DEMANDA DE INSETICIDAS PARA O CONTROLE DO BICHO MINEIRO (Leucoptera coffella) NA CULTURAS DO CAFÉ, ESTIMADAS POR RECEITAS AGRONOMICAS, NA REGIÃO DE ROLIM DE MOURA RO Thays Lemos Uchôa 1, Helter Carlos Pereira², Zenilda de Fatima Carneiro², Maikely Luana Feliceti², Evandra Gobatto², Gilberto Santos Andrade² ¹ Universidade Federal do Acre- BR 364, km 4- Distrito Industrial- 69.920-900 Rio Branco- Acre, thays_uchoa@yahoo.com.br. ² Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Campus Pato Branco, Via do conhecimento, km 1-85503-390- Pato Branco, PR, heltercp@gmail.com. Resumo: O controle químico é a principal tática de controle de pragas na agricultura. Estes produtos devem ser utilizados através de critérios econômicos, sociais, ambientais e operacionais através do receituário agronômico. O objetivo foi analisar as principais pragas da cultura do café, através da análise das receitas agronômicas emitidas; verificar os ingredientes ativos recomendados, mecanismo de ação a frequência de emissão de receita para cada praga. O levantamento das receitas arquivadas pela IDARON durante o período de janeiro 2011 a dezembro de 2012. Os dados foram analisados através de análise descritiva. Entre as pragas que tiveram maior incidência de receitas e uma maior intervenção química para o controle o Bicho-mineiro (Leucoptera coffeella): teve vários produtos usados para seu controle sendo o cipermetrina, clorpirifos, triazofos e lambdacyhalothrin os de maior destaque. Palavras-chave: Pragas, Bicho-mineiro, inseticida, café. Área do Conhecimento: Ciências Agrarias Introdução Há tendência em se preconizar o controle químico associado ao controle cultural, resistência de plantas, controle biológico, modificação do ambiente e manipulação genética de insetos em Programas de Manejo Integrado de Pragas (GALLO et al., 2002). Por outro lado, na prática isso nem sempre é feito, sendo o controle pela via química a principal e na maioria dos casos, a única alternativa de controle. A vantagem do controle químico é sua alta eficácia, capaz de reduzir a densidade de pragas abaixo do nível de dano econômico. A tecnologia de aplicação destes produtos permite manejar extensas áreas de plantio em curto espaço de tempo. No entanto, deve se considerar as estratégias de controle, pois, o mau uso de produtos químicos podem selecionar populações resistentes, causar maior frequência de surtos de pragas secundárias, por eliminar agentes de controle natural (MANZONI et al., 2006). Além disso, potencializa os riscos ambientais e operacionais. Isso devido os mecanismos de ação destes produtos que agem sobre muitas formas de vida, como polinizadores, predadores e parasitoides (DHALIWAL et al., 2004). Dessa maneira, a confiança nestes produtos deve ser pautada em critérios econômicos, sociais, ambientais e operacionais visando uso racional desta tática, através da correta recomendação técnica pelo receituário agronômico. Pontos básicos para o uso de agrotóxicos é o entendimento de seu modo de ação, formulações, níveis de toxicidade, procedimento de uso e equipamento de proteção individual. Neste sentido, a comercialização destes produtos fitossanitários vinculada a uma receita agronômica primordial e exigido por lei, após uma análise do problema fitossanitário in loco, onde se determina a necessidade de intervenção química ao problema apresentado. O café (Coffea) é o principal gênero da família Rubiácea, que possui mais de 6000 espécies. Atualmente, duas espécies deste gênero têm importância econômica: Coffea arábica e Coffea canéfora. O nome café é dado ao fruto do cafeeiro, além da infusão feita com grão torrado e moído, sendo a segunda bebida mais popular no mundo ficando atrás somente da água. A cadeia do café movimenta mundialmente bilhões de dólares e apresenta grande importância para países produtores, importadores, processadores e consumidores (MOREIRA, 2009). 1
