Reduziu-se a fome no mundo, mas ainda existem 805 milhões de pessoas cronicamente subalimentadas



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Transcrição:

214 O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo 214 RESUMO Reduziu-se a fome no mundo, mas ainda existem 8 milhões de pessoas cronicamente subalimentadas Mensagens-chave As últimas estimativas da FAO indicam que a redução da fome no mundo continua: calcula-se que 8 milhoes de pessoas estão cronicamente subalimentadas em 212-214, representando uma redução de mais de milhões na última década, e 29 milhões a menos do que em 199-92. No mesmo período, a prevalência de desnutrição diminuiu de 18,7% para 11,3% no mundo e de 23,4% para 13,% nos países em desenvolvimento. A partir de 199-1992, 63 países alcançaram a meta da fome do ODM-1 e 2 países atingiram a meta mais exigente da CMA. 11 dos 63 países em desenvolvimento já apresentam índices de subalimentação abaixo de por cento (o limite metodológico para assegurar a relevância dos resultados diferentes de zero) em 199-92 e conseguiram se manter dentro desta faixa, por isso não constituem o eixo central do relatório de 214. Os números mostram que é possível atingir a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio sobre a fome: reduzir pela metade a proporção de pessoas subalimentadas nos países em desenvolvimento até o ano de 21. Apesar dos avanços mundiais, persistem diferenças marcantes entre as regiões. A região da América Latina e Caribe registrou o maior progresso geral para o aumento da segurança alimentar, enquanto que os avanços foram modestos na África Subsaariana e na Ásia Ocidental, regiões afetadas por desastres naturais e conflitos. FAO/Joan Manuel Baliellas Um compromisso político constante ao mais alto nível, que considere a segurança alimentar e nutricional como prioridade principal, é um pré-requisito para a erradicação da fome. Os estudos de caso apresentados no relatório O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo 214 mostram que regiões como África e América Latina e Caribe, bem como alguns países, têm fortalecido seu compromisso político com a segurança alimentar e nutricional. O compromisso político dos governos se concretiza cada vez mais nas medidas amplas e eficazes, com um compromisso reforçado dos agentes estatais. Esses esforços fazem com que o objetivo de alcançar a segurança alimentar durante nossas vidas fique mais próximo da realidade. A redução da fome exige uma abordagem integrada que deve incluir os seguintes elementos: investimentos públicos e privados para aumentar a produtividade agrícola; melhor acesso a insumos, terra, serviços, tecnologias e mercados; medidas para promover o desenvolvimento rural; proteção social para os mais vulneráveis, incluindo o reforço da sua capacidade de resistência a conflitos e desastres naturais; e programas de nutrição específicos, em especial, para resolver as deficiências de micronutrientes em mães e crianças menores de cinco anos. José Graziano da Silva, Diretor-geral da FAO

2 Progresso De acordo com as últimas estimativas da FAO, foram feitos avanços importantes para a erradicação da fome. Os países em desenvolvimento, que representam a grande maioria da subalimentacao mundial, são parte deste progresso: estima-se que em 212-14 sofriam de fome crônica nestes países 791 milhões de pessoas, ou seja, 23 milhões a menos que em 199-92. Segundo o relatório O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo 214 (SOFI 214), neste período, o número de pessoas subalimentadas na China caiu em 138 milhões, enquanto que os países com as maiores conquistas na redução do número total pessoas que passam fome na proporção da população nacional são Arménia, Azerbaijão, Brasil, Cuba, Geórgia, Gana, Kuwait, São Vicente e Granadinas, Tailândia e Venezuela. Apesar deste progresso geral no conjunto de países em desenvolvimento, ainda pode ser feito muito mais para reduzir a subalimentação e melhorar a segurança alimentar. O SOFI 214 mostra que os progressos na redução