Antonio Gabriel Valduga Camargo Mestrando em Engenharia; Laboratório de Saneamento Ambiental LSA; Universidade de Passo Fundo UPF

Documentos relacionados
Ideal Qualificação Profissional

Logística Reversa: destinação dos resíduos de poliestireno expandido (isopor ) pós-consumo de uma indústria i catarinense

TIJOLOS CRUS COM SOLO ESTABILIZADO

PRODUÇÃO INDUSTRIAL CRESCIMENTO ECONÔMICO

II-109 PÓS-TRATAMENTO DE EFLUENTE DE EMBALAGENS METÁLICAS UTILIZANDO REATOR DE BATELADA SEQUENCIAL (RBS) PARA REMOÇÃO DA DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO

Orientações e Procedimentos para o Manuseio e Armazenagem de Óleo Diesel B

Analisar e aplicar os princípios da extração sólido-líquido e líquido-líquido na separação e purificação de produtos.

RESÍDUOS SÓLIDOS Gerenciamento e Controle

PROGRAMA DE GESTÃO AMBIENTAL DA PGR PROJETO PARA AQUISIÇÃO DE COLETORES PARA COLETA SELETIVA

PROJETO DE REDUÇÃO DOS RESÍDUOS INFECTANTES NAS UTI S DO HOSPITAL ESTADUAL DE DIADEMA

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

TERMO DE REFERÊNCIA PARA A ELABORAÇÃO DE PLANOS DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS - PGRS

Segurança, Meio Ambiente e Saúde QHSE

MANUSEIO E ARMAZENAMENTO DE ÓLEO DIESEL B ORIENTAÇÕES E PROCEDIMENTOS

TESTE SELETIVO PARA CONTRATAÇÃO DE ESTAGIÁRIO Nº 001/2014 DEPARTAMENTO DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS MUNICÍPIO DE MARMELEIRO-PR

Metalúrgica Inca Ltda Avenida Geraldo Marra, 865 Distrito Industrial II CEP Fone/Fax : (19) Site

ENSINO DE QUÍMICA: VIVÊNCIA DOCENTE E ESTUDO DA RECICLAGEM COMO TEMA TRANSVERSAL

IDENTIFICAÇÃO DE PERCEPÇÃO E DOS ASPECTOS ESTRUTURAIS QUANTO AOS RESIDUOS SÓLIDOS NO BAIRRO ANGARI, JUAZEIRO-BA.

PROGRAMA DE GESTÃO AMBIENTAL SEBRAE - SP

RESÍDUOS COMO ALTERNATIVA DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO SÓCIO-AMBIENTAL

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO

TRATAMENTO DA ÁGUA PARA GERADORES DE VAPOR

MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS. Clédola Cássia Oliveira de Tello Serviço de Gerência de Rejeitos - SEGRE

Eixo Temático ET Gestão Ambiental em Saneamento PROPOSTA DE SANEAMENTO BÁSICO NO MUNICÍPIO DE POMBAL-PB: EM BUSCA DE UMA SAÚDE EQUILIBRADA

RECUPERAÇÃO TÉRMICA DE AREIA DESCARTADA DE FUNDIÇÃO (ADF)

SISTEMA DE REAPROVEITAMENTO DE ÁGUA RESIDUAIS DE PROCESSOS INDUSTRIAL E ESGOTO RESIDENCIAIS POR MEIO DE TRANSFORMAÇÃO TÉRMICAS FÍSICO QUÍMICA N0.

CAIXAS SEPARADORAS NUPI BRASIL - MANUAL DE INSTALAÇÃO E OPERAÇÃO -

TIJOLOS DO TIPO SOLO-CIMENTO INCORPORADOS COM RESIDUOS DE BORRA DE TINTA PROVENIENTE DO POLO MOVELEIRO DE UBA

PLANO DE GERENCIAMENTO INTEGRADO DE RESÍDUOS DA INDÚSTRIA CONCRETEIRA

ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUAIS. Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Almada

MANUSEIO DE ÓLEO DIESEL B ORIENTAÇÕES E PROCEDIMENTOS

MONITORAMENTO DO PROGRAMA DE COLETA SELETIVA SOLIDÁRIA NA UFPB

SECAGEM DE GRÃOS. Disciplina: Armazenamento de Grãos

Tratamento e Inertização das Areias de Fundição TECNOLOGIA LIMPA E DIMINUIÇÃO CONTINUA NA GERAÇÃO DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS

RESPOSTA TÉCNICA. Preciso de informações sobre reciclagem de thinner, fabricante de máquinas para reciclagem e viabilidade.

