CURSO: LETRAS. TÍTULO do Projeto de Pesquisa: GRUPO DE PESQUISA: LITERATURA E LINGUAGENS: FRONTEIRA, ESPAÇO, PERFORMANCE, MEMÓRIA

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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO UNIRIO CURSO: LETRAS TÍTULO do Projeto de Pesquisa: Conhecimento do mundo: o espaço literário na correspondência de escritores brasileiros viajantes no fim do século XIX GRUPO DE PESQUISA: LITERATURA E LINGUAGENS: FRONTEIRA, ESPAÇO, PERFORMANCE, MEMÓRIA MARCELO DOS SANTOS / PROFESSOR ADJUNTO A I REGIME: DE/ ÁREA: LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES

Rio de Janeiro RJ Dezembro/ 2014 Natureza do Projeto O projeto pertence à área de Humanidades, concentração em Linguística, Letras e Artes, da subárea Literatura, e aos estudos de literatura brasileira, considerando-se, portanto, fazer parte de pesquisa fundamental. Caracterização do responsável pelo projeto de pesquisa e de sua equipe de pesquisa O projeto é de responsabilidade do Prof. Dr. Marcelo dos Santos, docente adjunto A I da Escola de Letras da UNIRIO, lotado no Departamento de Letras do Centro de Letras e Artes (CLA) da UNIRIO. O projeto, no momento, não tem outros responsáveis ou participantes e nem conta com apoio de órgãos de fomento. Detalhamento do projeto Introdução A tarefa da historiografia literária, área de pesquisas em que o presente projeto se inscreve, procura estabelecer o questionamento sobre a literatura em cada contexto específico da produção e da circulação dos textos de arte e cultura. Tendo como origem a Escola de Letras da UNIRIO, a pesquisa se relaciona com o atual currículo dos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Letras, em especial as disciplinas Cultura literária no Brasil oitocentista, Geografias da escrita, Historiografia literária e Historiografia literária brasileira, além dos Estágios Supervisionados II (BACH./LIC.), responsáveis pelos laboratórios de crítica historiográfica e pesquisa em arquivos. Responder à questão O que é literatura? demanda a constante revisão do campo da produção literária com os novos gêneros e formas que surgem e da recepção. Dentre os textos que redefiniram e expandiram o conceito de literatura, a correspondência de escritores tem se mostrado um campo fértil de reflexão sobre a criação e repercussão de autores e obras.

O estudo da epistolografia na literatura brasileira tem raízes profundas no processo de estabelecimento da instituição literária bem como na formação de um sistema literário maduro (Cf. CANDIDO, 2004), em que se integram obras (ficcionais ou não) e discussões sobre a literatura, essas muitas vezes veiculadas na correspondência dos escritores. Marcada pela junção entre documento e ficção, a literatura no Brasil tem como marco simbólico a carta de Pero Vaz de Caminha. Mais do que documento, a carta de Caminha interessa ao historiador literário pelo seu valor cultural, mas também pelo estabelecimento de um dado formal (estilístico e metafórico) que marcaria profundamente a literatura brasileira. Ao se pensar no destino e nos destinatários da carta de Caminha, o crítico Silviano Santiago (2005) ressalta a importância de se considerar um gênero a princípio não ficcional, como a correspondência, no âmbito dos estudos literários, ao perceber que essa carta cumpre não somente a função de documentar a história, mas principalmente de fomentar as releituras sobre a literatura e sobre a cultura latino-americana. Portanto, a correspondência é um veículo privilegiado de ideias e formas para os estudos literários, especificamente em culturas, como a brasileira, marcadas pelos processos de hibridização cultural, de circulação de pessoas e ideias ao longo de sua formação. Nesse sentido, as cartas de viajantes estrangeiros no Brasil cumpriram cerradamente a função de construir um imaginário tropical pelo viés dos códigos de comunicação nos séculos XVI e XVII. A brasilidade, que se constitui como marca cultural decisiva para as artes, especialmente para a literatura, no século XIX, deve muito aos relatos e cartas de viajantes ou de cidadãos europeus que vieram residir na colônia, como André Thevet, Jean de Léry e Hans Staden, e os jesuítas Manoel de Nóbrega, José de Anchieta e, no século XVII, António Vieira, autores que puseram em movimento a máquina de sentidos e de gêneros de escrita a fim de descrever e criar literariamente o Brasil. Percebida como criação, a brasilidade na literatura fomenta o grande projeto nacionalista que se constrói nos oitocentos, momento no qual os escritores comparecem como autores de um discurso empenhado (CANDIDO, 2005). Nascida de uma geração que olhava o Brasil de fora do seu território, o grupo de Gonçalves de Magalhães articulou a sensibilidade romântico-nacionalista brasileira na publicação em terras francesas da revista Nitheroy, periódico que registrou o impacto das novas ideias culturais e estéticas do espaço europeu para uma publicização aos olhos americanos.

