AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DE LIGAÇÕES METÁLICAS COM PERFIL EM U INVERTIDO SOLDADO EM COLUNAS TUBULARES

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Transcrição:

Coimbra, Portugal, 2012 AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DE LIGAÇÕES METÁLICAS COM PERFIL EM U INVERTIDO SOLDADO EM COLUNAS TUBULARES Luís B. Magalhães 1 *, Carlos S. Rebelo 2 e Sandra Jordão 2 1: Unidade Técnico-Científica de Engenharia Civil Escola Superior de Tecnologia Instituto Politécnico de Castelo Branco Av. do Empresário, 6000-767 Castelo Branco e-mail: lmmbmagalhaes@ipcb.pt, web: http://www.est.ipcb.pt 2: Departamento de Engenharia Civil Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade de Coimbra Rua Luís Reis Santos, Polo II da Universidade, 3030-788 Coimbra e-mail: {crebelo,sjordao}@dec.uc.pt web: http://www. http://www.uc.pt/fctuc/dec Palavras-chave: Ligações viga-coluna, perfil em U invertido soldado, comportamento monotónico e cíclico, ensaios de componentes, perfil tubular. Resumo. O principal objetivo da investigação apresentada é a caracterização experimental do comportamento cíclico não linear de ligações metálicas entre vigas de perfil em I e colunas tubulares com perfis em U invertidos de secção soldada. Quando comparados com outros perfis metálicos, os perfis tubulares apresentam melhor comportamento estrutural, devido à sua capacidade de suportar cargas axiais, flexão em várias direções e torção, além das vantagens consideráveis em termos de manutenção e estética, a um custo razoável. No entanto, apresentam dificuldades associadas às ligações, principalmente a vigas de perfil em I. A utilização de perfis em U invertidos soldados à coluna tubular e aparafusados a vigas com placa de extremidade tem-se mostrado uma boa solução quando se conjuga o custo de construção, a facilidade de implementação e a ductilidade obtida através da deformação da alma do perfil em U. O tipo de ligação descrito apresenta vantagens mas, o seu comportamento não está caracterizado. Neste artigo são apresentados resultados relativos à investigação experimental sobre o comportamento das componentes do perfil em U da ligação. O comportamento das principais componentes do perfil em U (painel da alma em flexão, painéis dos banzos em corte, compressão e tração) é avaliado por meio de ensaios experimentais de flexão (monotónicos e cíclicos). O objetivo principal destes ensaios é caracterizar a resistência, rigidez e capacidade de rotação das principais componentes da ligação relacionadas com o perfil em U. Os resultados do estudo permitem apresentar o comportamento deste tipo de ligações quando os parâmetros relativos ao perfil em U variam. A área carregada, as espessuras e larguras da alma e dos banzos são parâmetros com influência no comportamento estrutural da ligação.