Soluções Ambientais para a Destinação de Resíduos

PLANEJAMENTO DA MANUFATURA

I DIAGNÓSTICO DE GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DE SERVIÇO DE SAÚDE EM UM HOSPITAL PÚBLICO EM BELÉM/PA

ALVES 1,1, Paulo Roberto Rodrigues BATISTA 1,2, Jacinto de Luna SOUZA 1,3, Mileny dos Santos

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONHECENDO A COLETA SELETIVA. Categoria do projeto: II Projetos em implantação (projetos que estão em fase inicial)

AVALIAÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL DE AÇÃO ANTROPOGÊNICA SOBRE AS ÁGUAS DA CABECEIRA DO RIO SÃO FRANCISCO

Aplicações da FPA em Insourcing e Fábrica de Software

- Pisos e revestimentos Industriais (pinturas especiais, autonivelantes, uretânicas, vernizes...);

TECNOLOGIA DOS MATERIAIS

III-123 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM ATERROS DE RESÍDUOS SÓLIDOS A PARTIR DE ESTUDOS DE REFERÊNCIA

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA COLETA SELETIVA NA FAP

A Engenharia Civil e as Construções Sustentáveis

PRÊMIO ESTANDE SUSTENTÁVEL ABF EXPO 2014

PROPOSTA DE TRATAMENTO DE EFLUENTES EM EMPRESA ESPECIALIZADA EM RETÍFICA DE MOTORES

REQUERIMENTO (Do Sr. Vittorio Medioli)

CAPÍTULO 3 PROTOCOLO DE KIOTO

Sistema de Gestão Ambiental. Seis Sigma. Eco Six Sigma

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM UM AMBIENTE UNIVERSITÁRIO: ESTUDO DE CASO DO CESUMAR, MARINGÁ - PR

A água nossa de cada dia

Do lixo ao valor. O caminho da Logística Reversa

PROGRAMA ESTADUAL DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO ÂMBITO MUNICIPAL PEGRSM.

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

Resíduos Sólidos: A Classificação Nacional e a Problemática dos Resíduos de Ampla e Difusa Geração

ESCOLA ESTADUAL JOAQUIM GONÇALVES LEDO SIRLENE DE SOUZA B. DAS VIRGENS PROJETO: AMIGOS DO MEIO AMBIENTE

PRÁTICAS SILVICULTURAIS

EDUCAÇÃO AMBIENTAL JUNTO A COLABORADORES DO SETOR DE MINERAIS NÃO METÁLICOS DA PARAÍBA PARA PRODUÇÃO DE SABÃO COM ÓLEO DE COZINHA USADO.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

VALIDAÇÃO DO MODELO DE ELETROCOAGULAÇÃO FLOTAÇÃO NO TRATAMENTO DE EFLUENTE TÊXTIL VISANDO À REMOÇÃO DE DQO, UTILIZANDO REATOR EM BATELADA.

Armazenamento de energia

O AGENTE DA MOBILIDADE URBANA NO SISTEMA MUNICIPAL DE DEFESA CIVIL

25 a 28 de Outubro de 2011 ISBN

COLETA SELETIVA VIDRO

TOMO II SUMÁRIO DO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL EIA

QUEM TRATA BEM DOS SEUS RESÍDUOS É BEM TRATADO PELO MERCADO!

A IMPORTANCIA DO GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS HOSPITALARES E SEUS ASPECTOS POSITIVOS PARA O MEIO AMBIENTE

Os resíduos sólidos podem ser classificados de acordo com a origem, tipo de resíduo, composição química e periculosidade conforme abaixo:

TREINAMENTO INTEGRAÇÃO MÓDULO 7 5 PLANO DIRETOR DE RESÍDUOS E EFLUENTES. 6 PROGRAMA 3 Rs COLETA SELETIVA

AVALIAÇÃO DA ÁREA DE DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DE ANÁPOLIS: um estudo de caso PIBIC/

CARACTERIZAÇÃO E TRATABILIDADE DO EFLUENTE DE LAVAGEM DE UMA RECICLADORA DE PLÁSTICOS

de diminuir os teores de carbono e impurezas até valores especificados para os diferentes tipos de aço produzidos;

