USO E COBERTURA DA TERRA E VULNERABILIDADE À PERDA DE SOLO DO MUNICÍPIO DE MORRO DO CHAPÉU/BA Ana Paula Sena de Souza; Ivonice Sena de Souza (Universidade Estadual de Feira de Santana, Avenida Transnordestina, s/n - Novo Horizonte, CEP 44036-900 - Feira de Santana Bahia, anappaullasouza@yahoo.com.br) RESUMO O presente estudo foi desenvolvido no município de Morro do Chapéu/BA localiza-se a 384 km a noroeste da capital do estado, na zona oriental da Chapada Diamantina. O objetivo deste trabalho consistiu em realizar o mapeamento de uso e cobertura da terra da área de estudo, por meio das ferramentas disponíveis no Sistema de Informações Geográficas para subsidiar o mapeamento da vulnerabilidade á perda de solo. O método utilizado foi uma fotointerpretação e vetorização sobre o recorte da Imagem Landast 5 referente ao município na composição R3G4B5. O mapeamento do uso e cobertura da terra é de grande utilidade para o conhecimento atualizado das formas de uso e de ocupação do espaço, sendo importante ferramenta de planejamento e de orientação para a tomada de decisões. De acordo com os resultados obtidos o município em estudo possui 7,63%, 420 (km²), de cerrado; 39,05% (2148 km²) de agropecuária; 0,01% (1km²) de brejo; 34,52% (1899 km²), Caantiga Arbórea/Arbustiva; 5,87 % (323km²), Campo Rupestre; 0,67% (37 km²), de Campo Limpo; 12,14% (668 km²) Floresta Estacional. E por fim foram atribuídos valores para cada classe de uso e cobertura da terra para indicar qual o grau de vulnerabilidade à perda de solo no município. Palavras- chave: Sistemas de informações geográficas. Imagem de satélite. Cobertura vegetal. INTRODUÇÃO De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, (IBGE 2006), os levantamentos de uso e cobertura da terra indicam a distribuição geográfica da tipologia de uso identificado através de padrões homogêneos da cobertura terrestre. Os mapeamentos de uso e ocupação são importantes, pois permite analisar e compreender as alterações decorrentes nestes espaços, fornecendo respostas sobre as distribuições das classes de uso e ocupação das terras, além de permitir análise dos principais impactos ambientais e os fatores responsáveis pela perda da vegetação. De acordo com Santos (2004) o uso e cobertura das terras é um tema básico para planejamento ambiental, porque retrata as atividades humanas que podem significar pressão e impacto sobre os elementos naturais. É uma ponte essencial para a análise de fontes de poluição e um elo importante de ligação entre as informações dos meios biofísicos e socioeconômicos. No mapeamento do uso, o Sistemas de Informações Geográficas (SIG), e o Sensoriamento Remoto (SR) tem sido ferramentas de grande potencial o qual nos permite sobrepor várias informações, com o propósito de identificar e localizar as formas de uso, para uma melhor gestão territorial, os quais serviram de ferramentas para a realização deste trabalho. O SIG é classificado por Miranda (2005) como um conjunto importante de ferramentas que coleta, armazena, recupera, sob demanda transforma e mostra dados espaciais do mundo real. Para Florenzano (2007), podem-se gerar mapas a partir da interpretação das imagens de satélites e do uso de um SIG, é possível integrar essas informações e calcular as classes de uso e ocupação das terras. Dentro da proposta de promover a integração de dados sobre uma imagem que possa ser interpretada, as unidades territoriais básicas podem ser divididas em duas categorias: as unidades de paisagem natural e os polígonos de intervenção antrópica. Vamos ver isso a partir do mapeamento do uso e cobertura das terras. Enquanto a vulnerabilidade de acordo com Santos & Araújo (2013) é o grau de exposição que determinado ambiente está sujeito aos diversos fatores que podem ocasionar, impacto e riscos ambientais, derivados ou não das atividades socioeconômicas. Diante deste pressuposto optou-se por realizar o mapeamento do uso e cobertura das terras, por meio do SIG, para o município de Morro do Chapéu, o qual compreende as coordenadas geográficas de latitude Sul -11ᶿ 33 00 e 41ᶿ 09 22 de longitude Oeste, ocupando uma área de 5.500 km², (Figura 1). 179
