Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI Nº [...], DE [DATA]. Altera a Lei nº 13.254, de 13 de janeiro de 2016, que dispõe sobre o Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (RERCT) de recursos, bens ou direitos de origem lícita, não declarados ou declarados incorretamente, remetidos, mantidos no exterior ou repatriados por residentes ou domiciliados no País. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1 o A Lei nº 13.254, de 13 de janeiro de 2016, passa a vigorar com as seguintes alterações: Art. 1º. 3 o O RERCT aplica-se também aos não residentes no momento da publicação desta Lei, desde que residentes ou domiciliados no País conforme a legislação tributária nos anos incluídos no período de prescrição dos crimes listados no 1 o do art. 5 o. Art. 4 o 4 o Após a adesão ao RERCT e consequente regularização nos termos do caput, a opção de repatriação pelo declarante de ativos financeiros no exterior deverá ocorrer por intermédio de instituição financeira autorizada a funcionar no País e a operar no mercado de câmbio, mediante apresentação do protocolo de entrega da declaração de que trata o caput deste artigo, e caso o contribuinte necessite dos recursos do exterior para pagar o imposto e multa previstos nesta Lei, poderá ser feito o câmbio de ingresso dos montantes necessários à realização desse pagamento até o dia 30 de outubro de 2016.
5 o A regularização de ativos mantidos em nome de interposta pessoa estenderá a ela a extinção de punibilidade prevista no 1 o do art. 5 o, nas condições previstas no referido artigo, o mesmo ocorrendo para a pessoa cuja inexistência de saldo seja em função de transferência patrimonial direta ou indireta a beneficiário aderente ao RERCT. 8 o VI - para os ativos não mais existentes ou que não sejam de propriedade do declarante em 31 de dezembro de 2014, o último saldo existente, ou o valor de mercado na data da alienação do bem, conforme apontado por documento idôneo que retrate o bem ou a operação a ele referente, exceto em relação aos ativos inexistentes em função de transferência patrimonial direta ou indireta, via interpostas pessoas, a beneficiário aderente ao RERCT; VII para os ativos inexistentes que tenham sido transferidos para beneficiário aderente ao RERCT na forma do item VI, não haverá valor a ser considerado, desde que o beneficiário identifique na sua declaração de que trata o caput deste artigo a pessoa que a ele transferiu os ativos correspondentes. Art. 5 o A adesão ao programa dar-se-á mediante entrega da declaração dos recursos, bens e direitos sujeitos à regularização prevista no caput do art. 4 o e pagamento integral do imposto previsto no art. 6 o e da multa prevista no art. 8 o desta Lei, sendo permitido o ingresso de recursos no País para que o contribuinte possa promover o referido pagamento. 1 o O cumprimento das condições previstas no caput antes de decisão condenatória, em relação aos ativos incluídos na declaração de que trata o caput do art. 4º, ainda que seus respectivos valores tenham variado ao longo do tempo, extinguirá, em relação ao ano da adesão e todos os anos anteriores, a punibilidade dos crimes previstos: Art. 6 o 4 o A regularização dos bens e direitos e o pagamento dos tributos na forma deste artigo e da multa de que trata o art. 8 o implicarão: (a) a remissão dos créditos tributários decorrentes do descumprimento de obrigações tributárias e a redução de 100% (cem por cento) das multas de mora, de ofício ou isoladas e dos encargos legais diretamente relacionados a esses bens e direitos em relação a fatos geradores
