Ocorrência de Fusarium sp. causando mortalidade de mudas de erva-mate em viveiro na região do Alto Vale do Taquari RS 1 Igor Poletto 1 ; Denise Ester Ceconi 2 ; Marlove Fátima Brião Muniz 3 1 Acadêmico do Curso de Engenharia Florestal UFSM, igorpoletto@mail.ufsm.br. 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo DCS UFSM, dceconi@mail.ufsm.br. 3 Profa. Dra. do Departamento de Defesa Fitossanitária DDF UFSM, marlove@smail.ufsm.br. RESUMO Doenças são comuns em viveiros florestais, geralmente por se tratar de ambiente úmido e quente. Os fungos são os principais antagonistas do problema. Em viveiros produtores de mudas de Ervamate da região alta do Vale do Taquari, foram constatados mortalidade de mudas produzidas em sacos plásticos. As mudas mesmo vigorosas murcham repentinamente e morrem. Amostras foram coletadas e enviadas ao Laboratório de Fitopatologia Florestal da UFSM. No laboratório foram colocados em câmara úmida por cerca de quatro dias. Estruturas formadas por micélio e conídios se formaram em todas as partes da muda, e analisadas em microscópio constatou-se a presença do fungo Fusarium. Para a identificação das espécies foi usada a metodologia descrita por Ventura (2000). Foram identificadas quatro espécies: Fusarium avenaceum, F. semitectum, F. sporotrichioides e F. merismoides. Palavras-chave: Fusarium, Erva-mate, podridão de raízes, viveiro. ABSTRACT Diseases are common in forest nurseries, usually for treating of humid and hot atmosphere. The mushrooms are the main antagonists of the problem. In nurseries producing of seedlings of maté of the high area of the valley of Taquari, they were verified mortality of seedlings produced in plastic sacks. The seedlings even vigorous they wither suddenly and they die. Samples were collected and correspondents to the Laboratory of Forest Fitopatologia of UFSM. In the laboratory they were put in humid camera for about four days. Structures formed by micélio and conídios were formed everywhere of the seedling, and analyzed in microscope the presence of the mushroom Fusarium was verified. For the identification of the species the methodology was used described by Ventura (2000). They were identified four species: Fusarium avenaceum, F. semitectum, F. sporotrichioides and F. merismoides. Key-word: Fusarium, maté, rottenness of roots, nursery. 1. INTRODUÇÃO A região alta do Vale do Taquari é uma região essencialmente agrícola e entre as principais culturas destaca-se a da Erva-mate, contribuindo fortemente na economia dos municípios da região. Nesta também destaca-se os viveiros florestais que se encontram espalhados entre os municípios, concentrados principalmente no município de Anta Gorda. Por se tratar de um ambiente geralmente quente e úmido o viveiro proporciona um ambiente favorável ao desenvolvimento de doenças, principalmente causadas por fungos. Carneiro (1972) apud Carneiro (1995), afirma que os fungos que mais provocam doenças em viveiros são dos gêneros, Phytophthora spp., Pythium spp., Fusarium spp.,
Cylindrocladium spp. Diplodia spp., Botrytis spp., Trichoderma spp., Fomes spp., entre outros. Para Grigoletti, et al. (1997) e Andrade (1999), Fusarium sp., Rhizoctonia sp. e Pythium sp. são os principais gêneros de fungos associados a podridão de raízes de ervamate em sementeiras ou em mudas já transplantadas nas embalagens. Nas sementeiras, os sintomas ocorrem em reboleiras ou em plântulas esparsas. Em mudas já transplantadas, podem ocorrer em algumas embalagens e, ambos os casos, estão relacionados ao excesso de umidade. Os principais sintomas da parte aérea são a redução do crescimento, a queima e a seca das folhas que iniciam a partir da extremidade do limbo. No sistema radicular, observa-se um crescimento reduzido com escurecimento e apodrecimento das raízes. O apodrecimento de raízes assume vários aspectos. Uma das mais comuns é a podridão negra (Carneiro, 1995). Segundo Hodges (1975), esta doença é bastante frequente em viveiros de Pinus spp. Os sintomas iniciam com um espessamento muito leve das extremidades das raízes pivotantes, assim como as laterais e com um enegrecimento