AIDS: Não fique em Silêncio. Título: AIDS: Não Fique em Silêncio



Documentos relacionados
SAúDE e PReVENÇãO NaS ESCoLAS Atitude pra curtir a vida

Prevenção de HIV e Aids para Pessoas Surdas

A POLÍTICA DE DST/AIDS NA VISÃO DE UM TRABALHADOR DO SUS. SORAIA REDA GILBER Farmacêutica Bioquímica LACEN PR

AIDS E ENVELHECIMENTO: UMA REFLEXÃO ACERCA DOS CASOS DE AIDS NA TERCEIRA IDADE.

Diminui a mortalidade por Aids no Estado de São Paulo

MS divulga retrato do comportamento sexual do brasileiro

Resumo do Perfil epidemiológico por regiões. HIV e Aids no Município de São Paulo 2014 SAÚDE 1

Adolescentes e jovens preparados para tomar suas próprias decisões reprodutivas

Educação Integral em Sexualidade. Edison de Almeida Silvani Arruda Guarulhos, setembro 2012

Projeto RI-VIDA Rede de Integração para a Vida Projeto de prevenção de DST s, HIV/AIDS e Hepatites

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Prevenção PositHIVa. junho Ministério da Saúde

NUPE NÚCLEO DE PESQUISA E EXTENSÃO PROJETO DE EXTENÇÃO UNIVERSITÁRIA FEUC SOLIDÁRIA 2008 COMBATE À AIDS: UM DEVER DE TODOS

AVALIAÇÃO DA EPIDEMIA DE AIDS NO RIO GRANDE DO SUL dezembro de 2007

O retrato do comportamento sexual do brasileiro


VIII JORNADA DE ESTÁGIO DE SERVIÇO SOCIAL

PLANO INTEGRADO DE ENFRENTAMENTOÀ FEMINIZAÇÃO DA AIDS NO CEARÁ

Por que esses números são inaceitáveis?

Briefing. Boletim Epidemiológico 2010

Transmissão do HIV/aids e sífilis de mães para seus bebês

O Sr. CELSO RUSSOMANNO (PP-SP) pronuncia o. seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores

O Currículo das Séries Iniciais e a Educação para a Saúde

OFICINA DE ELABORAÇÃO DO PLANO ESTADUAL DE ENFRENTAMENTO DA EPIDEMIA DE AIDS E DAS DST ENTRE GAYS, HSH E TRAVESTIS METAS ATIVIDADES RESPONSÁVEIS

I n f o r m e E p i d e m i o l ó g i c o D S T - A I D S 1

Comunicação e Cultura Fortaleza

REDUÇÃO DE DANOS EM SERVIÇOS DE SAÚDE

AVALIAÇÃO DA EPIDEMIA DE AIDS NO RIO GRANDE DO SUL dezembro de 2007

Apoio. Patrocínio Institucional

Objetivo 2 Ampliar e qualificar o acesso integral e universal à prevenção das DST/HIV/aids para Gays, outros HSH e Travestis.

UM RETRATO DAS MUITAS DIFICULDADES DO COTIDIANO DOS EDUCADORES

HIV. O vírus da imunodeficiência humana HIV-1 e HIV-2 são membros da família Retroviridae, na subfamília Lentividae.

O Protagonismo Feminino: Momentos de Prevenção á Saúde. segunda-feira, 19 de março de 12

SEXUALIDADE E PREVENÇÃO ÀS DST E HIV/AIDS NA TERCEIRA IDADE

PLANO DE ENFRENTAMENTO DA EPIDEMIA DE AIDS E DAS DST ENTRE A POPULAÇÃO DE GAYS, HSH E TRAVESTIS PARÁ

Faculdade de Direito Ipatinga Núcleo de Investigação Científica e Extensão NICE Coordenadoria de Extensão. Identificação da Ação Proposta

Educação Sexual: Quem ama cuida. Cuide-se!*

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

A AIDS NA TERCEIRA IDADE: O CONHECIMENTO DOS IDOSOS DE UMA CASA DE APOIO NO INTERIOR DE MATO GROSSO

INVESTIMENTO SOCIAL. Agosto de 2014

PLANO DE ENFRENTAMENTO DA EPIDEMIA DE AIDS E DAS DST ENTRE POPULAÇÃO DE GAYS, HSH E TRAVESTIS PERNAMBUCO

PROJETO PRAÇA VIVA. INTEGRANTES: Profissionais/ Alunos/ Professores envolvidos.

