JORNADAS DE DIREITO DA FAMÍLIA E DA CRIANÇA AUDIÇÃO TÉCNICA ESPECIALIZADA E MEDIAÇÃO: DE COSTAS VOLTADAS? Maria do Rosário Ataíde Lisboa 16-01-2018 Colaboração na elaboração - João Viriato
Regime Geral do Processo Tutelar Cível RGPTC Lei 141/2015 de 8 de setembro O novo RGPTC aponta para um novo paradigma de intervenção: As soluções para o exercício de uma parentalidade positiva devem ser encontradas pelos intervenientes. Centrado na procura de soluções que permitam a obtenção de consensos que garantam o superior interesse das crianças envolvidas. Trata-se de um processo participado pelos pais e pelas próprias crianças, consubstanciado na Audição Técnica Especializada e na Audição da Criança. 2
Regime Geral do Processo Tutelar Cível RGPTC Lei 141/2015 de 8 de setembro Cabe às equipas de assessoria técnica apoiar o juiz na obtenção de soluções consensuais entre as partes e apoiar a criança no exercício do seu direito à participação neste contexto. Alterações profundas na actuação de todos os intervenientes em particular as Equipas de Assessoria Técnica aos Tribunais, do ISS, IP, em matéria Tutelar Cível. 3
NOVO PARADIGMA DE INTERVENÇÃO As Secções de Família e Menores são assessoradas por equipas técnicas multidisciplinares funcionando de preferência no tribunal. Equipa de Assessoria Técnica aos Tribunais - Tutelar Cível - do Centro Distrital de Coimbra Local: Sede do Centro Distrital de Coimbra Seções de Família e Menores a que presta Assessoria: Cantanhede, Coimbra, Figueira da Foz, Mira e Oliveira do Hospital. Constituição: 6 técnicos (1 psicólogo e 5 assistentes sociais) com formação em Mediação Familiar e/ou gestão de conflitos. 4
NOVO PARADIGMA DE INTERVENÇÃO O ISS, I.P. preconiza uma especialização nesta área de intervenção através, tanto quanto possível, da constituição de equipas que respondam especificamente a tais solicitações. Para o efeito, os/as técnicos/as devem ter formação adequada nos seguintes domínios: a) mediação de conflitos, b) técnicas de entrevista conjunta e entrevista a crianças/jovens, c) desenvolvimento da criança/jovem, d) avaliação da qualidade das relações familiares e e) impacto do conflito inter-parental no desenvolvimento da criança/jovem. 5
Competências da Assessoria Técnica Compete às equipas técnicas multidisciplinares Apoiar a instrução dos processos tutelares cíveis e seus incidentes Apoiar as crianças que intervenham nos processos Acompanhar a execução das decisões nos termos previstos no RGPTC A intervenção técnica das equipas de assessoria: um carater especializado; está prevista para vários momentos do processo, desde a instrução ao cumprimentos da execução da sentença; exige metodologias próprias. 6
AUDIÇÃO TÉCNICA ESPECIALIZADA (A.T.E.) O que é? Intervenção determinada pelo juiz com vista à obtenção de consensos entre as partes. Consiste na audição das partes tendo em vista a avaliação diagnóstica das competências parentais e a aferição da disponibilidade daquelas para um acordo, designadamente em matéria de regulação do exercício das responsabilidades parentais, que melhor salvaguarde o interesse da criança. Inclui a prestação de informação centrada na gestão do conflito. 7
AUDIÇÃO TÉCNICA ESPECIALIZADA Avaliação da Parentalidade 3 eixos relativos ao conceito de parentalidade que vão sustentar a dinâmica a imprimir na Audição Técnica Especializada: a parentalidade enquanto inscrição num processo de envolvimento responsável; a parentalidade enquanto lugar de comunicação e cooperação em que é respeitado o lugar/papel do outro progenitor; a parentalidade centrada nas necessidades de desenvolvimento da criança. 8
AUDIÇÃO TÉCNICA ESPECIALIZADA Nova metodologia de intervenção técnica Reuniões nos Juízos de Família e Menores Tribunal Judicial da Comarca de Coimbra Memorando de entendimento entre o ISS I.P. / Centro Distrital de Coimbra e os Juízos de Família e Menores - reestruturação das equipas técnicas A.T.E. 3 equipas de 2 técnicos, 1 dia na semana, afeta a cada Juiz. Audição da criança em regime de chamada. 9