REMOÇÃO DE COR EM EFLUENTES INDUSTRIAIS

RESOLUÇÃO Nº 307, DE 5 DE JULHO DE 2002 (DOU de 17/07/2002)

GESTÃO AMBIENTAL DE RESÍDUOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL: ESTUDO NO MUNICÍPIO DE PANAMBI/RS 1

Utilização da Fibra da Casca de Coco Verde como Suporte para Formação de Biofilme Visando o Tratamento de Efluentes

Encanador. 4) Número de Aulas: O trabalho será realizado em cinco etapas, divididas em aulas a critério do professor.

DESIGUALDADE AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE SALINAS MG

Aplicação do software Elipse E3 na Estação de Tratamento de Esgoto ABC ETEABC, em São Paulo

AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS <!ID > RESOLUÇÃO Nº 15, DE 17 DE JULHO DE 2006

LIMPEZA E PREPARAÇÃO DE VIDRARIAS PARA ANÁLISE DE COMPOSTOS ORGÂNICOS

PRODUÇÃO DE BLOCOS DE CONCRETO E PAVERS UTILIZANDO AGREGADOS RECICLADOS RESUMO

Universidade Paulista

Fração. Página 2 de 6

Fábrica de Vassoura. São Domingos do Norte ES

QUALIDADE DE SOFTWARE

SOLIDIFICAÇÃO/ESTABILIZAÇÃO DE LODO GALVÂNICO EM BLOCOS DE CONCRETO PARA PAVIMENTAÇÃO (PAVERS)

CATEGORIA: Pôster Eixo Temático - Tecnologias DIAGNÓSTICO E MONITORAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO CAMPUS LUIZ DE QUEIROZ

Viver Confortável, Morar Sustentável

Utilização do óleo vegetal em motores diesel

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA

O Aquecimento Global se caracteriza pela modificação, intensificação do efeito estufa.

AMOSTRAGEM AMOSTRAGEM

PROCESSOS DE SEPARAÇÃO DE MISTURAS. 1- quais os métodos mais indicados para separa os componentes das misturas abaixo:

2 Materiais e Métodos

Transcrição:

Análise da redução de impacto ambiental proporcionado pelo processo de reaproveitamento do fluido de corte empregado nas indústrias de beneficiamento de ágatas no município de Soledade(RS) Antonio Gabriel Valduga Camargo Mestrando em Engenharia; Laboratório de Saneamento Ambiental LSA; Universidade de Passo Fundo UPF Cleomar Reginatto Acadêmico do curso de Engenharia Ambiental e Bolsista Bic/Fapergs; Laboratório de Geotecnia e Saneamento Ambiental; Universidade de Passo Fundo UPF cleomar@lci.upf.br Pedro Domingos Marques Prietto Engenheiro civil; Dr. e professor do curso de engenharia ambiental da UPF, Universidade de Passo fundo UPF pdmp@upf.br Eduardo Pavan Korf Acadêmico do curso de Engenharia Ambiental e Bolsista Pibic/CNPq; Laboratório de Geotecnia e Saneamento Ambiental; Universidade de Passo Fundo UPF eduardokorf@gmail.com Resumo: Este trabalho de pesquisa procura analisar os benefícios ambientais, proporcionados pelas etapas de recuperação de fluido de corte, especificamente óleo disel de petróleo, realizadas por algumas empresas beneficiadoras de pedras preciosas, no município de Soledade (RS). Sabe-se que o objetivo principal destas etapas de recuperação de fluido, objetivam principalmente a redução de custos operacionais das empresas. Entretanto, esta recuperação mostra-se importante, também nos aspectos ambientais quer, quanto às características finais do resíduo gerado pelo referido processo industrial, quer por benefícios ambientais indiretos. Para tal, analisou-se a quantidade de óleos e graxas presente nos resíduos gerados sem nenhuma espécie de recupeção de fluido de corte e comparou-se com os resultados obtidos após a realização dos processos de recuperação deste fluido, realizados nas empresas pesquisadas. Desta forma pôde-se estabelecer relações pertinentes sobre a importância destes procedimentos segundo aspectos ambientais de ordem direta e indireta. Palavras-chave: Óleo diesel; Beneficiamento de gemas; Resíduo sólido. 1. Introdução Durante muitas décadas o homem produziu, além de bens de consumo, inúmeros poluentes que acabaram, de uma forma ou outra, atingindo o meio ambiente. Com o advento da revolução industrial surgiu uma pressão sobre os recursos naturais, e a sociedade, principalmente no final do século passado e início deste, passou a cobrar dos governantes e industriais, uma maior responsabilidade para com os seres que habitam o planeta. (COELHO, 2006) A crescente contaminação de solos e águas estabelece-se como alvo de muitas preocupações por parte de diversas comunidades. Isso possibilita um incremento na quantidade de estudos que procuram avaliar essa problemática, buscando maiores 1