1. INTRODUÇÃO Quando comparados com outros perfis metálicos, os perfis tubulares apresentam um comportamento estrutural privilegiado devido à sua capacidade de suportar cargas axiais, flexão em várias direções e torção, além de vantagens consideráveis em termos de manutenção e estética, a um custo razoável. O fato da utilização dos perfis tubulares na conceção de estruturas não ser uma solução corrente, deve-se a aspetos associados com as ligações. De facto, a solução soldada torna-se dispendiosa e a solução aparafusada é inviável por não haver acesso ao interior do perfil tubular. Devido a este fato, a investigação não se dirigiu para estas tipologias, resultando na inexistência de métodos de análise abrangentes ou códigos para seu dimensionamento. O Eurocódigo 3 [1] fornece algumas regras para ligações soldadas entre perfis tubulares, mas nada indicando para as ligações aparafusadas. No entanto, o "Comité International pour le Développement et l Étude de la Construction Tubulaire" CIDECT tem vindo a desenvolver investigação no sentido de colmatar essa lacuna [2]. A caracterização do comportamento de ligações entre perfis tubulares tem vindo a ser realizada na perspetiva do método das componentes, conduzindo a uma uniformização na metodologia regulamentar de dimensionamento de ligações metálicas. A utilização de perfis um U de secção soldada invertidos (Channels) é uma boa solução para o caso das ligações entre vigas de perfil em I e colunas tubulares (Figura 1), dado que têm um custo de construção razoável, são fáceis de implementar e possuem uma grande ductilidade através da deformação do painel da alma do perfil em U. O presente artigo apresenta alguns resultados da investigação experimental sobre o comportamento das componentes do perfil em U quando sujeito a flexão. 2. INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL Figura 1. Perfil em U invertido soldado. Além da determinação da capacidade de rotação da ligação através da deformação do perfil em U, o objetivo desta investigação é determinar a resistência e a rigidez das componentes da ligação relacionadas com a alma e os banzos do perfil U, a partir da execução de ensaios de componentes em flexão com carregamentos monotónicos e cíclicos. 2.1. Parâmetros do estudo experimental Os protótipos de ensaio são formados pelo perfil em U (duas placas de banzo soldadas à placa da alma com 4 furos para aparafusar à placa de extremidade da viga em I na qual é aplicada a carga) (Figura 2). A classe de resistência do aço é S275. O comportamento do perfil em U invertido soldado é condicionado pelas componentes da sua alma e banzos: placa da alma em flexão e placas de banzos em corte, compressão e tração. As configurações selecionadas para os ensaios experimentais correspondem a uma variação 2

paramétrica dos fatores de maior influência no comportamento estrutural do channel. Estes parâmetros são a espessura e largura das placas da alma e dos banzos, a distância entre os parafusos na mesma fiada e a geometria da placa de extremidade da viga (Figura 2). As dimensões dos protótipos são indicadas na Tabela 1. P p 2 (mm) b c (mm) h c (mm) Figura 2. Esquema do protótipo e da viga. Tabela 1. Dimensões dos protótipos. t wc (mm) t fc (mm) Protótipo 1 12 A-11 200 2 A-12 85 3 185 A-13 90 4 220 15 A-14 5 100 15 Placa de extremidade da viga b p (mm) e (mm) 155 35 A-15 170 35 6 80 A-16 170 45 200 7 A-17 100 75 170 35 8 10 A-18 2.2. Lay-out de ensaio O lay-out dos ensaios experimentais corresponde a uma ligação viga coluna, entre um perfil em I e uma estrutura vertical rígida em aço através do channel invertido (Figura 3). Tendo em conta que o objetivo é analisar o comportamento do channel, todos os outros elementos da ligação têm rigidez suficiente para se considerarem indeformáveis. O perfil em U está diretamente soldado a uma placa rígida (25 mm de espessura e classe S355), que para facilitar a montagem e desmontagem dos protótipos, liga à estrutura vertical através de 8 parafusos (M24-10.9). A viga é um perfil IPE300 (S355) com grande rigidez à flexão [3] quando comparada com a do perfil em U, incorporando no extremo um sistema de rolamentos vertical que impede os deslocamentos fora do seu plano. 3

130,00 2,00 7,50 27,00 28,55 28,50 18,00 7,50 Luís B. Magalhães, Carlos S. Rebelo e Sandra Jordão 2.3. Instrumentação Figura 3. Lay-out de ensaio. Foram usados defletómetros para medir todos os componentes da rotação da ligação e para avaliar os deslocamentos em pontos significativos da estrutura (Figura 4). H5 / 064 H3 / 062 H4 / 063 H8 / 067 H9 / 068 17,50 6,00 2,00 H6 / 065 Dimensões em cm H7 / 066 8,00 17,00 10,00 20,00 10,00 2,50 30,45 14,20 V2 / 061 ACT H11 / 070 Dimensões em cm 110,5 108,7 5 V1 / 060 55,50 V10 / 069 Figura 4. Esquema de colocação dos defletómetros (à esquerda no perfil em U e à direita na viga). 4