generalizado. Ao final da evolução da infecção, quase todas as raízes estão escuras e mortas. Doenças de podridão radicular são observados também em espécies como o Pinus sp. cultivadas no Brasil. Segundo Krugner (1980) os principais patógenos são Cilindrocladium clavatum e Fusarium spp. A doença ataca viveiros de mudas causando morte das mesmas por destruição total do sistema radicular e se estas mudas forem levadas a campo estando infectadas pela doença, podem ser atacadas ainda com maior severidade. Os fungos afetam raízes tenras, ainda sem desenvolvimento secundário, causando degeneração de seus tecidos. Em raízes mais desenvolvidas, estes patógenos atacam primeiramente a região da casca e neste caso, inicialmente, aparecem lesões escuras, correspondentes às áreas necróticas. A doença pode evoluir até afetar todo o sistema radicular e matar a muda. Grigoletti (2001), descreveu pela primeira vez no estado do Paraná a doença da Podridão-deraízes da Erva-mate em plantas adultas a campo. A doença apresenta sintomas de amarelecimento e perda das folhas, apodrecimento das raízes, estagnação do crescimento e em estados mais avançados morte da planta, causada pelo fungo Fusarium sp. Provavelmente a doença teria origem em mudas já contaminadas em viveiro, já que a doença aparecia em ervais mais jovens. Até então, não se tinham informações sobre qual ou quais espécies do fungo estariam envolvidas na doença. Este trabalho teve por objetivo identificar o agente causador, em nível de espécie, de uma nova doença constatada em viveiro de mudas de Erva-mate. 2. MATERIAL E MÉTODOS2 Mudas mortas e com sintomas da doença foram arrancadas cuidando para coletar todo o sistema radicular, embaladas em sacos plásticos devidamente identificados e levados ao Laboratório de Fitopatologia Florestal da Universidade Federal de Santa Maria. No laboratório, as amostras foram lavadas em água corrente, desinfetadas com hipoclorito de sódio a 1 % e lavadas duas vezes em água destilada esterilizada. Após, foram transferidas para caixas gerbox, colocadas em câmara úmida, incubadas a 25º C e mantidas sob fotoperíodo de 12 horas. Aos quatro dias, foram examinadas com auxílio de microscópio estereoscópico.
Porções do micélio desenvolvido foram transferidas com auxílio de uma agulha para placas de Petri contendo o meio de cultura batata-dextrose-ágar (BDA) e incubadas a 25 C sob fotoperíodo de 12 horas. Cada colônia de fungo desenvolvida em BDA foi purificada conforme a técnica de cultura monospórica descrita por Fernandes (1993).3 Seguindo a metodologia descrita por Ventura (2000), esporos de cada colônia purificada foram transferidos para três placas de Petri com meio de cultura BDA e incubadas a 25º C com fotoperíodo de 12 horas. Após 72 horas, foram medidos os diâmetros das colônias desenvolvidas. Porções destas colônias também foram transferidas para placas de Petri com meio de cultura agar-água (AA) e folhas de cravo (FCA). Depois de dez dias, algumas folhas de cravo foram transferidas para lâminas e analisadas em microscópio óptico, bem como diretamente nas placas. A identificação das espécies de Fusarium foi feita seguindo a chave de classificação proposta por Ventura (2000) e descrições feitas por Gerlach et al., (1982). 3. RESULTADOS E DISCUÇÃO 3.1. Sintomatologia As mudas com sintomas apresentam somente murcha repentina, na parte aérea, e em poucos dias após o aparecimento da murcha, a muda morre. Antes de aparecer o sintoma cresce normalmente com aparência bem vigorosa. O sistema radicular apresenta-se bem desenvolvido, porém, escuro e com os tecidos necrosados. Em câmara úmida desenvolveu-se estruturas de micélio e conídios em todas as partes da muda, principalmente nas raízes. Nos cortes transversais do talo ou na região de inserção da folha no talo desenvolveu micélio, o que comprova a penetração do fungo nos tecidos internos da muda. 3.2. Análise laboratorial Pedaços do micélio desenvolvido em câmara úmida foram colocadas em lâmina microscópica e examinado. Foram contatados a presença de conídios fusiformes com número de células variável de 3 a 6. Com o uso da metodologia