Revelia. O OBJETIVO DESSE AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM SERÁ A APRESENTAÇÃO DO INSTITUTO DA REVELIA NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO

Documentos relacionados
Conceito. Emendatio e mutatio libelli.

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Citação e intimações. Gustavo Badaró aula de 08 e

TJ - SP Exercício Processo Penal Exercício I Emerson Castelo Branco Copyright. Curso Agora Eu Passo - Todos os direitos reservados ao autor.

Direito Processual Penal

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Procedimento comum: ordinário e sumário. Gustavo Badaró aulas 22 e 29 de março de 2017

DIREITO PROCESSUAL PENAL IV

Olá, pessoal! Chegamos ao nosso sétimo módulo. Falaremos da petição inicial, da(s) resposta(s) do réu e do fenômeno da revelia.

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Revisão Criminal. Gustavo Badaró aula de

Direito Processual Penal

A nossa missão é aprovar você! EXERCÍCIOS - ATOS DE OFICIO - Prof. Zanone Manuel Junior

Aula 10. Qual o vício quando o Ministério Público oferece denúncia em face de agente que possui apenas 17 anos?

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Sujeitos Processuais. Gustavo Badaró aula de

Direito Processual Penal

Direito Processual Penal

03/05/2017 DEUSDEDY SOLANO DIREITO PROCESSUAL PENAL CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Sentença Penal. Gustavo Badaró aula de

TJ-SP. Escrevente Técnico Judiciário. Prof. Guilherme Rittel

DIREITO PROCESSUAL PENAL III. AULA DIA 03 DE MARÇO DE 2015 Docente: TIAGO CLEMENTE SOUZA

Direito Processual Penal

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Teoria Geral da Prova. Gustavo Badaró. aulas de

REINALDO ROSSANO LÉO MATOS INFORMÁTICA EXERCÍCIOS QUADRIX LINUX DIREITO PROCESSUAL PENAL

Continuação - aula princípios

AÇÃO PENAL. Noções preliminares e conceito. Características:

AULA 11 AUDIÊNCIAS TRABALHSITAS DISCIPLINA: DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO PROFª KILMA GALINDO DO NASCIMENTO

Júri moderno: Inglaterra - Willian o conquistador/ jurados. *Papa Inocente III, 1215, 4º Concílio de Latrão, proibiu o uso das ordálias

Comunicações Processuais Prof. Gladson Miranda

DIREITO PROCESSUAL PENAL IV

REVELIA (ART. 319 A 322)

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 2013.

MPU Processo Penal Citação - Notificação - Intimação Armando Júnior

CALÚNIA (art. 138, CP) DIFAMAÇÃO (art. 139, CP) INJÚRIA (art. 140, CP)

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE JATAÍ - CESUT A s s o c i a ç ã o J a t a i e n s e d e E d u c a ç ã o

A INICIATIVA PROBATÓRIA DO JUIZ NO PROCESSO PENAL E O PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Correlação entre acusação e sentença. Gustavo Badaró aula de

Ministério da Educação Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Sociais e Humanas Departamento de Direito

FACULDADE SETE DE SETEMBRO FASETE

Procedimento dos crimes dolosos contra a vida Tribunal do Júri I

PROVA DAS DISCIPLINAS CORRELATAS DIREITO PROCESSUAL PENAL

PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS SISTEMAS PROC PENAIS e LEI PROC PENAL. Profª. Karem Ferreira Facebook: Karem Ferreira OAB

PRINCÍPIO = começo; ideia-síntese

O processo penal é um instrumento de. determinado fato histórico...

ATOS, TERMOS, PRAZOS E NULIDADES PROCESSUAIS. Prof. Renato Gama

Superior Tribunal de Justiça

PROCEDIMENTOS PARTE I PROCEDIMENTO ORDINÁRIO

CONCEITO DE AUTORIDADE

19/08/2012 PROCESSO PENAL II

Plano de Ensino 8. Reconvenção.

APELAÇÃO CRIMINAL FURTO DE ENERGIA ELÉTRICA CONDENAÇÃO LASTREADA EXCLUSIVAMENTE

DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROFESSOR EDUARDO FRACISCO

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA AÇÃO DE ALIMENTOS COM MODELO DE PETIÇÃO INICIAL E A CONSTRUÇÃO DO PARÁGRAFO JURÍDICO

AULA 08. Critérios utilizados pelo legislador para escolher que ação penal de um delito será privada.

ROTEIRO PARA A SESSÃO DE JULGAMENTO

Atos processuais e sua comunicação

Citação do réu Preso. Art Se o réu estiver preso, será pessoalmente citado.

DA FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO. Des. ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO

REVISÃO TURBO. Procedimentos Processuais Penais Execução Penal

DIREITO PROCESSUAL PENAL III. AULAS ABRIL E MAIO DE 2015 Docente: TIAGO CLEMENTE SOUZA

1. Sobre as medidas cautelares pessoais no processo penal, é correto afirmar que:

PAS DE NULLITÉ SANS GRIEF.