7,50 18,00 7,50 Luís B. Magalhães, Carlos S. Rebelo e Sandra Jordão Também se utilizaram extensómetros para medir as extensões e avaliar o estado de tensão em vários pontos do perfil em U, assim como as extensões nos parafusos. A figura 5 apresenta um esquema com os pontos onde foram colados extensómetros. CW-SX-001 CW-SY-002 CF-SZ-005 B-SZ-009 B-SZ-010 CF-SZ-006 CF-SZ-007 B-SZ-011 B-SZ-012 CF-SZ-008 Dimensões em cm CW-SY-003 2.4. Solicitação CW-SX-004 7,50 20,00 7,50 Figura 5. Esquema de colocações dos extensómetros. A estratégia de carregamento dos ensaios cíclicos corresponde ao procedimento de carregamento recomendado pelo documento da ECCS para testes cíclicos [4] (Figura 6). 0,1 mm/s 0,2 mm/s 0,4 mm/s Figura 6. Estratégia de carregamento cíclico. Os valores usados foram determinados com base no deslocamento elástico obtido nos ensaios 5

monotónicos através de fatores multiplicativos. Estes fatores multiplicativos são 0.25, 0.5, 0.75, 1, 2, 4, 6 e 8. A velocidade de ensaio para cada ciclo da estratégia de carga está indicada na figura 6. Os ensaios experimentais, monotónicos e cíclicos, foram executados com controlo de deslocamento. Para efetuar os ensaios foi utilizado um atuador hidráulico de 100 tf, o qual é conectado à viga através de um dispositivo articulado de forma que a carga aplicada permaneça ortogonal à viga durante o ensaio. O carregamento aplicado à estrutura é medido por meio de células de carga, uma colocada entre o atuador e a viga e outra abaixo do banzo inferior da viga, conforme ilustra a figura 3. 3. RESULTADOS A figura 7 mostra o lay-out de ensaios no início e no final de um ensaio monotónico. Pode verificar-se a deformação significativa no perfil em U após o deslocamento imposto na viga. 3.1. Ensaios monotónicos Figura 7. Lay-out de ensaios no início e no final dos ensaios. Nos ensaios monotónicos a deformação dos perfis é causada pela tração dos parafusos na zona da fiada superior (Figura 8) e pela compressão da placa de extremidade da viga na zona inferior da alma do perfil (Figura 9). Em ambos os casos podem observar-se deformações plásticas significativas. A11 A12 A13 A14 A15 A16 A17 A18 Figura 8. Deformação na zona superior dos protótipos nos ensaios monotónicos. 6

A11 A12 A13 A14 A15 A16 A17 A18 Figura 9. Deformação na zona inferior dos protótipos nos ensaios monotónicos. O protótipo A-11 evidencia a maior deformação plástica na zona da fiada dos parafusos tracionados e uma das deformações por compressão da viga na zona inferior mais significativa, devido ao fato de ser o protótipo que tem a placa de alma mais fina relativamente aos outros (12 mm). O protótipo A-14 é o que sofre a maior deformação na zona inferior, devido ao fato de ser o que tem a placa de alma mais larga (220 mm), aumentando assim a deformação por flexão. O protótipo A-18 foi o único que atingiu a rotura por rompimento das placas de banzo, como se pode observar na figura 8. Este protótipo é o que tem os banzos com menor espessura (10 mm). Os resultados dos ensaios monotónicos são apresentados na figura 10 em termos de curvas momento-rotação. Figura 10. Diagramas momento-rotação para os ensaios monotónicos. As curvas momento-rotação têm duas regiões diferentes: A região inicial correspondente ao comportamento linear e a região pós cedência. O comportamento da ligação na fase elástica pode ser definido em termos de rigidez de rotação inicial (S j,ini ) e máximo momento elástico (M j ) [1]. Estas duas grandezas dependem das propriedades elásticas do material, do comportamento elástico da ligação e da sua geometria. O comportamento na fase pós cedência é caracterizado pela sua rigidez (S j,pl ) e rotação máxima (não 7

