TÍTULO: ESPETACULARIZAÇÃO DA TRAGÉDIA: O ACIDENTE AÉREO DA CHAPECOENSE SOB A ÓTICA SENSACIONALISTA DO TELEJORNALISMO BRASILEIRO

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Transcrição:

TÍTULO: ESPETACULARIZAÇÃO DA TRAGÉDIA: O ACIDENTE AÉREO DA CHAPECOENSE SOB A ÓTICA SENSACIONALISTA DO TELEJORNALISMO BRASILEIRO CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS SUBÁREA: COMUNICAÇÃO SOCIAL INSTITUIÇÃO: FACULDADE EDUVALE DE AVARÉ AUTOR(ES): BIANCA ALEXANDRA STELLA DE SOUZA ORIENTADOR(ES): FLÁVIO LUÍS FOGUERAL

1. RESUMO A notícia como um produto midiático é uma das muitas ferramentas para a construção e influência de comportamentos, viabilizada pelos veículos de comunicação. Sabe-se que temas relacionados direta ou indiretamente à morte causam impacto significativo nas pessoas, por despertar curiosidade, ainda que seja um processo biológico natural. Os noticiários transcendem o limite da objetividade da informação e se transformam em espetáculos de uma realidade assistida, representada por imagens. O presente trabalho analisou a cobertura jornalística dos três telejornais de canal aberto com maior audiência. Diante da tragédia envolvendo 71 óbitos entre atletas da Chapecoense, jornalistas, equipes de apoio e tripulantes da empresa aérea LaMia. Todos os envolvidos participariam da partida final da Copa Sul-Americana de 2016. Através das Teorias da Comunicação e do Jornalismo traça-se um parâmetro para compreender o sensacionalismo velado presente na imprensa, mesmo aquela parcela que prega a objetividade. Palavras-chave: Tragédia. Acidente. Telejornalismo. Chapecoense. 2. INTRODUÇÃO Uma boa parte dos brasileiros se prendeu aos telejornais no dia 29 de novembro de 2016. O avião que levava os jogadores da Chapecoense a Medelín, na Colômbia, caiu durante a madrugada da referida data. O modelo Avro RJ-85 era britânico e tinha quase 17 anos de acordo com o portal espanhol Airfleets. A aeronave da empresa de pequeno porte, LaMia, fez uma escala em Santa Cruz de La Sierra, localizada na Bolívia com 9 tripulantes e 72 passageiros. O time catarinense embarcou destino à cidade colombiana para disputar a final da Copa Sul-Americana, contra o Atlético Nacional. O acidente causou 71 mortes entre atletas, jornalistas e demais ocupantes do voo. Um dos pontos principais de todo o cenário, é compreender de que forma o valor-notícia, presente maciçamente no jornalismo influencia cotidianamente no consumo de informações. 3. OBJETIVO O artigo foi construído levando em consideração os seguintes propósitos: estudar a abordagem jornalística do acidente aéreo da delegação da Chapecoense;

em paralelo contextualizar os estudos do escritor francês Guy Debort, enfatizando a A Sociedade do Espetáculo e a problemática da extrema exposição de tragédias nas telas dos televisores; expor por meio das pesquisas quantitativas e qualitativas, a proporção de tal fato nos telejornais selecionados. Por fim, revelar de qual maneira as notícias atingem um público heterogêneo. Considerando os estudos presentes nas Teorias da Comunicação e do Jornalismo, afirmar que a notícia é um artefato linguístico e representativo da realidade. 4. METODOLOGIA Foram selecionados três telejornais, de emissoras com sinal aberto e com as maiores audiências como objetos de estudo: Jornal Nacional, Jornal da Record e Jornal da Band. Posteriormente elaboraram-se duas pesquisas: quantitativa, referente ao tempo de cobertura do acidente aéreo no período de sete dias (29/11 a 6/12) desde a queda, investigação das causas, ritos fúnebres e, por fim, a situação dos sobreviventes; e qualitativa, relativa ao discurso utilizado nestes veículos. As teorias Hipodérmica, Agenda Setting, Funcionalista e Gatekeeper foram aplicadas ao estudo de caso para a compreensão do impacto noticioso. 5. DESENVOLVIMENTO No Brasil, a televisão exerce funções sociais evidentes: oferecer entretenimento ou ser meio da disseminação de informações. Neste contexto, a notícia viabilizada por essa mídia abrange boa parte da população por motivos que vão desde a falta do hábito de leitura, afazeres cotidianos, ou até mesmo desinteresse- caso daqueles que veem o telejornal enquanto outro programa (seja informativo ou de entretenimento) não começa. Assim como os demais veículos, a TV também determina seus encadeamentos noticiosos baseados na subordinação do tempo, ou seja, tudo tem um período para ser explorado pelo jornalismo. E não foi diferente com o acidente aéreo que transportava a delegação da Chapecoense junto com a equipe de jornalistas. Durante dias, o enquadramento das notícias apresentadas nos telejornais abordou constantemente sobre o acontecimento de maneira sensacionalista. De acordo com a definição de Aurélio