ocorridos até 31 de dezembro de 2014; (b) excluirão a multa pela não entrega completa e tempestiva da declaração de capitais brasileiros no exterior, na forma definida pelo Banco Central do Brasil, as penalidades aplicadas pela Comissão de Valores Mobiliários ou outras entidades regulatórias e as penalidades previstas na Lei n o 4.131, de 3 de setembro de 1962, na Lei n o 9.069, de 29 de junho de 1995, e na Medida Provisória n o 2.224, de 4 de setembro de 2001; e (c) em relação ao ano da adesão e anos anteriores, a anistia total dos crimes previstos no parágrafo 1º do artigo 5º. Art. 7 o A adesão ao RERCT poderá ser feita até 31 de dezembro de 2016, com declaração da situação patrimonial em 31 de dezembro de 2014 e o consequente pagamento do tributo e da multa. Art. 11. Os indivíduos que se qualifiquem como pessoas politicamente expostas, nos termos do parágrafo primeiro deste artigo, poderão aderir somente se demonstrarem a origem lícita do patrimônio a ser regularizado, obtido independentemente da atuação enquanto detentores de cargos, empregos e funções públicas de direção ou eletivas, devendo manifestar expressamente esta condição na declaração de que trata o caput do art. 4º, em campo especificamente destinado a este fim, 1º A declaração de adesão a que se refere o caput artigo 4º dos participantes do RERCT que se enquadrem nas hipóteses previstas no 2º poderão ser compartilhadas com o Ministério Público, para eventual investigação quanto à origem dos recursos regularizados, não se lhes aplicando as disposições do art. 4º, 12º, inciso I. 2º Para os fins desta Lei, são consideradas pessoas politicamente expostas os agentes públicos que desempenham ou tenham desempenhado, desde a entrada em vigor da Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, no Brasil ou em países, territórios e dependências estrangeiros, cargos, empregos ou funções públicas relevantes, elencados abaixo: I - detentores de mandatos eletivos dos Poderes Executivo e Legislativo da União; II - ocupantes de cargo, no Poder Executivo da União: a) de Ministro de Estado ou equiparado; b) de natureza especial;
c) de presidente, vice-presidente e diretor de autarquias, fundações públicas, empresas públicas ou sociedades de economia mista; d) do Grupo Direção e Assessoramento Superiores (DAS), nível 6, ou equivalentes nos Estados e municípios; III- membros do Conselho Nacional de Justiça, do Supremo Tribunal Federal, dos tribunais superiores, dos tribunais regionais federais, do trabalho e eleitorais, do Conselho Superior da Justiça do Trabalho e do Conselho da Justiça Federal; IV - membros do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador- Geral da República, o Vice-Procurador-Geral da República, o Procurador-Geral do Trabalho, o Procurador-Geral da Justiça Militar, os Subprocuradores-Gerais da República e os Procuradores- Gerais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal; V- membros do Tribunal de Contas da União e o Procurador-Geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União; VI- governadores de Estado e do Distrito Federal, os presidentes de tribunal de justiça, de assembleia e câmara legislativa, os presidentes de tribunal de contas de Estado, do Distrito Federal e de Município, e de conselho de contas dos Municípios; VII - secretários de Estado; VIII - prefeitos; IX vereadores; X - secretários municipais; e XI - todos os representantes, parentes, na linha reta, até o 1º grau, o cônjuge, o companheiro, a companheira, o enteado e a enteada dos detentores de cargos mencionados acima. Art. 2º. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, DATA; 195o da Independência e 128o da República.
