Práticas locais de uso do fogo Projeto: Acompanhamento técnico-científico da implementação do Manejo Integrado do Fogo em Unidades de Conservação do no âmbito do Projeto - Jalapão Ludivine Eloy (CNRS / UNB-CDS) Isabel Schmidt (UnB-ECL) Axelle Duverger (Montpellier Supagro) Cecilia Fernandes (UnB-CDS) Silvia Laine Borges Lucio (UnB-ECL) Maximiller Cardoso (UnB-ECL) Objetivos de pesquisa 3. Sistematizar informações sobre conhecimentos e práticas de uso do fogo relacionados a atividades produtivas. Regimes de queima antrópicos nas savanas tropicais UC e Comunidades locais cercadas por monoculturas Padrão tradicional de queimada em mosaico: observado na Austrália (Russel Smith et al 1997), Africa do Sul (Brockett et al. 2001) e do Oeste (Laris, 2002) Crescente reconhecimento científico (biodiversidade e prevenção de incêndios) base dos programas de MIF e Pagamentos por Serv. Ambientais http://climatechange.umaine.edu/research/contrib/html/13.html : foco nos conhecimentos indígenas (Mistry et al., 2005, Falleiro, 2011; Mello e Saito, 2011, Welch et al 2013) Outros grupos/territórios/atividades? Padrões espaço-temporais? http://chc.org.br/fogo-do-bem/ Pecuária de solta, pastejo sobre vegetação nativa Convivência com o, mediada pelo fogo Perguntas -Quais são as práticas de uso do fogo atuais? -Como estas práticas evoluíram e por quê? -Quais efeitos na paisagem? Diálogo entre UCs e comunidades possibilita diálogos 1
Métodos Entrevistas Sistematização de informações sobre conhecimentos e práticas de uso do fogo Jalapão Fogo na agricultura EESGT: 13 familias PEJ (Mumbuca): 8 familias História agrária Práticas atuais Observação participante Percurso comentado (leitura de paisagem) Fogo na pecuária PEJ (Mumbuca): 14 familias EESGT: 4 familias Geografia das queimadas Mapeamento das cicatrizes com GPS Interpretação de imagens com os moradores Manejo do fogo para agricultura 1. Cultivo de sequeiro (na chuva): roça de toco Em areas de Cerradão ou mata de galeria Desmate seletivo, tocos não arrancados Pousio: 5 a 15 anos Queima: agosto ou set (depois primeira chuva) Manejo do fogo para agricultura 2. Cultivo na seca : roça de esgoto Em brejo de vereda Base do sistema agrário Drenagem Desmate seletivo, tocos não arrancados Produção continua durante 5 a 30 anos Pousio: entre 5 a 50 anos 2
Roça de esgoto como estratégia anti-risco 14 Manejo do fogo para pecuária O gado come... "Quando para o esgoto nasce o mesmo tipo de mata, só que nasce mais (maior densidade) o esgoto renova a terra Em pastagem naturais -«Gerais» - Veredas e perto de casa Em pastagem plantadas «roça de pasto» 1. O fogo de início de estação seca (maio-junho) chapada, campina (PEJ), ou varjão (EESGT) 1. O fogo de início de estação seca (maio-junho) - funções -Produzir pastagem nova no início da estação seca -Aceirar o cerrado e as veredas -Afastar o gado das matas de galeria ( capão ) evitar erva café : 15 dias depois de fogo maio 3
2. O fogo de meio e fim de estação seca (julho-set) Nas veredas (anual ou bianual) : nos gerais e perto de casa Queimadas de tamanhos - para gado ou para animais de montaria " Este ano queimei na queimada do ano passado, porque tinha um cru alto (de 3 anos) num outro lugar, mas não ousei queimar sozinho. Fiz um aceiro antes, beirando o brejo com palha, contra o vento, e o fogo queima de costas, devagar, no fim da tarde, e fui apagando. O risco é quando vem um fogo de cima, com vento, um fogo deitado. Depois tocou fogo com fosforo lá em cima [na cabeceira da vereda]. O fogo encostou na queimada verde [de maio de 2015, com cru de 1 ano] e não entrou no brejo. "Nos queimamos a vereda contra o vento. Se for a favor do vento, a chama fica muito alta e entra no brejo". Cada criador faz uma ou duas queimadas nas veredas durante a seca Setembro é o mês mais crítico para gado aproveita incêndios 3. O fogo de início de estação chuvosa (out./nov.) (PEJ: fogo de porta ) -alimentar os animais que voltam dos Gerais -aceiro para queima na vereda do ano seguinte De 3 em 3 anos Nem tudo no é pasto para o gado. Ex de Espécies nativas consumidas pelo gado (EESGT) no Nome local 1 Nome local 2 Nome científico Ocorrência Capim meloso, pé de Serra Maçaranduba Grão de galo Pouteria Ramiflora Maniçoba Manihot sp. Marmelada Tocoyena formosa Capim nativo 1 "Brachiarinha" Ericholoa sp. Capim agreste Trachypogon spicatus, varjão Capim nativo 2 "Capim gordura" -Vedar a roça de pasto Murici rasteiro Byrsonima subterranea Pimpão Flor de Canela Vellozia sp. Fava Puça Preto Mouriri pusa Na roça de pasto Durante período chuvoso trajetória do gado - Vedar a roça de pasto Roça de pasto -Cuidar das vacas prenhes e bezerros -Curar o mal de toque De 2 em 2 anos Depois da primeira chuva (se não, mata a raiz do capim) 4