da fome no mundo exigem um compromisso político expressado por meio de políticas adequadas, programas, marcos legais e recursos suficientes. No SOFI 214, destacam-se exemplos bem sucedidos de esforços nacionais para reduzir a fome, mas também indicam fatores que possam agir como obstáculos ao progresso. Os esforços regionais para reduzir a fome estão ganhando força especialmente na América Latina e Caribe e na África. Em julho de 214, durante a FIGURA 1 A trajetória da subalimentação nas regiões em desenvolvimento: progressos efetivos e previstos em direção da realização das metas dos ODM e da CMA Milhões 1 1 9 8 7 6 4 994 23.4% 99 18.2% 3 199 92 2 22 2 7 29 11 212 14 Nota: Os dados relativos a 212-14 são estimativas provisórias. Porcentagem 21 Número de pessoas subalimentadas (eixo esquerdo) 931 17.3% 82 791 Meta do CMA 14.% 13.% Meta dos ODM Prevalência da subalimentação (eixo direito) 4 4 3 3 2 2 1 Entre os países que cumpriram a meta do ODM 1 c) de reduzir pela metade a proporção de pessoas que passam fome estão: Arábia Saudita, Argélia, Angola, Argentina, Bangladesh, Barbados, Benin, Brunei Darussalam, Camboja, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Fiji, Gabão, Gâmbia, Indonésia, Irã (República Islâmica), Jordânia, Cazaquistão, Kiribati, Líbano, Malawi, Malásia, Maldivas, Mauritânia, Marrocos, Ilhas Maurício, México, Níger, Nigéria, Panamá, República Dominicana, África do Sul, Togo, Tunísia e Turquia. Os países que alcançaram tanto a meta do ODM 1 de reduzir pela metade a proporção de pessoas com fome como a meta da Cúpula Mundial da Alimentação, de reduzir pela metade o número absoluto de pessoas com fome são: Armênia, Azerbaijão, Brasil, Camarões, Chile, Cuba, Djibuti, Geórgia, Gana, Guiana, Kuwait, Quirguistão, Mianmar, Mali, Nicarágua, Peru, República da Coreia, São Vicente e Granadinas, Samoa, São Tomé e Príncipe, Tailândia, Turcomenistão, Uruguai, Venezuela (República Bolivariana) e Vietnã. Entre os países que no período de 199-92 registraram níveis de subalimentação abaixo de % e conseguiram se manter nesta faixa estão: Arábia Saudita, Argentina, Barbados, Brunei Darussalam, Egito, Emirados Árabes Unidos, Cazaquistão, Líbano, África do Sul, Tunísia e Turquia. cúpula da União Africana, em Malabo (Guiné Equatorial), os Chefes de Estado africanos se comprometeram em acabar com a fome no continente até 22. Ano passado, a primeira reunião de cúpula da Comunidade dos Estados Latino- Americanos e do Caribe (CELAC), os Chefes de Estado e de Governo aprovaram a meta de fome zero para 22, reafirmando o compromisso da região com a Iniciativa América Latina e Caribe sem fome 22, lançada em 2. Ambas as regiões compreendem em seu conjunto cerca de 9 países e uma população de mais de 1, bilhões de pessoas. Este compromisso contém uma forte mensagem para seus cidadãos e para o resto do mundo. A decisão da Comunidade dos Estados Latino- Americanos e do Caribe de acabar com a fome em 22 baseia-se na ação nacional e regional de promover a segurança alimentar, levando a região em seu conjunto a atingir a meta do primeiro Objetivo de Desenvolvimento do Milênio relacionadas à fome. Além disso, a América Latina também alcançou a meta da Cúpula Mundial da Alimentação. O compromisso da África de acabar com a fome em 22 também atua neste princípio e reforça o trabalho em curso no âmbito do Programa Geral para o Desenvolvimento da Agricultura na África (CAADP, por sua sigla em inglês) da Nova Aliança para o Desenvolvimento da África (NEPAD). Também, o compromisso assumido em Malabo baseado na decisão

