ASSOCIAÇÃO DO MOVIMENTO FEMINISTA À ESQUERDA NO CONTEXTO DA CRISE POLÍTICA BRASILEIRA DE 2016

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Transcrição:

ASSOCIAÇÃO DO MOVIMENTO FEMINISTA À ESQUERDA NO CONTEXTO DA CRISE POLÍTICA BRASILEIRA DE 2016 João Vitor Pereira Ukracheski 1 Andressa Clara de França 2 Dori Luiz Tibre Santos 3 INTRODUÇÃO A crise política brasileira de 2016 atingiu vários partidos e figuras públicas, mas atingiu especialmente o partido governista, que estava na presidência desde 2003, o Partido dos Trabalhadores (PT). O PT é considerado um partido mais à esquerda, e devido aos escândalos de corrupção atribuídos ao partido, o discurso popular tendeu a uma desvalorização da esquerda de um modo generalizante. Os movimentos sociais e políticos, no caso deste estudo o feminismo, tendem também a serem associados à esquerda política, de acordo com Tiburi (2014). Com a construção desse cenário, a dúvida é se há uma associação do feminismo à esquerda e, se houver, se há uma desvalorização do movimento feminista. Além disso, o presente estudo intenta verificar quais as definições que o público pesquisado atribui ao movimento feminista, se condizem com o que a militância atual do movimento discute ou não. Por fim, as discussões em relação aos movimentos sociais e políticos serem ou não de esquerda, em geral, são de cunho teórico, da filosofia, por exemplo, e poucos estudos verificam se ocorre de fato esta associação, como se pretende fazer aqui. 1 Aluno do 6º período do curso de Psicologia da FAE Centro Universitário. Bolsista do Programa de Apoio à Iniciação Científica (PAIC 2015-2016). E-mail: joaoukracheski@gmail.com 2 Aluna do 10º período do curso de Psicologia da FAE Centro Universitário. Voluntária do Programa de Apoio à Iniciação Científica (PAIC 2015-2016). E-mail: andressaclaraf@gmail.com 3 Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná. E-mail: doriluiz@gmail.com Programa de Apoio à Iniciação Científica - PAIC 2015-2016 235

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Historicamente as mulheres são inferiorizadas pela sociedade por questões de dominação e poder, disputados pelos gêneros. A manutenção do poder masculinista é associada especialmente à manutenção do estado capitalista pelos críticos do tema. A naturalização dos processos de dominação do homem sobre a mulher é constantemente questionada pelos movimentos feministas, em especial, que buscam a quebra do padrão de dominação e a equidade de direitos entre os gêneros, de modo geral. Contra essa corrente, vários meios de evitar que esse questionamento seja ouvido, ou mesmo que ele aconteça, são utilizados pelo Estado, bem como por sujeitos e instituições interessados em que a dominação continue. É notável, por exemplo, materiais didáticos que delimitam os comportamentos adequados a cada gênero, colocando o menino numa posição diferente da menina em ilustrações ou mesmo em descrições (SANTOS; OLIVEIRA, 2010). Além disso, a mídia tem papel fundamental na manutenção do que está posto. No Brasil, 90% da comunicação social é controlada por apenas nove famílias, o que possibilita que esses grupos decidam sobre aquilo que deve ou não ser transmitido para as grandes massas (COIMBRA, 2001 apud FINAMORE; CARVALHO, 2006) de forma ideológica, vislumbrando evitar que o capital seja desprivilegiado. As novas possibilidades de comunicação, em especial por meio da internet (que até certo ponto democratizam o acesso à informação e dificultam a manipulação por parte dos grandes meios de comunicação), trouxeram a possibilidade de o feminismo se expressar pelo ciberativismo. Apesar da maior possibilidade de comunicar (por parte dos militantes), a crítica de Bauman (2003) referente à efemeridade das coisas, que mantem rasas as relações na pós-modernidade, parece verdadeira. Primeiro, não necessariamente a possibilidade de buscar mais informações leva sujeitos que não estão predispostos a esse conteúdo a buscá-lo; depois, a tendência à efemeridade e ao individualismo da modernidade líquida talvez dificulte a discussão feminista. 2 METODOLOGIA A pesquisa realizada se caracteriza como híbrida, abrangendo uma análise quantitativa e qualitativa. A pesquisa foi aplicada em homens e mulheres, estudantes de uma Instituição de Ensino Superior Privada de Curitiba-PR, que aceitaram participar e concordaram com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O questionário foi elaborado através do Google Forms e disparado para a população pesquisada, conforme o desejo em participar, após o convite formal. O fato de a pesquisa ser realizada por meio da internet foi considerado como uma das variáveis, em virtude da possibilidade 236 FAE Centro Universitário Núcleo de Pesquisa Acadêmica - NPA