Figura 1- Localização do município de Morro do Chapéu- BA Morro do Chapéu é um município brasileiro do estado da Bahia. Localiza-se a 384 km a noroeste da capital do estado, na zona oriental da Chapada Diamantina e possui altitude média de 1.100 m. Os pontos de maior altitude podem chegar a 1.350m, sendo, portanto, uma das cidades mais frias do estado com temperaturas beirando os 10ºC em algumas épocas do ano. A economia da região é fortemente baseada na agropecuária de subsistência, e apesar do potencial ecoturístico da região, essa característica é pouco explorada nesse município. As primeiras incursões no atual território de Morro do Chapéu datam do início do século XVI. Gabriel Soares de Sousa foi um dos primeiros a explorar a região em busca de minas de ouro. MATERIAL E MÉTODOS Para o desenvolvimento do presente trabalho foram utilizados: imagem de satélite Landsat5, composição colorida com as bandas 345 no canal RGB, respectivamente. A data da imagem selecionada para realização do mapeamento foi de 24/09/2009. Utilizou-se também os softwares Envi 4.7 e ArcGis 9.3. Os procedimentos adotados para a realização do trabalho dividiram-se em três etapas: Aquisição dos materiais; Levantamento bibliográfico; Confecção do mapa de uso e ocupação das terras. Os dados espaciais foram projetados no sistema de coordenadas Universal Transversa de Mercator (UTM) e datum WGS-1984. Em seguida delimitou-se a área de estudo e posteriormente deu-se início ao processo de elaboração do mapa de uso e ocupação das terras. Para este foram levantadas as informações temáticas, ou seja, as classes de uso do solo para a composição do mapa, a partir da interpretação visual da imagem, contemplando a cobertura vegetal e as classes de uso da terra, além do trabalho de campo. De acordo com Ponzoni et al. (2007), a identificação de objetos em imagens produzidas por sensores remotos mediante interpretação visual é eficaz quando o interesse é acessar as características geométricas e a aparência geral dos objetos. Para Moreira (2005) o processo de fotointerpretação envolve pelo menos duas etapas: observação e interpretação. Florenzano (2007) afirma que alguns fatores são importantes para o processo de interpretação das imagens de satélite, são eles: tonalidade/cor, textura, tamanho, forma, sombra, altura, padrão e localização. Após ter estudado esses fatores de interpretação foi possível identificar quais as classes de uso e ocupações seriam mapeadas. As classes definidas foram: Curso d água, Floresta Estacional, Cerrado, Campo Rupestre, Campo Limpo, Caantiga Arbórea/Arbustiva, Área Urbana, Agropecuária. Para a elaboração do mapa de uso e ocupação das terras foi utilizado uma fotointerpretação e 180
vetorização sobre o recorte da Imagem Landsat 5 referente ao município, utilizou-se como base para a vetorização um zoom na escala de 1:50.000. Visando subsidiar a vetorização, elaborou-se uma chave de identificação com base nos princípios de fotointerpretação como pode ser visto na figura 2. Figura 2: Chave de interpretação das classes de uso e cobertura da terra representada pelas imagens Landsat5. RESULTADOS E DISCUSSÃO O mapa de uso e ocupação das terras da área estudada e a quantificação e percentagem das classes são apresentados na Figura 3 e na Tabela 1, respectivamente. A área total do município é de 5.500 km². A sede do município tem 1 km². O uso do solo predominante no município de Morro do Chapéu é de agropecuária com 39,05%, isso pode ser explicado pelo fato da área de estudo está em grande parte com características rurais, sendo incluídas pastagens e lavouras. Desta forma a área de estudo vem sofrendo com o desmatamento, para dar lugar às pastagens e agricultura. A classe cerrado corresponde a 7,63%, enquanto a Caantiga Arbórea/ Arbustiva possui 34,52%, sendo esta a vegetação em maior quantidade ainda presente na área de estudo, seguida da Floresta Estacional com uma correspondente a 12, 14%. 181