conhecimentos sobre as características físicas e químicas dos contaminantes, bem como suas transformações no espaço de tempo, ou suas reações diretas e indiretas com o meio ambiente. Neste sentido a comunidade de Soledade (RS) tem-se manifestado na busca por soluções para o correto gerenciamento e disposição dos resíduos gerados nas indústrias localizadas neste município, visando assim, a conseqüente descontaminação do solo e dos recursos hídricos da região. Neste sentido, diversos empresários buscam a melhoria de seus procedimentos industriais. Em alguns casos, procuram manter a exploração e modificação das matérias primas de uma forma em que sejam reduzidos os impactos negativos gerados em sua atividade. Entretanto, muitas vezes, percebe-se a dificuldade de conciliar-se o desenvolvimento econômico industrial e a preservação do meio ambiente. No setor de industrialização de gemas, esta dificuldade se apresenta no gerenciamento dos diversos poluentes produzidos e gerados nas etapas do processo produtivo. Um dos poluentes mais problemáticos advém da geração de resíduos sólidos, oriundos dos processos de corte e usinagem das gemas de ágata, contaminados por fluidos de corte, em especial o óleo diesel de petróleo, visto que este apresenta uma composição muito complexa, além de apresentar insolubilidade em água e elevada persistência ambiental, o que caracteriza sua difícil degradação. Para agravar este problema, os fluidos quando manejados inadequadamente, acabam atingindo o solo, a flora, a fauna e os mananciais de água, causando prejuízos às empresas de tratamento de água e esgotos e, por conseqüência, às comunidades que se beneficiam desses recursos. (QUEIROZ, 2001) Desta forma, se faz necessário avaliar a eficiência de processos industriais que busquem atenuar os impactos negativos gerados no uso do óleo diesel, como fluido de corte, para o beneficiamento de ágatas, no estado do Rio Grande do Sul. 2. Materiais e métodos 2.1 Local de estudo Este trabalho de pesquisa foi desenvolvido no Laboratório de Saneamento Ambiental da Universidade de Passo Fundo UPF. As amostras foram coletadas no município de Soledade (RS) localizado a aproximadamente 80 km de Passo Fundo, sede da UPF. Trata-se de um município pólo no beneficiamento de pedras preciosas, principalmente gemas de ametista e ágata. 2.2 Coleta dos dados Como primeira etapa da pesquisa, foi realizada, uma série de entrevistas para obter-se um maior conhecimento, sobre as características específicas que envolvem o processo de corte de ágatas no município de Soledade (RS), assim como dados das empresas do setor. As entrevistas foram realizadas com os proprietários ou gerentes de 24 empresas beneficiadoras de ágatas no município de Soledade (RS). Estas empresas foram selecionadas, através da lista de clientes compradores de serras diamantadas prensadas, serras estas, amplamente usadas no referido setor industrial. 2