JUSTIFICAÇÃO A Lei 13.254, de 13 de janeiro de 2016, ( Lei 13.254/2016 ) dispõe sobre o Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária ( RERCT ) de recursos lícitos do exterior, o qual prevê que, cumpridas todas as obrigações nele previstas, haverá a extinção da punibilidade dos crimes elencados no artigo 5º, 1º da referida lei, com relação aos bens direitos e recursos de origem lícita localizados no exterior ou repatriados. Há alguns dispositivos da Lei que vem causando dúvidas e polêmicas junto aos contribuintes, fazendo com que estes fiquem em dúvida ou relutantes a aderir. Assim, mister se faz ajustar alguns artigos da legislação para aumentar a segurança jurídica e estimular a maior adesão, sem que esses ajustes impliquem redução da carga tributária já estabelecida. Os dispositivos para os quais se sugerem as alterações são os seguintes: a) Parágrafo 3º do Artigo 1º Texto original: 3o O RERCT aplica-se também aos não residentes no momento da publicação desta Lei, desde que residentes ou domiciliados no País conforme a legislação tributária em 31 de dezembro de 2014. Texto proposto: 3o O RERCT aplica-se também aos não residentes no momento da publicação desta Lei, desde que residentes ou domiciliados no País conforme a legislação tributária nos anos incluídos no período de prescrição dos crimes listados no 1o do art. 5o. Justificativa: Com o texto atual, as pessoas que fizeram a saída definitiva do País antes de 31/12/2014 ficam impedidas de entrar no Programa RERCT,
sendo que há interessados em fazer a regularização ainda que morando fora do País, em função da possibilidade de retornarem ao Brasil no curto ou médio prazo. Com isso, amplia-se o escopo das pessoas que podem fazer uso do Programa RERCT, aumentando o potencial de arrecadação. b) Art. 4º, Parágrafo 4º. Texto Original 4 o Após a adesão ao RERCT e consequente regularização nos termos do caput, a opção de repatriação pelo declarante de ativos financeiros no exterior deverá ocorrer por intermédio de instituição financeira autorizada a funcionar no País e a operar no mercado de câmbio, mediante apresentação do protocolo de entrega da declaração de que trata o caput deste artigo. Texto Proposto 4 o Após a adesão ao RERCT e consequente regularização nos termos do caput, a opção de repatriação pelo declarante de ativos financeiros no exterior deverá ocorrer por intermédio de instituição financeira autorizada a funcionar no País e a operar no mercado de câmbio, mediante apresentação do protocolo de entrega da declaração de que trata o caput deste artigo, e caso o contribuinte necessite dos recursos do exterior para pagar o imposto e multa previstos nesta Lei, poderá ser feito o câmbio de ingresso dos montantes necessários à realização desse pagamento até o dia 30 de outubro de 2016. Justificativa Diversos contribuintes estão encontrando problemas de liquidez no País para realizar o pagamento do imposto e multa devidos no RERCT e, por conta disso, estão considerando não aderir. Ao mesmo tempo, para as instituições financeiras, não há segurança jurídica em fazer o câmbio dos recursos que ainda não foram totalmente regularizados, justamente
por falta de autorização legal. Esta alteração permite que os contribuintes tragam recursos do exterior para pagar suas obrigações sob o RERCT e, assim, ajuda a aumentar o número de contribuintes que poderão a ele aderir. c) Art. 4º, Parágrafos 5º e 8º, inciso VI e VII (novo) Texto original 5 o A regularização de ativos mantidos em nome de interposta pessoa estenderá a ela a extinção de punibilidade prevista no 1 o do art. 5 o, nas condições previstas no referido artigo. 8o Para fins da declaração prevista no caput, o valor dos ativos a serem declarados deve corresponder aos valores de mercado, presumindo-se como tal: VI - para os ativos não mais existentes ou que não sejam de propriedade do declarante em 31 de dezembro de 2014, o valor apontado por documento idôneo que retrate o bem ou a operação a ele referente. Texto proposto 5 o A regularização de ativos mantidos em nome de interposta pessoa estenderá a ela a extinção de punibilidade prevista no 1 o do art. 5 o, nas condições previstas no referido artigo, o mesmo ocorrendo para a pessoa cuja inexistência de saldo seja em função de transferência patrimonial direta ou indireta a beneficiário aderente ao RERCT. 8 o VI - para os ativos não mais existentes ou que não sejam de propriedade do declarante em 31 de dezembro de 2014, o último saldo existente, ou o valor de mercado na data da alienação do bem, conforme apontado por documento idôneo que retrate o bem ou a operação a ele referente, exceto em relação aos ativos inexistentes em função de transferência patrimonial direta ou indireta, via interpostas pessoas, a beneficiário aderente ao RERCT;