Tabela 1: Quantificação das classes de uso e ocupação das terras. Uso e cobertura da terra Área % (Km 2 ) Agropecuária 2148 39,05 Brejo 1,0 0,01 Caantiga Arbórea/ Arbustiva 1899 34,52 Área Urbana 1,0 0,01 Campo Rupestre Cerrado Curso D Água Floresta Estacional Lagos 323 420 1,0 668 2,0 5,87 7,63 0,01 12,14 0,03 Campo Limpo 37 0,67 Total 5.500 100 Fonte: Ivonice Sena de Souza, 2014 Levando em consideração a metodologia de Crepani (2001), foram atribuídos valores quanto o grau de vulnerabilidade das classes de uso e cobertura da terra do município de Morro do Chapéu. Sendo que atribuímos valor 1,0 para as classes que consideramos estáveis, valor 2,0 para os intermediários e valor 3,0 para os que consideramos com alto grau de vulnerabilidade. Na tabela 2, segue as classes e os valores de vulnerabilidade atribuída a cada uma delas. A classe Caatinga Arbórea/ Arbustiva, por encontrar-se parcialmente conservada e servir de proteção ao solo recebeu um valor de vulnerabilidade intermediário, já a Campo Limpo, por apresentar menor porte, ser mais espaçada, deixando o solo exposto às intempéries climáticas, recebeu um valor de vulnerabilidade mais alto. Enquanto as áreas de pastagem/agricultura e áreas construídas receberam valor 3,0, ou seja, o valor mais alto de vulnerabilidade. O mapa de Uso e cobertura da terra, reclassificado para valores de vulnerabilidade, apresenta grande parte de seu território na classe instável, variando de moderadamente variável a variável, como pode ser percebido na figura 4. De acordo com os resultados da modelagem do uso da terra e cobertura da terra o município de Morro do Chapéu, possui poucas áreas estáveis, ou seja, que não esta vulnerável a perda de solo, que foi o fator que levamos em consideração. Sendo que a predominância é de áreas moderadamente estáveis, porem a instabilidade, ou seja, a perda de solo no município é alta. As áreas que apresentaram instabilidade se encontram nas áreas de construções, áreas urbanizadas, na agropecuária, e alguns tipos de vegetações que se apresentam muito esparsa. Já as áreas que apresentam um moderamento quanto à instabilidade estão localizadas nas áreas de vegetação mais densas sendo estas as áreas de caantiga arbórea/ arbustiva. 182
USO E COBERTURA DA TERRA DO MUNICÍPIO DE MORRO DO CHAPÉU/BA Figura 3 Mapa de uso e ocupação das terras do Município de Morro do Chapéu- BA. Tabela 2: Uso e cobertura da terra: Valores de Vulnerabilidade. Uso e cobertura da terra Vulnerabilidade Agropecuária 3,0 Área Urbana 3,0 Brejo 1,0 Campo Rupestre 2,0 Cerrado 2,0 Caantiga Arbórea/Arbustiva 2,0 Curso d água 1,0 Campo Limpo 3,0 Lagos 1,0 Floresta Estacional 1,0 Fonte: Adaptado de Crepani, 2001 Figura 4: Mapa de vulnerabilidade do município de Morro do Chapéu/BA. 183
CONCLUSÃO O trabalho mostra que o uso das imagens de satélite é de fundamental importância para o gerenciamento da área em estudo, integrada com o Sistema de Informação Geográfica, possibilitando que através deste fosse elaborando o mapa de uso da terra e cobertura vegetal, por meio da vetorização manual. Essa técnica possibilita o uso de metodologias diversas que contribuem para as análises espaciais e temporais. Por meio dos resultados obtidos é possível tomar decisões em relação ao município, como por exemplo, na elaboração de políticas públicas voltadas para a proteção e uso racional dos recursos naturais existentes, pois como se pode observar a área de estudo registrou altos índices de áreas exploradas por agricultores e pecuaristas, mostrando uma grande desigualdade na distribuição das classes de uso e cobertura vegetal. REFERÊNCIAS Crepani, E. Santos A. R. 2001. Sensoriamento remoto e geoprocessamento aplicados ao zoneamento ecológico-econômico e ao ordenamento territorial. São José dos Campos. Florenzano, T. G. 2007. Iniciação em sensoriamento remoto. São Paulo, Oficina de Textos, 2 ª edição. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).2006. Manual técnicos em geociências n 07- Manual Técnico de Uso da Terra. 2 edição. Rio de Janeiro. ISSN0103-9598. Disponível em http://www.ibge.gov.br. Acesso em 15 de Agosto de 2012. Miranda, J. I. 2005. Fundamentos de sistemas de informações geográficas. Brasília, DF: EMBRAPA Informações Geográficas. Moreira, M. A.. Fundamentos do sensoriamento remoto e metodologias de aplicação.3. ed. atual. Viçosa: Ed. UFV, 2011. Ponzoni, F. J; Shimabukuro, Y. E. 2007. Sensoriamento remoto no estudo da vegetação. São José dos Campos. Santos, R. F. 2004. Planejamento Ambiental: teoria e pratica. São Paulo. SANTOS, W. A. dos; ARAÚJO H. M. 2013. Vulnerabilidade ambiental nos geossistemas da sub-bacia hidrográfica do rio Cotinguiba-Se. VI Encontro de Recursos Hídricos em Sergipe. Aracaju. 184