USO DO SONAR DE VARREDURA LATERAL NA AVALIAÇÃO DE UMA ÁREA DE MINERAÇÃO DE AREIA NO RIO JACUI - RS.



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Transcrição:

USO DO SONAR DE VARREDURA LATERAL NA AVALIAÇÃO DE UMA ÁREA DE MINERAÇÃO DE AREIA NO RIO JACUI - RS. Luiz A. S. Bulla¹, Rosa P. da Cunha¹, Gilberto H. Griep² & Carlos Hartmann² ¹CTI-FURG, PPGOFQG-FURG luizbulla@furg.br e rosa.piccoli@gmail.com ² LOG-DGEO-FURG - ggriep@log.furg.br ³DGEO-FURG, PPGOFQG-FURG - dgecaco@furg.br RESUMO O Sonar de Varredura Lateral (Side Scan Sonar) é um equipamento utilizado para obtenção de imagens de regiões submersas, podendo ser empregado para a localização de estruturas naturais (estruturas geológicas, formações sedimentares, canais, identificação do tipo de fundo, etc) e artificiais (barcos naufragados, canais resultante de dragagens, estruturas portuárias submersas, enrocamentos, etc.). O trabalho foi desenvolvido nos dias 24 e 25 de fevereiro deste ano, numa extensão de aproximadamente 20 km, dentro de uma área de mineração de areia, sob concessão da empresa SOMAR. Foram gerados uma série de arquivos de imagens digitalizadas, as quais possibilitaram identificar as cicatrizes no leito do rio, resultantes do processo de dragagem, localizar embarcações naufragadas e localização da linha de margem do rio de forma contínua. Além disso, foi possível também identificar o lançamento de água quente proveniente de uma usina termoelétrica localizada nas margens do rio. Os resultados, ainda que preliminares, são interessantes pois propiciam uma nova alternativa de monitoramento e gerenciamento de áreas de dragagem em rios e canais. PALAVRAS CHAVE: mineração, areia, rio Jacui, side scan sonar, mapeamento. 1. INTRODUÇÃO O Rio Jacuí é o mais importante curso d água do Estado. Tem sua nascente no Planalto Sul-riograndense, no município de Passo Fundo, onde se estende por diversos municípios adjacentes até atingir a sua foz junto ao complexo do Guaíba e a Laguna dos Patos. Devido à importância social e econômica para o Estado Gaúcho, ligadas ao transporte para abastecimento, geração de energia e de problemas com as cheias e estiagens, o rio Jacuí tem atraído grande interesse de autoridades governamentais, instituições, pesquisadores e ecologistas dos mais diversos setores da região e do país. Por outro lado, tem sido muito utilizado para a extração de areia, lançamento de despejos urbanos e oriundos das lavouras da sua bacia de drenagem, além de outros problemas relacionados com transporte de poluentes naturais e artificiais para o Guaíba e a Laguna dos Patos. A indústria da construção civil é o segmento que comporta o maior número de empresas e trabalhadores e a única a existir em todos os Estados, junto aos principais centros urbanos. Consome grande quantidade de areia, um bem mineral que, abundante em outras épocas, hoje está tornando-se escasso próximo dos grandes centros, ROSA [2003]. Com relação à produção de areia em leito de rios, deve ser destacado que nos últimos anos, estabeleceu-se uma tendência de substituição das dragas fixas (Beaver) por dragas auto-carregáveis e propelidas (Hoper), que proporcionam melhor aproveitamento da jazida, menores custos de produção para grandes distâncias de dragagem e menores áreas de