VII para os ativos inexistentes que tenham sido transferidos para beneficiário aderente ao RERCT na forma do item VI, não haverá valor a ser considerado, desde que o beneficiário identifique na sua declaração de que trata o caput deste artigo a pessoa que a ele transferiu os ativos correspondentes. Justificativa Para os ativos inexistentes, os contribuintes estão manifestando dúvidas quanto à data que devem considerar para presumir o valor e, assim, a mudança sugerida faz com que o valor a ser considerado deverá ser o último valor enquanto o ativo ainda existia, ou o valor de mercado do ativo na data da alienação. Outro ponto que o ajuste aqui proposto trata é a questão relativa às transferências patrimoniais. Com base na legislação atual, o pai que tinha, por exemplo, USD 50 milhões não declarados em 2012, e nesse ano fez a doação aos seus 2 filhos do montante total, se quiser obter a anistia, é obrigado a fazer a declaração de conduta e pagar o imposto e multa sobre os USD 50 milhões. Porém, esse pagamento não aproveita a seus filhos, de tal maneira que os filhos também irão declarar USD 25 milhões cada um, e pagar novamente imposto e multa sobre esses montantes. Note-se que, na legislação de imposto de renda, as transferências patrimoniais são isentas de imposto de renda, e somente no caso de o doador decidir realizar a doação por valor de mercado, haverá tributação sobre o ganho de capital (ou seja, sobre a diferença entre o valor de mercado e o valor de custo, mas não sobre o valor principal). Assim, a alteração proposta adequa o RERCT à legislação do imposto de renda, assegurando que não haja dupla tributação no caso de transferências patrimoniais.
d) Artigos 5º e 6º Texto original Art. 5º. A adesão ao programa dar-se-á mediante entrega da declaração dos recursos, bens e direitos sujeitos à regularização prevista no caput do art. 4o e pagamento integral do imposto previsto no art. 6o e da multa prevista no art. 8o desta Lei. 1º. O cumprimento das condições previstas no caput antes de decisão criminal, em relação aos bens a serem regularizados, extinguirá a punibilidade dos crimes previstos: Art. 6º. 4º A regularização dos bens e direitos e o pagamento dos tributos na forma deste artigo e da multa de que trata o art. 8º implicarão a remissão dos créditos tributários decorrentes do descumprimento de obrigações tributárias e a redução de 100% (cem por cento) das multas de mora, de ofício ou isoladas e dos encargos legais diretamente relacionados a esses bens e direitos em relação a fatos geradores ocorridos até 31 de dezembro de 2014 e excluirão a multa pela não entrega completa e tempestiva da declaração de capitais brasileiros no exterior, na forma definida pelo Banco Central do Brasil, as penalidades aplicadas pela Comissão de Valores Mobiliários ou outras entidades regulatórias e as penalidades previstas na Lei no 4.131, de 3 de setembro de 1962, na Lei no 9.069, de 29 de junho de 1995, e na Medida Provisória no 2.224, de 4 de setembro de 2001. Texto sugerido Art. 5º. A adesão ao programa dar-se-á mediante entrega da declaração dos recursos, bens e direitos sujeitos à regularização prevista no caput do art. 4º e pagamento integral do imposto previsto no art. 6º e da multa