descrita anteriormente foram identificadas quatro diferentes espécies do gênero Fusarium: F. avenaceum, F. semitectum, F. sporotrichioides e F.merismoides. Colônias puras de F. avenaceum (Fr.) Sacc. cultivadas em BDA tiveram um crescimento anelar, média de 5,0 cm de diâmetro após 72 horas incubadas a 25º C. e fotoperíodo de 12 h. A coloração das colônias variou de vermelho-pink a rosa escuro e anéis amarelados com micélio aéreo esbranquiçado. Outras culturas em meio FCA analisadas ao microscópio óptico observou-se formação de macroconídios em monofiálides ou esporodóquios ramificados em esporodóquios. Macroconídios curvos, longos, célula apical alongada e basal distintamente pediforme com 3 a 7 septos. Raramente a presença de clamidósporos. Colônias de F. semitectum Berk. & Rav. cultivadas em BDA tiveram um crescimento médio de 4,0 cm de diâmetro após 72 horas incubadas a 25º C. e fotoperíodo
de 12 h. A coloração das colônias variou de esbranquiçado a amarelo-alaranjado. Outras culturas em meio FCA analisadas ao microscópio óptico observou-se formação de macroconídios formados em micélio aéreo em conidióforos frouxamente ramificados formados geralmente aos pares em polifiálides.macroconídios curvos, geralmente grossos no meio e afinando em direção às pontas, curvados, célula apical distintamente curva, célula basal cônica, chanfrada ou pedicelada, com 4 a 7 septos. Raramente a presença de clamidósporos, globosos e intercalares ou solitários. Presença de micélio aéreo flocoso geralmente abundante de coloração esbranquiçada. F. sporotrichioides Sherb. teve colônia desenvolvida em BDA com crescimento médio de 3,7 cm de diâmetro e coloração cinza-rosada. Culturas em FCA analisadas ao microscópio óptico observou-se a formação de microconídios ovais, napiformes a periformes, geralmente com uma célula ou até 3, produzidos em falsas cabeças ou isolados em polifiálides. Macroconídios falcatos, principalmente ligeiramente curvos, mais grossos no meio e se afilando para as pontas, célula apical curta e ligeiramente curva e basal distintamente em forma de pé. Clamidósporos globosos, formados nas hifas, intercalares ou terminais. Micélio aéreo, lanoso de pigmentação esbranquiçada. F. merismoides (Corda) teve colônia desenvolvida em BDA com crescimento médio de 2,7 cm de diâmetro e coloração creme-amarelada a levemente rosada ao centro. Micélio aéreo esbranquiçado e, a medida que a colônia cresce parece que esse micélio desmorona do centro para a borda dando um aspecto gelatinoso. A área central parece estar cercada por uma região enrugada de coloração levemente rosa. Culturas em FCA analisadas ao microscópio óptico observou-se a não formação de microconídios. Macroconídios grossos e curtos, ligeiramente curvos, geralmente com 3 a 4 septos, célula apical ligeiramente curva sem formato de pé ou chanfrada. Clamidósporos formados isolados, intercalares, em pares ou em cadeias. Para Edel, et. al., (1997), o Fusarium é um importante componente da microflora em todo o mundo. A enorme quantidade de espécies de um mesmo gênero nos dá a imensidão de diferentes habitats e em que pode sobreviver. Dentro de cada espécie de Fusarium pode haver ainda uma subdivisão ou formae speciales patogênicas ou não-patogênicas, ambas abrigadas em solos naturais ou cultivados onde podem permanecer por longo tempo sob a forma saprofítica sobrevivendo no material orgânico do solo. Estas espécies encontradas não são conhecidas na literatura como causadores de podridão de raízes, nem em culturas agrícolas, nem em florestais. O fato de estarem presentes no substrato deve-se provavelmente pelo fato que o Fusarium é um componente natural do solo, podendo sobreviver por anos em meio a matéria orgânica na forma saprofítica. O ambiente úmido e quente do viveiro pode ter proporcionado um ambiente favorável para o desenvolvimento de suas estruturas, passando a ser patogênico à Ervamate. O fato de que os viveiristas geralmente usam como substrato solo do horizonte A coletado em meio à mata natural, portanto, com muita matéria orgânica, reforça a possibilidade das espécies serem habitantes naturais do solo.