(2017, online): 1 O Sensacionalismo é a doutrina ou teoria em que todas as ideias são derivadas unicamente da sensação ou das percepções dos sentidos. A ilustração da realidade de forma a torná-la visível como se fosse uma atração é o que Guy Debord nomeava de A Sociedade do Espetáculo ¹. Em sua obra, o escritor enfatiza que o mundo real se converte em simples imagens que se tornam seres reais e motivações eficientes típicas de um comportamento hipnótico (DEBORD, 1997 p. 19). Para alcançar uma perspectiva mais crítica, é fundamental descrever o perfil de cada telejornal analisado. Alguns fatores como audiência, acessibilidade e popularidade destes telejornais, facilitaram a pesquisa e exposição dos dados, bem como a análise geral e contextualização das teorias citadas. Jornal da Record Em 1980 o telejornal despontou com o objetivo de ser o principal jornal da Record TV e passou por três remodelamentos até chegar a seu formato atual. Na terceira modificação, o JR teve como seu objetivo, a partir de janeiro de 2006, dar uma impressão global no jeito de apresentar. Com os adjetivos confiável, ágil e moderno a descrição do telejornal no site R7 explicita a metodologia perspicaz e preocupada com a credibilidade de suas notícias. Em geral, a duração das edições do JR é de 40 minutos. Entretanto no período estudado, o tempo do jornal chegou à faixa de 55 minutos no dia 2 de dezembro, por exemplo, um dia anterior ao velório coletivo. Apesar da oscilação, foi dedicada uma média de 24,5% do telejornal para as notícias do acidente aéreo, conforme a Tabela 1. Na edição do dia 29 de novembro de 2016 a palavra tragédia foi dita 4 vezes pelos jornalistas e repórteres, já as expressões acidente e vítimas, 9 vezes cada uma. Pedaços do avião foram filmados e exibidos em pelo menos 4 reportagens do telejornal. 1 Versão eletrônica do Dicionário Aurélio. Publicado em 24 de set. de 2016, revisado em 27 de fev. de 2017. Disponível em: https://dicionariodoaurelio.com/sensacionalismo. Acesso em 16 de ago. de 2017.

Tabela 1: Comparativo da prevalência de assuntos no JR Prevalência em minutos e em porcentagens Notícias dedicadas ao acidente 78,88 (24,5%) Demais notícias 242,35 (75,5%) Tempo total analisado 321,23 (100%) Fonte: Elaborada pela autora Jornal da Band Teve sua estreia em 1977, intitulado Jornal Bandeirantes, o qual foi mantido por 20 anos. Transmitido de segunda a sábado na faixa das 19h20, uma das características diferenciais deste telejornal é a transmissão simultânea através da página do Facebook 2 e também pela Rádio BandNews FM 3. Essa é a experiência multiplataforma do programa. Pela cobertura da TV Bandeirantes, é notável o destaque das notícias relacionadas à catástrofe, dado que representa 53,9% das edições selecionadas, conforme indica a Tabela 2. No Jornal da Band, não houve variação considerável da duração dos telejornais nos dias de cobertura do acidente. No momento da apresentação das notícias bem, como as reportagens exibidas no dia do acidente, as palavras vítimas, acidente e tragédia apareceram 9, 7 e 2 vezes, respectivamente. As imagens com destroços do avião estiveram presentes em três matérias da mesma edição. O telejornal também citou a participação exclusiva do Brasil Urgente, conhecido pelo seu teor sensacionalista devido ao discurso exagerado e comovente de seu apresentador, José Luiz Datena. 2 https://www.facebook.com/jornaldaband/ 3 http://www.bandnewsfm.com.br/