Mosaico de queimas - épocas, vegetações, usos Faz sentido manejar fogo no Sensíveis ao fogo Influenciáveis pelo fogo Propensas ao fogo (resistentes) Sensíveis ao fogo Propensas ao fogo (resistentes) Mosaico de queimas - épocas, vegetações, usos Paisagem de queimada em mosaico - Cicatrizes de queimas de 40-150 ha. encostadas uma na outra - Em diferentes fitofionomias (cerrado/campo sujo, cerradão, vereda, brejo) - Regime diverso ao longo do ano, todos os anos - Múltiplos propósitos: produtivos (agricultura, pecuária, extrativismo, caça) e de manejo de paisagem "Desde sempre, nos fizemos os aceiros para proteger os capões da Serra da Muriçoca para cá. Com os inêndios que teve nos ultimos anos, muitas matas de brejo estão acabando " - Manejo adaptável: de acordo com o combustível, o vento, a temperatura e a umidade Queimas tardias menores próximo às comunidades Queimas tardias menores próximo às comunidades 5
Fragilização de práticas de de queima em mosaico -Êxodo rural -Proibição do uso do fogo: 2003-2010 -Intensificação dos sistemas de criação de gado Maior dependência nas roças de pasto 2014 Desresponsabilização pelos fogos 2015 Manejo da pastagem no tipo 1 Uso exclusivo Fogo de porta Fogo de porta Fogo de inicio de estação seca Estimular a rebrota do agreste no Aceiro Manejo da pastagem no tipo 2 Uso exclusivo Fogo de inicio de estação seca Uso da roça de pasto Fogos de meio e fim de estação seca Em veredas: Variados, pequenos superficies Inclusive ago-set Inclusive ago-set Fogo de fim de estação seca Em veredas: espaços de uso esclusivo (cercado) -falta água -falta terra de cultura e veredas perto da comunidade Aplicações para politicas e manejo -Permanência de regimes tradicionais de queima em mosaico em outras regiões do (entorno e dentro de areas protegidas)? -Práticas complexas que contrastam com a literratura e as ideias comuns sobre agricultura de corte e queima e pecuária -Reforçar estas práticas : -Apoio da brigada para todos os fogos (inclusive setembro) -Não procurar subsituí-las (por questões socioculturais, econômicas e ecológicas) por quê insistir com alternativas ao uso do fogo no? -MIF: desenvolver abordagens compreensivas desta práticas (oficinas, experimentos, etc.) e planejamento decentralizado : Ex. da EESGT e APAJ -Estimular pesquisa colaborativa e pluridisciplinar sobre a dinâmica espaço-temporal destas queimadas (e não somente levantar motivos, demandas por fogo, cuidados ) 6
Publicações Artigos Lúcio, S. L. B. ; Eloy, L.; Barradas, C., Schmidt, I., dos Santos, I. A. (2016). Impactos do fogo em veredas no : novas perspectivas a partir dos sistemas agrícolas tradicionais no Jalapão (Tocantins). Ambiente e Sociedade. v. 19, n. 3, p. 275-300. Lúcio, S. L. B. ; Eloy, L.; Barradas, C., Schmidt, I., dos Santos, I. A. (2016). Fire management in Veredas (Palm swamps): new perspectives on traditional farming systems in Jalapão (Brazil). Ambiente & sociedade, v. 19, p. 269-294. 2016 Eloy L., Aubertin C., Toni F., Lúcio S.L.B., Bosgiraud M. 2016. On the margins of soy farms: traditional populations and selective environmental policies in the Brazilian. The Journal of Peasant Studies, 43(2): 494-516. DOI: 10.1080/03066150.2015.1013099 Capitulos de livro Eloy, L. Schmidt, I., Lúcio, S. L. B. (no prelo). Fire impacts in Brazilian savanna wetlands: new perspectives from traditional farming systems in the Jalapão region (Tocantins). In: C. Fowler et J. Welch (eds). Human dimensions of Fire Ecology and Environmental Change, University of Utah Press. Eloy, L.; Carvalho, I. S.; Figueiredo, I. (no prelo). Sistemas Agrícolas Tradicionais No : Caracterização, Transformações e Perspectivas. In: J. Santilli, P. Bustamante et R. L Barbieri (eds) Agrobiodiversidade E Agroecologia. Coleção Transição Agroecológica, Brasilia: ABA /Embrapa. Comunicaç ões Eloy L., Schmidt I, Fernandes C., Duverger A. 2016. Local and scientific knowledge about fire management in tropical savannas. The case of cattle ranching in the Jalapão region, Brazil. Annual Meeting of the Association of American Geographers. San Francisco, USA: April 2016. Moura L. C, Eloy L., Lucio S., Schmidt I, Fernandes C. (2016). Social and environmental conflicts related to fire management within protected areas in the Brazilian savanna. Annual Meeting of the Association of American Geographers. San Francisco, USA: April 2016. Lúcio, S. L. B. ; Eloy, L.; Barradas, C., Schmidt, I., dos Santos, I. A. (2015). Impactos do fogo em veredas no : novas perspectivas a partir dos sistemas agrícolas tradicionais no Jalapão (Tocantins). 7º Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade, Brasília - 17-20 mai 2015. Eloy L. 2016. Sistemas agrícolas tradicionais e conservação da biodiversidade: um difícil reconhecimento no bioma. Seminario "Povos Indígenas e Comunidades Locais nos Diagnósticos do Painel da Biodiversidade", do Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services (IPBES), Instituto dos Estudos Avançados da USP, São Paulo, 28 e 29 de abril 2016. 7