prevista no art. 8º desta Lei, sendo permitido o ingresso de recursos no País para que o contribuinte possa promover o referido pagamento. 1º. O cumprimento das condições previstas no caput antes de decisão condenatória, em relação aos ativos incluídos na declaração de que trata o caput do art. 4º, ainda que seus respectivos valores tenham variado ao longo do tempo, extinguirá, em relação ao ano da adesão e todos os anos anteriores, a punibilidade dos crimes previstos: Art. 6º 4º A regularização dos bens e direitos e o pagamento dos tributos na forma deste artigo e da multa de que trata o art. 8o implicarão: (a) a remissão dos créditos tributários decorrentes do descumprimento de obrigações tributárias e a redução de 100% (cem por cento) das multas de mora, de ofício ou isoladas e dos encargos legais diretamente relacionados a esses bens e direitos em relação a fatos geradores ocorridos até 31 de dezembro de 2014; (b) excluirão a multa pela não entrega completa e tempestiva da declaração de capitais brasileiros no exterior, na forma definida pelo Banco Central do Brasil, as penalidades aplicadas pela Comissão de Valores Mobiliários ou outras entidades regulatórias e as penalidades previstas na Lei no 4.131, de 3 de setembro de 1962, na Lei no 9.069, de 29 de junho de 1995, e na Medida Provisória no 2.224, de 4 de setembro de 2001; e (c) em relação ao ano da adesão e anos anteriores, a anistia total dos crimes previstos no parágrafo 1º do artigo 5º. Justificativa Este artigo visa dar segurança jurídica aos contribuintes de que, ao efetuar o pagamento como determina a lei com base nos saldos, patrimônio líquido ou valor de mercado em 31 de dezembro de 2014 haverá a anistia integral dos crimes previstos no parágrafo 1º do Art. 5º, ainda que os valores anteriores a 2014 possam ter sido superiores.
Isto porque, há uma dúvida entre os contribuintes no caso de uma pessoa ter, por exemplo, aplicação financeira que valia USD 15 milhões em 31/12/2013, e USD 12 milhões em 31/12/2014: ao pagar o imposto e multa sobre USD 12 milhões, ainda restaria a exposição quanto aos crimes previstos no parágrafo 1º do art. 5º em relação aos USD 3 milhões do exemplo? Essa dúvida tem na prática afastado diversos contribuintes que não querem pagar imposto e multa sobre a diferença entre o maior saldo que já tiveram ao longo do período de prescrição criminal e o saldo/valor em 31/12/2014, já que foi esse último que a lei elegeu como base de cálculo do imposto e multa. Assim, a alteração proposta visa dar a segurança jurídica aos contribuintes que irão aderir ao RERCT que, uma vez cumpridas as obrigações que estão na lei, a anistia será global, ainda que os saldos/valores tenham variado durante os anos não atingidos pela prescrição criminal. e) Artigo 7º Texto original Art. 7º A adesão ao RERCT poderá ser feita no prazo de 210 (duzentos e dez) dias, contado a partir da data de entrada em vigor do ato da RFB de que trata o art. 10, com declaração da situação patrimonial em 31 de dezembro de 2014 e o consequente pagamento do tributo e da multa. Texto sugerido Art. 7º A adesão ao RERCT poderá ser feita até 31 de dezembro de 2016, com declaração da situação patrimonial em 31 de dezembro de 2014 e o consequente pagamento do tributo e da multa.
Justificativas A extensão do prazo se justifica pela dificuldade que vem sendo encontrada por diversos contribuintes para reunir a documentação necessária, bem como pelas alterações que serão promovidas por este Projeto de Lei. De qualquer maneira, os recursos ingressarão ainda em 2016. f) Artigo 11 Texto original Art. 11. Os efeitos desta Lei não serão aplicados aos detentores de cargos, empregos e funções públicas de direção ou eletivas, nem ao respectivo cônjuge e aos parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, na data de publicação desta Lei. Texto sugerido Art. 11. Os indivíduos que se qualifiquem como pessoas politicamente expostas, nos termos do parágrafo primeiro deste artigo, poderão aderir somente se demonstrarem a origem lícita do patrimônio a ser regularizado, obtido independentemente da atuação enquanto detentores de cargos, empregos e funções públicas de direção ou eletivas, devendo manifestar expressamente esta condição na declaração de que trata o caput do art. 4º, em campo especificamente destinado a este fim. 1º A declaração de adesão a que se refere o caput artigo 4º dos participantes do RERCT que se enquadrem nas hipóteses previstas no 2º poderão ser compartilhadas com o Ministério Público, para eventual investigação quanto à origem dos recursos regularizados, não se lhes aplicando as disposições do art. 4º, 12º, inciso I.