Desafios da EJA: flexibilidade, diversidade e profissionalização PNLD 2014

Plano Integrado de Capacitação de Recursos Humanos para a Área da Assistência Social PAPÉIS COMPETÊNCIAS

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais/ NÚCLEO DE APOIO À INCLUSÃO DO ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS

Deficiência auditiva parcial. Annyelle Santos Franca. Andreza Aparecida Polia. Halessandra de Medeiros. João Pessoa - PB

QUALIFICAÇÃO E PARTICIPAÇÃO DE PROFESSORES DAS UNIDADES DE ENSINO NA ELABORAÇÃO DE PROGRAMAS FORMAIS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS E HIV/AIDS: CONHECIMENTOS E PERCEPÇÃO DE RISCO DE IDOSOS DE UMA COMUNIDADE EM JOÃO PESSOA-PB

Apoio às políticas públicas já existentes;

PEDAGOGIA HOSPITALAR: as politícas públicas que norteiam à implementação das classes hospitalares.

Mostra de Projetos Ações para enfrentamento da AIDS nos jovens e adolescentes.

COMPARAÇÃO DOS CONHECIMENTOS SOBRE SEXO, GRAVIDEZ, DST s E AIDS ANTES E APÓS TREINAMENTO ADOLESCENTES MULTIPLICADORES

PROGRAMA CRIANÇA ESPERANÇA PROCESSO SELETIVO 2011

O PAPEL DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Dimensão social. Educação

Projeto Prevenção Também se Ensina

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: CAPÍTULO I DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

IV CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA MULHERES DE PORTO ALEGRE

RELATÓRIO DAS ATIVIDADES 2004

POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, ALFABETIZAÇÃO E DIVERSIDADE PROGRAMA ESCOLA ABERTA

ÁREA TEMÁTICA INTRODUÇÃO

TERCEIRA IDADE - CONSTRUINDO SABERES SOBRE SEUS DIREITOS PARA UM ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

REALIZAÇÃO DE TRABALHOS INTERDISCIPLINARES GRUPOS DE LEITURA SUPERVISIONADA (GRULES)

Educação especial: um novo olhar para a pessoa com deficiência

ANEXO I ROTEIRO PARA APRESENTAÇÃO DE PROJETOS FIA Cada projeto deve conter no máximo 20 páginas

Rompendo os muros escolares: ética, cidadania e comunidade 1

Universidade do Estado do Rio de Janeiro Vice-Reitoria Curso de Abordagem da Violência na Atenção Domiciliar Unidade 2-Violência e criança

Resgate histórico do processo de construção da Educação Profissional integrada ao Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA)

Políticas Públicas no Brasil. Secretaria Nacional de Juventude

Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS: A Experiência do CDG-SUS-MT. Fátima Ticianel CDG-SUS/UFMT/ISC-NDS

Proteção Infanto-Juvenil no campo: uma Colheita para o Futuro

Gênero no processo. construindo cidadania

Comemoração da 1ª semana de Meio Ambiente do Município de Chuvisca/RS

SAÚDE E EDUCAÇÃO INFANTIL Uma análise sobre as práticas pedagógicas nas escolas.

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS

INTERVENÇÃO JOGO SEXUALIDADE PLANO DA INTERVENÇÃO

TRANSVERSALIDADE. 1 Educação Ambiental

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS

Muito obrigada por esses dias, por essa capacitação sei que hoje não sou mais a mesma, posso ser mais feliz (promotora capacitada)

Carvalho Goretti Moreira Leal de, Themis; Ribas Almeida, Milene. Brasil RESUMO

PROJETO DE INCENTIVO À INICIAÇÃO CIENTÍFICA DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA

Mostra de Projetos 2011

PLANO DE ENFRENTAMENTO DA EPIDEMIA DE AIDS E DAS DST ENTRE A POPULAÇÃO DE GAYS, HSH E TRAVESTIS RIO DE JANEIRO

PLANEJAMENTO FINANCEIRO E OS DESAFIOS PARA A EDUCAÇÃO A ATUAÇÃO DO IBCPF NESSE CONTEXTO

Protagonismo Juvenil 120ª Reunião da CNAIDS. Diego Callisto RNAJVHA / Youth Coalition for Post-2015

COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO URBANO. PROJETO DE LEI Nº 4.992, de 2005

O ORIENTADOR FRENTE À INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIENCIA NA ESCOLA REGULAR DE ENSINO

CURSO: ENFERMAGEM. Objetivos Específicos 1- Estudar a evolução histórica do cuidado e a inserção da Enfermagem quanto às

UNIÃO BRASILEIRA EDUCACIONAL UNIBR FACULDADE DE SÃO VICENTE

Acessibilidade na Biblioteca Anísio Teixeira (BAT): as ações do Setor de Atendimento a Criança e ao Adolescente Surdo (SACAS).