avaliada no presente estudo). A rigidez pós cedência depende das propriedades de endurecimento do material e da rigidez que é mobilizada nas placas carregadas. Na tabela 2 são indicados os valores dos resultados obtidos nos ensaios. Protótipo Momento Elástico M j [KNm] Tabela 2. Momento elástico e rigidezes. Rotação Elástica [rad] Rigidez Inicial S j,ini [KNm] Rig. Pós Cedência S j,pl [KNm] A-11 42,4 0,0133 3188,0 285,7 A-12 53,7 0,0177 3033,9 292,2 A-13 53,7 0,0095 5652,6 454,2 A-14 41,5 0,0180 2305,6 441,3 A-15 52,2 0,0197 2649,7 435,8 A-16 54,5 0,0126 4325,4 340,7 A-17 48,8 0,0208 2346,2 420,3 A-18 10,2 0,0054 1888,9 328,9 Os resultados dos ensaios monotónicos mostram que a espessura e a largura da placa da alma são parâmetros com significativa influência no comportamento global da ligação. Quando a espessura da alma diminui o valor do momento elástico decresce (Comparar os resultados de A-11 e A-12). Aumentar ou diminuir a largura da alma envolve variações significativas da rigidez, quando se mantem constante a largura da placa de extremidade da viga, porque a variação deste parâmetro altera a rigidez de flexão da placa da alma. O protótipo A-14, que é o exemplo com a maior largura da alma, é o que tem a menor rigidez inicial entre os protótipos com espessura de banzos de 15 mm. A variação da área carregada, com influência na zona de compressão através da largura da placa de extremidade da viga, e na zona de tração pela distância entre parafusos, é também um parâmetro importante na rigidez da ligação. Maior rigidez é obtida quando a carga é aplicada mais próxima dos banzos do channel na zona de compressão, ou seja, quando a largura da placa de extremidade é aproximada da largura da alma, caso do protótipo A-13, e quando o afastamento entre parafusos na zona de tração é menor, neste caso o protótipo A-16. A influência da variação da espessura dos banzos é evidente quando comparamos os resultados dos protótipos A-17 e A-18. A diminuição deste parâmetro altera significativamente o comportamento da ligação, visto diminuir a resistência dos banzos à compressão e à tração. A variação da largura dos banzos não evidencia alterações notórias do comportamento, isto porque a variação efetuada com este parâmetro é insuficiente para alterar de forma significativa a esbelteza dos banzos. Na tabela 3 é apresentada em síntese a influência da variação dos parâmetros do perfil em U. Tabela 3. Síntese do estudo paramétrico. Parâmetro Variação Protótipos M j [KNm] S j,ini [KNm] Espessura da alma [t wc] Aumento A-11 A-12 > = = S j,pl [KNm] Largura da alma [h c] Diminuição A-12 A-13 = >> >> Largura da alma [h c] Aumento A-12 A-14 < < > Largura da placa de extremidade [b p] Aumento A-12 A-15 = = > Distância entre parafusos [p 2] Diminuição A-15 A-16 = >> < Largura dos banzos [b c] Diminuição A-15 A-17 = = = Espessura dos banzos [t fc] Diminuição A-17 A-18 <<< < < 8

3.2. Ensaios cíclicos Nos ensaios cíclicos a rotura das ligações ocorreu durante os cíclicos de carregamento de 120 mm (Protótipos A-11, A-14, A-15 e A-16) e de 90 mm (Protótipos A-17 e A-18) (Figura 11). A17 A16 A15 A11 A18 A14 Figura 11. Localização da rotura da ligação para cada um dos ensaios cíclicos. Maioritariamente, a rotura das ligações foi devida à quebra dos cordões de soldadura entre a alma e os banzos na zona inferior do channel, nesse momento tracionada (zona que foi comprimida no início de cada ciclo), como ilustram as figuras 12a e 12b para os protótipos A-11, A-14, A-15, A-16 e A-17. Exceção a este tipo de rotura, há semelhança do ensaio monotónico, o protótipo A-18 rompeu nas placas de banzo. A figura 13 mostra a ligação no final do ensaio com a rotura duma placa de banzo. Durante o ensaio, o protótipo A-13 não atingiu a rotura, tendo suportado todos os ciclos de carga até aos de amplitude de 120 mm. Neste caso, o comportamento da ligação foi condicionado pelo deslizamento da porca na parte roscada dos parafusos (Figura 14). A11 A14 A15 A11 A14 Figura 12a. Rotura dos cordões de soldadura nos protótipos A-11, A-14 e A-15. A15 9