Tabela 2: Comparativo da prevalência de assuntos no Jornal da Band Prevalência em minutos e em porcentagens Notícias dedicadas ao acidente 161,51 (53,9%) Demais notícias 101,03 (46,1%) Tempo total analisado 262,54 (100%) Fonte: Elaborada pela autora Jornal Nacional Conhecido por concentrar maior audiência em território brasileiro e coberturas criteriosas por um rígido padrão organizacional, o principal telejornal da Rede Globo de televisão, marcou uma presença imprescindível acerca das notícias do acidente. Bonner (2009, p.158) ressalta que no JN, como deve ser em toda a imprensa de qualidade, é registrar diariamente os fragmentos daquilo, que um dia poderá ser um capítulo da história. De acordo com a Tabela 3, mais da metade do tempo do JN (54,8%) teve seu direcionamento apontado às informações sobre a queda do avião através de correspondentes da Colômbia e de outros lugares do Brasil. As edições do telejornal da Globo dificilmente passam dos 40 minutos. Já a do dia 3 de dezembro que comentou sobre a cobertura completa do funeral, durou 1 hora e 4 minutos. Campeã de presença na cobertura da fatalidade, o Jornal Nacional superou as exposições anteriores em relação ao termo tragédia que apareceu 16 vezes durante toda a edição do dia 29 de novembro. A palavra acidente ficou em segundo lugar, sendo citada 11 vezes, e por fim vítimas, 8 vezes. Cenas com os restos da aeronave foram mostradas ao menos em 6 momentos durante o referido telejornal.

Tabela 3: Comparativo da prevalência de assuntos no JN Prelevância em minutos e em porcentagens Notícias dedicadas ao acidente 221,32 (54,8%) Demais notícias 182,12 (45,2%) Tempo total analisado 403,44 (100%) Fonte: Elaborada pela autora 6. RESULTADOS Perante o total, tem-se o resultado amplo em que, somados, os três telejornais apresentaram 987,21 minutos de duração no período de quinze dias. Diante disso, as notícias referentes ao acidente da Chapecoense ocuparam 461,71 minutos na grade de programação enquanto que, as demais pautas (economia, política, segurança, saúde, comportamento, esporte) dividiram 525,5 minutos nas edições. Isso representa que, apenas a tragédia com a equipe catarinense representou 46,7% do espaço divulgado pelas três emissoras analisadas (Record TV, Rede Bandeirantes e Rede Globo). Este assunto foi quase igualitário aos demais abordados por estes programas no período, ou seja, 53,3%. Esta constatação é explicitada no Gráfico 1 e na Tabela 4, respectivamente: Gráfico 1 Tempo total dos três telejornais dedicado ao acidente Comparativo Geral Notícias sobre o acidente Demais Notícias 53% 47% Fonte: Elaborado pela autora

Tabela 4: Comparativo de prevalência dos 3 telejornais Prelevância em minutos e em porcentagem Notícias dedicadas ao acidente 525,5 (53,3%) Demais notícias 461,71 (46,7%) Tempo total analisado 987,21 (100%) Fonte: Elaborada pela autora A partir da Teoria do Agendamento nota-se quão os critérios de noticiabilidade são ligados aos assuntos pelos quais as pessoas se interessam e que estão presentes em seus grupos sociais, assim serão cada vez mais pautados pela mídia. (MARTINO, 2009 p. 207). Tais critérios se estabelecem a partir de fatos que tendem a se tornarem notícias (TRAQUINA, 2005, p. 63). As notícias relacionadas à morte, homicídio e catástrofes, ainda são as que mais prendem a atenção dos telespectadores. O sensacionalismo, portanto, está intimamente ligado ao homicídio, à morte e ao sangue derramado. (ANGRIMANI, 1994, p. 64). A assídua exploração da tragédia e até mesmo da miséria resulta em uma exposição exaustiva e que posteriormente servirá de atração para o público. Tal espetacularização da tragédia e das mazelas sociais é evidente e estendeu-se aos quatro cantos do mundo. Mas por que as pessoas têm esse desejo inefável em consumir notícias catastróficas? A resposta está na psicanálise. Freud afirma em sua obra Mal-estar na Civilização que o ser humano pode distanciar-se do sofrimento buscando o prazer. Do ponto de vista psicanalítico, o homem é um ser instintivo e agressivo, que é imposto a viver em comunidade desde que nasce. Por este motivo, assistir a tragédias é uma maneira de transferir os sentimentos mais obscuros para essa realidade vista por vezes, como intangível, já que no processo de assimilação do receptor, a realidade é confundida com fragmentos fictícios. No mesmo dia em que a aeronave da LaMia caiu, alguns veículos de comunicação, como o jornal espanhol El País, reviraram seus arquivos para trazer a tona outros desastres que marcaram a história. Dentre eles, o Airbus A320 da companhia TAM ocorrido em 10 de julho de 2007 que se chocou contra um posto de combustíveis em Congonha, deixando 187 mortos.