Destas empresas, foram selecionadas as cinco que apresentaram os maiores consumos mensais de óleo diesel de petróleo, especificamente como fluido de corte, para máquinas beneficadoras de ágatas. Nestas empresas foram realizadas as entrevistas e retiradas amostras de resíduos diretamente das máquinas de trabalho e amostras do resíduo gerado, após o processo de reaproveitamento do fluido de corte. 2.3 Coleta das amostras O procedimento de amostragem do material foi realizado segundo as normas da ABNT 10007, para título de amostragem, preservação e estocagem, procurando sempre amostras representativas do processo de corte de ágatas. Foram coletadas 02 amostras de resíduos, para as empresas que trabalham com mais de um tamanho de máquina de corte e 01 amostra, nas empresas que trabalham apenas com um tamanho de máquina de corte. As amostras foram retiradas diretamente das máquinas de corte de ágatas, apresentando assim, resíduos sem etapa de recuperação de fluido de corte. Estas amostras foram identificadas como amostras: A1sr e A2sr, para a empresa A ; B1sr, para a empresa B ; C1sr, para a empresa C ; D1sr e D2sr, para a empresa D e E1sr e E2sr, para a empresa E. Nas empresas que apresentaram mais de um tamanho de máquina em serviço, na data da coleta, foi coletada uma amostra da maior e uma amostra da menor máquina em trabalho; nas empresas onde havia apenas um tamanho de máquina em serviço, coletou-se apenas uma amostra. A seguir, foram coletadas amostras de resíduos, diretamente dos tambores de recuperação de fluido de corte. As amostras foram coletadas diretamente dos tambores de recuperação ou dos tambores de destino final, dependendo do número de etapas de recuperação de fluidos operacionalizados na empresa. Desta forma, em três empresas das cinco, foram coletadas amostras da primeira e segunda etapa de recuperação. Em duas das cinco empresas foram coletadas apenas amostras do resíduo armazenado após a etapa única de reaproveitamento do fluido de corte. Estas amostras foram identificadas como: Acr1 e Acr2, para a empresa A ; Bcr1 e Bcr2, para a empresa B ; Ccr1 e Ccr2, para a empresa C ; Dcr1, para a empresa D e Ecr1, para a empresa E. 2.4 Determinação de óleo nas amostras A determinação de óleo, remanescente nos resíduos sólidos gerados no beneficiamento da ágata, foi realizada pelo método de Soxhlet adaptado para determinação de óleo e graxas, proposto pela APHA (1998). Todas as amostras antes de passarem pelo extrator, foram secas em estufa à 100 C, por 30 minutos. A seguir a amostra foi pesada e submetida ao extrator de Soxhlet, tendo como solvente extrator o n-hexano (grau analítico). A Figura 1 apresenta a aparelhagem utilizada nas determinações. 3

FIGURA 3 - Equipamento Soxhlet para extração de óleos e graxas 3. Resultados e discussões 3.1 Processo de recuperação de fluido de corte Para fazer-se uma análise dos resultados obtidos, é necessário um melhor entendimento dos procedimentos utilizados pelas indústrias na recuperação parcial do óleo remanescente nos resíduos sólidos gerados. Estes procedimentos industriais são processos que têm como princípio básico a diferença de polaridade e densidade entre o líquido usado no procedimento (água) e o fluido de corte adsorvido pelo resíduo (óleo diesel de petróleo). Na empresa A, o procedimento usual consiste da retirada do sistema material resíduofluido, usualmente denominado lodo, o qual é colocado em um tambor plástico de 50L onde é realizada a adição lenta de água, seguida da agitação manual do material, como representado na figura 1. Com uma espátula de madeira mexe-se a mistura de tempos em tempos até que o óleo, por ser menos denso fique sobrenadante e possa ser retirado. Após esta etapa inicial, o material é removido aos poucos para outro tambor plástico onde o material é depositado em um tambor que contém cerca de 30L de água. Este material ao entrar em contato com a água, permite, segundo os realizadores, uma melhor remoção do fluido de corte. Na empresa B a primeira etapa é realizada em um tonel plástico de 200L semelhantemente ao processo da empresa A. A seguir o material é transferido para um tonel, onde existe um cano de PVC de 100mm, o qual foi furado artesanalmente com uma lâmina aquecida. O material é então depositado, ao redor do cano, sendo que parte do fluido desloca-se para o interior do mesmo. E é removido através da utilização de material esponjoso. Na empresa C o processo inicial é o semelhante ao da empresa A, a diferenciação principal, ocorre no tamanho do tonel plástico o qual possui 200L. Na segunda etapa de recuperação, o material é depositado aos poucos em uma betoneira de 40L contendo cerca de 20L de água. O material é agitado, e após cerca de 5 minutos é transferido para um tonel metálico para disposição final do resíduo industrial. Na empresa D o material é reaproveitado na própria máquina, onde é criado um banco de resíduo e adicionada água ao referido banco de modo lento e sem agitação, como pode ser representado na figura 2. Espera-se cerca de 5 a 10 minutos para a água 4