RELATÓRIO DA PESQUISA ONLINE: Avaliação dos Atores do Sistema de Garantia de Direitos participantes das Oficinas em São Paulo

Entusiasmo diante da vida Uma história de fé e dedicação aos jovens

SEXUALIDADE NA EDUCAÇÃO: PRÁTICAS INTEGRATIVAS SOBRE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS

PAIF. Programa de Atenção Integral à Família - PAIF CRAS

Transcrição:

Título: AIDS: Não Fique em Silêncio Autores e Créditos profissionais e/ ou acadêmicos: Ismael Basílio Educador Social/ Estudante de LIBRAS (GTP+) Sandra Constâncio Assistente Social formada pela UFPE (GTP+) Proposta do Trabalho/ objetivos/ metodologia/ ações procedimentos: Modo como o trabalho vem sendo desenvolvido/ Referencial teórico/ Desafios/ Resultados/ Referências Bibliográficas: Estão distribuídas no corpo do Artigo Nada é impossível de mudar Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar. Bertold Brecht (dramaturgo e poeta alemão/ 1898 1956) 1

A P R E S E N T A Ç Ã O O projeto AIDS: Não fique em Silêncio é uma ação de prevenção com jovens surdos* na Cidade do Recife**, através da disseminação de informações sobre: corpo, sexualidade, gênero, métodos contraceptivos, práticas de sexo seguro formas de prevenção as Doenças Sexualmente Transmissíveis DST/HIV/AIDS e divulgação dos serviços públicos de referência que tratam da saúde sexual; via realização de oficinas temáticas, rodas de diálogo com estudo de caso a partir de depoimentos de pessoas vivendo com HIV/AIDS e abordagens informativas em locais de entretenimento, onde existe grande circulação do público juvenil surdo, com distribuição de materiais de prevenção preservativos, géis lubrificantes e panfletos informativos. Essa ação pioneira em âmbito local é fruto de uma parceria entre o Grupo de Trabalho em Prevenção Posithivo (GTP+), Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS/PE) e Fórum AIDS Pernambuco (FAPE). Na primeira etapa chamada de interação com os jovens surdos, realizada na segundo semestre de 2006, atingimos um público nas oficinas temáticas e rodas de diálogo de 80 pessoas e nas abordagens informativas aproximadamente 1.200 pessoas. As etapas seguintes de aprofundamento de conteúdos relativos à promoção a saúde e prevenção as Infecções Sexualmente Transmitidas IST/AIDS; formação de multiplicadores de informações entre pares e campanhas de sensibilização para um atendimento acolhedor e humanizado por parte dos profissionais de saúde dos serviços público de referência no trato com a saúde sexual, estão em fase de estruturação e busca de apoiadores, visto que a primeira etapa foi realizada exclusivamente com recursos das ONG s parceiras anteriormente citadas. * Segundo o Decreto Federal nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005, que dispõe sobre a regulamentação da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS no capítulo I Das Disposições Preliminares, artigo 2º, expressa que Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais Libras. Uma pessoa surda é alguém que vivencia um déficit de audição que o impede de adquirir, de maneira natural, a língua oral/ auditiva usada pela comunidade majoritária e que constrói sua identidade calcada principalmente nesta diferença, utilizando se de estratégias cognitivas e de manifestações culturais diferentes da maioria das pessoas que ouvem. (Sá: 2002). ** Mais de 60% do público atendido nas oficinas temáticas, rodas de diálogo e abordagens informaram ter residência fixa em uma das cidades que compõe a região metropolitana, formada por um conjunto de treze municípios, a saber: Abreu e Lima, Araçoiaba, Cabo de Santo Agostinho, Camarabige, Igarassu, Ipojuca, Itamaracá, Itapissuma, Jaboatão dos Guararapes,. Moreno, Olinda, Paulista e São Lourenço da Mata. C O N T E X T O S I T U A C I O N A L Data de 1980 o primeiro caso conhecido de AIDS (Síndrome de deficiência Imunológica Adquirida) no Brasil, só notificado em 1982 porque antes nada se sabia sobre a doença. Nestes 25 anos, mais de 362 mil casos foram notificados no país, com 170 mil mortes até dezembro de 2003. Hoje, estima-se que mais de 600 mil brasileiros vivam com HIV/AIDS. Desses, dois terços nem sequer sabem que estão infectados, 2