Entretanto um dos principais entraves de uma determinada cultura é a alta incidência de praga, pode estar indicando erros de manejo, como uso de cultivares inadequada para região, uso abusivo de inseticida, isso acarreta em aumento de populações de pragas resistentes a determinados inseticidas e muitos outros surtos. Além disso, o uso inadequado de fitossanitários concorre para a contaminação dos aplicadores, do meio ambiente, do consumidor final e desequilíbrio nas populações de inimigos naturais. Há perdas econômicas, aplicações em excesso aumentam o custo das lavouras (ARAÚJO, 2000). O Receituário agronômico visa à utilização correta do agrotóxico, minimizando os riscos e as aplicações desnecessárias, assim o profissional legalmente habilitado busca a origem do problema fazendo uma visita à propriedade. Para diagnóstico da praga, realizando levantamentos de todas as informações relacionadas, disponibilidade de equipamentos, nível tecnológico de forma a atingi-lo com máximo de eficiência e mínimo de insumos. A receita agronômica é a prescrição e orientação técnica de uso do defensivo agrícola por um profissional capacitado e legalmente habilitado, que se responsabiliza pela aplicação do produto na cultura/solo, através do uso correto oferecendo a segurança da saúde pública. As receitas só podem ser emitidas para defensivos registrados na Secretaria de Defesa Agropecuária, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Recomendações do uso dos agrotóxicos, através do Receituário Agronômico podem ser feitas por profissionais da área das ciências agrárias, devidamente registrados no CREA (GASPARATTO; PEREIRA, 2000). Neste sentido verifica-se a importância do Receituário Agronômico e ainda há necessidade de conscientização do uso dos produtos fitossanitários; criação de condições para comunicação mais efetiva entre técnicos e agricultores e maior rigor nas fiscalizações ordem toxicológica (JÚNIOR; CHANDOHA, 2010). Portanto, o trabalho visa buscar a demanda de inseticidas no ano safra de 2011 e 2012, através das receitas agronômicas prescritas para as culturas do café, de Rolim de Moura - RO. Verificando as principais pragas ocorrentes nestas culturas no período citado e detectar os inseticidas recomendados de acordo com o ingrediente ativo e grupo químico. Metodologia O levantamento das receitas agronômicas emitidas entre os anos de 2011 a 2012 foi efetivado através das vias arquivadas pela IDARON (Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia), órgão responsável pela fiscalização e controle os agrotóxicos no estado de Rondônia. As receitas foram separadas quanto ao período de estudo (Janeiro 2011 a Dezembro de 2012). Na sequência, separado as receitas para a cultura do café, que se designou para o levantamento de dados referentes aos agrotóxicos cadastrados para o comércio de empresas que comercializam e armazenam agrotóxicos. Os dados foram coletados e hierarquizados na seguinte ordem: Praga alvo, inseticida recomendado, princípio ativo, grupo químico, área tratada, município e data da receita para a cultura do café. Através do levantamento os principais municípios verificados com emissão de receitas foi Rolim de Mura, Alta Floresta, Novo Horizonte, Nova Brasilândia D Oeste, Santa Luzia e Castanheiras. Os dados foram tabulados em uma planilha do Excel e submetidos a uma análise descritiva, verificando quais foram os grupos químicos mais utilizados, quais as principais pragas de cada cultura no período e o princípio ativo mais utilizado. Resultados Verificou-se mediante analise das receitas levantadas na cultura do café, quais os principais produtos utilizados para o controle das pragas de maior ocorrência de acordo com a tabela 1. 2
Tabela 1: Pragas de maior ocorrência e seus respectivos produtos para o controle. Pragas Ingredientes Ativos Grupos químicos Broca (Hypothenenus hampei) Chlorpyrifos organofosforado Bicho-mineiro (Leucoptera coffella) cipermetrina 25%, clorpirifos 48%, triazofos 40% lambdacyhalothrin piretróide organofosforado Cochonilha verde (Coccus viridis) Àcaro Vermelho (Oligonychus ilicis) Fonte: IDARON, 2013 óleo mineral 75.60% abamectina 1,80%, triazofos 40% e fenpropathrin 30% hidrocarboneto avermectina, organofosforado e piretroide Em 2011 foi um ano com menos chuvas, isto possibilitou o maior número de insetos os quais preferem épocas mais quentes e secas como nos meses de janeiro, fevereiro, março e abril. Já nos mesmos meses do ano de 2012, foi um ano muito chuvoso e o número de insetos foi reduzido drasticamente como vemos na Figura 1. Figura 1 - Número de receitas emitidas para bicho mineiro (Leucoptera coffeella) em cada mês dos anos 2011 e 2012. Fonte: IDARON, 2013 Discussão