penetrar o banco de resíduo e logo a seguir o resíduo é manualmente retirado da máquina e disposto no tambor de destino final. Na empresa E o material é reaproveitado conforme a primeira etapa da empresa C. tonel pá resíduo FIGURA 1: Processo de recuperação dos resíduos feitos nos tambores. serra Máquina de corte Banco de resíduo Fluido de corte FIGURA 2: Processo de recuperação de resíduos realizado na máquina de corte. 3.2 Análise gravimétrica de óleos e graxas Os resultados das análises gravimétricas realizados neste experimento estão demonstrados nas tabelas 1 e 2. Na tabela 1 estão registrados os resultados para os resíduos sem recuperação de fluido de corte. Neste caso, as amostras com final sr, indicam que o resíduo não passou por nenhum processo de recuperação de fluido de corte. Análise 1 indica que a amostragem foi realizada na menor máquina em trabalho e análise 2 na maior máquina. As análises das amostras foram realizadas em duplicata, sendo os resultados identificados como a e b. 5

TABELA 1 - Concentrações de óleos e graxas das amostras sem recuperação de óleo. Amostra % de óleo Média (M) Desvio padrão (σ) Coef. de variação (Cv) Análise 1 Análise 2 a b a b Asr 33,53 33,19 35,96 33,09 33,94 1,358 0,040 Bsr 24,93 26,58 - - 25,76 1,167 0,045 Csr 38,30 37,81 - - 38,06 0,346 0,009 Dsr 37,36 36,54 34,09 34,69 35,67 1,535 0,043 Esr 28,08 28,59 31,08 31,71 29,87 1,797 0,060 Na tabela 2 estão registrados os resultados obtidos para os resíduos amostrados após os processos de recuperação do fluido de corte. Desta forma as amostras com final cr1, indicam que o resíduo passou por um processo de recuperação do fluido de corte (óleo diesel), as amostras com final cr2 indicam que o resíduo passou por um segundo processo de recuperação. Cada amostra foi analisada em duplicata, sendo especificadas por análise c e d. TABELA 2 - Concentrações de óleos e graxas das amostras analisadas com recuperação de óleo. Amostra % de óleo Médias Desvio padrão Coef. de variação Análise cr1 Análise cr2 M M σ σ Cv Cv c d c d Cr1 cr2 cr2 cr2 cr1 cr2 A 2,06 1,88 2,37 0,92 1,97 1,64 0,127 1,019 0,065 0,620 B 20,80 21,92 18,28 16,42 21,36 17,35 0,792 1,313 0,037 0,076 C 9,14 10,33 5,98 5,99 9,74 5,98 0,847 0,007 0,087 0,001 D 8,89 8,84 - - 8,87-0,033 0,004 E 15,22 15,39 - - 15,30-0,119 0,008 Com os dados apresentados, pôde-se fazer uma relação entre os percentuais de matéria oleosa antes e após a etapa, ou as etapas, de recuperação do fluido de corte. Esta relação é apresentada na figura 3. 6

40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% sr cr1 cr2 5% 0% A B C D E FIGURA 3 Concentração de óleos e graxas nas amostras sem recuperação; com primeira etapa de recuperação e com segunda etapa de recuperação. Observando as tabelas 1 e 2 resumidas na figura 3 pode-se perceber que as concentrações do contaminante (óleo diesel de petróleo) diminuem significativamente quando são realizados os processos de recuperação de fluido de corte. Esta remoção do fluido de corte é realizada com o intuito de reutilizar o fluido no processo de usinagem de pedras preciosas. A porcentagem de remoção do contaminante (fluido de corte) está apresentada na tabela 3. TABELA 3 Eficiência do processo de recuperação Amostra % de óleo Valor médio % de remoção de óleo após a primeira etapa de recuperação % de remoção de óleo após a segunda etapa de recuperação sr cr1 cr2 A 33,94 1,97 1,64 94,20 95,17 B 25,76 21,36 17,35 17,08 32,65 C 38,06 9,74 5,98 74,41 84,29 D 35,67 8,87-75,13 E 29,87 15,30-48,78 Como pode ser observado, na empresa A obteve-se um resíduo com remoção de óleo diesel na ordem de 95% de redução do contaminante. Nas empresas C e D obtevese valores de remoção semelhantes para a primeira etapa de recuperação. Nessas, cerca de 75% do fluído de corte foi removido, apesar de realizarem procedimentos diferenciados. Na empresa E os valores apresentados foram menos promissores na recuperação do fluido de corte, obtendo cerca de 50% de remoção. Na empresa B obteve-se os índices de remoção de óleo mais baixos, chegando a valores em torno de 30%. Tendo-se consciência de que os procedimentos realizados nas empresas são descontínuos, com agitação manual, tendo ainda como objetivo único o reaproveitamento do fluido de corte, percebe-se que na maioria das vezes o procedimento de remoção é interrompido quando o volume de óleo retirado deixa de ter significância visual. Em outras palavras o operador, ao perceber que a quantidade de 7