pátio de descarga, as quais apesar das vantagens, trazem outros problemas ao meio ambiente, como o aumento da profundidade e solapamento das margens. Em 1984, a Sociedade Mineradora Arroio dos Ratos Ltda SOMAR, iniciou suas atividades de lavra de areia quartzosa no rio Jacuí. As 14 áreas concedidas pelo Ministério das Minas e Energia, estão situadas nas imediações da cidade de Charqueadas, conforme relatório técnico do Plano de Controle Ambiental PCA realizado pela HAR Eng. e Meio Ambiente Ltda. 1.1 Métodos de Estudo em Áreas Submersas A investigação de áreas submersas necessita de equipamentos apropriados bem como a explotação dos recursos naturais. Este procedimento pode ser feito de forma direta e indireta. A forma indireta é a que faz uso de métodos geofísicos sem contato e a direta a que utiliza de equipamentos em contato direto com o fundo. Métodos geofísicos de águas rasas ou profundas são utilizados para obter informações das estruturas das camadas sedimentares e sondagens através de ecobatímetros de baixa e alta freqüência para avaliar a profundidade do corpo d água e reconhecer a textura dos materiais que compõe a superfície de fundo do mesmo. Basicamente toda a pesquisa aquática requer um meio flutuante e os métodos e técnicas utilizadas em áreas emersas tem que ser adaptadas para serem utilizadas num sistema aquático, VIDAL et al [2005]. Normalmente, pesquisas em áreas submersas têm um custo mais elevado em função do uso e manutenção dos equipamentos utilizados em detrimento das realizadas em áreas emersas. Em geral a amostragem geológica só é efetuada após a aplicação de algum método indireto. Pesquisas em águas rasas tendem a ser mais detalhadas, devido à ampla variação de feições, tipos e distribuição de sedimentos. A sísmica fornece informações sobre a estrutura das camadas sedimentares abaixo do fundo, enquanto a sonografia permite observar as características morfológicas e sedimentológicas do fundo dos corpos d água. 1.1.1 O emprego do Sonar de Varredura Lateral - SVL O SVL tem sido muito utilizado em todo o mundo em pesquisas marinhas para o reconhecimento do tipo de fundo, como o realizado por QUARESMA et al [2000] na caracterização da ocorrência de padrões geológicos na porção sul da Baía de Guanabara RJ. Os autores concluíram que existem quatro tipos de ecocaráteres: o tipo 1A, onde não ocorre penetração do sinal acústico e está relacionado a um fundo arenoso e a um padrão de reflexão do sonar homogêneo cinza claro com sand wave e mega-ripples; o tipo 2A, onde é observada a penetração do sinal com refletores do embasamento acústico e um fundo predominantemente lamoso com alto teor de areia fina a muito fina e padrão homogêneo cinza claro de sonar; o tipo 2B, com penetração do sinal com refletores sendo observados junto a um fundo predominantemente arenoso, com alto teor de lama e padrões de sonar homogêneos cinza escuros; e o último ecocaráter observado, o tipo 3, com penetração do sinal com uma série de refletores múltiplos, observando-se um fundo lamoso com alto teor de areia fina a muito fina e reflexão homogênea cinza escuro nos sonogramas. GUEDES [2002] dentro do programa PRH/ANP da Universidade Federal de RN

utilizou ecossondas (ecobatímetro e sonar de varredura lateral) para monitorar a morfologia de fundo da área de influência dos dutos (gás e óleo) do pólo de Guamaré (RN). FONSECA [1996] utilizou o sonar de varredura lateral Sys09 da Seafloor Survey International, contratada da PETROBRAS, que operou o equipamento de dezembro de 1994 a março de 1995, na Bacia de Campos, RJ, realizando correções radiométricas dos dados sonográficos. A análise e a interpretação dos dados permitiram um conhecimento mais detalhado do fundo oceânico e maior segurança na instalação de equipamentos de produção e escoamento de petróleo. Segundo FISH [1990] os Sonares de Varredura Lateral (SOunding NAvigation and RAnging) são sistemas ativos de sensoriamento remoto, que emitem e registram ondas acústicas para produzir imagens (registros sonográficos) do fundo oceânico. Estes registros contêm medidas da energia acústica que retorna para o transdutor eletroacústico. A geometria da aquisição de dados sonográficos possui muitas semelhanças com os dados de radar de visada lateral. CALLIARI & ABREU [1984] destacam que mesmo em áreas de características bastante homogêneas, os resultados obtidos mostram o potencial do Sonar de Varredura Lateral como método complementar no mapeamento da cobertura sedimentar. 1.1.2 Localização da área A área de concessão para extração de areia quartzosa abrangem os municípios de São Jerônimo, Eldorado do Sul e Charqueadas, distando de Porto Alegre em torno de 50 km (via terrestre). O transporte da areia extraída até Porto Alegre, principal centro consumidor, é feito principalmente pelo sistema hidroviário, HAR [1994]. Figura 1 Localização do rio Jacuí no Estado RS e da área de estudo.