O Bicho-mineiro Leucoptera coffeella (Lepidoptera: Lyonetiidae) é uma preocupação em cafezais na região, mediante ao número de receitas emitidas no período, sendo recomendados para controlar os danos deste inseto cipermetrina 25%, clorpirifos 48%, triazofos 40% e lambdacyhalothrin, totalizando 306 e 262 receitas emitidas em 2011 e 2012. Respectivamente é interessante enfatizar que este Coffea canephora comparada a Coffea Arábia é mais resistente ao ataque desta praga. No entanto, no estado de Rondônia lavouras de café conilon têm apresentado altas infestações de L. coffeella (MARCOLAN et al., 2009; COSTA et al., 2002). Segundo Conceição (2005) a intensidade de infestação do bicho mineiro varia de ano para ano em uma mesma lavoura em regiões cafeeiras. Com intensidade maior nos períodos secos do ano. Nos anos com quedas regulares de chuvas durante o inverno, a percentagem deste inseto cai drasticamente (REIS & SOUZA, 1998). 3
Emissão de receitas agronômicas ocorreu durante todo o ano de 2011 para L. coffeella. Picos de infestação desse inseto foram mais frequentes de janeiro a maio e julho a novembro de 2011. No ano de 2012, em houve baixo índice de receituários comparados aos outros meses. Isso sugere como os danos das pragas podem variar em função de períodos dos anos, como se observa as marcantes diferenças no período de janeiro a março e julho entre os dois anos e, no entanto, a semelhança de necessidade de controle químico, sugerida pelas emissões de receitas nos meses de julho a novembro nos anos avaliados (gráfico1). Essas diferenças podem ser relacionadas a diferentes fatores como clima, pois a praga é favorecida por altas temperaturas, períodos longos de estiagem, (SOUZA et al., 1998) ocorrência de predadores e parasitoides (GALLO et al., 2002) e desequilíbrios causados por fungicidas e inseticida (CONCEIÇÃO, 2005). Conclusão Entre as pragas que tiveram maior incidência de receitas e uma maior intervenção química para o controle o Bicho-mineiro (Leucoptera coffeella): teve vários produtos usados para seu controle sendo o cipermetrina 25%, clorpirifos 48%, triazofos 40% e lambdacyhalothrin. Referências ARAÚJO A. C. P.; NOGUEIRA, D. P.; AUGUSTO L. G. S.; Impacto dos praguicidas na saúde: estudo da cultura de tomate. Revista de Saúde Pública, v. 34, p. 309 313. 2000. CONCEIÇÃO, C. H. C. Biologia, Dano e Controle do Bicho-mineiro em Cultivares de Café Arábica., 86 fls. : 30 il. Campinas, SP, 2005 DHALIWAL, G. S.; OPENDER K.; ARORA, R. Integrated Pest Management: Retrospect and Prospect. In: KOUL, O.; DHALIWAL, G. S.; CUPERUS, G. W. (Eds.). Integrated pest management potential, constraints and challenges. CABI Publishing. p. 123-145, 336 p, 2004. GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; PARRA J. R. P.; ZUCCHI, R. A; ALVES, S. B.; VENDRAMIM, J. D.; MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R. S.; OMOTO, C. Manual de Entomologia Agrícola. 3. ed. Piracicaba: FEALQ, 920 p. 2002. GASPAROTTO, l.; PEREIRA, J.C.R. Manuseio de Defensivos Agrícolas. Documentos, 11. Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental, 24P 2000. JÚNIOR, A. J. C; CHANDOHA, E. C. Manual de orientação sobre receituário agronômico, uso e comércio de agrotóxicos: uso e comércio de agrotóxicos. 56 p. Curitiba, 2010. MANZONI, C. G.; GRÜTZMACHER, A. D.; GIOLO, F. P.; LIMA, C. A. B.; NÖRNBERG, S. D.; MÜLLER, C.; HÄRTER, W. R. Susceptibilidade de adultos de Trichogramma pretiosum Riley (Hymenoptera: Trichogrammatidae) a fungicidas utilizados no controle de doenças da macieira. Neotropical Entomology, Londrina, v. 35, n. 2, 2006. MARCOLAN, A. L.; RAMALHO, A. R.; MENDES, Â. M.; TEIXEIRA, C.A. D.; FERNANDES, C. de F.; COSTA, J. N. M.; VIEIRA JÚNIOR, J. R.; OLIVEIRA, S. J. de M.; FERNANDES, S R.; VENEZIANO, W. Cultivo dos Cafeeiros Conilon e Robusta para Rondônia /. 3. ed. rev. atual. Porto Velho: Embrapa Rondônia: EMATER-RO, 2009. MOREIRA, C. F.; Sustentabilidade de sistemas de produção de café sombreado orgânico e convencional. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo. Piracicaba. 2009. 38 REIS, P. R.; SOUZA, J. C. de. Manejo integrado das pragas do cafeeiro em Minas Gerais. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.19, n. 193, p.17-25, 1998. 4
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