óleo a ser retirada, passa a ser mínima, encerra o procedimento de recuperação, no tambor ou na máquina. De mesma forma, percebe-se que provavelmente exista alguma etapa ou procedimento não foi totalmente elucidado nos procedimentos de remoção realizados na empresa A. Nesta empresa, as coletas das amostras do resíduo com recuperação foram realizadas diretamente nos tambores de remoção de fluido e tambores de destino final do material. Sendo os procedimentos de remoção, acompanhados apenas no momento da coleta do material. Por informação do proprietário, sabe-se que parte do resíduo gerado é reutilizado como material destinado ao polimento de pedras preciosas. Talvez, esta seja uma justificativa para obter-se um material mais isento de matéria oleosa. Fazendo-se uma análise dos resultados, considerando-se o valor mais elevado de remoção (empresa A ), o qual é intencionalmente obtido, e o valor mais reduzido, decorrente da dificuldade operacional por falta de mão de obra (empresa B ). Percebese, que os valores de remoção de óleo diesel de petróleo são dependentes diretos do correto manejo dos processos de recuperação empregados. Isso pode ser corroborado com a crescente remoção do material ao realizarem-se duas etapas de recuperação de fluido. Além deste evidente benefício ambiental, o qual permite que os resíduos sólidos gerados sejam dispostos com níveis menores de contaminantes, cabe salientar que a remoção do fluido de corte reduz o volume final do material a ser depositado nos aterros de resíduos industriais, proporcionando redução nos custos finais empresariais destinados à este procedimento. Outra benesse gerada está no reaproveitamento do óleo diesel recuperado, o qual além de gerar ganhos financeiros evidentes, produz ganhos ambientais indiretos pelo simples fato da redução no consumo de materiais derivados do petróleo, material este considerado não-renovável. 4. Considerações Finais Com base nos dados obtidos na pesquisa, conclui-se que os processos de recuperação de fluido de corte, realizado nas empresas, mesmo sendo artesanal e rudimentar, produzem uma redução significativa nos teores de óleos diesel presente no resíduo sólido gerado durante o corte e usinagem de ágatas no município de Soledade (RS). Em alguns casos, o resíduo gerado após o processo de recuperação do óleo, apresentou níveis de remoção de até 95% com percentual de óleo presente no resíduo chegando a valores médios inferiores a 02%. A importância de processos de recuperação de fluidos de corte é inegável, quer seja na redução do consumo de fluidos derivados de petróleo, quer seja na redução dos níveis poluentes gerados durante os processos de usinagem industrial. Cabe ressaltar que, apesar de todas as empresas visitadas durante a pesquisa, informarem que dispõem corretamente seus resíduos sólidos gerados, tem-se conhecimento que algumas empresas da região dispõem seus resíduos sem os cuidados legais necessários. Quer seja na destinação correta ou incorreta do material, fica evidente que a redução nos níveis de óleo diesel presente no resíduo sólido gerado é extremamente importante para o meio ambiente receptor, seja ele o aterro para resíduos perigosos ou os locais indevidos como leitos de rios e solo rural ou urbano. Referências 8

AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard methods for the examination of water and wastewater. 20.ed. Washington: APHA, 1998. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10007: Amostragem de resíduosprocedimento...rio de Janeiro: ABNT, 1987. COELHO, Ricardo dos Santos. Avaliação da toxicidade de fluidos de usinagem através da ecotoxicologia aquática. Tese. Escola de Engenharia de São Carlos Universidade de São Paulo. São Carlos, 2006. QUEIROZ, Jorge Luiz Lima. Desenvolvimento de um protótipo de software para controle da variável ambiental na utilização do fluido de corte. Tese. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2001. 9