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Transcrição:

LUIS ABDAL 44 anos, consultor de marketing investe há dois anos HELENA ABDALLA 48 anos, dona de casa - investe há um ano RODRIGO GUEDES 36 anos, empresário - investe há cinco anos DORIVAL de OLIVEIRA 60 anos, aposentado - investe há quatro anos CRISTIANO DALL AGNOL 36 anos, comandante de voo investe há cinco anos JULIANA CRUZ 33 anos, médica investe há cinco anos VIVIAN USUI 23 anos, estudante - investe há quatro anos Elaine Yara Monegati 40 anos, administradora - investe há 15 anos fábrica de capitalistas A bolsa de valores brasileira foi a que atraiu investidores individuais no ritmo mais frenético do mundo entre 2004 e 2009. Nos próximos cinco anos, terá de conquistar mais de 4 de aplicadores. O que essa expansão significa para o mercado e para o país Eduardo Salgado e Giovana Suzin HIGOR FABIO de medeiros 29 anos, tenente do Exército investe há seis anos RODRIGO FORONDA 40 anos, dentista - investe há sete anos fotos Alexandre BatTibugli 4 EXAME INVESTIMENTOS PESSOAIS 2010 EXAME INVESTIMENTOS PESSOAIS 2010 5

O grande salto adiante Nos últimos seis anos, a bolsa brasileira teve o movimento de popularização mais veloz do mundo A corrida para a bolsa Entre 2004 e 2009, a bolsa de valores brasileira foi a que registrou o maior crescimento no número de aplicadores pessoas físicas m d o s b e n s m a i s p r e c i o s o s q u e u m a n a ç ã o p o d e t e r é a c o n - f i a n ç a n o f u t u r o. Esse componente intangível, que foi quase declarado em extinção por aqui, está hoje em quase todos os cantos do país e é fruto não de um ou outro governo, mas de um processo de quase duas décadas de estabilização da economia. O aumento da crença num futuro melhor do que o presente pode ser observado nos investimentos, no consumo, na ascensão de uma nova classe média. Pode ser visto, também, no anúncio de metas de longo prazo ambiciosas, como as do executivo Edemir Pinto. Aos 57 anos de idade, o paulista Edemir preside uma das bolsas de valores mais empolgantes do planeta nos últimos anos, a BM&F Bovespa, símbolo máximo do mercado de capitais brasileiro. Comparada com mercados de ações do mundo desenvolvido e até com alguns do círculo das economias emergentes, a bolsa de valores brasileira reúne um modesto número de investidores. Ao longo de seus 120 anos de vida marcados por períodos de decadência, letargia e euforia atraiu cerca de 600 000 aplicadores individuais, Como chegar a 5 de investidores Para sair dos atuais 598 000 aplicadores e atingir a meta de atrair outros 4,4 até 2015, a bolsa encomendou estudos inéditos sobre quem já aplica em ações e quem pretende começar. Os alvos são as classes B e C O que é a bolsa hoje 598 000 investidores 464 empresas Quem já está na Bovespa Homem Renda mensal superior a 6 000 reais Casado 6 EXAME INVESTIMENTOS PESSOAIS 2010 a maioria deles no intervalo entre 2004 e 2009. A BM&F Bovespa vista ela própria como um negócio de capital aberto precisa crescer. E a carreira do economista Edemir como seu presidente depende disso. Recentemente, ele prometeu aos investidores da BM&F Bovespa que, até 2015, 4,4 de brasileiros entrarão no mer- A meta para 2015 5 de investidores 664 empresas Quem a bolsa quer conquistar Homem e mulher Renda mensal a partir de 2 500 reais Casados e solteiros cado de ações. Como acontece com os presidentes das outras 463 companhias listadas em bolsa, precisará cumprir. Trata-se de um desafio gigantesco, que, tornado realidade, pode ajudar a mudar a face do capitalismo brasileiro. Nos últimos seis anos, o mercado de ações atraiu, em média, nove investidores por hora. Para chegar ao total de 5 até 2015, a bolsa brasileira terá de aumentar o ritmo para 114 novos aplicadores a cada 60 minutos até o final de 2014. Edemir conseguirá atingir sua meta? Impossível dizer. O futuro está no futuro. Mas há fatores que separam seu anúncio de um simples querer. À frente de uma companhia aberta, ele sabe que suas declarações são registradas por analistas e investidores. E esse tipo de gente não costuma perdoar metas não atingidas. Acima de tudo, Edemir se protege das acusações de megalomaníaco por ser hoje o presidente da bolsa de valores que atrai investidores no ritmo mais alucinante do mundo. Nos últimos seis anos, o número de