Os funcionários públicos portugueses têm tido um dos horários mais leves na União Europeia, mas com a alteração que tem efeitos previstos para sábado, dia 28, passarão a estar entre os que têm um dos mais longos. Os dados divulgados pela Direcção-geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP) mostram que as 35 horas se situam num extremo e que as 40 horas se situam no outro. Em termos anuais, a Função Pública portuguesa trabalha 1.573 horas, mas de acordo com os cálculos de Stéphane Jacobzone, do departamento sobre reformas do sector público da OCDE, os funcionários públicos portugueses passarão a trabalhar 1.797 horas por ano, ligeiramente acima da média da OCDE (1.745), mas abaixo de países como a Áustria, a Alemanha ou os Estados Unidos. O aumento poderá até ser superior, já que estes cálculos ignoram a redução do número de férias e de feriados. "A reforma vai colocar Portugal ligeiramente acima da média. Mas ter funcionários sentados mais cinco horas por semana numa secretária pode não fazer a diferença. A questão é saber como se tornam mais produtivas e eficientes. Como é que se motivam as pessoas?", questiona o economista, em declarações ao Negócios. Num período marcado por sucessivos cortes salariais, directos e indirectos, "não há respostas fáceis", declara. O Governo tem vindo a explicar que o aumento do horário de trabalho, que poderá garantir poupanças de 372 milhões até 2015, vai ajudar a acomodar o impacto da redução de funcionários, agilizar o trabalho por turnos, reduzir o custo com horas extraordinárias e aproximar as regras das dos trabalhadores do privado. Os críticos da medida dizem que não é bem assim, lembrando que as 40 horas correspondem ao limite máximo (e não à regra) no sector privado, onde "Várias convenções colectivas limitam a semana normal de trabalho a 35 horas. Anna Coote acaba de co-editar um livro no Reino Unido chamado "Time on our side", que reúne uma série de artigos que sustentam "porque é que precisamos de uma semana mais curta de trabalho". A responsável pelo departamento de política social da New Economics Foundation - um "think tank" britânico que frequentemente cita Keynes- nota que vários países enfrentaram a recessão com medidas opostas, como esquemas de layoff, que implicam uma redução do tempo de trabalho e do salário. "Esta decisão de Portugal é interessante. Que níveis de desemprego é que existem aí? Não faz sentido nenhum aumentar o tempo de trabalho quando há tantos desempregados", salienta, defendendo que a medida pode ser "ineficiente", mesmo quando o objectivo é reduzir despesa. "Se as pessoas trabalharem durante mais tempo tenderão a estar menos empenhadas no 1 / 5
trabalho, o que aumenta os níveis de stress, ansiedade e absentismo". "E preciso ver a economia como um todo, não apenas do ponto de vista financeiro", conclui. Certo é que a alteração promovida em Portugal é significativa, explica Jorge Cabrita, economista responsável pelos relatórios sobre a evolução de horários de trabalho publicados pela Eurofound, agência da Comissão Europeia "Se analisarmos os dados para os Estados-membros da União Europeia, Portugal terá a mais significativa mudança durante os últimos três anos, pelo menos", diz o economista, que trabalha na Irlanda " Deixa de pertencer ao grupo de países que têm maior preocupação com conciliação da vida pessoal e profissional para passar a dificultar essa conciliação", acrescenta. Ter funcionários sentados mais cinco horas por semana numa secretária pode não fazer a diferença. A questão é saber como se tornam mais produtivos e eficientes. Catarina Almeida Pereira Canal Negócios 25-09-2013 Governo tenta impedir suspensão das 40 horas O Governo vai tentar remover a suspensão da entrada em vigor da lei das 40 horas. O sindicato do Fisco viu ontem aceite a providência cautelar que interpôs em tribunal. A juíza do Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa admitiu liminarmente o requerimento de providência cautelar, o que significa que ficam suspensos os efeitos da nova lei Porém, o Governo tem agora dez dias para deduzir oposição e "poderá apresentar uma resolução 2 / 5
fundamentada de interesse público na qual justifica porque pretende evitar esta suspensão provisória", refere Tiago Duarte, especialista em direito administrativo. No momento em que o tribunal receber esta resolução e a aceitar, os efeitos são imediatos. Contactado, o Ministério das Finanças diz que "está a preparar a resposta a entregar" e que "serão utilizados em tempo útil todos os mecanismos legais". O Negócios sabe que em causa está uma resolução fundamentada sobre "interesse público". Por outras palavras, se o Governo reagir já, estará aberto o caminho para que, no dia 28, os funcionários do Fisco tenham de cumprir a nova lei, tal e qual acontecerá com os demais trabalhadores da administração pública. O processo administrativo é complexo, e o