2º Para os fins desta Lei, são consideradas pessoas politicamente expostas os agentes públicos que desempenham ou tenham desempenhado, desde a entrada em vigor da Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, no Brasil ou em países, territórios e dependências estrangeiros, cargos, empregos ou funções públicas relevantes, elencados abaixo: I - detentores de mandatos eletivos dos Poderes Executivo e Legislativo da União; II - ocupantes de cargo, no Poder Executivo da União: a) de Ministro de Estado ou equiparado; b) de natureza especial; c) de presidente, vice-presidente e diretor de autarquias, fundações públicas, empresas públicas ou sociedades de economia mista; d) do Grupo Direção e Assessoramento Superiores (DAS), nível 6, ou equivalentes nos Estados e municípios; III- membros do Conselho Nacional de Justiça, do Supremo Tribunal Federal, dos tribunais superiores, dos tribunais regionais federais, do trabalho e eleitorais, do Conselho Superior da Justiça do Trabalho e do Conselho da Justiça Federal; IV - membros do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador- Geral da República, o Vice-Procurador-Geral da República, o Procurador-Geral do Trabalho, o Procurador-Geral da Justiça Militar, os Subprocuradores-Gerais da República e os Procuradores- Gerais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal; V- membros do Tribunal de Contas da União e o Procurador-Geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União; VI- governadores de Estado e do Distrito Federal, os presidentes de tribunal de justiça, de assembleia e câmara legislativa, os presidentes de tribunal de contas de Estado, do Distrito Federal e de Município, e de conselho de contas dos Municípios; VII - secretários de Estado; VIII - prefeitos; IX vereadores; X - secretários municipais; e
XI - todos os representantes, parentes, na linha reta, até o 1º grau, o cônjuge, o companheiro, a companheira, o enteado e a enteada dos detentores de cargos mencionados acima. Justificativa Entende-se elogiosa a intenção da Câmara dos Deputados de tentar impedir que recursos oriundos de corrupção, tráfico de influência, improbidade administrativa, entre outros crimes contra a administração pública, sejam regularizados no âmbito do projeto. Entretanto, a redação dada ao artigo 11 da Lei 13.254/2016 além de ser demasiadamente imprecisa e ter gerado diversos questionamentos por parte dos contribuintes, não contempla pessoas que exerceram cargos, empregos e funções públicas diretivas ou eletivas no passado, mas não o exercem mais, o que está beneficiando diversos políticos e diretores de estatais que deixaram suas funções antes da promulgação da lei, justamente por estarem sendo investigados por prática de crimes de corrupção (i.e. investigados na Lava Jato, Operação Zelotes, entre outras). Além disso, ao proibir a adesão por detentores de cargos públicos e, consequentemente, excluir aqueles que, a despeito da proibição legal, aderirem, uma das consequências jurídicas com relação a estes será a proibição de instauração ou continuidade de procedimentos investigatórios quanto à origem dos ativos objeto de regularização, se não houver evidências documentais não relacionadas à declaração do contribuinte. Nesse sentido, políticos que ilegalmente adiram ao RERCT terão a proteção legal do sigilo de suas informações, ainda que os recursos sejam oriundos da prática de crimes de corrupção, peculato, improbidade, entre outros, retirando do Ministério Público a prerrogativa de investigar eventuais ilícitos que tenham dado origem ao patrimônio não declarado, em evidente prejuízo à nação brasileira.