aplicadores brasileiros cresceu 545% índice que se explica, em grande parte, pela dimensão reduzida da bolsa brasileira. Entre o início de 2004 e o final de 2009, o total de pessoas que investem diretamente em ações (não via fundos) saiu de 85 500 para 552 000. Quando começa, o processo de popularização tem muitas semelhanças com uma epidemia, diz Jeremy Stein, professor de finanças da Universidade Harvard. As pessoas sentem que as regras do jogo não são contra elas, começam a investir, contam para os amigos e o negócio se alastra. É exatamente isso o que está acontecendo no Brasil. O pano de fundo do recente fenômeno de popularização da bolsa no país foi um período econômico em que quase tudo parece ter conspirado a 85500 (1) (10) 5% Estados Unidos 545% Brasil 73,7 45 (2) (8) (10) -36% Inglaterra Os investidores no embalo dos IPOs Impulsionada por ofertas de ações bilionárias, a Bovespa recebeu nove investidores por hora desde o final de dezembro de 2003 (número de investidores pessoas físicas) 117000 A Natura inaugura uma nova fase da Bovespa com uma abertura de 768 de reais 155000 Entre 2005 e 2006, a bolsa tem três IPOs de 1,1 bilhão de reais Energias do Brasil, MMX e Brascan (3) (10) -26% Itália 220 000 O ano tem 64 aberturas, das quais dez bilionárias. No total, são levantados 55,6 bilhões de reais, um recorde 482% (4) Rússia 0,6% Turquia (9) (11) -52% Índia 115% (5) Hong Kong 1,7 16% Coreia do Sul (8) (10) 27% Austrália Há espaço para crescer Apesar da velocidade com que os brasileiros passaram a aplicar em ações, o número de investidores na Bovespa ainda é baixo 4,1 457 000 Num ano de poucos IPOs quatro no total, a OGX capta 6,7 bilhões de reais 537000 O Santander levanta 13,1 bilhões de reais e a Visanet 8,3 bilhões, os dois maiores valores da história da bolsa 552000 25% Japão 105% (6) China 15% (7) Taiwan A OSX capta 2,4 bilhões de reais e a Ecorodovias 1,3 bilhão. O número de investidores volta a subir com uma oferta do Banco do Brasil 598 000 China (12) Japão Austrália Coreia do Sul Índia Brasil 598 000 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 3,7 (1) Entre 2002 e 2008. Inclui ações em planos de aposentadoria (2) Inclui membros de clubes de investimentos em ações (3) Entre 2002 e 2008 (4) Entre 2006 e 2009 (5) Inclui investidores em ETF (6) O crescimento foi de 105% tanto em Shenzhen como em Xangai (7) Inclui investidores institucionais (8) Entre 2003 e 2008 (9) Entre 2007 e 2009 (10) Fonte de pesquisa domiciliar (11) Refere-se somente à National Stock Exchange of India (12) Dados da bolsa de Xangai Observação: as bolsas de África do Sul, Alemanha, Canadá, Chile, Espanha, França e México disseram não ter o dado. A bolsa da Arábia Saudita não respondeu. Fontes: bolsas de Hong Kong, Turquia, Coreia do Sul, Austrália, National Stock Exchange of India, Rússia, Brasil, China (Xangai e Shenzhen), Japão, Taiwan, Corretora Ágora, Investment Company Institute and the Securities Industry and Financial Markets Association of the US, Departamento de Trabalho e Pensão do Reino Unido, Banca D Italia, BM&F Bovespa

Para as empresas, a bolsa ainda é um clube de elite Apesar dos progressos dos últimos anos, o número de empresas listadas na Bovespa é baixo na comparação internacional (1) Estados Unidos 4 401 Canadá 3761 Espanha 3435 China 1700 França 941 Brasil Indonésia 464 (2) 398 (1) Números de 2009 (2) Dado de julho de 2010 Fontes: Standard&Poor s Global Stock Markets Factbook, BM&F Bovespa, BNDES seu favor. A partir de 2004, já com a confiança na manutenção da política econômica restabelecida, os papéis das empresas listadas na Bovespa foram considerados baratos pelos gestores internacionais, na ocasião, ávidos por aumentar seus investimentos em países emergentes. Esse foi o motor da profusão de ofertas iniciais de ações, os chamados IPOs, observada nos anos seguintes e que, em meio à queda da Selic, acabou captando o imaginário e o bolso de uma parcela daqueles que ocupam o alto da pirâmide social brasileira. Por tudo isso, o número de investidores chegou rapidamente a meio milhão (veja quadro na pág. 7). Quando a crise financeira mundial de 2008 estourou, vários analistas passaram a defender que a popularização da bolsa brasileira era um fenômeno passageiro e que despencaria junto com o Índice Bovespa. Em outras palavras: era um erro usar evidências de curto prazo para tentar provar uma tendência de longo prazo. A reação positiva da economia brasileira e a maturidade dos investidores, que não saíram em disparada, desmentiram os pessimistas. Depois do que vivemos nos últimos anos, está longe de ser uma loucura ter como objetivo chegar a 5 de investidores, diz Edemir. A primeira grande arrancada poderá acontecer já em setembro. A Petrobras prepara aquela que poderá ser a maior capitalização da história. O processo está envolto em dúvidas (veja reportagem na pág. 40). Mas, caso seja um sucesso, pode superar a capitalização feita pelo banco britânico Royal Bank of Scotland, que captou 24 bilhões de dólares em 2008, até agora a maior de todos os tempos. Operações desse tipo têm sido sinônimo de novos investidores no mercado de ações. Foi assim nos grandes IPOs realizados na bolsa nos últimos anos, como os da própria BM&F, da Bovespa, Redecard e Santander. Em 2010, um ano em que a bolsa brasileira não exibe a mesma exuberância de períodos recentes, o fenômeno voltou a ocorrer. O total de aplicadores parecia ter estacionado em cerca de 550 000 até que, em julho, veio a oferta de 9,7 bilhões de reais do Banco do Brasil e, de uma hora para a outra, mais de 40 000 pessoas entraram no mercado. Mesmo com o certo pessimismo que ronda o cenário financeiro mundial, a expectativa da bolsa é que dezenas de milhares de investidores sejam atraídos por uma eventual oferta bem-sucedida da Petrobras. Para as empresas listadas em bolsa, os investidores individuais brasileiros são um componente valorizado no Pátio de contêineres da Triunfo: depois de captar na bolsa em 2007, a empresa dobrou de tamanho conjunto de aplicadores, que também inclui os fundos estrangeiros e os institucionais locais. Como não agem em bloco, eles são como âncoras que diminuem as idas e vindas no preço da ação. As companhias que dependem dos grandes aplicadores, como fundos de hedge estrangeiros, costumam ver seus papéis sofrer fortes quedas quando um deles decide ir embora, diz Geraldo Soares, superintendente de relações com investidores do Itaú Unibanco. Do ponto de vista da BM&F Bovespa, chegar aos 5 de investidores brasileiros faz parte de um De 2004 a 2009, a bolsa atraiu nove investidores por hora. Para chegar a 5 até 2015, terá de aumentar o ritmo para 114 a cada 60 minutos plano maior de aumentar a demanda por ações. Em outras frentes, a bolsa busca atrair investidores individuais estrangeiros e fundos de alta frequência comandados por computadores, que recentemente infestaram o mercado americano. A favor de seu plano, Edemir usa as estatísticas registradas por bolsas internacionais, sobretudo as de países emergentes. Na China, 73,7 de pessoas (5,5% da população) investem diretamente em ações. Na Coreia do Sul, o número é de 3,7 (7,5% dos coreanos). Em mercados maduros, como o americano, mais da metade das famílias é dona de ações. No Brasil, esse fenômeno dá os primeiros passos o percentual é de apenas 0,3%. Para entender quem já investe na bolsa e quem pode se juntar a ela nos próximos anos, a BM&F Bovespa encomendou uma pesquisa ao instituto de pesquisa Plano CDE. Entre 12 de 8 EXAME INVESTIMENTOS PESSOAIS 2010 EXAME INVESTIMENTOS PESSOAIS 2010 9

Edemir Pinto, da BM&F Bovespa, e Pelé: esforço para atrair as classes B e C divulgação BM&F/bovespa julho e 4 de agosto, 600 pessoas foram ouvidas em São Paulo e no Rio de Janeiro. O resultado mostrou que a expansão de 2004 a 2009 foi capitaneada majoritariamente por homens (eles são 75% do total) e, de modo geral, seguiu o caminho clássico desbravado pelos americanos nos anos 50 do século passado, quando aconteceu a primeira onda de popularização em larga escala de um mercado de ações. O investidor médio brasileiro é casado (60%), está na parte de cima da pirâmide social (59% têm renda superior a 6 000 reais) e foi atraído pela possibilidade de ter uma rentabilidade maior (48%). A pesquisa também deixou claro que, para crescer, a bolsa terá de atrair um número maior de investidores das classes B e C, famílias com renda entre 2 500 e 6 000 reais. O primeiro passo nesse sentido será dado nas próximas semanas, quando a BM&F Bovespa lançará a campanha Quer ser sócio?, estrelada por Pelé. Com cerca de 40 O mercado de ações é a maneira mais eficiente