3 da região de incrementar os reforços de cooperação Sul-Sul na África, mostrado no Fundo Fiduciário de Solidariedade da África para a segurança alimentar, estabelecido em 213. O Diretor Geral da FAO, José Graziano da Silva, congratulou-se com o aumento do compromisso e da ação para promover a segurança alimentar sustentável e o fato de que muitos países e regiões estão respondendo ao Desafio Fome Zero: O compromisso político dos governos se concretiza cada vez mais em medidas abrangentes e eficazes, com um compromisso reforçado dos atores não-estatais. Timor- Leste lançou recentemente seu Desafio de Fome Zero. A Lei Nacional de Segurança Alimentar promulgada recentemente na Índia amplifica os esforços do país para acabar com a fome, poderia criar um dos maiores programas mundiais de aquisição de alimentos da agricultura familiar e incrementa a inclusão financeira para transferências diretas. Os esforços regionais também sustentam em medida importante a ação nacional para que a meta de alcançar a segurança alimentar durante nossas vidas se aproxime da realidade. África, América Latina e Caribe são exemplos disso. Sul, por entenderem que nenhum país poderá desfrutar da segurança alimentar se o seu vizinho continua atormentado pela fome. Esta solidariedade e cooperação são necessárias para responder aos desafios que a África enfrenta e que vão desde o aumento da resiliência diante de eventos climáticos extremos até a necessidade de garantir a paz na região. Este ano, os líderes africanos tomaram uma ousada iniciativa de se comprometer em acabar com a fome em 22. Tenho a confiança de que, nos próximos anos, vamos começar a ver os resultados concretos desta decisão, disse o diretorgeral. Em 2, foi lançada a Iniciativa América Latina e Caribe sem Fome, inspirada no Programa Fome Zero do Brasil e, em seguida, todos os países da região se apropriaram desta iniciativa. Desde o início, a FAO apoiou esta iniciativa, colaborando com os governos, com os parlamentos e com atores não estatais. Ao longo dos anos os países da América Latina e o Caribe formularam estratégias de segurança alimentar mais inclusivas e fortaleceram a proteção social, depois de se conscientizarem de que um simples aumento da produção não era suficiente para acabar com a fome. Estes esforços ajudam a explicar o sucesso que a América Latina e o Caribe estão tendo na luta contra a fome. Em 23, a África lançou o fundamental Programa Geral para o Desenvolvimento da Agricultura na África (CAADP). Em 213, criou-se o Fundo de Solidariedade Africano de Solidariedade para a Segurança Alimentar, o que mostra que os países estão dispostos a aumentar a cooperação Sul- A distribuição variável da fome no mundo: número e proporção de pessoas subalimentadas por região 199-92 e 212-14 E F 199 92 212-14 H J G I A F E B J G H I A B Número Proporção regional (milliones) (%) 199 92 212 14 199 92 212 14 A Regiões desenvolvidas 2 1 2. 1.8 B C Ásia meridional África subsaariana 292 176 276 214 28.8 17.3 34.3 26.6 D Ásia oriental 29 161 29.1 2. D E Ásia sudocidental 138 64 13.6 7.9 F Ámerica Latina e Caribe 69 37 6.8 4.6 D C C G Ásia ocidental H África septentrional 8 6 19 13.8.6 2.3 1.6 I Cáucaso e Ásia central 6.9.7 J Oceania 1 1.1.2 Total = 1 milhões Total= 8 milhões Total 1 8 Nota: Nos gráficos de setores, cada setor é proporcional ao número total de pessoas subalimentadas no período correspondente. Todas as cifras foram arrendondadas.

4 Diferenças regionais Apesar dos progressos realizados no conjunto dos países em desenvolvimento, ainda existem grandes diferenças entre as regiões. Em geral, a África está se movendo lentamente em direção as metas internacionais relacionadas com a fome, deixando a África Subsaariana especialmente atrasada com respeito às tendências mundiais. A região tem sido afetada por conflitos e desastres naturais e, uma em cada quatro pessoas continuam subalimentadas na África Subsaariana, que acusa a maior incidência de todas as regiões. Na região mais populosa do mundo, a Ásia, o número de pessoas que sofrem de fome diminuiu em 217 milhões desde 199-92. Os três países que mais avançaram na redução do número absoluto de pessoas subalimentadas estão na Ásia: atualmente, existem 138 milhões a menos de pessoas com fome na China e 2 milhões a menos na Índia e Vietnã do que teve no perído de 199-92. No entanto, ainda se concentram na Ásia dois terços da população mundial atingidos pela fome: na região, 26 milhões de pessoas permanecem subalimentadas. Na Ásia ocidental, o