Investigar as causas do acidente, relatar a trajetória das vítimas e participar do velório coletivo fizeram parte dos critérios de noticiabilidade desses veículos citados. A seleção destes fatos é feita pela presença de um Gatekeeper, termo que significa guarda portão. Ele é o agente detentor das etapas de definição daquilo que vai ou não estar presente nos veículos midiáticos Ao mesmo tempo em que a propagação da notícia envolvendo a Chapecoense causou uma forte influência emocional nas massas, não se pode deixar de levar em conta a ação de cada indivíduo perante o fato, e não apenas sua reação. Neste caso encontram-se características da Teoria Hipodérmica, no que diz respeito às influências ideológicas e comportamentais das audiências. A percepção de que a mídia pode manipular as pessoas e controlar o público tem sido uma espécie de alucinação recorrente nas pesquisas em comunicação (MARTINO, 2009, p. 189). Em contraponto a Teoria Funcionalista aponta a atitude de quem consome determinada informação, isso se configura a partir do papel que a mídia desempenha na sociedade e o que as pessoas fazem com ele. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao ser bombardeado por informações premeditadas na cúpula da grande imprensa, o sujeito passa a ter uma automatização evidente. É um processo narcotizante. Os eventos corriqueiros são espetacularizados pelas câmeras e explorá-los excessivamente faz parte da conquista do interesse público. A mídia, então cria um suposto reflexo do mundo, um reflexo fidedignamente reproduzido pelos televisores. Em paralelo, o controle da opinião pública e do interesse coletivo também se estipula como um dos objetivos dos meios de comunicação de massa (MCM). Ainda que vistos como partes de um todo, a individualidade ideológica não é considerada perante a desenfreada disseminação de conteúdos diários. Aquela mesma população heterogênea transforma-se em uma parcela uníssona. Além de seus vínculos sociopolíticos, os veículos buscam encadeamentos que atinjam o público de maneira pasmosa em seus produtos informativos. Como consequência, a fidelização conquistada pela curiosidade de quem está nas poltronas assistindo aos telejornais. Sob esta concepção, é notório que as teorias estão intrinsecamente conectadas ao estímulo comportamental das pessoas em decorrência de uma situação trágica.

Após esse período, os sobreviventes ainda tentam retomar suas vidas e reconstruí-las com marcas e cicatrizes deixadas pela catástrofe. O clube catarinense ainda possui seu espaço na mídia, não mais nos mesmos minutos televisivos e primeiras páginas de jornal, mas sim, reduzido relegado às editorias de esporte. 8. FONTES CONSULTADAS ANGRIMANI, Sobrinho, Danilo. Espreme que sai sangue: um estudo do sensacionalismo na imprensa. São Paulo: Summus, 1995. BONNER, William. Jornal Nacional: Modo de fazer. São Paulo: Editora Globo, 2009. DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. Dicionário Aurélio. Significado de Sensacionalismo. Disponível em: https://dicionariodoaurelio.com/sensacionalismo. Acesso em 16 de ago. de 2017 Jornal da Band, Jornal da Band será transmitido ao vivo no Facebook. Disponível em: http://noticias.band.uol.com.br/jornaldaband/videos/15921886/jornal-da-bandsera-transmitido-ao-vivo-no-facebook.html. Acesso em 26 de mai. de 2017. FREUD, Sigmund. Mal-estar na Civilização. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. Jornal da Band, Vídeos. Disponível em http://noticias.band.uol.com.br/jornaldaband/videos/. Acesso em 17 de mai. de 2017. Jornal Nacional, Todas as Edições. Disponível em http://g1.globo.com/jornalnacional/edicoes/. Acesso em 26 de mai. de 2017. MARTINO, L. Mauro de Sá. Teorias da Comunicação: Ideias, conceitos e métodos, 5 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2014. R7, Conheça a equipe e o que faz o Jornal da Record. Disponível em http://noticias.r7.com/jornal-da-record/conheca-a-equipe-que-faz-o-jornal-da-record- 25052017. Acesso em 24 de mai. de 2017.

R7. Vídeos. Disponível em: http://noticias.r7.com/jornal-da-record/videos. Acesso em 24 de mai. de 2017. REZENDE, Guilherme de. Telejornalismo no Brasil: um perfil editorial. São Paulo: Summus, 2000. TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo: Florianópolis: Insular, 2004.