Desse modo, a viagem circunda os momentos fundamentais de construção da brasilidade no campo da cultura e, especialmente, da literatura brasileira. Com o estabelecimento das fronteiras do território nacional, definidas ao longo do século XIX, a definição da cultura brasileira torna-se um elemento a um só tempo geopolítico e geoliterário, com o projeto de mapear o Brasil através da literatura: obras abrangentes como a de José de Alencar, ou mesmo a vertente regionalista da nossa ficção dos oitocentos, se incumbiram de marcar no imaginário aquilo que os debates e combates políticos fundamentavam. A conjunção complexa entre um projeto político e um projeto cultural cria um contexto bastante específico no século XIX brasileiro que demanda um olhar apurado não só dos historiadores, mas dos historiadores da literatura e especialistas do campo literário. Sobretudo, a leitura dos documentos não ficcionais ou paratextuais (cartas, prefácios, apresentações, resenhas etc.) é de fundamental importância para se compreender os códigos de leitura e escrita inerentes à condição da cultura brasileira dos oitocentos e das alianças e contrastes que ela estabelece com a dimensão política. Compreendendo a especificidade do conceito de literatura no Brasil do século XIX, o projeto de pesquisa aqui apresentado pretende mapear a presença de escritores brasileiros em terras estrangeiras. O período estudado corresponde ao início da República no Brasil, quando a abertura ao mundo se torna um topos cultural relacionado a aspectos geopolíticos, como a mundialização, o cosmopolitismo, a modernização e a decisão sobre fronteiras. Muitos intelectuais e escritores brasileiros foram, por circunstâncias diversas, convertidos em correspondentes internacionais e diplomatas em missões específicas (Joaquim Nabuco, Aluísio Azevedo, Adolfo Caminha, Fontoura Xavier etc.). Em tais momentos, utilizaram a escrita em novos gêneros e espaços a fim de mapear novas impressões sobre o mundo e sobre o Brasil, visto agora a partir do conhecimento do mundo. Com ênfase na correspondência de escritores, o projeto visa promover o resgate e a análise de textos relacionados ao deslocamento de escritores no exterior, investigando nesses textos não só os temas do entrecruzamento cultural, do cosmopolitismo e da modernidade, mas, sobretudo, os aspectos relacionados à literatura, quando esses tangenciam a construção de uma vida literária, a recepção de obras e discussões estéticas do período além da construção de personas representativas do intelectual brasileiro do fim do século XIX. O corpus analisado compreende as cartas dos escritores viajantes, durante o arco temporal indicado acima, que estão depositadas em arquivos de consulta pública, como

