Processo 70641-42.2014.4.01.3400 SENTENÇA - I - Trata-se de ação ordinária, com pedido de antecipação de tutela, ajuizado pelo Sindicato Nacional dos Servidores Federais Autárquicos nos Entes de Formulação, Promoção e Fiscalização da Política da Moeda e do Crédito - SINAL em desfavor da União, do Banco Central do Brasil e da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público FUNPRESP-EXE, objetivando a condenação dos réus na obrigação de registrar como data de ingresso no serviço público dos servidores substituídos, a data da posse no cargo público mais antigo, considerando todo o tempo anterior de serviço público prestado a Estados, Distrito Federal, Municípios, bem como às polícias civil e militar e ao corpo de bombeiros militar do Distrito Federal e às Forças Armadas, sem interrupção de vínculo na assunção de cargos no Banco Central do Brasil, assegurando-lhes o direito de opção entre o Regime de Previdência Próprio dos Servidores Públicos da União e o Regime de Previdência Complementar da União, com efeitos retroativos à data da posse em cargos da carreira do Banco Central do Brasil. Subsidiariamente, requer que as contribuições para a seguridade social retidas sejam destinadas ao Funpresp-Exe, a título de contribuição básica do participante ativo normal, com a condenação do Banco Central do Brasil no recolhimento da contrapartida equivalente, a título de contribuição básica do patrocinador. Aduz, em suma, que os servidores recém-empossados no Banco Central do Brasil que não tiveram a quebra do vínculo laboral com a Administração Pública foram impedidos de exercer o direito de opção, seja pelo Regime de Previdência Próprio da União seja pelo novo regime de previdência complementar instituído pela Lei nº 12.618/2012. Atribuiu à causa o valor de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais). Pág. 1/7
contestação dos réus. Juntou documentos e recolheu custas (fls. 66/152). O pedido de antecipação de tutela foi postergado para após a vinda da A Funpresp-Exe apresentou contestação às fls. 162/192, suscitando, em preliminar, sua ilegitimidade passiva. No mérito, alegou que não há como o servidor se vincular a regime jurídico não mais vigente no âmbito da União. Além do que, não há razão para enquadrar os servidores oriundos de carreiras militares no antigo regime próprio de previdência dos servidores civis efetivos da União. O Banco Central do Brasil formulou contestação às fls. 197/204 alegando, em preliminar, sua ilegitimidade passiva. Quanto ao mérito, sustentou que, com base em Orientações expedidas pela Secretaria de Gestão Pública do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (Segep/MP), os servidores empossados no Banco Central a partir de 4 de fevereiro de 2013 egressos de órgãos ou entidades dos Estados, Distrito Federal e Municípios e os egressos de carreiras militares foram enquadrados no Regime de Previdência Complementar, considerando-se o seu ingresso no serviço público federal apenas na data de posse nesta Autarquia. A União contestou o feito às fls. 207/243, aduzindo, em preliminar, a ilegitimidade ativa, limitação do número de representados, inépcia da inicial pela ausência da relação nominal dos servidores filiados e limitação dos efeitos territoriais da decisão. Em relação ao mérito, afirmou que quando o servidor ingressa no serviço público de outro ente da Federação submete-se ao regime jurídico precedente ao seu ingresso, pois não possui direito à manutenção de regime jurídico. Antecipação dos efeitos da tutela deferida às fls. 245/250. Tanto os embargos de declaração opostos pela Funpresp-Exe às fls. 259/262, como os embargos propostos pelo Sindicato-autor às fls. 314/318, foram rejeitados por meio da decisão à fl. 353. Pág. 2/7
A União noticiou a interposição de agravo de instrumento nº 0014659-24.2015.4.01.0000 às fls. 270/312, ao qual foi negado seguimento, nos termos da decisão acostada às fls. 375/378. Réplica às fls. 320/346. Novos embargos propostos pelo Sindicato-autor às fls. 356/359, os quais foram acolhidos por meio de decisão às fls. 386/389. A Funpresp-Exe informou a interposição de agravo de instrumento nº 0034179-67.2015.4.01.000 às fls. 361/373, o qual foi negado seguimento, consoante decisão às fls. 381/384. O Sindicato-autor alega descumprimento de decisão judicial às fls. 392/399, tendo o Banco Central, por meio de petição juntada às fls. 439/442, suscitado diversas questões a serem ratificadas pelo Juízo para cumprimento da referida decisão. É o relato. Julgo. - II - Inicio pelas preliminares. A Funpresp-Exe foi criada especificamente para administrar o plano de previdência complementar dos servidores. Conclui-se, assim, que sofrerá os efeitos da decisão a ser proferida nesta demanda, pelo que não há que se falar em ilegitimidade passiva. Afasto, também, a preliminar de ilegitimidade passiva arguida pelo Banco Central do Brasil, uma vez que os substituídos do sindicato-autor são servidores públicos pertencentes ao seu quadro permanente, o que o legitima sua permanência no polo passivo. Pág. 3/7
A União alega a ilegitimidade ativa do sindicato autor, ante a ausência de autorização expressa à demanda e de ata de assembleia autorizando sua propositura. A solução da controvérsia passa pela harmonização dos seguintes preceitos constitucionais: Art. 5º, XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente; Art. 5º, LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; Art. 8º, III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas; Cotejando-os, vê-se que as entidades associativas, enquanto gênero, compreendem os sindicatos, as entidades de classe e as associações, todas, em princípio, sujeitas ao inciso XXI do art. 5º da Constituição da República. Todavia, em relação ao mandado de segurança coletivo (art. 5º, LXX) e aos sindicatos (art. 8º, III), há norma especial que não alude a qualquer tipo de autorização para demandar, donde se conclui pela sua dispensabilidade. Não obstante, há na espécie autorização específica dada por Assembleia Geral: Reunião do Conselho Nacional do SINAL realizada em 04 e 05 de agosto de 2014, conforme ata acostada às fls. 72/74. Na mesma esteira, não merece amparo a alegação de inépcia da inicial, pois o sindicato regularmente constituído e autorizado pelo seu estatuto (fls. 75/109) detém legitimidade para postular em Juízo em nome de seus filiados, na qualidade de substituto processual, independentemente de relação nominal dos substituídos. Outrossim, é inócua a pretensão da União de limitar o número de representados no feito. Em caso de procedência, será possível o ajuizamento individualizado das Pág. 4/7