AUDIÇÃO TÉCNICA ESPECIALIZADA Constituição de 3 equipas de dois técnicos. Cada uma das equipas fica afeta a um dos Juízes. Designado um dia semanal fixo por cada um dos juízes para realização de A.T.E. Técnicos das equipas: psicólogos ou assistentes sociais com formação em mediação familiar e/ou gestão de conflitos. Marcação das A.T.E. sempre para os dias designados, com aviso prévio à Equipa de Assessoria. Comparência de todos os intervenientes no tribunal, no dia designado. O Juiz apresenta os técnicos presentes e a intervenção A.T.E. a ser realizada. 10
AUDIÇÃO TÉCNICA ESPECIALIZADA Primeira sessão de A.T.E. realizada nas instalações do tribunal: entrevista conjunta dos técnicos com os intervenientes. Frequentemente os advogados estão presentes na sessão. Toda a metodologia de intervenção é da responsabilidade da equipa técnica. A(s) sessões incluem: Informação sobre a A.T.E. e objetivos a alcançar consensos na responsabilidades parentais Informação centrada no conflito parental Utilização de técnicas de mediação e gestão do conflitos Registos dos consensos e posições alcançadas a comunicar ao juiz 11
AUDIÇÃO TÉCNICA ESPECIALIZADA Caso seja alcançado consenso na 1ª sessão os técnicos comunicam de imediato ao juiz que chama todos os intervenientes, confirma os consensos alcançados que homologa, redigindo o acordo sobre a Regulação das Responsabilidades Parentais. Caso não seja alcançado o consenso na 1ª sessão, a ATE pode prosseguir noutras sessões, em número variável. As sessões seguintes são realizadas nas instalações da Equipa de Assessoria Técnica aos Tribunais, no Centro Distrital de Coimbra. No final da ATE a equipa técnica redige uma Informação ao Tribunal sobre os resultados alcançados: consenso total ou parcial, ou ausência de consensos. No caso de consenso parcial ou ausência de consenso a informação redigida deve avaliar as competências parentais dos progenitores. 12
AUDIÇÃO TÉCNICA ESPECIALIZADA Dados estatísticos - Ano de 2017 Tribunal de Família e Menores de Coimbra AUDIÇÃO TÉCNICA ESPECIALIZADA ATE realizadas - 98 Concluídas na 1ª sessão 50 Concluídas em sessões subsequentes 48 Audição Técnica Especializada Consensos Consenso total 62 Consenso Parcial 16 Ausência de consenso 20 13
AUDIÇÃO TÉCNICA ESPECIALIZADA É alcançado consenso num número bastante elevado de casos (totais ou parciais). Em cerca de metade das ATE foram finalizadas na 1ª sessão. Economia de esforço para o tribunal - Com a introdução de A.T.E. no processo, compete às equipas técnicas a realização das sessões necessárias com vista à obtenção do consenso. 14
AUDIÇÃO TÉCNICA ESPECIALIZADA Análise e reflexão sobre a intervenção em A.T.E. : Os intervenientes: Comparecem Dialogam Participam Aderem à metodologia Grande parte dos progenitores comparecem acompanhados pelos seus advogados estão presentes nas sessões. 15
NOVO PARADIGMA DE INTERVENÇÃO (Conclusão) Adequação da intervenção das equipas técnicas de assessoria às necessidades do tribunal Ação informativa e pedagógica junto dos intervenientes e dos seus representantes, feita pelos técnicos das equipas de assessoria. Promoção e restabelecimento de comunicação entre os pais no âmbito da intervenção A.T.E. Reflexão conjunta sobre as questões da parentalidade: Recentrar das questões da parentalidade na pessoa do filho. Reforço das funções de cada um dos pais e da sua participação na vida dos filhos. Reforço da coparentalidade. Contributo para a melhoria da relação pais-filhos. 16
