Mariazinha em África: novos horizontes da literatura colonial

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Transcrição:

[ Mariazinha em África: novos horizontes da literatura colonial Palavras-chave: Fernanda de Castro Mariazinha em África Literatura Colonial Guiné-Bissau Ana Isabel Evaristo Universidade de Aveiro, Portugal ana.evaristo@ua.pt

Esquema da apresentação: 1. Enquadramento histórico, literário e cultural Mariazinha em África: novos horizontes da literatura colonial 2.Fernanda de Castro: vida e obra 4. Reflexões finais 3. Breve análise da obra

1. Enquadramento histórico, literário e cultural Império Colonial Português ( séc. XV/XVI): temporalmente pioneiro/ espacialmente único/efémero Congresso de Berlim (1884-85) Mapa cor-de-rosa Ultimatum de 1980 5 de Outubro de 1910

1. Enquadramento histórico, literário e cultural (I) Crises do regime republicano e participação de Portugal na Primeira Grande Guerra Golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 Implantação da Ditadura Militar Estado Novo (41 anos: 1933-1974) António de Oliveira Salazar

2. Fernanda de Castro: vida e obra Embora 9 de Dezembro tenha ficado registado como a sua data de nascimento oficial, Para a família, porém, para os amigos, para a festinha de anos, para as prendas, para o arroz-doce e leite-creme polvilhados de canela, nasci a 8, e assim tem sido sempre, e assim será até ao fim (Castro, 1986: 7). Poetisa, dramaturga, romancista, tradutora, compositora, benemérita, embaixatriz, decoradora e empresária. Foi casada com António Ferro - diretor do Secretariado da Propaganda Nacional de Salazar, mais tarde denominado SNI (Secretariado Nacional da Informação). Publicou 14 livros de poesia, 5 romances, 2 peças de teatro, 7 livros para crianças, 2 volumes de memórias,1 livro de epístolas, 1 livro de introdução à Botânica, 1 livro de receitas, num total de 33 obras. Traduziu ainda 11 obras importantes. Editou também uma revista intitulada Bem Viver, fundou e dirigiu a Associação dos Parques Infantis. Colaborou com o marido na organização de alguns dos grandes eventos culturais e artísticos do Estado Novo. Em 1945, recebeu o Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências, com o qual foi a primeira mulher galardoada, com o romance Maria da Lua; Prémio Nacional de Poesia, em 1969 e, em 1990, o Grande Prémio de Literatura para Crianças da Fundação Calouste Gulbenkian. Uma fonte de inspiração para qualquer ser humano, em qualquer período de tempo ou espaço. No dia em que nasci os meus pais discutiram por minha causa (Castro, 1986: 7).

3. Breve análise da obra (I) Mariazinha em Africa (1925) é considerada uma das primeiras obras que, sem hesitação, consideramos de Literatura Colonial, pois possuem a particularidade de evidenciar as atitudes do Estado Novo perante as colónias (Amado, 1990: 7). Resumo: Mariazinha em África conta a história de uma menina de cabelos pretos, corajosa e aventureira que viaja com a mãe e o irmão mais novo, Afonso, para África Bolama (Guiné- Bissau), para junto do pai, que sendo oficial da Marinha, vivia lá em comissão do Governo. Esta é uma narrativa do quotidiano, que relata as aventuras e desventuras da personagem principal, Mariazinha, em terras de África e que marca pela diferença, não só pelo tom de exotismo, mas também pela mistura de ternura com malícia, presente ao longo de todo o livro (cf. Rocha, 1984: 62).

3. Breve análise da obra(ii) A narrativa está organizada em treze capítulos: Capítulo I: A Partida de Mariazinha, da mãe e do irmão mais novo, Afonso, deixando em Portugal o resto da família, a casa e os amigos. Capítulo II: decorre a A Viagem. Mariazinha viu os peixes voadores. Chegada a Bolama. Mariazinha fica fascinada com aquele mundo novo, onde os pretinhos mergulham no mar e regressavam à superfície com moedas de ouro nos dentes (Castro, 1973: 31). Capítulo III: Terras de África - Reencontro de Mariazinha, da mãe e do irmão mais novo com o pai. Mariazinha fica encantada com a casa e principalmente com o seu quarto e com os cinco criados negros (Lanhano, Adolfo, Undôko, Mamadi, Vicente e Oloto). Capítulo IV: A festa dos Mancanhas Capítulo V: O Tornado

3. Breve análise da obra (III) Capítulo VI: Um passeio no mato - Viagem para Bissau, o acidente de carro; a fome, a sede e a espera para serem salvos. Foi um preto forte e corajoso que os salvou. Capítulo VII: A Caçada Capítulo VIII: O Jardim Zoológico de Mariazinha - O aniversário de Mariazinha, no qual ela aumenta a sua coleção de animais exóticos, constituindo uma espécie de jardim zoológico caseiro. Capítulo IX: A chegada da Canhoeira Capítulo X: A ida a Buba, sendo relatadas algumas tradições africanas, como os batuques e os cavaleiros. Capítulo XI: O Príncipe Mamadú, que resolve pedir Mariazinha em casamento. Capítulo XII: Últimos dias em África Capítulo XIII: O Regresso - À falta de medicamentos e com a ameaça da febre-amarela, toda a família de Mariazinha e do Governador e até o cozinheiro Vicente regressam subitamente à Metrópole, a Lisboa.

4. Reflexões finais Os seus livros «Mariazinha em África» e novas «Aventuras de Mariazinha» fizeram as delícias de uma geração, mas depois foram considerados «colonialistas». Os livros de Fernanda de Castro marcaram as gerações mais novas daquela época, permitindo-lhes abrir novas perspetivas e horizontes. Foram também um marco importantíssimo na história da literatura infantil e acima de tudo, na literatura colonial. ÚLTIMAS NOTÍCIAS DA FUNDAÇÃO: Lembrando Fernanda de Castro, 20 anos depois da sua morte, foi selecionada a categoria Literatura Infanto-juvenil para o Prémio António Quadros 2014.