1.2 Atividade de Mineração A atividade de extração e beneficiamento de minérios, sejam eles metálicos, ou com aplicação direta na construção civil, é classificada como potencialmente poluidora, sendo necessário, portanto, o licenciamento ambiental para estas atividades. Como parte do processo, a prioridade sobre a extração mineral de determinada área deve ser requerida junto à autarquia competente que é o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Atualmente no Estado do Rio Grande do Sul, o licenciamento ambiental, em qualquer uma das etapas (Licença Prévia, Licença de Instalação e Licença de Operação) para estas atividades, é de competência da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM). Em qualquer uma dessas etapas, o processo deve ser elaborado e acompanhado por profissionais legalmente habilitados e com competência de atuação nas suas áreas, comprovadas através de anotação de responsabilidade técnica (ART). A legislação ambiental brasileira é uma das mais modernas e rigorosas do mundo, tendo destaque neste contexto o estado do Rio Grande do Sul. Para algumas atividades classificadas como sendo de impacto local, o município poderá fazer o licenciamento ambiental. No entanto, é necessário a formalização de um acordo neste sentido junto à FEPAM e contar com uma equipe técnica capaz de analisar os processos encaminhados. A atividade minerária conduzida, via de regra, sem nenhum planejamento, tem ocasionado intensa degradação ambiental nas várzeas dos rios, comprometendo seu uso futuro, dada à proximidade com áreas urbanas já consolidadas e em expansão. A análise realizada pretende fornecer elementos para que o poder público municipal ou as entidades responsáveis procedam ao ordenamento da mineração, garantindo condições de desenvolvimento da atividade mineral, junto com outros setores econômicos e demais formas de uso e ocupação do solo. Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral, a mineração em leitos de rios (canais) é responsável por 90% da produção brasileira de areia. Os 10% restantes são obtidos pela lavra em planícies de inundação, depósitos lacustres e em horizontes de rochas alteradas. Existem aproximadamente duas mil (2.000) empresas atuando no setor, com caráter predominantemente familiar e de pequeno porte, gerando cerca de quarenta e cinco mil (45.000) empregos diretos. Destas empresas 60% produzem menos de seis mil (6.000) metros cúbicos por mês, 35% produzem entre seis mil (6.000) e quinze mil (15.00) metros cúbicos por mês e 5% produzem mais de quinze mil (15.000) metros cúbicos por mês. 1.2.1 Areia: produção e consumo A produção de areia para construção civil, até o presente, vem atendendo satisfatoriamente a demanda nacional. Entretanto, a disponibilidade desse recurso, especialmente quando localizado dentro ou no entorno dos grandes aglomerados urbanos do país vem declinando dia a dia, em virtude de inadequado planejamento, problemas ambientais, zoneamentos restritivos e usos competitivos do solo.

