Alterações ao regime contributivo dos trabalhadores independentes Lei n.º 2/2018, de 9 de janeiro

Documentos relacionados
Trabalhadores Independentes

Guia da Segurança Social: Como vão funcionar os descontos para quem tem recibos verdes

REGIME DOS TRABALHADORES INDEPENDENTES

Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social. Trabalhadores Independentes

Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social. Trabalhadores Independentes

Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social

ORÇAMENTO DE ESTADO PARA 2011

REGIME DE SEGURANÇA SOCIAL DOS TRABALHADORES INDEPENDENTES DECRETO-LEI N.º 328/93, DE 25 DE SETEMBRO

Grupo Parlamentar PROPOSTA DE ALTERAÇÃO PROPOSTA DE LEI 42/XI ORÇAMENTO DO ESTADO PARA Artigo 66.º

Trabalhadores Independentes Atualizado em:

CÓDIGO DOS REGIMES CONTRIBUTIVOS DO SISTEMA PREVIDENCIAL DE SEGURANÇA SOCIAL LEI N.º 110/2009, DE

DECRETO N.º 38/XIII. Regime de apoio à agricultura familiar nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira

05/2011 Janeiro 2011 CÓDIGO CONTRIBUTIVO SEGURANÇA SOCIAL TRABALHADORES INDEPENDENTES 1/5

Trabalhador Independente Atualizado em:

Obrigações Fiscais e a relação com o Estado

Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social

Lei n.º 66-B/2012, de 31 de dezembro. A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea g) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:

PERGUNTAS MAIS FREQUENTES FAQ s Regime Geral de Segurança Social dos Trabalhadores Independentes

Proteção no desemprego para os trabalhadores independentes Decreto-Lei n.º 65/2012, de 15 de março

OE 2011 Alterações ao Código Contributivo

PROPOSTA DE ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2011 CÓDIGO DOS REGIMES CONTRIBUTIVOS DO SISTEMA PREVIDENCIAL DE SEGURANÇA SOCIAL

DECLARAÇÃO ANUAL DO VALOR DA ATIVIDADE DOS TRABALHADORES INDEPENDENTES

Regime de transparência fiscal sociedades de profissionais. Enquadramento em sede de segurança social

Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social. Pagamento Voluntário de Contribuições

OFÍCIO CIRCULAR Nº 3/ DGPGF / 2013

Subsídios e outros apoios das entidades publicas Operacionalização

CÓDIGO CONTRIBUTIVO Principais Implicações para as Empresas. João Santos

LBA NEWS. Direito Laboral. Janeiro de 2017

Calendário das Obrigações Fiscais e Parafiscais para o mês de MAIO DE 2015

REPÚBLICA DE ANGOLA CONSELHO DE MINISTROS. Decreto n.º 42/08. de 3 de Julho

PROPOSTA DE LEI N.º 323/XII INSTITUI UM REGIME DE APOIO À AGRICULTURA FAMILIAR NA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES

Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social. Seguro Social Voluntário

INSTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, I.P

Lei n.º 20/2012, de 14 de maio. A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea g) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:

Segurança Social. Teresa Fernandes. 5 de junho de 2012

INSTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, I.P

Tributação dos advogados , delegação de Viana do Castelo

Apresentação Siglas utilizadas Lista de perguntas Questões iniciais Segurança Social Impostos IRS Impostos IVA Faturação/Comunicações Ato Isolado

Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social

DESTACAMENTO DE TRABALHADORES NO ÂMBITO DE UMA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. Lei n.º 29/2017

INFORMAÇÃO FISCAL. IVA - Imposto sobre o valor acrescentado. Despesas em que o IVA é dedutível. Despesas em que o IVA não é dedutível

OFÍCIO CIRCULAR Nº 2 / DGPGF / 2014

LEI 42/2016 DE 28 DE DEZEMBRO O.E Artigo 190.º do OE Alteração ao Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

INCENTIVOS À CONTRATAÇÃO DE JOVENS À PROCURA DO PRIMEIRO EMPREGO E DE DESEMPREGADOS DE LONGA DURAÇÃO E DE MUITO LONGA DURAÇÃO Decreto-Lei n.