de alocar recursos. Não tem interferência de ideologias nem de políticas industriais de reais para serem investidos até o final do ano que vem em TV, rádio, cinema e imprensa escrita, a campanha, a primeira desde a década de 90, deve ter uma visibilidade similar às das marcas Brastemp e Ipiranga. Até o final de dezembro, o foco da campanha será em Curitiba, Belo Horizonte e Campinas. Durante esse período, a BM&F Bovespa vai medir a resposta do público e o poder de absorção das corretoras instaladas nessas cidades. A partir do ano que vem, a campanha terá cobertura nacional. Caso consiga fazer o número de investidores brasileiros crescer 730% nos próximos quatro anos e quatro meses, Edemir terá garantido bem mais do que seu emprego. Até hoje, economistas de diferentes linhas foram incapazes de chegar a um acordo sobre quais são todos os fatores que determinam o crescimento econômico. Mas há cada vez mais evidências de que o desenvolvimento do sistema financeiro aumenta, sim, o crescimento econômico, diz Ralph Chami, economista do FMI especializado no assunto. O mercado de crédito, formado pelos bancos e títulos de dívida, é o que tem o maior efeito, mas o papel das bolsas de valores é visto como crucial. Isso sem contar que o mercado de ações é a maneira mais eficiente de alocar recur- 10 EXAME INVESTIMENTOS PESSOAIS 2010

Reunião de acionistas do Walmart nos Estados Unidos: a popularização da bolsa lá ocorreu há 60 anos e hoje metade da população tem ações sos, diz o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, sócio da gestora Quest. Não tem interferência de ideologias e políticas industriais. A empresa publica seus resultados trimestralmente, deixa claro quais são seus planos, é tudo transparente. O Brasil dos últimos anos é um exemplo do poder que o mercado de ações tem de catapultar negócios. Desde 2004, 159 companhias captaram 227 bilhões de reais na bolsa brasileira via oferta inicial de ações ou em operações subsequentes. Isso significa metade dos desembolsos do BNDES no período. A própria Petrobras não teria como sonhar em captar todo o dinheiro necessário para o pré-sal se não fosse a bolsa a empresa está perto de seu limite de endividamento. Fora dos holofotes, a Triunfo, grupo com sede em São Paulo que atua nos setores de portos, concessões rodoviá- rias e geração de energia, captou 513 de reais em 2007 e dobrou de tamanho nos últimos três anos. Se tivéssemos desistido de ir para a bolsa, não teríamos dado esse salto, diz Carlo Bottarelli, presidente do grupo. Não existe dinheiro mais barato que o do mercado de ações. Pelos cálculos da BM&F Bovespa, 200 empresas de porte médio têm potencial para estrear na bolsa de valores até o final de 2014 Apesar do avanço dos últimos anos, o Brasil ainda é um novato em termos de número de companhias listadas o que também revela seu potencial. Em todo o país, somente 464 empresas estão na bolsa. A China tem 1 700, e a Espanha, 3 435. As poucas empresas que tiveram acesso à BM&F Bovespa se destacam pelo tamanho. Mesmo numa comparação internacional, a bolsa brasileira se sobressai pelo alto valor de mercado das companhias listadas. No Brasil, a média é de 3 bilhões de dólares, segundo dados da agência de risco Standard&Poor s, número 30% superior ao da Alemanha e da França e três vezes maior do que o do Japão e da Inglaterra. No Brasil houve uma concentração de ofertas de grandes empresas justamente porque havia muitas fora do mercado, mas a tendência é que mais e mais companhias de tamanho médio sigam o mesmo caminho, diz José Olympio Pereira, corresponsável pelo banco de investimento do Credit Suisse. Pelos cálculos de Edemir, existem 15 000 empresas brasileiras com faturamento entre 100 e 400 de reais, das quais cerca de 200 teriam condições de estrear no mercado de ações até o final de 2014. Outro acesso de confiança aguda? Levando em conta o ritmo das mudanças registradas no Brasil nos últimos anos, é melhor não descartar essa hipótese mesmo com todas as incertezas que ainda pairam sobre a economia mundial. Em tempos de necessidade crescente de investimento para sustentar a expansão do país e de suas empresas sem privilégios, sem concentração e com os riscos e os bônus divididos, a democratização da bolsa seria uma excepcional notícia. 12 EXAME INVESTIMENTOS PESSOAIS 2010