número de pessoas subalimentadas aumentou em, milhões, desde 199-92, ou seja, de 6,3% para 8,7%. No Ásia meridional, 276 milhões de pessoas estavam cronicamente subalimentadas, em 212-14, um número um pouco menor do que o registrado em 199-1992. Na Ásia oriental e sudeste da Ásia se alcançaram progressos mais rápidos, de fato, o sudeste da Ásia já alcançou a meta da CMA. A América Latina e o Caribe têm sido uma das regiões com os maiores sucessos na luta contra a fome. A região como um todo é a única que já atingiu do ODM 1c) e está em vias de atingir a meta mais ambiciosa da CMA de reduzir pela metade o número de pessoas com fome. a América Latina já atingiu o objetivo da CMA. A Oceania é atualmente a região em desenvolvimento com o menor número de pessoas subalimentadas no mundo, embora o número de pessoas com fome tenha aumentado ao longo das últimas décadas. O aumento da subalimentação na Oceania tem sido acompanhado de uma grande carga e crescente de sobrepeso e obesidade. FAO/AFP/Hoang Dinh Nam Tendências da subalimentação: progressos em quase todas as regiões, mas a ritmos muito variados África subsaariana 23.8 33.3 Caribe 2.1 27. Ásia meridional 1.8 24. Oceania 14. 1.7 Ásia oriental.8 23.2 Ásia sudocidental.3 3.7 Ásia ocidental 6.3 8.7 Cáucaso e Ásia central 7.4 14.1 América Latina.1 14.4 1 2 2 3 3 de pessoas subnutridas 199 92 212 14 Meta dos ODM

Um ambiente propício para a segurança alimentar e nutricional Uma das principais lições extraídas da análise das experiências de outros países é a de que a fome, a insegurança alimentar e a má alimentação são problemas complexos que não podem ser resolvidos por somente uma das partes ou setor interessado. Abordar as causas imediatas e subjacentes da fome exigirá uma variedade de medidas em toda uma série de setores como a produção e a produtividade agrícola, o desenvolvimento rural, a silvicultura, a pesca, a proteção social, o comércio e os mercados. Embora muitas dessas medidas sejam tomadas no âmbito nacional e local, há também aspectos de natureza regional e mundial que exigem a adoção de medidas em uma escala maior. Políticas e programas são formulados e implementados em complexos ambientes sociais, políticos, econômicos e agroecológicos. Os processos já estabelecidos por lei ou por acordos informais influenciam na forma como as pessoas e as instituições interagem para influenciar nos resultados de segurança alimentar e nutricional. Uma tarefa importante da governança da segurança alimentar é promover um ambiente propício que crie incentivos para que todos os setores melhorem o seu impacto sobre a fome, a má nutrição e a insegurança alimentar. As cinco dimensões fundamentais de um ambiente são: 1. Políticas, programas e marcos jurídicos. Políticas, estratégias e programas de amplos investimentos, baseados em dados comprovados e na experiência que abordem as causas subjacentes da insegurança alimentar, assim como políticas de acesso aos alimentos e planos de proteção social devidamente apoiados por um marco jurídico que proteja o direito das pessoas a uma alimentação adequada. 2. Recursos humanos e financeiros. Atribuição e distribuição dos recursos financeiros e humanos necessários com capacidades e competências dos governos. 3. Mecanismos de coordenação e associações. Garantir a coordenação, elaboração e execução eficazes de estratégias, políticas e programas interministeriais de alto nível para a segurança alimentar e nutricional. 4. Adotar decisões baseadas em feitos comprovados. A tomada de decisões sobre segurança alimentar e nutricional deveria se basear em sistemas de informação que funcionem e façam um acompanhamento das tendências e as ações e que avaliem as repercussões de maneira oportuna e ampla, tirando disso experiências para inspirar o processo das políticas. FAO/Giulio Napolitano. Resiliência. Políticas e planejamentos dirigidos com o objetivo de incrementar a resiliência dos meios de vida diante dos desastres naturais (incluindo os fenômenos climáticos extremos), as crises e os conflitos.