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE TÉCNICOS DE CONTABILIDADE

Principais alterações do novo Regime Contributivo da Seg. Social

CIRCULAR N.º 2-II / 2011

1/7. Link para o texto original no Jornal Oficial. JusNet 25/02/2013

PROPOSTA DE LEI N.º 270/X. Aprova o Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de segurança Social. Proposta de emenda ao Código

LBA NEWS. Direito Laboral. Junho de 2017

SEMINÁRIO SOBRE PROPOSTAS DE MEDIDAS DE APERFEIÇOAMENTO DA PROTECÇÃO SOCIAL OBRIGATÓRIA

Orçamento do Estado 2013 Medidas que fazem diferença

INSTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, I.P

Lei 23/2012, de 25 de Junho, que procede à terceira alteração ao Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro.

OBRIGAÇÕES PAGAMENTO. Última atualização janeiro: 2016

MEDIDA CONTRATO-EMPREGO PORTARIA N.º 34/2017, de 18 de janeiro

O Novo Código Contributivo alguns comentários sobre o seu impacto nas empresas

GUIA PRÁTICO INSTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, I.P

GUIA PRÁTICO MEDIDAS ESPECÍFICAS E TRANSITÓRIAS DE APOIO E ESTÍMULO AO EMPREGO

Junto se envia o Calendário Fiscal relativo ao mês de Maio de 2011.

MEDIDA ESTÁGIOS EMPREGO

Circular Gabinete Jurídico-Fiscal

MUDANÇAS POLÍTICAS SALARIAIS. Quidgest

IRS IRC. 1. Proposta de Lei e Orçamento retificativo

GUIA PRÁTICO INSTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, I.P

GUIA PRÁTICO MEDIDAS EXCECIONAIS DE APOIO AO EMPREGO PARA 2010 APOIO À REDUÇÃO DA PRECARIEDADE NO EMPREGO INTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, I.

Fiscalidade Carga horária: 36 horas

NOTA FISCAL. Oferta Pública de Venda de Ações (OPV) da

Regulamento da CMVM n.º 4/2016. Taxas

GUIA PRÁTICO ACORDOS DE REGULARIZAÇÃO VOLUNTÁRIA DE CONTRIBUIÇÕES E QUOTIZAÇÕES INSTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, I.P

Trabalhadores dependentes

Decreto-Lei n.º 28/2003, de 25 de Agosto

PROTECÇÃO SOCIAL NA PARENTALIDADE FOLHA ANEXA AO REQUERIMENTO DOS SUBSÍDIOS PARENTAL, SOCIAL PARENTAL E PARENTAL ALARGADO, MOD.

Lei n.º 42/2016, de 28/12 Lei do Orçamento do Estado para 2017 / LOE2017. Alterações para Código Impostos sobre Património

Calendário das Obrigações Fiscais e Parafiscais das Empresas para o mês de DEZEMBRO DE 2015

INFORMAÇÃO SOBRE AS NOVAS REGRAS PARA A ATRIBUIÇÃO DO SUBSÍDIO DE DESEMPREGO

PROJECTO DE LEI N.º 546/XI/2.ª

NOTA INFORMATIVA ÁREA DE PRÁTICA DE DIREITO DO TRABALHO

Perspectivar os negócios de amanhã

CÓDIGO DOS REGIMES CONTRIBUTIVOS DA SEGURANÇA SOCIAL OBSERVAÇÕES DA CONFEDERAÇÃO DOS AGRICULTORES DE PORTUGAL

Trata-se de uma situação excecional para vigorar apenas no ano em curso.

Tarifa Social na Eletricidade e impactes. Aspetos principais

Implicações do Código dos Regimes Contributivos REGIMES APLICÁVEIS A TRABALHADORES INTEGRADOS EM CATEGORIAS OU SITUAÇÕES ESPECÍFICAS

GUIA PRÁTICO REDUÇÃO DE TAXA CONTRIBUTIVA PRÉ REFORMA INSTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, I.P

GUIA PRÁTICO REGIME DE PROTEÇÃO SOCIAL DE TRABALHADORES EM FUNÇÕES PÚBLICAS INSTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, I.P

Tópico com o intuito de esclarecer eventuais dúvidas sobre o novo código contributivo que entrou em vigor no passado dia 1 de Janeiro de 2011.

