Acumulados significativos de chuva provocam deslizamentos e prejuízos em cidades da faixa litorânea entre SP e RJ no dia 24 de abril de 2014. Ao longo de toda a quinta-quinta (24/04) a intensa convergência de umidade favorecida pela atuação da circulação ciclônica na média e alta troposfera, pela atuação de um sistema frontal estacionário na altura do estado de SC e pela presença de uma Zona de Convergência de Umidade (ZCOU) propiciou condições para a ocorrência de chuvas ao longo de praticamente todo o dia. A intensidade da chuva variou de moderada a forte em alguns momentos, porém, a continuidade da mesma resultou em acumulados superiores a 110 mm/24h em algumas cidades como Guarujá, São Sebastião em SP e Ubatuba no estado de SP, Angra dos Reis e Magé no RS. A continuidade e os volumes de chuva provocaram transtornos e prejuízos à população como alagamentos, transbordamento de córregos situações que propiciaram a ocorrência de deslizamento de terra na região. Nota-se, no campo de linha de corrente em 250 hpa (Figura 01), a presença de dois cavado não tão amplificados que atuam praticamente acoplados. O primeiro possui eixo entre o nordeste do MT ao nordeste do MS, enquanto que, o segundo cavado estende seu eixo entre a divisa nordeste de MS e extremo sul de GO ao centro-oeste de SC. A presença destes sistemas promove, de certa forma, o levantamento e a convergência de massa nas camadas mais baixas da troposfera na porção leste da Região Sul do Brasil e sobre a faixa leste do estado de SP. Figura 1: Carta sinótica dos níveis de 250 hpa elaborada pelo GPT/CPTEC/INPE para 24/04/2014 às 06Z.
Percebe-se em 500 hpa (Figura 02) o padrão de escoamento ciclônico sobre parte do centro-sul do Brasil com um cavado posicionado entre o sudoeste do MT e o noroeste do estado de SP. Nota-se outro cavado cujo eixo atua entre o extremo sudeste do MS, norte do PR e extremo sul de SP e, um terceiro cavado pode ser observado mais a sul entre o sul do Paraguai e o extremo sul de SC. A presença destes sistemas dinâmicos provoca advecção de vorticidade ciclônica para áreas do litoral entre o PR e o extremo sul do estado do RJ além de auxiliar na intensificação da convergência de umidade e massa nas camadas mais próximas à superfície, além de dar suporte dinâmico a uma Zona de Convergência de Umidade (ZCOU) que se posiciona entre o sudeste do AM e o RJ prosseguindo pelo Atlântico adjacente em superfície. Figura 2: Carta sinótica dos níveis de 500 hpa elaborada pelo GPT/CPTEC/INPE para 24/04/2014 às 06Z. Na baixa troposfera (850 hpa), Figura 03, nota-se uma área de confluência dos ventos sobre o sul de GO e triângulo de MG e outra área de confluência entre o centro e leste de MG, centro-sul do ES, extremo norte do RJ e Atlântico adjacente. Este comportamento dos ventos ajuda a manter a ZCOU sobre o Sudeste e o Atlântico adjacente. Nota-se, sobre o Atlântico, a leste da costa do Estado de SP a presença de um cavado, sistema que, praticamente, desprende-se do centro de baixa pressão posicionado sobre o Atlântico sul (47 S/37 W, aproximadamente), baixa que está associada ao ciclone extratropical em superfície. Este comportamento garante a convergência de umidade entre o Atlântico e o leste da região Sudeste do Brasil incluindo áreas do leste e litoral de SP e RJ, além de alimentar a ZCOU.
Importante ressaltar que sobre o PR e SC há um sistema de alta pressão. A circulação resultante deste anticiclone e do cavado a leste da costa de SP potencializa a convergência de umidade sobre áreas do litoral paulista e do litoral sul do RJ intensificando o teor de umidade na nas camadas mais baixas da troposfera. Figura 3: Carta sinótica dos níveis de 850 hpa elaborada pelo GPT/CPTEC/INPE para 24/04/2014 às 06Z. Nota-se em superfície (Figura 04) a presença de um sistema frontal estacionário posicionado sobre a Região Sul do Brasil, na altura do norte de SC. Nota-se também a presença de uma ZCOU posicionada entre o sudeste do AM ao Atlântico, passando por sobre o estado do RJ. A presença destes dois sistemas combinado ao comportamento dinâmico nas camadas superiores alimenta o transporte de umidade do Atlântico para o continente. Ressalta-se que a topografia da região próxima à costa de SP e do RJ além de reter a umidade que chega do oceano, com maior eficiência, provoca levantamento na área a barlavento da cadeia de montanha desta região, favorecendo a formação de nuvens carregadas e potencialmente favorável a condição de chuva, cuja duração dependerá da manutenção do comportamento sinótico descrito ao longo da coluna troposférica sobre estas áreas.
Figura 4: Carta sinótica de superfície elaborada pelo GPT/CPTEC/INPE para 24/04/2014 às 06Z. De forma geral, os modelos numéricos (Figura 05) não tiveram boa destreza em prever os acumulados, principalmente para o litoral de SP. A maioria dos modelos indicava que os maiores acumulados ocorreriam entre RJ, ES e leste de MG. O ETA 15 km apesar de não indicar volumes tão elevados indicava volumes maiores que os demais modelos numéricos para áreas do litoral norte de SP e litoral sul do RJ, porém, para áreas do litoral leste todos os modelos subestimaram os volumes de chuva previstos.
Figura 5: Acumulado de chuva em 24h previstos pelos modelos T299, ETA 15km, GFS, G3DVAR, e BRAMS 5km para o dia 24/05/2014. Nota-se nas imagens de satélite (Figura 06), que a não houve convecção profunda sobre a faixa leste e litoral tanto da região Sul do Brasil como no leste e litoral de SP, sul e litoral sul do RJ. Apesar do comportamento ciclônico ao longo de boa parte da coluna troposférica, a grande quantidade de nuvens, as chuvas e a presença do ar mais frio próximo à superfície dificultaram a intensificação do padrão termodinâmico e, consequentemente, o desenvolvimento vertical das nuvens sobre estas áreas. Ou seja, as nuvens que dominaram a área em estudo em sua maioria eram do tipo estratificada formadas pela intensa convergência de umidade ao longo do dia.
Figura 5: Imagem de satélite no canal infravermelho nos respectivos dias e horários: dia 24/04/2014 às 00, 06, 12 e 18Z e do dia 25/04/2014 às 00Z.
Diante do exposta acima conclui-se que o padrão dinâmico ao longo da coluna troposférica intensificou a convergência de umidade ao longo do dia sobre a faixa leste de SP e do RJ. A topografia da Serra do Mar foi fundamental para o acúmulo umidade e o levantamento, mesmo que em menor escala, condição que favoreceu a formação de nuvens deixando a atmosfera sobre a faixa litorânea de SP e do RJ potencialmente favorável a ocorrência de acumulados significativos superiores a 100 mm/24h. Em função da topografia e da alta vulnerabilidade da região estas chuvas provocaran alagamentos, deslizamentos de terra e muitos prejuízos em diversas localidades como São Sebastião, Ubatuba, Ilha Bela, no estado de São Paulo, Angra dos Reis, São Gonçalo e Magé, no estado do Rio de Janeiro. Elaborado pelo Meteorologista Olivio Bahia do sacramento Neto