6 Estudos de casos Os países analisados pelo FIDA, PMA e a FAO durante a preparação do SOFI tiveram experiências bastantes distintas com a segurança alimentar e a nutrição, condicionadas por distintos níveis de estabilidade política e crescimento econômico, assim como as características culturais, sociais e condições de meio ambiente diferentes. Crescimento anual médio da renda per capita das famílias em um quinto de renda, Brasil, 21-12. 7 6 4 3 Porém, todos abordaram a insegurança alimentar 2 aumentando ao mesmo tempo a produtividade 1 agrícola (e os correspondentes investimentos), fomentando o desenvolvimento rural e facilitando 2% mais pobre Segundo um quinto Terceir um quinto Quarto um quinto 2% mais rico o acesso a uma alimentação adequada para os necessitados. Fonte: Governo do Brasil 214. Prevalência da subalimentação em Madagascar de 199-92 a 212-14 4 3 3 2 2 1 O Brasil atingiu as duas metas correspondente a fome estabelecidas no ODM e na CMA. Os progressos para se alcançar esses objetivos estabelecidos no âmbito internacional acelerou em 23 com o começo do Programa Fome Zero, que colocou a erradicação da fome no centro do programa político e colocou em prática uma estratégia integral para promover a segurança alimentar, vinculando o apoio produtivo à proteção social. 199 92 2 2 26 8 29 11 212 14 Prevalência da subalimentação em Madagascar de 199-92 a 212-14. FAO/Walter Astrada O Estado Plurinacional da Bolívia estabeleceu processos e instituições que incluem a todas as partes interessadas, em especial os povos indígenas anteriormente marginalizados. A grande atenção dedicada às políticas de segurança alimentar favoráveis à população pobre resultaram em uma rápida diminuição da fome, 7,4% durante 29-11 e 212-14. A subalimentação crônica em crianças menores de três anos caiu de 41,7% em 1989 para 18,% em 212. 4 3 3 2 2 1 199 92 2 2 26 8 29 11 212 14 Em Madagascar, as crises políticas dificultaram o desenvolvimento de instituições relacionadas com a segurança alimentar e o país agora está reconstruindo as capacidades. Um conjunto de medidas adotadas no Programa Setorial para a agricultura, pecuária e pesca formulado recentemente aponta um aumento nos investimentos rurais de 4% e reduziu a pobreza em % mediante o fomento da produtividade agrícola e a utilização sustentável dos recursos naturais. No Plano de Ação Nacional para a nutrição 212-1 se propõe reduzir a prevalência da má nutrição crônica entre crianças e reduzir de 6% para 43% a proporção da população que consome menos de 23 colorias por dia.

FIGURA 19 7 Prevalência da subalimentação no Iêmen de 199-92 a 212-14 3 2 2 1 Prevalência da subalimentação no Haiti de 199-92 a 212-14 7 6 4 3 2 199 92 2 2 26 8 29 11 212 14 199 92 2 2 26 8 29 11 212 14 No Iêmen, após a recente agitação política, o governo de transição adotou medidas para a melhor a segurança alimentar e nutricional. A estratégia nacional de segurança alimentar aponta para a redução da insegurança alimentar em 1/3 para 21, e alcançar em 22, que 9% da população tenha segurança alimentar e reduzir a málnutrição infantil em 1% ao ano como mínimo. No Haiti, um país com crises prolongadas e muito vulnerável aos desastres naturais, também estabeleceu medidas para melhorar a formulação e execução das políticas de segurança alimentar com o objetivo de encarar os múltiplos desafios. O enfoque de dupla via do governo para enfrentar a insegurança alimentar compreende um plano trienal de recuperação agrícola e um programa denominado Aba Grangou centralizado na melhora do acesso aos alimentos e de sua utilização. Prevalência da subalimentação na Indonésia de 199-92 a 212-14 Prevalência da subalimentação em Malawi de 199-92 a 212-14 2 2 1 199 92 2 2 26 8 29 11 212 14 4 4 3 3 2 2 1 199 92 2 2 26 8 29 11 212 14 A Indonésia apresentou importantes progressos no estabelecimento de um ambiente propício por meio de esforços que abarcam o fortalecimento das capacidades das gestões locais e a promulgação da Lei 18/212 que institucionaliza o direito à alimentação como direito humano. Outras iniciativas chaves, como o fornecimento aos agricultores de fertilizantes para as sementes e a concessão de alimentos aos mais pobres, são elementos importantes do desenvolvimento agrícola do país e das estratégias de segurança alimentar. Em Malawi, o esforço e o progresso na luta contra a fome destacam-se com relação aos mecanismos de segurança alimentar, modestos, mas em processo de melhora. A fome e a alimentação inadequada estão reduzindo desde 2, ano que marcou o início de um forte e persistente crescimento da produção de milho. A segurança alimentar e a nutrição continuam representando um desafio para o país e se encontram entre as prioridades fundamentais do plano geral de desenvolvimento, a estratégia de crescimento e desenvolvimento de Malawi para 211-216.