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE TÉCNICOS DE CONTABILIDADE

GUIA PRÁTICO INSCRIÇÃO, ALTERAÇÃO E CESSAÇÃO DE ATIVIDADE DE TRABALHADOR INDEPENDENTE INSTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, I.P

INSTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, I.P

O REGIME SIMPLIFICADO DO IRC

Não aplicável (conta não remunerada). Não aplicável (conta não remunerada).

CENTRO DE EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE ÉVORA. Formadora: Formandos: Maria José Banha. Susana Almeida. Joaquim Mira

Sessões de esclarecimento online. Perguntas mais frequentes sobre. Jan.2011

Não aplicável (conta não remunerada). Não aplicável (conta não remunerada).

NOTA INFORMATIVA. ASSUNTO: Orçamento de Estado 2014 l Processamento de Remunerações

GUIA PRÁTICO DISPENSA DE PAGAMENTO DE CONTRIBUIÇÕES 1º EMPREGO E DESEMPREGADO LONGA DURAÇÃO INSTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, I.P

OFÍCIO CIRCULAR Nº 3/ GGF / 2011

- Alterações ao Código de Trabalho: Subsídio de Desemprego

Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social. Trabalhadores por Conta de Outrem

Legislação REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA - ASSEMBLEIA LEGISLATIVA. Decreto Legislativo Regional n.º 5-A/2014/M

Transcrição:

Alterações ao regime contributivo dos trabalhadores independentes Lei n.º 2/2018, de 9 de janeiro A Lei n.º 2/2018, de 9 de janeiro, veio alterar o Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial da Segurança Social, especificamente no que respeita às obrigações contributivas dos trabalhadores independentes, tendo em vista alargar a sua proteção social e simultaneamente equilibrar o seu esforço contributivo. Tais alterações só produzirão efeitos a 1 de janeiro de 2019, com exceção das novas regras aplicáveis às entidades contratantes, que produzem efeitos já a partir de 1 de janeiro de 2018. No período transitório do presente ano de 2018 não ocorrerá novo reposicionamento entre escalões contributivos, devendo manter-se a aplicação da base de incidência fixada em outubro de 2017. A. ÂMBITO MATERIAL Por força da presente alteração, ficam excluídos de contribuições para a Segurança Social, na qualidade de trabalhadores independentes, os titulares de rendimentos da categoria B resultantes exclusivamente de: i) Produção de eletricidade para autoconsumo ou através de unidades de pequena produção a partir de energias renováveis, nos termos previstos no regime jurídico próprio; ii) Contratos de arrendamento e de arrendamento urbano para alojamento local em moradia ou apartamento, nos termos previstos no regime jurídico próprio (recentemente enquadrados como rendimentos da categoria B)).

Além disso, foi alargado o conceito de entidade contratante, na tentativa de equilibrar o esforço contributivo dos trabalhadores independentes com forte ou total dependência de rendimentos de uma única entidade. Assim, passam a estar abrangidas neste conceito, com as respetivas responsabilidades contributivas, as pessoas coletivas e as pessoas singulares com atividade empresarial, independentemente da sua natureza e das finalidades que prossigam, que no mesmo ano civil beneficiem de mais de 50 % do valor total da atividade de trabalhador independente (face ao anterior regime que considerava apenas relevante o benefício superior a 80% dos rendimentos do trabalhador independente). B. OBRIGAÇÃO CONTRIBUTIVA A obrigação contributiva dos trabalhadores independentes compreende: (i) o pagamento das contribuições e (ii) a declaração dos valores correspondentes à atividade exercida, sendo considerados como rendimentos relevantes 70% do valor da prestação de serviços ou 20% dos rendimentos proveniente de produção e venda de bens (ou, nos casos de trabalhadores independentes com contabilidade organizada, o valor do lucro tributável do ano anterior). O pagamento das contribuições mensais deverá passar a ser realizado entre o dia 10 e o dia 20 do mês seguinte àquele a que respeita. Por força da presente lei foram, ainda, alterados diversos aspetos relevantes relacionados com a obrigação contributiva que passamos a elencar: i. Produção de efeitos do primeiro enquadramento O início da produção de efeitos do primeiro enquadramento, a partir da qual se torna efetiva a obrigação de pagamento de contribuições, deixou de ter em consideração o volume dos rendimentos relevantes do trabalhador independente,