enquanto 161 mil soropositivos notificados estão em tratamento com medicamentos anti-retrovirais fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde SUS. (Lopes: 2005). A AIDS é uma doença que afeta o sistema imunológico das pessoas, levando à infecção por doenças oportunistas e até ao óbito; atinge em proporção cada vez maior, mulheres de todas as camadas sociais, jovens, heterossexuais, pessoas em condições de pobreza ou miséria, e baixa escolaridade. O Brasil acompanha essa tendência mundial somando ainda o processo de interiorização da epidemia. Idade Distribuição dos casos de AIDS, por sexo, idade e ano de diagnóstico no Brasil, 1984 2004. Ano 1984 1994 2004 Sexo Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Até 12 anos 0 11 312 346 644 687 De 13 a 24 anos 2 24 802 1.712 1.455 1.213 De 25 a 39 anos 3 62 2.495 8.863 6.276 9.409 40 anos ou mais 2 29 874 3.221 3.930 6.904 Total 7 126 4.483 14.142 12.305 18.213 Fonte: Ministério da Saúde - Boletim Epidemiológico AIDS e DST do Programa Nacional de DST/HIV/AIDS (PN-DST/HIV/AIDS). Na tabela acima é possível visualizar o forte crescimento de pessoas infectadas ao longo das décadas. O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no estudo sobre o Estado da População Mundial (2005), revela que quase metade do número de pessoas infectadas pelo HIV no mundo são mulheres; no Brasil os dados apresentados na tabela demonstram que no início da epidemia (1984) a proporção era de uma mulher soropositiva para 18 homens, 20 anos depois (2004) a proporção é quase 1 para 1, respectivamente. A estimativa do número de pessoas infectadas pelo HIV/AIDS, segundo o Programa Nacional de DST/HIV/AIDS para o ano 2007 é de 650 mil pessoas, distribuídas da seguinte forma: 410 mil homens e 240 mil mulheres. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima para fevereiro de 2007 que o contingente populacional é de 188.727.438 habitantes, com isso podemos fazer uma breve consideração que aproximadamente 0,4% da população atualmente está contaminada com o vírus HIV/AIDS. O Recife tem um contingente populacional de 1.501.008 habitantes (IBGE 2005), já o conjunto dos treze municípios que compõe a Região Metropolitana do Recife (RMR) apresenta um total de 3.599.181 habitantes (IBGE 2005). O Índice de Desenvolvimento Humano - IDH da Região Metropolitana do Recife é de 0,780; existem no Brasil 33 regiões metropolitanas, a RMR do Recife no hankeamento das melhores condições socioeconômicas ocupa o 28º lugar, quatro posições acima da última colocada. (Atlas de Desenvolvimento Humano - PNUD/ONU - 2003). O Boletim Epidemiológico da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, de setembro de 2006, informa que existem no Estado 9.837 casos notificados de AIDS, sendo que 4.361 casos estão no Recife a situação dos demais municípios da região metropolitana está expressa no quadro a seguir, onde é importante destacar que atualmente o perfil das pessoas com maior suscetibilidade a contaminação do HIV/AIDS no Estado é caracterizada em sua maioria por grupos populacionais feminino (adulta), juvenil (ambos os sexos), heterossexual (homens) com baixa renda e pouca escolaridade. Distribuição dos casos de AIDS, por município de residência e ano de diagnóstico no 3