A possibilidade de exploração deste recurso está sendo limitada cada vez mais, tornando-se aleatórias as perspectivas de garantia de suprimento futuro. Até o presente, o preço relativamente baixo deste insumo foi possível devido ao fácil acesso às reservas e de pequenas a moderadas distâncias de transporte. Mas as restrições aumentam com o passar do tempo, seja para a obtenção de novas licenças, seja para garantir a atividade das minerações existentes. Em suma, é bem notado o paradoxo existente, ou seja, a sociedade criando uma demanda cada vez maior de areia e, ao mesmo tempo, impedindo ou restringindo a produção. É fácil concluir que o papel do Estado (nas três esferas de governo) como mediador, através de um efetivo planejamento nas áreas críticas será fundamental para que a atividade possa continuar operando a custos baixos dentro de sua função de supridora dos insumos básicos para a indústria da construção civil. 2. MATERIAIS E MÉTODOS Uma embarcação de casco de alumínio semelhante à mostrada na Figura 1, com motor de popa YAMAHA de 100 HP, foi utilizada no trabalho para reboque do sonar. A facilidade de manobra, rapidez, pouco calado, o bom espaço interior e a potência do motor de popa, foram importantes nas observações realizadas. Nos três dias e meio de observações foram feitos registros de: batimetria, perfilador (ADCP), sonar de varredura lateral (Side Scan Sonar) e coletas de amostras de água. Neste trabalho somente os dados do sonar serão apresentados e discutidos. Doppler acústico de corrente Figura 1 - Vista da embarcação navegando e interior da mesma. 2.1 O Equipamento: Sonar de Varredura Lateral O manual do operador da Marine Sonic Technology Ltd, descreve o funcionamento do sonar de varredura lateral. É um equipamento utilizado para busca e detecção de objetos embaixo d'água, realizando uma varredura lateral através da transmissão e captação de sinais, também conhecido como pulsos ou eco. A geração de imagens através da varredura lateral é um método onde se utilizam feixes estreitos da energia acústica transmitidos pelo towfish (equipamento responsável pela

emissão dos sinais) ao ambiente submerso. O som é refletido ao se chocar com o fundo ou outros obstáculos encontrados no mesmo. A Figura 2 mostra a geometria de aquisição de dados do SVL. Figura 2:Geometria de aquisição de dados do SVL. A recepção destes pulsos chega até o Side Scan onde são processados, gerando logo após, as imagens com a topografia do fundo. Conforme a variação topográfica, os sinais interpretados vão sendo descritos em uma tela digital ou em papéis impressos nos modelos mais antigos deste tipo de equipamento. A escala da imagem é determinada pelo tempo que o towfish leva para receber o pulso refletido do fundo, transmitindo um novo pulso logo após. A imagem é gerada com base nessas variações de tempo entre um pulso e outro, onde os objetos rígidos refletem mais pulsos, gerando uma imagem escura, e os objetos flexíveis, como não refletem pulsos, acabam por gerarem imagens mais claras na tela. Como este tipo de equipamento trabalha com pulsos, se configura a freqüência a ser utilizada conforme a necessidade e tipo do local a ser mapeado, pois algumas freqüências trabalham melhor do que outras em determinados casos. Por exemplo: Altas freqüências tais como 500 khz a 1MHz, provêm excelente definição de imagem, mas atingem uma distância do barco até o fundo, muito inferior que as freqüências mais baixas como 50 khz ou 100 khz, que dão uma definição inferior, mas atingem grandes distâncias. O equipamento utilizado neste trabalho, da marca Marine Sonic Technology, pertence ao LOG/DGEO/FURG. Este equipamento é muito utilizado para a localização de estruturas naturais (estruturas geológicas, formações sedimentares, canais e identificação do tipo de fundo) e artificiais (barcos naufragados, canais resultado de dragagens, etc.). Os trabalhos foram realizados nos dias 24 e 25 de fevereiro deste ano, gerando uma série de arquivos. A sonda ou peixe no formato de um torpedo foi fixado na frente da embarcação, em suporte especialmente preparado para o lançamento de equipamentos. A Figura 3 mostra a sonda na água e o registro na tela do computador.

