LIÇÃO 6 - O POVO DE DEUS NA TERRA E NO CÉU Texto bíblico: Apocalipse 7.1-17 Motivação Uma das cenas mais conhecidas do cinema, na década de 80, se deu na trilogia Guerra nas Estrelas, episódio V (O Império Contra-ataca). Durante um confronto feroz, o mocinho, Luke Skywalker, ouve do vilão Darth Vader: "Luke, eu sou seu pai". A relação pai e filho sempre deu bons enredos para a literatura e o cinema. Num mundo em que as relações nem sempre são como deveriam ser, muitas pessoas sentem a falta de um pai. Alguns nem sabem quem são seus pais. Nesse contexto, a revelação bíblica de que podemos ter um relacionamento com Deus, como seus filhos, é tão importante. A identidade dos filhos de Deus é o assunto a ser estudado nesta lição. Exposição Bíblica O Apocalipse fala de dragões e mulheres gigantes, de bestas e águias, de anjos e livros comestíveis. Fala essencialmente de Jesus, é verdade, mas se concentra no Jesus Glorificado, descrito como o Filho do Homem ou o Cordeiro que morreu e ressuscitou. Para falar de coisas dessa natureza, a linguagem do cotidiano tem suas limitações. Como descrever a glorificação de Jesus de Nazaré? Como descrever o trono em que se assenta o Deus Todo- Poderoso? Como descrever seres sobrenaturais que povoam os céus? Não temos nenhum objeto ou instituição humana em nossa realidade para descrever algo que extrapola o que é natural. Como falar dessas coisas? Precisamos recorrer aos símbolos e imagens que, através de analogia, tentam explicar o que dificilmente pode ser explicado. João faz isso. O resultado é uma obra repleta de símbolos e narrativas simbólicas que precisam, em vários momentos, da ajuda do próprio autor para serem interpretados. Diante desse tipo de linguagem, não é sensato entender os símbolos do Apocalipse de forma objetiva. Isso acontece quando um leitor quer ver os símbolos usados para descrever a experiência de João em coisas ou objetos reais. O Cordeiro que João vê não é um cordeiro de verdade; é o mesmo Jesus que as igrejas aprenderam a adorar. A noiva do Cordeiro não é uma pessoa; é
uma cidade. Mais do que isso! É o povo de Deus que se encontrará com seu Senhor no final dos tempos. Se alguém quiser ver uma noiva de verdade se casando com um cordeiro de verdade, não apenas se aproximará do divã de um psiquiatra, mas se afastará da mensagem que o profeta João queria deixar no Apocalipse. Com essa perspectiva, vamos nos aproximar do capítulo 7 do Apocalipse, para analisarmos quem são os filhos de Deus. OS FILHOS DE DEUS NA TERRA Este capítulo do Apocalipse não está numa posição cronológica, dentro da sequencia dos atos escatológicos. Ele não segue, em termos narrativos, o sexto selo, porque sua função nesta posição das visões é fazer uma pausa entre o sexto e o sétimo selo. Ele não faz parte nem de um nem do outro. Se olharmos para o restante do Apocalipse, voltaremos a encontrar a figura dos cento e quarenta e quatro mil selados por Deus no início do capítulo 14 de Apocalipse. Lá, inclusive, eles são até mais bem caracterizados do que neste capítulo. O Apocalipse usou a estratégia de pausas ou parênteses narrativos, como este, duas vezes. A segunda ocorrência se dará entre a sexta e a sétima trombeta. Nesta primeira pausa narrativa o que encontramos é a descrição dos filhos de Deus, o povo do Senhor, o que acontece de duas maneiras. Na primeira parte do texto, na forma de cento e quarenta e quatro mil homens, os filhos protegidos na terra. Na segunda parte, uma grande multidão formada por crentes que morreram na terra mas estão vivos no céu. Há um esforço maior em caracterizar do que em descrever ações ou eventos. Veja como o texto gasta espaço para caracterizar os cento e quarenta e quatro mil, com quase nenhuma ação narrativa em torno deles. Na parte inicial do capítulo 7, João descreve um anjo que subia do nascente do sol, tendo o selo de Deus. Ele ordena que nenhum dano seja trazido sobre a terra até que os servos de Deus sejam selados (Ap 7.2,3). Eles são doze mil de cada uma das doze tribos de Israel.