execuções. No processo de conhecimento, pois, não há qualquer prejuízo à defesa ou à celeridade da tramitação deste feito. No tocante à delimitação territorial/incompetência absoluta, a restrição prevista no art. 2º-A da Lei n. 9.494/97 não se aplica às ações coletivas aforadas contra a União no Distrito Federal, em face do que dispõe o 2º do art. 109 da Constituição Federal. Se qualquer jurisdicionado pode mover ação contra a União na Seção Judiciária do Distrito Federal, não há razão para limitar os efeitos da sentença proferida em ação coletiva aqui ajuizada aos substituídos domiciliados nesta unidade da federação. Superadas as preliminares, adentro ao mérito Na hipótese dos autos, em que se discute questão sensível aos efeitos do tempo, qual seja, o enquadramento previdenciário de servidor público, tenho que assiste razão ao autor, pelas razões que passo a expor. No plano constitucional, o 14 do art. 40, incluído pela Emenda 20, estabelece que "a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, desde que instituam regime de previdência complementar para os seus respectivos servidores titulares de cargo efetivo, poderão fixar, para o valor das aposentadorias e pensões a serem concedidas pelo regime de que trata este artigo --- o regime próprio ---, o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social (...)". Por sua vez, o 16 deste mesmo artigo dispõe que "somente mediante sua prévia e expressa opção, o disposto nos 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver ingressado no serviço público até a data da publicação do ato de instituição do correspondente regime de previdência complementar". No plano infraconstitucional, o art. 30 da Lei nº 12.618/2012 diz que "(...) considera-se instituído o regime de previdência complementar de que trata esta Lei a partir da data da publicação pelo órgão fiscalizador da autorização de aplicação dos regulamentos dos planos de benefícios (...)". No plano infralegal, o art. 1º da Portaria MPS/PREVIC/DITEC nº 44/2013 Pág. 5/7
resolve "aprovar o Regulamento do Plano Executivo Federal, administrado pela Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo - Funpresp-Exe." Este ato foi publicado no Diário Oficial da União de 04 de fevereiro de 2013. Logo, esta data deve ser considerada como marco de ingresso no serviço público para os fins do 16 do art. 40 da Constituição da República. Com efeito, o regramento trazido pela Emenda 20 é financeiramente benéfico à União. Isto explica a tentativa do governo federal de aplicá-lo ao maior número de casos que entende possíveis, especificamente em duas hipóteses: servidor egresso de outro ente da Federação e militar. Quando tais servidores, sem quebra de continuidade, passam a compor os quadros do serviço público federal após 04 de fevereiro de 2013, a União enquadra-os no novo regime. Para tanto, sustenta a interpretação de que apenas o servidor civil com vínculo pretérito com ela própria possuiria o direito de escolha previsto no 16 do art. 40 da Constituição. Não é, contudo, o que diz a Lei Maior: " 16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção, o disposto nos 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor --- sem restrição quanto à natureza civil ou militar --- que tiver ingressado no serviço público --- sem restrição quanto à origem federal, estadual ou municipal --- até a data da publicação do ato de instituição do correspondente regime de previdência complementar." Como se vê, a restrição não está expressa no texto constitucional e, por essa razão, não pode ser estabelecida pela via da interpretação. Vale lembrar que estamos no âmbito da hermenêutica dos direitos fundamentais, regida pela lógica ampliativa, jamais restritiva. Assim, como no caso em questão, o sindicato-autor postula em nome dos servidores recém-empossados no Banco Central do Brasil que não tiveram a quebra do vínculo laboral com a Administração Pública, fazem jus ao direito postulado nesta demanda, desde tenham ingressado no serviço público antes de 04 de fevereiro de 2013. Pág. 6/7
Por fim, nada a prover em relação aos procedimentos a serem adotados pelo Banco Central do Brasil para cumprimento da decisão liminar, visto que extrapolam o objeto da demanda. Ademais, o Judiciário não é órgão consultivo, possuindo a autarquia procuradoria própria para tal finalidade. - III - Ante o exposto, acolho o pedido para assegurar aos filiados do sindicato-autor, recém-empossados no Banco Central do Brasil, que não tiveram a quebra do vínculo laboral com a Administração Pública, o direito de participar do regime próprio de previdência da União (CF art. 40) em igualdade de condições com os servidores que ingressaram no serviço público federal antes de 04 de fevereiro de 2013. Condeno os réus, solidariamente, ao reembolso das custas e ao pagamento de honorários advocatícios, que arbitro em R$ 10.000,00 - dez mil reais (CPC art. 85 3º I) Oportunamente, autos ao Tribunal para reexame necessário. Brasília-DF, 27 de junho de 2016. Juiz Federal Substituto Eduardo Santos da Rocha Penteado Pág. 7/7