Figura 3 Sonda ou peixe fixado na proa da embarcação e exemplo de registro mostrado em tempo real. As feições salientes no fundo retornam num eco de maior intensidade e geram uma coloração escura no registro. Sombras e substratos inconsolidados (areia e lama) retornam um eco de menor intensidade, criando uma área mais clara no registro. 3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Licenciamento por Parte das Autoridades em Atividades de Mineração A liberação de área para mineração necessita de licenciamento da FEPAM, e a SOMAR através de contrato específico com entidades de pesquisa, solicita a execução de estudos anuais, normalmente em períodos de vazante e enchente do rio. Para isto são utilizados equipamentos e uma série de metodologias de campo e laboratório. Dados do Side Sacan Sonar estão sendo empregados pela primeira vez na área. 3.2 Granulometria do Fundo Em diferentes ocasiões foram feitas coletas de amostras de fundo para caracterizar o tipo de material depositado a fim de auxiliar no entendimento da dinâmica deposicional. Observou-se a predominância da classe granulométrica de AREIA MÉDIA a FINA. As amostras onde predominam sedimento fino localizam-se nas áreas de menor dinâmica, portanto, mais protegidas. Também restos de folhas e galhos são encontrados principalmente nas amostras localizadas próximas das margens, pelo seu aspecto escuro e em deterioração representa material depositado há algum tempo. 3.1.2. Morfodinâmica do fundo e ângulo de colapso das margens. Até o momento os resultados das sondagens com ecobatímetro foram utilizados para caracterizar a morfodinâmica do fundo e para avaliar o ângulo de colapso das margens, para caracterizar o gradiente. Esta análise foi feita calculando a inclinação dos taludes nas áreas onde foram feitas as sondagens (em 2000) durante período de vazante (Fig. 5). Considerando que a legislação admite a mineração até 15 metros da margem, o ângulo do talude formado nesta condição é superior ao ângulo resultante de uma dragagem localizada a 30 metros, adotada na mineração da área.desta forma, não influi no solapamento das

margens. Todas as sondagens ficaram distanciadas no máximo 3 metros da margem, permitindo identificar a morfologia do fundo e o ângulo do talude. Verifica-se, na grande maioria dos perfis, que esse ângulo não é superior a 30 graus em relação à linha d água. Entretanto, nos valores onde se observa ângulos maiores, as margens se encontram protegidas artificialmente (perfil P4D), e por proteção natural, vegetação na margem perfil P11D e P21D. Nos demais casos onde esta inclinação é superior a 30 graus, P15E, P16E e P17E, são devido ao próprio curso do rio, com maior competência e cuja margem está menos protegida, com uso do solo intensivo (agricultura). Logo, com inclinação superior a este valor (30 graus) e, com o aumento da profundidade, é possível haver colapso da margem nos períodos de alta vazão do rio, do fluxo principal, e dependente do tipo de proteção do fundo e das margens. Nesta área, a subida abrupta das águas (alta precipitação e ou abertura das comportas das represas a montante), são os principais responsáveis pelo solapamento da margem. Como a extração da areia ocorre distante no mínimo 30 metros das margens, a inclinação do talude não muda, não atingindo um ângulo crítico que possa causar solapamento das margens. Lo caliz ação d o s p erfis b atim étrico s e ângulo d e m ergulho d as m arg ens norm ais ao s p erfis. 59.53 6690000N 24.22 15 64.53 2.86 16 5.71 6688000N 21.80 01 8.53 8.53 02 69.32 14.03 03 8.53 48.99 2.86 05 34.99 24.22 04 06 48.99 8.53 8.53 07 2.86 16.69 08 5.71 51.34 09 28.81 16.69 10 19.29 30.96 1152.43 11.30 12 25.56 19.29 13 16.69 14 30.96 11.30 19 30.96 21.80 20 16.69 47.72 17 2.86 5.71 21 14.03 47.72 18 11.30 22 11.30 11.30 6686000N 6684000N 436000E 438000E 440000E 442000E 444000E 446000E 448000E 450000E 452000E 454000E 456000E XX XX.XX Número do Perfil Ângulo de Mergulho da Margem Coordenadas UTM - Datum de Referência Corrêgo Alegre Figura 5 - Localização das sondagens em 2000 e ângulo de mergulho das margens normais aos perfis. Fonte: relatório técnico SOMAR, 2000. 3.4 Análise de Imagens Os resultados foram muito interessantes porque permitem identificar várias feições ao longo do fundo do rio, barcos naufragados e também o lançamento de água quente da termoelétrica localizada na cidade de Charqueadas. O sonar transmite pulsos sonoros num feixe estreito. Estes pulsos são emitidos para os