Ademais, a redação atual do art. 11 da Lei 13.254/2016 acaba por proibir que grande parte dos contribuintes adira ao RERCT, haja vista a enorme possibilidade de um contribuinte ter um parente distante (i.e. cunhado, sogro, tio) detentor de cargo público, considerando o número exorbitante de funcionários públicos no Brasil - em 2014, ultrapassavam 11 milhões de pessoas. Tal restrição ao número de participantes já se percebe, tendo em vista o número pífio de declarações apresentadas cinco meses após aprovação da lei: até o momento, somente 180 contribuintes aderiram ao programa, segundo a Receita Federal, totalizando R$ 4 bilhões arrecadados, valor bem distante dos R$150 bilhões inicialmente esperados1. Ainda, o dispositivo é claramente inconstitucional, tendo em vista que fere a presunção da inocência, não sendo razoável presumir que o patrimônio no exterior de titularidade de detentores de cargos públicos e seus parentes consanguíneos e afins seja resultado de atos ilícitos contra a administração pública. Soma-se a isso a inconstitucionalidade pelo tratamento desigual conferido aos detentores de cargos públicos e seus familiares, sem, no entanto, haver uma relação direta entre o discrímen e a finalidade da lei, que o pudesse justificar. Por fim, ressalta-se que, sob a justificativa de ajuste de redação, a expressão na data de publicação desta Lei foi incluída no dispositivo quando da aprovação do texto pelo Senado, o que acabou por agravar o discrímen contido no artigo, uma vez que pessoas que foram detentoras de cargos públicos no passado e não o são mais, por vezes até por estarem sendo investigadas pela prática de crimes, poderão aderir ao RERCT, enquanto outros que tomaram posse na data da publicação da 1 Anistia tem 180 adesões e começa por bancos pequenos e médios Artigo Valor Econômico, publicado em 19.05.2016. Disponível em: http://www.valor.com.br/financas/4569675/anistia-tem-180-adesoes-e-comeca-por-bancos-pequenos-e-medios
Lei, sem nunca terem tido relação com a administração pública, não poderão. A restrição a tais direitos fundamentais somente seria constitucionalmente justificável se não houvesse outros meios de perseguir o objetivo a que se dirige: evitar que recursos oriundos de práticas contra a administração pública sejam regularizados. Ocorre que a Lei 13.254/2016 (i) proíbe a adesão de contribuintes cujos ativos tenham origem em atividade econômica ilícita; (ii) permite que, diante de indícios de prática de crimes, as autoridades competentes investiguem a origem do patrimônio regularizado; e (iii) prevê que, na hipótese de identificação de declaração falsa quanto à licitude dos recursos, o contribuinte seja excluído do programa, recolha todos os tributos incidentes, bem como se sujeite às sanções penais cabíveis. Ainda, para contribuir com investigações relativas à origem do dinheiro, a Lei prevê (i) em seu artigo 4º, caput, que uma cópia da declaração de regularização será enviada ao Banco Central; e (ii) em seu artigo 4º, 13, que quando o montante regularizado for superior a cem mil dólares, as informações relativas à adesão deverão ser repassadas pela instituição financeira no exterior a uma instituição financeira autorizada a funcionar no País, para que esta as repasse à Receita Federal. Nesse contexto, o compartilhamento das informações com a instituição financeira brasileira permitirá a identificação de patrimônio não compatível com a renda do contribuinte e trará luz ao patrimônio declarado por pessoas politicamente expostas, tendo em vista as obrigações de prevenção à lavagem de dinheiro a que estão sujeitas as instituições financeiras e as obrigam a comunicar ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF)2quaisquer operações suspeitas e a dar maior atenção às pessoas politicamente expostas. 2A Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, nos artigos 10 e 11, prevê a obrigação das instituições financeiras de identificarem seus clientes e comunicarem operações suspeitas de lavagem de dinheiro, nos termos das diretrizes da Circular BCB 3.461/2015 e da