o Arquivo Histórico do Palácio do Itamaraty (RJ), o Arquivo-Museu de Literatura Brasileira (FCRB, RJ), a reserva técnica da Academia Brasileira de Letras (RJ), além da possível consulta a outros arquivos no território brasileiro. Somada a isso, a consulta aos jornais que veicularam as cartas dos escritores-correspondentes internacionais, como o Jornal do Commercio e O Paiz, nos microfilmes existentes na Fundação Biblioteca Nacional (FBN, RJ), expandirá o corpus inicial de análise, que serão algumas cartas e relatos já editados, como é o caso de Joaquim Nabuco, Aluísio Azevedo e Adolfo Caminha. Embora os trabalhos feitos com a correspondência de escritores brasileiros sejam ainda escassos, o projeto toma como referências críticas, constituindo uma revisão sumária da literatura sobre o assunto, os trabalhos que desenvolvem as reflexões sobre: a) a modernidade brasileira no final do século XIX; b) os debates sobre formação de identidade local, nacional e transnacional no Brasil realizado pelos escritores brasileiros entre o século XIX e XX; c) a reflexão sobre a circulação, a diáspora e a questão do espaço do literário e d) o estudo da correspondência literária como componente fundamental para a história da literatura e para a crítica literária. Relacionados à primeira linha de reflexões, os trabalhos de Roberto Ventura (Estilo tropical), Silviano Santiago (As raízes e o labirinto da América Latina, O cosmopolitismo do pobre), Julio Ramos (Desencontros da modernidade na América Latina), Sergio Miceli (Intelectuais à brasileira), Benedict Anderson (Comunidades imaginárias), Nestor García Canclini (Culturas híbridas) e Eduardo Jardim de Moraes (Brasilidade modernista - sua dimensão filosófica) constituem, para o presente trabalho, a fundamentação teórico-crítica na abordagem das discussões sobre a formação intelectual, cultural e literária, da modernidade latino-americana e, em contexto específico, brasileira à luz de novas reflexões sobre as noções de localidade e nacionalidade. Dessa maneira, os assuntos intrínsecos ao projeto de nação republicana no final do século XIX, encontrada na correspondência de nossos escritores viajantes, deverão ser melhor compreendidos na revisão excêntrica e não-etnocênctrica, veiculada pelos debates contemporâneos, bem como no estudo dos processos de construção do significado do Brasil-nação, realizados pelo contraste com o espaço exterior, onde tais escritores puderam também construir visões do Brasil e de sua literatura a distância. Sobre o segundo eixo de trabalhos já realizados sobre o assunto, as publicações dos escritores brasileiros viajantes, com os estudos introdutórios de críticos atuais, serão fundamentais como operador de leitura do teor da correspondência assim como do

mapeamento dos atores das cenas de escrita. As memórias de Joaquim Nabuco, Minha formação, com os prefácios de Alfredo Bosi e Evaldo Cabral de Melo, os volumes do Diário e os de Correspondente internacional de Joaquim Nabuco, também apresentados por Evaldo Cabral de Melo, a coleção Intérpretes do Brasil, com estudo introdutório de Silviano Santiago, as crônicas e epistolário de Aluísio Azevedo, O touro negro, e o relato de viagem de Adolfo Caminha, Tentação e No país dos ianques, constituem as fontes de consulta iniciais. O cruzamento entre as reflexões sobre os deslocamentos, a partir dos trabalhos clássicos de Edward Said, como Orientalismo e Cultura e imperialismo, e as questões do espaço literário, em L. A. Brandão (Teorias do espaço literário), e do cosmopolitismo e a metrópole (Benjamin, 2010) fundamentarão inicialmente a contribuição do pensamento geoliterário para a leitura dos textos produzidos em condições de mobilidade. A pesquisa em arquivos literários e, especificamente a pesquisa da correspondência, contam no Brasil com importantes orientações teóricas e análises críticas: os trabalhos de Marcos Antonio de Moraes, com edição e reflexão sobre as cartas de Mário de Andrade (Orgulho de jamais aconselhar), Matildes Demétrio dos Santos (Ao sol carta é farol) e Silviano Santiago (Carlos & Mário) aliam-se a estudos clássicos sobre a correspondência, como a fundante reunião de atas do Colloque International: Les correspondances da Universidade de Nantes, em 1982. Objetivos Objetivo geral Realizar o estudo sistemático do espaço ocupado pela literatura na correspondência dos escritores brasileiros viajantes, diante do contexto transnacional, a partir das condições próprias da mobilidade. Objetivos específicos Construir um mapeamento detalhado dos textos relacionados às viagens dos escritores brasileiros; Analisar a correspondência de escritores brasileiros depositadas nos arquivos literários, produzindo um mapeamento dessa correspondência;

Promover a discussão, a partir da análise da correspondência, das concepções sobre a literatura brasileira dos escritores em situação de mobilidade; Produzir a reflexão crítica, por meio de ensaios acadêmicos e livro, e pela edição crítica de cartas, mediante autorização e preservando a legislação dos bens privados e do patrimônio cultural. Relevância científica O projeto propõe contribuir para os estudos epistolográficos da literatura brasileira, sobretudo para a reflexão das relações entre literatura, cultura e política que marcaram a geração de escritores em postos diplomáticos ou em funções de correspondente internacional, afinados à discussão dos assuntos relacionados à cultura, política e nacionalidade brasileira na afirmação da República. Como ainda não há um levantamento mais detalhado da correspondência de escritores do período, especificamente dos viajantes, o projeto tem o caráter de pesquisa original. Metodologia O projeto prevê o cruzamento metodológico entre os métodos caros aos estudos literários e as pesquisas relativas aos arquivos literárias. Para a realização da pesquisa serão utilizados os seguintes caminhos metodológicos: A Delimitação do corpus primário bem como a Identificação das fontes contará com: a) Pesquisa bibliográfica: levantamento de material teórico-crítico sobre modernidade, republicanismo, ideias de literatura no século XIX, correspondência e o trabalho em arquivos; b) Pesquisa documental: levantamento de instituições e análise de fontes documentais primárias, especificamente a correspondência de escritores brasileiros viajantes, depositada nos arquivos institucionais com pesquisa pública; A Localização das fontes necessitará das leituras prévia, seletiva, crítica/analítica e interpretativa, pois o tratamento das