dois lados do towfish (peixe) e retro-espalhados pelos materiais que constituem o fundo ou refletidos por objetos salientes acima do fundo ou na coluna d água. Estes objetos que refletem o som impedem que o mesmo atinja algumas partes do fundo submerso. Dependendo da posição do sonar com relação ao fundo e também da altura do alvo, tem-se como resultado uma zona de sombra acústica que aparecerá como área iluminada na imagem gravada. Estas sombras geralmente revelam mais detalhes do que a reflexão direta propriamente dita. Sombras de objetos feitos pelo homem apresentam diversas formas, enquanto que as sombras produzidas por feições naturais tendem a ser mais suaves. A sombra acústica de determinado alvo também deve mostrar se um objeto está localizado no fundo submerso ou na coluna d água. Além disso, o comprimento da sombra pode ser usado para calcular a altura aproximada de um alvo localizado acima das adjacências do fundo submerso. O software de visualização de imagens que acompanha o equipamento permite o processamento da imagem bruta com a aplicação de diversos filtros, a fim de acentuar os diferentes aspectos da imagem. De um modo geral, uma imagem boa é aquela que nos permite ver aquilo que realmente queremos ver. Dependendo do tipo de filtro utilizado, podese ver a imagem bruta de formas diferentes. A Figura 6 mostra no detalhe 1 uma embarcação com o fundo voltado para cima. As manchas mais claras representam ausência de material no contorno do fundo da mesma, representando zonas de sombra acústica. No detalhe 2, observa-se um padrão característico de fundo rochoso ou de sedimento consolidado. 2 1 Figura 6: Chata afundada e feições geológicas de fundo

A Figura 7 apresenta no detalhe 3 a margem do rio numa cor mais escura, exibindo um contorno contínuo e bem definido. O posicionamento exato da margem exibida nesta imagem não seria possível de ser obtido via GPS devido ao fato da mesma estar encoberta por árvores nativas. No detalhe 4 são mostradas algumas cicatrizes deixadas pelo processo de dragagem. 3 4 Figura 7: Detalhes da margem (3) e de marcas de dragagens (4) As imagens obtidas através do sonar de varredura lateral também podem identificar alvos localizados na coluna d água. Na Figura 8 nota-se perfeitamente a esteira deixada pelo movimento do élice do navio que passou naquele instante, como mostrado no detalhe (5). E no detalhe (6) é observada a pluma de água aquecida despejada no rio, proveniente de uma usina termoelétrica localizada às margens do rio. Quando o towfish passa muito próximo do obstáculo, acontece um fenômeno chamado de efeito espelho, ou seja, o sinal sonoro é tão intenso que é registrado pelo equipamento no lado oposto. Este fenômeno pode ser observado na imagem apresentada na figura 9. A seta indica a posição do pilar de uma ponte à esquerda do sonar. Nota-se a parte escurecida bem definida em ambos os lados, sendo que no lado direito o registro é de um falso pilar.