Nesse sentido, para melhor atender ao anseio moralizante do referido artigo e dar mais efetividade ao dispositivo, deve-se dedicar um tratamento diferenciado e mais rígido para adesão ao programa não somente aos detentores de cargos públicos, mas de todos os indivíduos contemplados pela definição de pessoas politicamente expostas 3, desde a entrada em vigor da Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998 ( Lei de Lavagem de Dinheiro ). Definição esta já consolidada no ordenamento jurídico vigente e em completa harmonia com todos os tratados internacionais sobre prevenção à corrupção e à lavagem de dinheiro, dos quais o Brasil é signatário4. A sugestão de alteração da redação do art. 11 também atende a todas as condições previstas pelas diretrizes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no âmbito de aprovação de programas de regularização fiscal5, uma vez que (i) permite a identificação de pessoas politicamente expostas; (ii) dispensa tratamento mais rigoroso com relação a adesão pelo programa por esses indivíduos; e (iii) permite a investigação da origem dos recursos declarados, em qualquer circunstância, de modo a impedir que sejam regularizados ativos de origem em atividade ilícita. Carta Circular BCB nº 3.542/2012, que apontam as hipóteses de comunicação e definem quem é considerado pessoa politicamente exposta. 3 Nos termos da Circular do Banco Central do Brasil nº 3.461/2009, são classificadas como pessoas politicamente expostas, os agentes públicos que desempenham ou tenham desempenhado, nos últimos cinco anos, no Brasil ou em países, territórios e dependências estrangeiros, cargos, empregos ou funções públicas relevantes, assim como seus representantes, familiares e outras pessoas de seu relacionamento próximo (parentes, na linha reta, até o 1º grau, o cônjuge, o companheiro, a companheira, o enteado e a enteada), incluindo (i) detentores de mandatos eletivos dos Poderes Executivo e Legislativo da União; (ii) ocupantes de cargo, no Poder Executivo da União: a) de ministro de estado ou equiparado; b) de natureza especial ou equivalente; c) de presidente, vice-presidente e diretor, ou equivalentes, de autarquias, fundações públicas, empresas públicas ou sociedades de economia mista; d) do Grupo Direção e Assessoramento Superiores (DAS), nível 6, ou equivalentes; (iii) membros do Conselho Nacional de Justiça, do Supremo Tribunal Federal, dos tribunais superiores, dos tribunais regionais federais, do trabalho e eleitorais, do Conselho Superior da Justiça do Trabalho e do Conselho da Justiça Federal;(iv) membros do Conselho Nacional do Ministério Público, Procurador- Geral da República, Vice-Procurador-Geral da República, Procurador-Geral do Trabalho, Procurador-Geral da Justiça Militar, Subprocuradores-Gerais da República e Procuradores- Gerais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal; (v) membros do Tribunal de Contas da União e Procurador-Geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União; (vi) governadores de Estado e do Distrito Federal, os presidentes de tribunal de justiça, de assembleia e câmara legislativa, os presidentes de tribunal de contas de Estado, do Distrito Federal e de Município, e de conselho de contas dos Municípios; (vii) prefeitos e presidentes de Câmara Municipal de capitais de Estados. 4 A definição para pessoas politicamente expostas está em termos com as diretrizes previstas no artigo 52 da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, ratificada pelo Brasil por meio do Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006. 5 Update on Voluntary Disclosure Programme. A Pathway to tax Compliance. Disponível em: https://www.oecd.org/ctp/exchange-of-tax-information/voluntary-disclosure-programmes-2015.pdf
Ante todo o exposto, sugere-se a alteração da redação do dispositivo para atender, concomitantemente, (i) ao imperioso ético de garantir que detentores de cargos públicos não possam regularizar recursos oriundos de crimes contra a administração pública; (ii) viabilizar a adesão ao RERCT por todos os contribuintes que tenham bens, direitos e recursos de origem lícita, sem distinção; e (iii) permitir que as autoridades competentes tenham conhecimento e possam investigar todas as pessoas politicamente expostas, no presente e no passado, bem como seus familiares e outras pessoas de seu relacionamento próximo, inclusive quanto à licitude do patrimônio declarado. Assim, fortes nessas razões, esperamos a aprovação pelos eminentes Pares. Sala das Sessões, em [DATA] de 2016.