informações deverá se orientar para as questões relativas à literatura, e desse modo serão relativizadas as informações consideradas de caráter extraliterário; Documentação: e se tratando de bem público patrimonial, mas já em domínio público, a Documentação poderá, em caso de permissão explícita e formalizada institucionalmente, ser realizada com o recurso da fotocópia das correspondências; Análise e interpretação de dados: obedecerão aos critérios da crítica externa percebendo a importância documental e funcional da carta como veículo de informação e circuito de ideias, no caso, culturais e literárias e da crítica interna observando as informações específicas à literatura e suas concepções, vistas à luz da fundamentação teórica e crítica. Conclusão: o produto final está previsto como a redação de artigos acadêmicos com impactos nos estudos literários, trabalhos de edição de cartas (quando permitidos pela legislação dos arquivos privados pessoais e institucionais) e a realização de livro com as reflexões da pesquisa. Cronograma de execução do projeto Atividades/Períodos 2015 2016 2017 2018 jan.-abr. maio jul. - out. nov. jan. dez. jan. ago. - jan. jun. dez. jul. dez. Pesquisa bibliográfica x x x x x x x Pesquisa documental x x Localização e x documentação Análise e interpretação de x dados Conclusão x Referências bibliográficas ACTES du Colloque International: Les correspondances. Nantes: Université de Nantes, 1982.

ARANHA, Graça. (Org.). Machado de Assis e Joaquim Nabuco: correspondência. 3. ed. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras/Topbooks, 2003. AZEVEDO, Aluísio. O touro negro. São Paulo: Livraria Martins, 1954. BENJAMIN, Walter. Rua de Mão Única. In: Obras escolhidas. Trad. R. Rodrigues Torres Filho e J. C. Martins Barbosa. São Paulo: Brasiliense, 2010. v. 2. BRANDÃO, Luis Alberto. Teorias do espaço literário. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte: Fapemig, 2013. CAMINHA, Adolfo. Tentação: no país dos ianques. Organização e introdução crítica por Sânzio de Azevedo. Rio de Janeiro: José Olympio; Fortaleza: Academia Cearense de Letras, 1979. ANDERSON, Benedict: Comunidades imaginadas. São Paulo: Cia das Letras, 2008. CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas - estratégias para entrar e sair da modernidade. Tradução de Ana Regina Lessa e Heloísa Pezza Cintrão. São Paulo: EDUSP, 1997. DIAZ, José-Luis. Quelle génetique pour les correspondances? Genesis. Revue internationale de critique génetique, Paris, nº 13, p. 11-31, 1999. FOUCAULT, Michel. A escrita em si. In: O que é um autor?. 2ª ed. Trad. José A. Bragança de Miranda e Antônio Fernando Cascais. (Portugal), Vega, 1992. GALVÃO, Walnice Nogueira e GOTLIB, Nádia Battella. Prezado Senhor, prezada Senhora. Estudos sobre cartas. (orgs.), São Paulo, Companhia das Letras, 2000. HAROCHE-BOUZINAC, Geneviève. L èpistolaire. Paris: Hachette, 1995. Collection Contours Littéraires. MICELI, Sergio. Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. MORAES, Eduardo Jardim de. A brasilidade modernista: sua dimensão filosófica. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1978. MORAES, Marcos Antonio. Orgulho de jamais aconselhar: a epistolografia de Mário de Andrade. São Paulo: EDUSP/FAPESP, 2007. NABUCO, Joaquim. Diários de Joaquim de Nabuco. Evaldo Cabral de Mello (org.). Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi e Massangana, 2005.. Minha formação. São Paulo; Ed. 34, 2012.. Correspondente internacional. 2v. São Paulo: Global, Rio de Janeiro: ABL, 2013 RAMOS, Julio. Desencontros da modernidade na América Latina: literatura e política no século 19. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2008.

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