5 6 Figura 8: Esteira deixada por navio (5) e pluma de água quente (6) Figura 9: Representação do efeito espelho

Cicatrizes deixadas pelos processos de dragagem também podem ser vistas com maior intensidade em algumas imagens. A Figura 10 mostra claramente estas feições. Figura 10: Cicatrizes ocasionadas pelo processo de dragagem 4. CONCLUSÕES Até hoje, os relatórios exigidos pelos órgãos fiscalizadores para renovação de licença ambiental são feitos tendo como embasamento os levantamento ecobatimétricos e amostragens sedimentológicas do fundo do rio. Com a utilização do sonar de varredura lateral, passou-se a ter o imageamento detalhado do fundo do rio, bem como de suas margens. Apesar deste trabalho ter sido realizado de forma preliminar e basicamente servir de teste, os resultados foram encorajadores e novos trabalhos serão realizados na área. Uma análise superficial das imagens, inéditas na área, permitindo uma visão diferenciada do fundo, possibilitando identificar de forma imediata de barcaças naufragadas, bem como forneceram uma série de informações nunca antes imaginadas, ligadas ou não aos procedimentos de dragagem. Outra informação importante foi a possibilidade de distinção da margem, sem interferências de vegetação no sistema GPS e a superação de obstáculos naturais em locais de difícil acesso. Dificuldades estas encontradas quando do uso de GPS ou mesmo da sondagem batimétricas. Estes dados podem ser empregados no cálculo de inclinação das margens.

Futuras amostragens de sedimentos serão realizadas tendo por base a interpretação das imagens do SVL. 5. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a SOMAR e a HAR Engenharia Ltda, pelo apoio financeiro e logístico sem o qual este trabalho não seria realizado. Agradecimentos extensivos ao Laboratório de Oceanografia Geológica pela viabilização do uso do Sonar de Varredura Lateral. 6. BIBLIOGRAFIA CALLIARI, L. J. & ABREU, J. G. N., Litologia da Plataforma Continental Interna Adjacente a Cidade do Rio Grande (RS), Através da Interpretação de Registros de Sonar de Varredura Lateral e Amostragem Superficial. Anais do XXXIII Congresso Brasileiro de Geologia, Rio de Janeiro, Brasil, pp. 1553-1564, 1984. CALLIARI, L. J., ESTEVES, L. S., OLIVEIRA, C. P., TOZZI, H. A. M., SILVA, R. P. & CARDOSO, J. N. Padrões sonográficos e sedimentológicos de um afloramento de beachrock na plataforma interna do Rio Grande do Sul (COMEMIR/OSNLR). Notas Técnicas, 7: 27-32, 1994. DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral http://www.dnpm.gov.br FONSECA, L. E. N. 1996. Correções Radiométricas dos dados Sonográficos da Bacia de Campos. PETROBRÁS-Cenpes, Cidade Universitária, quadra 7 - Ilha do Fundão. Anais VIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Salvador, Brasil, 14-19 abril 1996, INPE, p899-904. GUEDES, I. M. G. Monirotamento geoambiental da área de influencia dos dutos de gás e óleo do Pólo de Guamaré (RN) ANP/PRH 22, em Geologia e Geofísica e Informática no setor de Petróleo e Gás/UFRN, 2002. HAR ENGENHARIA E MEIO AMBIENTE. Plano de Controle Ambiental (PCA), Areia Quartzosa do Leito do Rio Jacuí - Relatório Técnico, 1994. MARINE SONIC TECHNOLOGY LTD. Sea Scan PC Operator s Manual Version 1.6, 2001. QUARESMA, V.S.; DIAS, G. T. M. & BAPTISTA NETO, J. A. 2001. Caracterização da ocorrência de padrões de sonar de varredura lateral e sísmica de alta freqüência (3,5 e 7,0 khz) na porção sul da Baía da Guanabara RJ. Revista Brasileira de Geofísica, Vol. 18(2), 2000. ROSA, S. B. 2003. Considerações sobre o meio físico em uma área de mineração de areia junto ao rio Jacuí, Charquedas RS. Trabalho de Conclusão de Curso, Geografia Bacharelado, FURG, Rio Grande, RS, p33, 2003.

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