STI poderá depois, por sua vez, requerer a declaração judicial de improcedência da resolução fundamentada, mas, entretanto, as 40 horas já estarão em vigor. A providência cautelar do STI seguirá depois os seus trâmites e, se for decretada pelo tribunal, terá, então, efeitos suspensivos, mesmo que o Fisco recorra. Paralelamente, terá decorrerem tribunal uma acção principal. Após o STI, entre hoje e amanhã também STE, Fesap, Sintap e Frente Comum interpõem providências para travar a medida Com fundamentos idênticos, é, todavia,duvidosoqueos tribunais decidam aceitar os processos a tempo de suspender a lei que tem efeitos dia 28. Tiago Duarte refere que o facto de uma providência cautelar ser aceite "é só um acto formal, que acontece em 99% dos casos, e não tem inscrito nenhum juízo de que a providência seja depois decretada". *com cap HORÁRIO NÃO AUMENTA PARA TODOS OS TRABALHADORES DO ESTADO Médicos Os médicos que passarem a trabalhar mais horas cinco horas vão receber mais por isso e nem todos vão passar a trabalhar as 40 horas pois isso depende da sua vontade própria bem como da autorização do Ministério da Saúde. Estas foram as condições acertadas pelo Governo e pelos sindicatos, num acordo firmado há um ano. Desta forma, a lei que entra em vigor este sábado não se aplica aos clínicos, que têm um regime específico. Ou seja, vão continuar a coexistir nas escalas dos médicos horários de 35, 40 e 42 horas semanais. Professores Para os professores também pouco ou nada mudará com o novo horário da Função Pública, pois não terá impacto no aumento da componente lectiva (ou seja, do número de horas que passam dentro da sala de aula), mas sim na componente não lectiva em casa. Apesar de terem 3 / 5
um horário de 35 horas semanais, com um período de aulas de 22 ou 25 horas, os docentes já levam trabalho para casa e trabalham as 40 horas ou mais ao fim de uma semana. Madeira e Açores Os funcionários públicos da Madeira vão ficar "genericamente dispensados do cumprimento das 40 horas semanais". A orientação consta de uma Resolução aprovada pelo governo, que no entanto permite que os dirigentes chamem os funcionários para trabalhar além das 35 horas quando for necessário, tal como o Negócios já noticiou. Nos Açores, o grupo parlamentar do PS apresentou uma proposta para evitar a aplicação das 40 horas semanais, mas a proposta ainda não foi votada. Questionado, o governo regional não respondeu o que acontecerá na segunda-feira. Juizes e militares Os juizes e os militares não serão afectados pelo aumento do horário de trabalho porque "não têm horário". "A questão das 40 horas não se aplica porque nunca se aplicou. Os juizes não têm horário", afirmou ao Negócios, Mouraz Lopes, da Associação Sindical de Juizes Portugueses. O mesmo acontece com os militares, confirmou fonte oficial do Ministério da Defesa. A medida aplicar-se-á apenas ao pessoal civil. Contrato individual de trabalho Dentro de alguns organismos públicos há diferentes tipos de contrato que mostram que nem sempre as relações laborais privadas têm um horário maior. Nos hospitais, por exemplo, há trabalhadores a contrato individual de trabalho (CIT) que têm um horário de 35 horas que não poderá ser alterado com a entrada em vigor da lei. Este tipo de contratos, que se gere pelo Código do Trabalho, coexiste com outros onde já se determinava um horário de trabalho de 40 horas. São mais frequentes nas empresas públicas. Filomena Lança Diário de Negócios 25-09-2013 PORTUGUESES TRABALHAM CADA VEZ MAIS REDUÇÃO OE FERIADOS O Governo eliminou quatro feriados, o que teve impacto nos sectores públicos e privado. Foram eliminados o Dia do Corpo de Deus, o dia da implantação da República (5 de Outubro), 4 / 5
o Dia de Todos os Santos (1 de Novembro) e o Dia da Restauração da Independência (1. de Dezembro). 0 Governo admite vir a repor os feriados num prazo de cinco anos. CORTE NAS FÉRIAS No sector privado, o Governo eliminou a bonificação que garantia aos trabalhadores mais três dias de férias, além dos 22, o que já teve impacto este ano. Na Função Pública, o projecto da nova Lei Geral do Trabalho prevê que o número mínimo de férias passe de 25 para 22 e que o número máximo não ultrapasse as 26 (hoje pode chegar aos 32 dias). CORTE NAS HORAS EXTRAS O Governo tem vindo a decidir sucessivos cortes no pagamento das horas extraordinárias, tanto no público como no privado, o que na prática permite que o empregador exija o cumprimento de trabalho extraordinário a um custo mais baixo. AUMENTO DO HORÁRIO SEMANAL DE TRABALHO O diploma que aumenta o horário de trabalho na Função Pública deverá produzir efeitos no próximo sábado, dia 28. No sector privado, o Governo chegou a anunciar um aumento de meia hora por dia, mas a medida acabou por cair, durante as negociações para o acordo tripartido, no início de 2012. Catarina Almeida Pereira Canal Negócios 25-09-2013 {jomcomment lock} 5 / 5