Os cento e quarenta e quatro mil estão descritos como convocados para uma batalha. Eles foram chamados a se envolver em um confronto ao lado de Deus. Após o censo, foram selados, o que indica, simbolicamente, a pertença dos convocados. Eles são propriedade de Deus. Mas o capítulo 5 havia esclarecido para nós que esses que foram comprados, o foram de todos os cantos: "entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrirlhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra." (Ap 5.9-10). Os que aparecem selados no capítulo 7, então, representam todos os crentes que caminham pela face da terra. São os filhos de Deus que vivem e testemunham enquanto aguardam a intervenção de Deus. A visão dos cento e quarenta e quatro mil indica a experiência que Paulo chamou de "selados com o Espírito Santo da Promessa" (Ef 1.13). O número cento e quarenta e quatro mil fornece um significativo elemento simbólico. Ele é o resultado de 12x12x1000, como se estivesse nos convidando a olhar para os filhos de Deus do Antigo Testamento (os 12 filhos de Jacó) e para os filhos de Deus do Novo Testamento (os 12 apóstolos), e concluir que agora Deus não tem mais dois povos. Jesus reuniu os dois em um único povo. É este povo que João descreve na visão dos cento e quarenta e quatro mil. A MULTIDÃO NO CÉU A seguir, João descreve uma grande multidão em pé diante do trono e do próprio Cordeiro, formada por pessoas de todas as tribos, povos e línguas, todos salvos por Jesus (Ap 7.9-17). A visão dos cento e quarenta e quatro mil e a multidão inumerável formam um paralelo com a descrição de Cristo como o Leão e como Cordeiro (Ap 5.5-6). Antes, João ouve que o Leão da tribo de Judá venceu, mas quando olha, vê o Cordeiro ensanguentado. Em Apocalipse 7, ele ouve o número dos selados na terra, mas logo vê uma multidão inumerável no céu. A relação entre as duas imagens é a mesma do Leão e do Cordeiro. Se a primeira imagem remonta à antiga tradição judaica de precisar da força bélica de seus exércitos, a segunda aponta para um conjunto de vitoriosos de todas as nações.
Os cento e quarenta e quatro mil, número que pede uma leitura simbólica, representando os filhos de Deus que ainda lutam na terra, formam um grande grupo, mas ainda limitado. Nunca chegarão a ser a maioria da humanidade. Quando se olha para o céu, entretanto, o povo de Deus não pode mais ser contado. Seu número não pode ser calculado. Ele abraça agora todos os crentes que creram e já foram recolhidos para o espaço do trono de Deus. Dito de outra forma, os cento e quarenta e quatro mil seriam um equivalente simbólico das igrejas na terra, enquanto a grande multidão seria um equivalente da Igreja universal no céu. Relação com a vida Numa certa oportunidade, Elias se entristeceu por achar que era o único de sua terra que ainda servia a Deus (1Reis 19.1-18). Ele se abateu tanto que fugiu para o deserto. A sensação de que estava sozinho, abalou-o profundamente. Foi quando Deus revelou para ele que sete mil ainda não haviam dobrado os joelhos diante de Baal. Ainda tinha muito crente em Israel, mesmo que os olhos de Elias não pudessem ver. Esta mesma impressão, eventualmente, toma conta de nossos corações. Quanto mais lutamos, mais adversários aparecem. A iniquidade, a maldade e a corrupção se multiplicam tanto que parece que não representamos nada neste contexto tão adverso. Nossas igrejas pregam continuamente a Palavra, mas se conseguimos tirar um das mãos dos traficantes, dez outros aparecem no dia seguinte. É neste momento que a revelação dos cento e quarenta e quatro mil pode calar bem fundo em nossos corações. Não estamos sozinhos! Mesmo que nossos olhos não vejam, temos muitos irmãos que lutam a mesma luta, em todos os cantos deste mundo. Deus tem filhos onde sequer imaginamos que ele possa ter. Não estamos sozinhos nesta luta. E, quando ela terminar na terra, nos encontraremos com uma multidão de irmãos nossos lá no céu. Para pensar e agir O início do Evangelho de João apresentou a mensagem de que todos os que creem em Jesus foram feitos filhos de Deus (Jo 1.12). Esta é uma das mais impactantes mensagens do Evangelho. Após a conversão, ingressamos
numa nova família. Recebemos um Pai no céu e ganhamos milhares de irmãos na terra. Leituras Diárias: Segunda-feira: Apocalipse 7.9-17 Terça-feira: Gênesis 49.1-33 Quarta-feira: Ezequiel 48. 1-12 Quinta-feira: 1Reis 19.1-18 Sexta-feira: Lucas 16.19-31 Sábado: Gênesis 12.1-3 Domingo: Atos 2.37-47