Estado de Pernambuco, 1983 2005. Município Total de casos Notificados Recife 4.361 Jaboatão dos Guararapes 1.103 Olinda 872 Paulista 498 Cabo de Santo Agostinho 318 Camaragibe 192 Abreu e lima 134 Vitória de Santo Antão 129 São Lourenço da Mata 104 Igarassu 72 Ipojuca 66 Itapissuma 40 Moreno 38 Ilha de Itamaracá 28 Total 7.955 Fonte: Governo de Pernambuco - Boletim Epidemiológico da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco - Coordenação de DST/AIDS (Setembro/2006) Considerando os dados apresentados em relação ao contágio da população pernambucana ao vírus HIV, fica claro a necessidade urgente de realização de ações de prevenção e promoção à saúde junto aos mais diversos grupos populacionais e com especial destaque as populações vulneráveis socioeconomicamente e grupos que apresentam diversidade sensorial, expostas a riscos por falta de informação e conhecimento da importância do auto-cuidado, desuso de práticas sanitárias e higiênicas, relações sexuais desprotegias/ não uso do preservativo masculino ou feminino e o deficitário acesso aos serviços de referência de atenção a saúde sexual e reprodutiva. D I V E R S I D A D E S E N S O R I A L Com vistas a contribuir no desenvolvimento de ações de inclusão da população juvenil surda, numa sociedade eminentemente voltada para ouvintes, o projeto AIDS: Não Fique em Silêncio propõe a soma de forças, recursos institucionais e saberes das organizações não governamentais e governamentais para realizarem enfrentamentos a situações de comunicações deficitárias que favorecem a desinformação e gera exposição a riscos desnecessários, reprodução de hábitos e comportamentos preconceituosos e de intolerância com a diversidade. 4

Nesse sentido é possível afirmar que a informação, à qual o surdo tem acesso, é, portanto, fragmentada e insuficiente para subsidiar a compreensão plena sobre os diferentes assuntos, inclusive sobre a saúde reprodutiva e questões como prevenção as IST/ADIS, que por si só já são consideradas tabus.(bento & Bueno: 2005). A cultura, e a prática sócio-educacional oralista exercida e reforçada nos mais variados campos de conhecimento e de atuação das políticas públicas saúde, cultura, educação, assistência social, trabalho e renda, entre outros, pouco reconhece a existência da diversidade sensorial, por vezes relegando-a a 2º ou 3º plano e em algumas situações ignorando-a por completo sua existência. Essa opção e postura - modus operandi social não enfatiza o que o surdo tem, mas o que lhe falta, não considera o fato desta não possibilitar interações lingüísticas nos níveis mais profundos da comunicação. Assim sendo, as possibilidades de auto-realização da pessoa surda, o desenvolvimento de sua auto-estima e seu equilíbrio emocional ficam muito prejudicados. (Bento & Bueno: 2005) As ponderações ora expressas são extensivas as demais situações de diversidade sensorial, a conjugação dos fatores elencados implicam numa situação de vulnerabilidade com destaque ao risco de contrair doenças. Reiteramos a posição defendida por Pimenta, que ser vulnerável, no contexto de HIV/AIDS, significa ter pouco ou nenhum controle sobre o risco de adquirir o vírus ou outra DST. Quando falamos de vulnerabilidade, não estamos identificando quem está correndo maior risco de se expor as DST/AIDS ou fazer uso de drogas, mas sim, procurando fornecer informações de forma que cada pessoa ou grupo especifico perceba se tem maior ou menor chance de se infectar ou de se proteger. Para Bueno, os tempo de AIDS, exigem uma pedagogia apropriada que possibilite um diálogo aberto franco, entre educador e educando, estabelecendo comunicação e linguagens claras, simples e concisas, adequadas e específicas para cada população alvo, levando-se em consideração o nível de complexidade de cada faixa etária. Estas ações devem ser, então, direcionadas para um processo que flexibilize a visão do educador e que vise a formar o educando, em um ser pensante e ativo, criativo e participativo, crítico e reflexivo, capaz de mudar a realidade concreta da qual faz parte como cidadão. Concordamos com a argumentação sustentada por Bento & Bueno que os profissionais de educação e saúde precisam estar atentos para peculiaridade da linguagem e língua dos surdos, respeitando-os como uma cultura que tem como experiência única e exclusiva a não utilização da audição, o que não os faz menos, e sim diferentes; e por conta desta diferença precisam ser respeitados e atendidos como cidadãos capazes e detentores dos mesmos direitos de todos os ouvintes dentro de uma sociedade igualitária e justa. C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las. Santo Agostinho (Bispo, teólogo e filosofo/ 354 430 ) As atividades socio-educativas oficinas temáticas e rodas de diálogo realizadas na primeira etapa do projeto, permitiram uma aproximação maior com o público juvenil surdo, na ocasião os jovens eram estimulados a expressarem suas dúvidas, curiosidades e idéias, bem como avaliarem o trabalho 5

