibilidade e gratificante orientação, boas ideias e sugestões. Ao Prof. Doutor Mick Power pela sua co-orientação e pelas óptimas trocas de ideias em Edimburgo. À Dra. Júlia Vasconcelos, pela presença no júri de categorias e acima de tudo pela revisão exaustiva e compulsiva deste trabalho. À Dra. Maria Mateus pelo seu apoio, pela colaboração na recolha da amostra, pela presença no júri de categorias e pela sua disponibilidade para discutir aspectos do trabalho. Às Prof. Doutoras Maria Luisa Figueira, Silvia Ouakinin e Purificação Horta, pelo apoio na disponibilização de pessoas para a amostra. À Mestre Nelia Rebelo da Silva pelo seu apoio na disponibilização de pessoas para a amostra e pelas óptimas ideias na estatística. À Dra. Paula Sousa por toda a colaboração, apoio e motivação. À Dra. Paula Jordão pelo apoio na área da Filosofia. À Dra. Joana Rosa pelo seu apoio na disponibilização de pessoas para a amostra. Ao Gabinete de Estatística do ISPA, na pessoa do Prof. Doutor João Maroco, pelas inúmeras e frutíferas reuniões. À Dra. Florbela Baptista pela sua presença no júri de categorias. Ao Prof. Doutor Oscar Gonçalves pelo seu apoio a este projecto. 13
A todas as pessoas que se disponibilizaram a integrar a amostra. Aos meus amigos Luís Firmino, Vítor Oliveira, Rafael Trujillo pelo apoio e motivação nos momentos mais difíceis. Aos meus alunos e colegas pelo seu apoio e motivação. Ao Rafael um grande agradecimento pela paciência infinita de esperar pelo fim deste trabalho, para de novo ter pai a tempo inteiro. 14
R E S U M O Neste trabalho tivemos como objectivo estudar a relação entre o processamento e evocação da informação e a depressão major. Abordámos numa perspectiva cognitiva as emoções, a depressão e as características mnésicas desta. Efectuamos dois estudos, em que comparámos três grupos, sujeitos com depressão major, sujeitos com perturbação de pânico e sujeitos sem alteração psicopatológica. Em ambos os estudos trinta sujeitos com depressão major foram avaliados em dois momentos com um intervalo de três meses. Para a avaliação clínica utilizámos duas escalas de hetero-avaliação e quatro instrumentos de auto-avaliaç ão. Controlámos também o nível de conhecimento de vocabulário. No primeiro estudo comparámos as respostas a uma tarefa de esquecimento dirigido, em trinta sujeitos deprimidos, quinze sujeitos pânico e trinta sujeitos sem alteração psicopatalogica. No segundo estudo utilizámos uma tarefa de memória autobiográfica que aplicámos a quarenta e dois sujeitos deprimidos, vinte e oito sujeitos pânico e cinquenta e um sujeitos sem alteração psicopatológica. Com base nos resultados de ambos os estudos, concluímos que existe nos sujeitos deprimidos um enviesamento negativo e a perda de um enviesamento positivo, que se observava nos outros dois grupos. Os sujeitos deprimidos, com severidade elevada, apresentavam um processamento e evocação de informação preferencialmente com valência negativa. Associamos este facto à existência de conteúdos negativos dos esquemas do self e ao processamento e evocação de informação concordante com esses conteúdos. Assim, nos sujeitos deprimidos não se registava o papel regulador do self sobre os efeitos do processamento e evocação da informação negativa. Este aspecto reforça a existência de um self ambivalente. 15
Consideramos com base nos nossos resultados, que evidenciaram diferenças no processamento e evocação da informação em função da severidade da depressão, que a génese e manutenção da depressão estão mais relacionadas com os processos de codificação e evocação de informação, dirigidos pelos esquemas negativos do self, do que com os pensamentos negativos. 16
A B S T R A C T The objective of this study is to assess the relationship between the information processing and recall and the major depression. The approach used, based on a cognitive perspective, relates emotions, depression and its memory characteristics. The two studies conducted compare three groups: subjects with major depression, subjects with panic disorder and subjects with psychopathological disorder. In these studies, thirty major depression subjects were evaluated at two moments, with a three months interval. For the clinical evaluation two scales of hetero-evaluation were used and also applying four self-evaluation instruments. The level of vocabulary knowledge was also controlled. In the first study we compared the response to a directed forgetting task in thirty major depressed subjects, fifteen panic subjects and thirty subjects without psychopathological disorder. In the second study we used an autobiographical memory task applied to forty-two major depressed subjects, twenty-height panic subjects and fifty-one subjects without psychopathological disorder. Based on the results of these studies we concluded that negative biases exist in depressed subjects, and they also show a loss of positive bias, observed in the other two groups. The depressed subjects, presented a preferential highly severe processing and recall of negative information. We associate this fact with the existence of negative contents of the self-schemas agreeing with the processing and recall of information within these contents. Thus, in the depressed subjects the self didn't execute the regulation role in the processing and recall of negative information. This fact supports the existence of an ambivalent self. 17
We considered, on the basis of the results, the evidence of differences in the processing and evocation of information in function of the depression severity, that started and maintained depression are more related with the codification and evocation processes, directed by the negative self-schemas, than the negative thoughts. 18
i n T R O d U Ç Ã O