passando a verificar-se automaticamente no 1.º dia do 12.º mês posterior ao do início de atividade. ii. Isenção da obrigação contributiva A isenção contributiva consagrada a favor dos trabalhadores independentes que cumulam atividade profissional por conta de outrem passa agora a estar dependente do preenchimento de um maior número de requisitos. Assim, só poderão beneficiar da mesma os trabalhadores naquela circunstância, cujo rendimento mensal médio, apurado trimestralmente, seja inferior a 4 vezes o valor do Indexante dos Apoios Sociais (IAS - 421,32) 1 e desde que se verifiquem cumulativamente as seguintes condições: O exercício da atividade independente e a outra atividade sejam prestados a entidades empregadoras distintas e que não tenham entre si uma relação de domínio ou de grupo; O exercício de atividade por conta de outrem determine o enquadramento obrigatório noutro regime de proteção social que cubra a totalidade das eventualidades abrangidas pelo regime dos trabalhadores independentes; O valor da remuneração anual considerada para o outro regime de proteção social seja igual ou superior a 1 vez o valor do IAS. iii. Declaração de rendimentos A obrigação de declaração de rendimentos, que tinha carácter anual, passa a ter periodicidade trimestral e deve ter por base não só o montante dos rendimentos provenientes da produção e venda de bens ou de prestação de serviços, como também 1 Aos trabalhadores independentes que cumulem atividade profissional subordinada e que, preenchidos os restantes requisitos supra descritos, apresentem um rendimento mensal médio, apurado trimestralmente, superior a 4 vezes o valor do Indexante dos Apoios Sociais, é fixada uma base de incidência correspondente ao montante que ultrapasse aquele limite.

outros rendimentos considerados relevantes para o correto apuramento do rendimento do trabalhador independente, nos termos que vierem a ser definidos em legislação regulamentar. Esta declaração deverá ser realizada até ao último dia dos meses de abril, julho, outubro e janeiro, tendo por base aos rendimentos obtidos nos três meses anteriores. Este novo modelo de declaração não se aplica aos trabalhadores independentes cujo rendimento relevante seja apurado com base no lucro tributável, mantendo-se a sua declaração anual (não obstante a possibilidade de os mesmos requererem a sujeição ao regime de apuramento trimestral). No momento da declaração trimestral, o trabalhador independente pode optar pela fixação de um rendimento superior ou inferior até 25% àquele que resultar dos valores declarados nos termos que infra se descreverão, sendo a mesma realizada em intervalos de 5%. iv. Base de Incidência Contributiva No anterior regime, a base de incidência tinha natureza convencional, sendo apurada através de um sistema por escalões, que tinha por referência o valor do IAS. Uma vez que a declaração dos rendimentos passa ser trimestral, o valor da base de incidência contributiva será apurado, em cada trimestre, por recurso à média dos valores comunicados pelo trabalhador independente, em cada período declarativo. Nas situações em que inexistam rendimentos ou naquelas em que o valor das contribuições devidas por força do rendimento relevante seja inferior a 20,00, é fixada uma base de incidência convencional a que corresponda um montante mínimo de contribuições no valor de 20,00.

A base de incidência contributiva dos trabalhadores independentes em regime de contabilidade organizada corresponderá a um duodécimo do lucro tributável, com limite mínimo de 1,5 vezes o valor do IAS, sendo fixada em outubro para produzir efeitos no ano civil subsequente. A base de incidência contributiva dos trabalhadores enquadrados exclusivamente por força da sua qualidade de cônjuges de trabalhadores independentes corresponde a 70% do rendimento relevante do trabalhador independente, respeitando os limites mínimos anteriormente descritos. A base de incidência contributiva considerada em cada mês, para obtenção da média, tem como limite máximo 12 vezes o valor do IAS. v. Taxa contributiva Sofreram alterações as seguintes taxas contributivas: trabalhadores independentes de 29,6% para 21,4%; empresários em nome individual, titulares de estabelecimentos comerciais de responsabilidade limitada e respetivos cônjuges de 34,75% para 25,2%; entidades contratantes: a) 10% nas situações em que a dependência económica é superior a 80%; e b) 7% nas restantes situações. Foi ainda eliminada taxa contributiva de 28,3% anteriormente aplicável aos produtores agrícolas com rendimentos exclusivos da atividade agrícola.

24 de janeiro de 2018 TELLES DE ABREU E ASSOCIADOS SOCIEDADE DE ADVOGADOS, SP, RL