desenvolvido sugerindo adequações. Esse momento foi bastante rico e resultou no estabelecimento de vínculos de confiança entre jovens, profissionais e organizações envolvidos diretamente no trabalho. Em decorrência desses momentos somado as avaliações da equipe técnica, obtivemos informações que agrupamos em resultados e desafios. Os principais resultados em linhas gerais foram: Deflagração de processo socio-educativo com jovens surdos de forma interativa e integrada organizações não governamentais que atuam no atendimento às pessoas surdas e prevenção as DST/HIV/ADIS; Disseminação de informações e conhecimentos relevantes, para isso foi realizado uma breve sondagem com uma amostra da população juvenil surda, para identificarmos quais assuntos deveriam ser abordados nas oficinas e rodas de diálogo; Despertar o interesse nos jovens para se tornarem agentes multiplicadores de informações e de aprofundarem o conhecimento sobre educação para boas práticas em saúde e cidadania; Boa adesão às idéias e práticas de prevenção e exercício da cidadania sexual no que tange aos direitos e deveres com a saúde e respeito com o/a parceiro/a; Sensibilizar o corpo técnico para a importância de também se escutar com os olhos. Os principais desafios apontados foram: Ausência de diálogo com a família em relação a conteúdos sobre DST/HIV/AIDS e em relação ao domínio da LIBRAS em ambiente familiar; Dificuldade de comunicação, gerando dependência de intérpretes seja de pessoas habilitadas em LIBRAS ou familiares e amigos para abordar assuntos pessoais no campo da saúde e demais áreas; Poucas iniciativas de atuação/ comunicação nas áreas de saúde, educação, cultura, lazer, esporte, comércio, entre outras com populações que não utilizam a linguagem oralizada; Desenvolvimento de ações para elevação de auto-estima e fortalecimento da cidadania das pessoas surdas; Acessibilidade comprometida quanto ao processo de diagnóstico e tratamento das DST/HIV/AIDS além da possibilidade de quebra de sigilo, pela necessidade de intérprete. O projeto AIDS: Não fique em Silêncio defende o entendimento que o investimento em prevenção, com a utilização de estratégias de comunicação em linguagem acessível a diversos públicos, realizada de forma ampla, sistemática livre de preconceitos e que ultrapasse possíveis barreiras: cultural, sensorial, religiosa, nível de escolarização, renda, entre outras é fundamental para incorporação em nosso cotidiano de hábitos e práticas de auto-cuidado e de responsabilidade com a saúde e qualidade de vida. As informações que pretendam gerar mudanças com razoável qualidade deverão ser contextualizadas com a vida das pessoas, trabalhadas de forma a possibilitar o despertar da consciência critica e o compromisso de se tornar um defensor das boas práticas de promoção a saúde em seus espaços de vivência e atuação. C O N T A T O CEP: 50070-6

R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S Atlas do Desenvolvimento Humano Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento/ Organizações das Nações Unidas; 2003. Brasil Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005/ Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002 que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais LIBRAS. Bento ICB & Bueno SMV. A AIDS sob a ótica do Surdo Adulto Jovem; 2005; Biblioteca Virtual em Saúde; http://bases.bireme.br acesso no dia 09 de abril de 2007. Boletim Epidemiológico do Programa Estadual de DST/HIV/AIDS - Secretaria de Saúde/ Governo do Estado de Pernambuco; setembro/2006. Boletim Epidemiológico do Programa Nacional de DST/HIV/AIDS Ministério da Saúde/ Governo da República Federativa do Brasil http://www.ibge.gov.br acesso nos dias 10 e 11 de abril de 2007. Bueno SMV. Marco conceitual e referencial teórico da educação para saúde: orientação à prevenção de DST-ADIS e drogas no Brasil, para crianças, adolescente e adulto jovem Documento. Brasília: Ministério da Saúde/ CNDST-AIDS; 1997. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE http://www.ibge.gov.br acesso nos dias 10, 11 e 12 de abril de 2007. Lopes CR. A epidemia mudou, e o mundo também. RADIS* Comunicação em Saúde/ Revista Eletrônica nº 40/ Dezembro de 2005 http://www.enesp.fiocruz.br/radis - acesso no dia 04 de abril de 2007. *Reunião, Análise e Difusão de Informação em Saúde. Pimenta C. Prevenir é sempre melhor. Boletim da Coordenação Nacional DST/AIDS Ministério da Saúde nº 9, Brasília: PNDST/AIDS;1999. Sá NRL. Cultura, Poder e Educação de Surdos, Manaus: Ed. da Universidade Federal do Amazonas; 2002. 7