NOVO PARADIGMA DE INTERVENÇÃO (Conclusão) Adequação da intervenção das equipas técnicas de assessoria às necessidades do tribunal Economia de tempo para o tribunal Cerca de metade dos casos de ATE são resolvidos na 1ª sessão. Quando é obtido o consenso na 1ª sessão de ATE, de imediato o tribunal estabelece e homologa o acordo. Nestes casos o prazo legal (60 dias) não é esgotado. Economia de tempo para as equipas da assessoria Aquando da obtenção de consenso, não há lugar à realização de informação escrita. 17
NOVO PARADIGMA DE INTERVENÇÃO (Conclusão) Adequação da intervenção das equipas técnicas de assessoria às necessidades do tribunal Os pais reconhecem nas sessões de ATE uma oportunidade de serem ouvidos, de poderem expressar as suas opiniões e de dialogarem. Maior proximidade entre os magistrados e os técnicos com melhoria na articulação processual. Melhor conhecimento da parte do tribunal sobre a intervenção técnica das equipas de assessoria. Mais valia por a intervenção técnica ser feita em equipa de dois técnicos. 18
NOVO PARADIGMA DE INTERVENÇÃO (Conclusão) Adequação da intervenção das equipas técnicas de assessoria às necessidades do tribunal O modelo implementado em ATE conduz frequentemente à sugestão de outras intervenções técnicas: Acompanhamento/supervisão de convívios. Acompanhamento das crianças para audição em tribunal. 19
Mediação e A.T.E. de costas voltadas? A Mediação Familiar (MF) é uma forma de resolução alternativa de litígios, que se realiza fora dos Tribunais. Pode ser promovida por entidades públicas (Sistema de Mediação Familiar) ou privadas. Pretende-se que duas ou mais partes em litígio procurem voluntariamente, com a ajuda de um terceiro, imparcial (mediador), negociar as questões que as opõem e alcançar um acordo mutuamente aceitável, em matéria familiar. Na Audição Técnica Especializada (ATE) pretende-se resolver os conflitos familiares por via da obtenção de consenso. A ATE visa aferir a disponibilidade para a obtenção de consensos entre as partes Se não houver consenso, o juiz é informado da avaliação efetuada às competências parentais e disponibilidade de cada progenitor para acordo. A ATE realiza-se quando: as partes não cheguem a acordo; quando não optem pela mediação familiar; quando ordenada pelo Juiz. 20
Mediação e A.T.E. de costas voltadas? Mediação Familiar é: A MF é um meio de resolução de conflitos, que pode ter lugar independentemente da instauração de processo judicial em momento prévio à instauração de processo judicial (fase pré-judicial) ou na pendencia do processo judicial (fase judicial). A MF é voluntária e confidencial implica a prestação de consentimento das partes para a sua realização a admissibilidade de revogação do referido consentimento, a todo o tempo. A Audição Técnica Especializada é : Realizada em contexto judicial; É obrigatória (porque é solicitada pelo Juiz); Realizada por entidades públicasequipas de assessoria técnica Não é confidencial (o que aqui se discute é transmitido ao Juiz do processo); 21
NOVO PARADIGMA DE INTERVENÇÃO Mudanças na intervenção RGPTC introduziu um novo paradigma. Os procedimentos passam a ser mais céleres e eficazes. Procuram-se soluções alternativas no exercício da parentalidade. Os pais são os principais atores. Os magistrados e os técnicos tentaram adaptar-se. Foi procurada uma forma de intervenção adequada. Arriscou-se experimentar. Criaram-se novos espaços nos tribunais: salas preparadas para os técnicos e para as crianças. 22
NOVO PARADIGMA DE INTERVENÇÃO Mudanças na intervenção Adaptaram-se salas para o serviço de assessoria técnica no Centro Distrital. (sede e serviços locais) Reorganizaram-se as Equipas. Mais exigência e especialização. Ouvir, enquadrar, simplificar, compreender com vista à construção de novos significados sobre a vida da criança. Deram-se oportunidades aos pais para serem protagonistas e agentes de mudança na parentalidade. 23
Muito obrigado pela vossa atenção e participação! Maria do Rosário Ataíde m.rosario.ataide@seg-social.pt 24 Colaboração na elaboração - João Viriato Gouveia