A16 A17 A16 A17 Figura 12b. Rotura dos cordões de soldadura nos protótipos A-16 e A-17. A18 A18 A18 Figura 13. Rotura do protótipo A-18 nas placas de banzo. A13 A13 Figura 14. Detalhes do escorregamento dos parafusos na ligação A-13. A figura 15 mostra os resultados dos ensaios cíclicos na forma de diagramas de curvas histeréticas momento-rotação. Em todos estes diagramas é possível identificar os sucessivos ciclos da estratégia de carregamento. É notório que após o primeiro dos três ciclos de 30, 60 e 90 mm há um decréscimo da resistência da ligação. 10

Figura 15. Diagramas de curvas histeréticas momento-rotação. 11

Destas curvas histeréticas podemos concluir que os comportamentos das ligações não são iguais nas rotações positivas e negativas. Esta situação é mais evidente nos diagramas dos protótipos A-13 e A- 16. O comportamento histerético que apresenta a simetria mais perfeita é o que corresponde à ligação do protótipo A-14. Os ensaios monotónicos demonstram que este é um dos perfis com menor rigidez, e também o fato da aplicação da carga estar mais afastada dos banzos. 4. CONCLUSÕES - A área carregada, as espessuras e larguras da alma e dos banzos são parâmetros de importante influência no comportamento estrutural das ligações viga-coluna com o perfil em U invertido, tendo-se verificado alterações significativas do comportamento estrutural para a variação paramétrica considerada no estudo. - A resistência da ligação é superior quando a espessura da alma do perfil é maior, mas relativamente à rigidez não existem diferenças significativas. Esta conclusão é aceitável visto que apesar do aumento da espessura a configuração geométrica da ligação e os caminhos de transferência de carga não se alteram. - A espessura dos banzos é dos parâmetros mais importantes, a sua diminuição implica perda de resistência e rigidez, visto que suportam compressão, tração e corte. - Maiores relações entre as larguras da alma do perfil e da placa de extremidade da viga implicam baixas resistências e rigidezes. A justificação está no fato de para relações baixas, a força de compressão transmitida pela placa de extremidade é suportada pelos banzos do channel em compressão, dando maior resistência e rigidez à ligação, enquanto que na situação oposta a resistência e a rigidez são condicionadas pela alma do channel em flexão. - A distância entre parafusos na fiada em tração é um parâmetro influente, porque a distribuição da carga através da largura do perfil influencia o caminho de transferência de carga da alma para os banzos do perfil, influenciando assim a deformação plástica da alma. - Nos ensaios cíclicos a resistência da ligação é condicionada pela resistência dos cordões de soldadura. A resistência diminui com os ciclos de carga e verifica-se um comportamento assimétrico entre ciclos de compressão e tração. REFERÊNCIAS [1] CEN, Eurocode 3: Design of Steel Structures, Part 1.8: Design of Joints, EN 1993-1-8, (2010). [2] Jaspat J.P., Pietrapertosa C., Weynand K., Busse E., Klinkhammer R. CIDECT Report 5BP- 4/05: Development a Full Consistent Design Approach for Bolted and Welded Joints in Building Frames and Trusses between Steel Members Made of Hollow and/or Open Sections, Application of the Component Method, Volume 1 - Practical Guidelines, (2005). [3] CEN, Eurocode 3: Design of Steel Structures, Part 1.1: General Rules and Rules for Buildings, EN 1993-1-1, (2010). [4] ECCS, Recommended Testing Procedure for Assessing the Behaviour of Structural Steel Elements under Cyclic Loads, ECCS N.º 45, (1986). 12