CONTEUDO PROGRAMÁTICO DIREITO PROCESSUAL PENAL I. 1. Introdução: 1.1 Conceito de Direito Processual; 1.2 Conteúdo; 1.3 Objeto;

DIREITO PROCESSUAL PENAL IV

26/08/2012 PROCESSO PENAL II PROCESSO PENAL II

Pedido de explicações.

PROCESSO PENAL MARATONA OAB XX

V - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (ACR) :

19 - (FCC TJ-AP - TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E DE

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA 4ª Câmara de Direito Criminal

LEI COMPLEMENTAR Nº 106, DE 18 DE MAIO DE Publicada no Diário Oficial nº Art Art Art

20/05/2014 SEGUNDA TURMA : MIN. TEORI ZAVASCKI

IDENTIFICAÇÃO DO PROCEDIMENTO PASSO A PASSO

Ministério da Educação Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul

Conteúdo: Ação Penal nos Crimes contra a Honra: Pedido de explicações, audiência de conciliação, exceção da verdade. Jurisdição: Conceito, Princípios.

MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO SUL PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA SUBPROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA PARA ASSUNTOS JURÍDICOS

PONTOS INICIAS: Procedimentos a) COMUM: a.1) Ordinário (395/405) pena máxima igual ou sup. a 4 anos

LEI Nº , DE 20 JUNHO DE 2008.

LÚCIO SANTORO DE CONSTANTINO Advogado criminalista. Professor de Direito

19/08/2012 PROCESSO PENAL II PROCESSO PENAL II

Docente: TIAGO CLEMENTE SOUZA

NO PROCESSO PENAL. Nota: A juntada de documentos pode ocorrer em qualquer fase do processo (CPP, art. 231).

- Procedimento Juizados Especiais (Lei 9.099) Qual o recurso cabível da decisão que não homologa a transação penal?

Liberdade provisória sem fiança.

Conteúdo: Reparação dos danos no Processo Penal. Procedimentos. Reparação de Danos no Processo Penal:

Apelação Criminal nº , oriundo do Juizado Especial Criminal da Comarca de Curitiba.

PONTO 1: Procedimento do Júri PONTO 2: 1ª Fase Juízo de Acusação PONTO 3 Opções decisórias PONTO 4: 2ª Fase Juízo da Causa 1,. PROCEDIMENTO DO JURI

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO. MÓDULO II 1. Regras de competência 2. Procedimento 3. Pedidos 4. Recurso Ordinário Constitucional

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. Fase Ordinatória. Professor Rafael Menezes

PRINCÍPIOS: b) Imparcialidade; c) Juiz natural; d) Indeclinabilidade da jurisdição; e) Indisponibilidade e tipicidade.

Conteúdo: Demanda: Funções, Requisitos e Efeitos. Citação: Conceito, Funções, Natureza Jurídica, Espécies e Efeitos. Revelia: Conceito e Efeitos.

A extinção da punibilidade pelo pagamento nos delitos contra a ordem tributária

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA-PR.

Faculdades Integradas de Ponta Porã FIP/MAGSUL. PROJETO DAS FACULDADES FIP/MAGSUL 2014/1 ( x ) ENSINO ( x ) PESQUISA ( ) EXTENSÃO

PRISÕES PRISÃO PREVENTIVA. Vídeo: Prisão Parte 2 do início até 17:28

Aula 09 FUNDAMENTOS DA PRISÃO PREVENTIVA

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

- Jurisdição - Competência é o limite dentro do qual juízes e tribunais exercem jurisdição.

SUMÁRIO. Capítulo 5 Inquérito policial (arts. 4º a 23 do cpp) 5.1 Conceito

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

Transcrição:

Revelia. O OBJETIVO DESSE AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM SERÁ A APRESENTAÇÃO DO INSTITUTO DA REVELIA NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO A INEXISTÊNCIA DA REVELIA NO PROCESSO PENAL Conforme ensinamentos de COSTA MACHADO a REVELIA (de rebellis, rebeldia) é o estado de contumácia do réu, ou seja, a situação de inércia do réu quanto ao seu direito de defesa (MACHADO, 2006, p. 693). No âmbito do Direito Processual Civil o instituto da revelia está previsto no Art. 319 Do Código de Processo Civil que determina in verbis: "Se o réu não contestar a ação, repuar-se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo autor". Percebe-se que o dispositivo supracitado aborda os efeitos materiais da revelia. No entanto, surge a perplexidade, pois tal instituto tem aplicação no Direito Processual Penal brasileiro? No Direito Processual Penal caso o acusado seja CITADO ou INTIMADO pessoalmente para qualquer ato processual e deixar de comparecer sem motivo devidamente justificado, ou por outro lado, mudar de residência, sem, contudo, comunciar ao juiz, terá sua revelia decretada nos exatos termos do Art. 367 do Código de Processo Penal. O dispositivo supracitado determina in verbis: "Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo". Todavia, diferente do que ocorre no Direito Processual Civil, a revelia não gera a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo acusador (Ministério Público ou Querelante) na DENÚNCIA ou QUEIXA-CRIME. Assim, o Art. 319 do Código de Processo Civil não tem aplicação no Direito Processual Penal. No Direito Processual Penal a revelia não tem os mesmos efeitos do Direito Processual Civil, haja vista o PRINCÍPIO DO ESTADO OU PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (PRINCÍPIO DA NÃO- CULPABILIDADE), previsto, expressamente, no Art. 5º, inciso LVII da Constituição da República. Portanto, a acusação continua com o ônus de provar o alegado, se não o fizer será o acusado absolvido (GONÇALVES; REIS, 2015, p. 445). No Direito Processual Penal o único efeito prático da revelia é determinar que o acusado não seja mais intimado pessoalmente dos atos processuais posteriores, podendo, no entanto, realizar sua defesa normalmente. Ademais, seu defensor, será sempre notificado e/ou intimado da realização de qualquer ato