de o sujeito poder pesquisar termos ou respostas com intuito de burlar a pesquisa ou transmitir uma imagem inverossímil sobre si. Obteve-se 85 respostas, embora mais de 300 questionários tenham sido disparados inicialmente. O questionário foi estruturado para avaliar o que o sujeito considerava sobre o feminismo, o espectro político do sujeito, a classe socioeconômica segundo os critérios da ABEP, a possível associação por parte do pesquisado ao feminismo de esquerda, entre outros fatores. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando as 85 respostas obtidas, os participantes foram categorizados, de forma bastante distribuída, predominantemente nas classes E (29%), D (29%) e C (29%), segundo os critérios da ABEP (2014). 82% dos pesquisados se identificam com o gênero feminino, sendo que nenhum afirmou não se identificar nem com o gênero masculino, nem com o feminino. Quanto à associação do feminismo à esquerda política, 30 sujeitos (30,3%) acreditavam que o feminismo é de esquerda; 31 (36,5%) não associavam o feminismo à esquerda e 24 (28,2%) não tinham opinião formada sobre o tema. A polarização equilibrada entre as três possibilidades de respostas se dá principalmente em virtude da possibilidade de o sujeito declarar não ter opinião formada sobre a pergunta e por se tratar de um público universitário, ainda que de classes socioeconômicas baixas na classificação da ABEP. Treze pessoas justificaram a escolha, entre os que acreditam que o feminismo é de esquerda, corrobora-se a ideia de Tiburi (2014) de que o feminismo é revolucionário e contradiz o sistema financeiro, enquanto entre os que não consideram de esquerda prevaleceu a ideia de que se trata de direitos civis e não espectro político. No discurso dos sujeitos que responderam a pesquisa, 80 (94%) estão classificados, resguardadas variações na forma, na unidade de significados equidade ou igualdade de direitos entre os gêneros, demonstrando um conhecimento adequado em relação ao movimento feminista. Entretanto, 13 (87%) das 15 respostas (100%) que afirmavam que o feminismo busca privilégios para mulheres em relação aos homens estão contidas na mesma unidade de significado que supostamente entende as pautas do feminismo. Isso talvez tenha ocorrido porque o sujeito tenha pesquisado respostas coerentes ao invés de informar o que de fato pensa sobre o tema. Entretanto, ainda que seja essa a atitude dele, revela uma dissociação entre o afeto e a ideia que tem em relação ao feminismo. Além disso, os dados obtidos desses 13 sujeitos coloca a questão do esvaziamento do sentido da palavra, que toma uma forma efêmera e que não diz da realidade, portanto, em direção às discussões de Bauman (2003). Cabe, no trabalho completo, análise de outros dados secundários. Programa de Apoio à Iniciação Científica - PAIC 2015-2016 237

CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar de a hipótese inicial não ter sido comprovada, os dados obtidos possibilitaram uma discussão sobre a ambivalência do discurso pesquisado e a efemeridade da palavra que coaduna com os apontamentos da modernidade líquida de Bauman (2003). Mesmo se tratando da um número pequeno de sujeitos que apresentaram a ambivalência no discurso (o equivalente a 15% da amostra pesquisada), qualitativamente é interessante perceber as divergências e elucubrar sobre os motivos que levaram a ela. Pesquisas futuras podem tentar verificar uma justificativa do sujeito sobre as contradições que eventualmente se expressem, inclusive verificando sobre a consciência ou não do sujeito sobre as contradições. 238 FAE Centro Universitário Núcleo de Pesquisa Acadêmica - NPA

REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE PESQUISA (ABEP). Critério de classificação econômica Brasil: critério Brasil 2015 e atualização da distribuição de classes para 2016. São Paulo: ABEP, 2014. Disponível em: <http://www.abep.org/criterio-brasil>. Acesso em: 15 ago. 2016. BAPTISTA, M. N.; CAMPOS, D. C. de. Metodologias de pesquisa em ciências: análises quantitativa e qualitativa. Rio de Janeiro: LTC, 2007. BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Trad.: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2003. BEAUVOIR, S. O segundo sexo. São Paulo: Nova Fronteira, 2009. BOHN, S. R. Evangélicos no Brasil: perfil socioeconômico, afinidades ideológicas e determinantes do comportamento eleitoral. Opinião Pública, Campinas, v. 10, n. 2, p. 288-338, out. 2004. BORBA, J. Cultura política, ideologia e comportamento eleitoral: alguns apontamentos teóricos sobre o caso brasileiro. Opinião Pública, Campinas, v. 11, n. 1, p. 147-168, mar. 2005. FINAMORE, C. M.; CARVALHO, J. E. C. Mulheres candidatas: relações entre gênero, mídia e discurso. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 14, n. 2, p. 347-362, maio/ago. 2006. Disponível em: <http://bit.ly/1puahdi>. Acesso em: 17 out. 2015. SANTAELLA, L. Mulheres em tempos de modernidade líquida. Comunicação & Cultura, n. 6, p. 105-113, 2008. Disponível em: <http://repositorio.ucp.pt/ bitstream/10400.14/10421/1/06_05_ Lucia_Santaella.pdf>. Acesso em: 17 out. 2015. SANTOS, S. M. de M.; OLIVEIRA, L. Igualdade nas relações de gênero na sociedade do capital: limites, contradições e avanços. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 13, n. 1, p. 11-19, jan. 2010. TIBURI, M. Como conversar com um fascista: reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro. Rio de Janeiro: Record, 2015.. Marcia Tiburi no entre o céu e a terra. Entrevista fornecida para TV Brasil. 16 dez. 2014. Disponível em: <https://youtu.be/xgnj6wv3tfe>. Acesso em: 4 abr. 2016.. Um espelho para o novo sexo frágil. Revista Cult, São Paulo, v. 132, 2010. Disponível em: <http://bit.ly/1ldcojz>. Acesso em: 17 out. 2015. Programa de Apoio à Iniciação Científica - PAIC 2015-2016 239