4. CONCLUSÃO4 Como constatou-se somente a presença do fungo do gênero Fusarium nas amostras coletadas e que este estava presente em todas as partes da muda inclusive nos tecidos internos, pode-se dizer que o agente causal desta doença seja este fungo. Para se ter certeza se as quatro espécies encontradas são patogênicas, ou então, apenas uma delas, é necessário que se faça testes de patogenicidade para cada espécie, inoculadas em mudas sadias, para que se avalie os sintomas. Além de causar prejuízos em viveiro o Fusarium sp. poderá causar sérios prejuízos em ervais, pois mudas contaminadas em viveiro poderão ser transplantadas à campo, inclusive contaminando ervais já existentes. A constatação desta doença em viveiro é de fundamental importância para que sejam adotadas técnicas silviculturais de tratamento e controle da doença em mudas evitando prejuízos a viveiristas e agricultores dependentes da cultura da Erva-mate. Ainda não se tem informações da quantidade de viveiros contaminados e também não foram quantificados os prejuízos causados por esta doença e, que isso, poderá ser objeto de um novo estudo mais amplo abrangendo todos os viveiros da região. 5. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA5 ANDRADE, F. M., Diagnóstico da cadeia produtiva da (Ilex paraguariensis) erva-mate. Capturado em <http: www.unicamp.br/>, em dezembro de 1999. CARNEIRO, J. G. de A.; Produção e qualidade de mudas florestais - Curitiba: UFPR/FUPEF; Campos: UNEF, 1995. 451p. EDEL, V.; STEINBERG, C.; GAUTHERON, N.; ALABOUVETTE, C. Populations of Nonpathogenic Fusarium oxysporum Associated with Roots of Four Plant Species Compared to Soilborne Populations. Phytopathology, 84 : 693-697p, 1997. FERNANDES, M.R. Manual para laboratório de fitopatologia. Passo Fundo RS: EMATER CNPT, 1993. 128p. GERLACH, W. & NIRENBERG, H. The Genus Fusarium a Pictorial Atlas. Biologische Bundesanstald für Landund. Institut für Mikrobiologie, Berlin-Dahlem. 1982. 406p. GRIGOLETTI, J.A.; AUER, C.G.; Podridão de raízes em erva-mate (Ilex paraguariensis) causada por Fusarium sp. Fitopatologia Brasileira, Vol. 26 suplemento, 2001. 572p. GRIGOLETTI, J.A.; FIGUEREDO, A.D.S.; AUER, C.G.; Doenças da erva-mate no Brasil. In anais: I Congresso Sul-americano da erva-mate, II Reunião técnica do Cone Sul sobre a cultura da erva mate. Curitiba - PR - Brasil, 1997, 464p. HODGES, C.S. Black root rot of Pine. Agriculture Handbook, Washington, D.C.: USDA, For. Serv., p.14-16, 1975. KRUGNER, T. L.; Doença do Pinus spp. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, A. et al. Manual de Fitopatologia: Doenças das plantas cultivadas. Vol. 2. São Paulo, Agronômica CERES LTDA, 1980. 587p.
VENTURA J.A.; Taxonomia de Fusarium e seus segredos. Parte II Chaves para identificação. In:FERNANDES, J.M.; PRESTES, A.M.; PICININI, E.C. Revisão anual de patologia de plantas. Ed. LUZ, W.C., Vol. 8, 2000. 409p. FOTOS ANEXAS AO TRABALHO