processual. Nesse sentido, é importante salientar o Art. 261, caput, do Código de Processo Penal que determina in verbis "Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor ". Entretanto, o acusado deverá sempre ser INTIMADO DA SENTENÇA PROLATADA. Nesse sentido, a doutrina pátria tem defendido que no Direito Processual Penal não há, efetivamente, observância do instituto da revelia. Senão vejamos: "Pensamos que, no processo penal, inexiste a figura da revelia, tal como ocorre no processo civil, Neste, conforme prevê o art. 319 do Código de Processo Civil, caso o réu não conteste a ação, quando devidamente citado, reputar-se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo autor na inicial. É o efeito da revelia, isto é, o estado de quem, cientificado da existência de ação contra si proposta, desinteressa-se de proporcionar defesa (...) Ora, totalmente diversa é a situação no processo penal. O réu, citado, que não comparece para ser interrogado, desinteressando-se por sua defesa, uma vez que os direitos são sempre indisponíveis nesse caso, terá defensor nomeado pelo juiz (art. 261, CPP), (...). Enfim, o que ocorre na esfera penal é a simples ausência do processo, consequência natural do direito de audiência" (NUCCI, 2013, p. 669/670). Nesse mesmo sentido, é o entendimento de AURY LOPES JUNIOR: "Atualmente, não há que se falar em 'revelia' no processo penal (ou pelo menos não no sentido próprio do termo, o que significa dizer que a utilização seria sempre imprópria e inadequada), pois a inatividade do réu não conduz a nenhum tipo de sanção penal (...) Não existe, no processo penal, revelia em sentido próprio. A inatividade processual incluindo a omissão e a ausência) não encontra qualquer tipo de reprovação jurídica. Não conduz a nenhuma presunção, exceto a de inocência, que continua inabalável. Nada de presumir-se a autoria porque o réu não compareceu!... Jamais" (LOPES, 2012, p. 762/763). Assim, no Direito Processual Penal brasileiro o termo "REVELIA" deveria ser substituido por "AUSÊNCIA", pois esta é a única consequência da falta do acusado. Destarte, no Direito Processual Penal vigora o famigerado princípio da VERDADE REAL ou MATERIAL.

PRESENÇA DO RÉU Quiz 1 Com relação ao instituto da revelia no processo penal é correto afirmar que: O juiz deverá reputar como verdadeiro tudo que for alegado pelo Ministério Público, haja vista a ausência do réu. O juiz deverá reputar como falso tudo que for alegado pelo Ministério Público, haja vista a ausência do réu.

O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, devendo nomear defensor dativo. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, não precisando nomear defensor para o réu. 2 O instituto da revelia não tem qualquer efeito no processo penal, salvo a própria ausência do acusado. Sobre isso é correto afirmar que: No processo penal o juiz não poderá reputar como verdadeiro os fatos alegado pelo Ministério Público, em caso de revelia, haja vista os princípios da presunção de inocência, bem como a busca pela verdade material. Ministério Público, em caso de revelia, haja vista os princípios da presunção de inocência e a verdade formal. Ministério Público, em caso de revelia, haja vista os princípios da presunção de culpa e a verdade material. Ministério Público, em caso de revelia, haja vista os princípios da presenção de culpa e a verdade formal 3 A revelia ocorreu quando: O réu está presente na audiência de instrução, debates e julgamento.

O réu está ausente na audiência de instrução, debates e julgamento para realização de seu interrogatório, bem como quando não constitui advogado. O réu está ausente apenas na oitiva de algumas testemunhas. nenhuma das alternativas anteriores. Referências BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Processo Penal. 2.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. LOPES, Aury. Direito Processual Penal. 9.ed. São Paulo: Saraiva, 2012. NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. REIS, Alexandre Cebrian Araújo. Direito Processual Penal esquematizado. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2014.