Principais lições extraídas dos estudos de casos dos países Os avanços em relação à segurança alimentar e nutrição são alcançados por meio da complexa e mutável interação de muitos fatores. Apesar de alguns deles estarem fora de controle dos governos, a melhora na governança da segurança alimentar mediante uma legislação bem concebida na matéria, instituições eficazes e processos políticos inclusivos pode ser útil. Entre os requisitos chave para uma melhor eficácia das intervenções governamentais pode-se mencionar os seguintes: UN photo/ryan Brown Um compromisso político constante com a segurança alimentar em máximo nível, o que compreende o reconhecimento do direito à alimentação como um direito humano fundamental e o apoio a tal direito mediante medidas e marcos jurídicos oportunos. É necessário um firme compromisso político a fim de priorizar a segurança alimentar e a nutrição e para dar o impulso necessário com o objetivo de superar os obstáculos e empreender as reformas institucionais necessárias. Garantir a continuidade das políticas de segurança alimentar inclusive nas mudanças de governo. É necessário estabelecer marcos jurídicos que assegurem que os programas destinados a respaldar a segurança alimentar e o direito à FAO/Riccardo Gangale alimentação sejam considerados como um dever constante do Estado. Participação efetiva de todos os atores chave nos processos das políticas. A incorporação efetiva de todos os interessados, especialmente os beneficiários, na formulação e aplicação das políticas de segurança alimentar e nutricional, dá voz aos vulneráveis e aos marginalizados desde um ponto de vista político, o que se traduz em políticas mais equitativas que abordem as necessidades dos vulneráveis. FAO/Bahag Adotar amplas estratégias para incrementar a segurança alimentar. É necessário um enfoque multisetorial que ofereça apoio imediato às famílias vulneráveis e aborde, ao mesmo tempo, as diversas causas subjacentes da subalimentação. As medidas adotadas devem incluir o fomento da produção e o consumo sustentável de alimentos; o aumento da resiliência para que as populações vulneráveis alcancem melhores condições para fazer frente aos fenômenos climáticos extremos; a garantia de um acesso adequado aos alimentos para todos os cidadãos, mediante o reforço dos programas de transferência de renda e outros planos de proteção social; e, sempre que seja possível, estabelecer vínculos entre a proteção social e o apoio a produção com o objetivo de impulsar o desenvolvimento local. FAO/Alessia Pierdomenico Melhorar a coordenação entre os diferentes ministérios, secretarias e organizações. É necessário uma coordenação efetiva dos programas importantes de segurança alimentar e nutrição elaborados e executados pelos ministérios e organizações competentes para alcançar os objetivos globais de segurança alimentar e nutrição. Isso requer uma coordenação governamental eficaz, com uma autoridade política efetiva, um mandato, um papel e responsabilidades claras. FAO/Ivo Balderi Instituir marcos jurídicos para capacitar e exigir mutuas responsabilidades aos governos nacionais e outros parceiros. É importante que todas as partes interessadas e os grupos de interessados trabalhem juntos responsavelmente para promover mais medidas eficientes e efetivas para melhorar os resultados de segurança alimentar e nutricional. Melhorar as capacidades e competências pertinentes aos governos para elaborar e aplicar programas e políticas de segurança alimentar mais eficazes. Esse aspecto consiste no reforço da capacidade para o planejamento estratégico e as políticas em todos os níveis, mas também na mobilização de suficientes recursos humanos e financeiros, assim como o uso dos sistemas de informação que funcionem. I437E/1/9.14 Citas: FAO, FIDA e PMA. 214. FAO, FIDA e PMA. 214. O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo, 214. Fortalecimento de um ambiente favorável para a segurança alimentar e nutrição. Roma, FAO. Esta é uma breve síntese da publicação O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo, 214 (SOFI 214). A edição completa do SOFI 214 apresenta novas estimativas da subalimentação, assim como a informação atualizada sobre os progressos na consecução das metas sobre a fome dos Objetivos de Desenvolvimento do Mileno e a Cúpula Mundial sobre Alimentação. Consulte o relatório completo em: www.fao.org/3/a-i43p.pdf