Proposta de Reforma da Previdência - Uma análise jurídica

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Transcrição:

Proposta de Reforma da Previdência - Uma análise jurídica A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 287/2016, conhecida como Reforma da Previdência e apresentada pelo Governo Michel Temer, foi alvo de muitos elogios e críticas da população brasileira. Ainda existem chances de a Reforma ser aprovada? A Previdência Social está mesmo falida? A Reforma é boa ou ruim, afinal? O que exatamente prevê a Reforma? Em meio a tanto conteúdo político e ideológico sendo veiculado na mídia, traremos à você uma perspectiva diferente da Reforma: a jurídica. Ainda existem chances de a Reforma ser aprovada? Com o cenário político cercado de incertezas e escândalos a todo momento, essa proposta foi perdendo o destaque que possuía, sobretudo pois um dos principais arquitetos da Reforma, Michel Temer, como você sabe, começou a sofrer acusações. Entretanto, apesar de ter perdido o seu destaque devido à instabilidade política do país, não se sabe ao certo o que acontecerá em um futuro próximo. A Reforma pode, sim, se tornar uma realidade. Mas, para entender melhor do que se trata essa proposta de Reforma, o que pretende-se mudar e quais são as suas consequências, é preciso aprofundarmos, antes, na verdadeira história que está por trás da PEC 287, qual seja, a falência da Previdência Social do Brasil. A Previdência Social está mesmo falida? Os defensores da Reforma da Previdência afirmam que ela está falida e que, devido ao aumento da expectativa de vida da população brasileira, será necessário aumentar, progressivamente, o tempo de contribuição de cada cidadão. Ou seja, será necessário que os trabalhadores se aposentem mais tarde. Já os críticos da Reforma afirmam que tudo isso não passa de uma manobra do governo, que, com o suporte da mídia, visa obter mais apoio à aprovação da PEC 287. Quem está certo nessa história? Antes de tudo, precisamos analisar como surgiu a previdência social.

Como surgiu a Previdência Social? O surgimento da Previdência Social marcou o início da exigência estatal de contribuições de empregados e empregadores. Em contrapartida, o Estado garantiria a esses contribuintes a aposentadoria, a pensão e a seguridade. Durante a Era Vargas, a Previdência se viu inserida em uma gestão ligada e controlada pelo caixa único do Tesouro Nacional (o caixa geral do Governo). Com o tempo, as receitas da Previdência passaram a ser maiores do que suas despesas e ela tornou-se superavitária. Por esse motivo, o Governo passou a utilizar parte da quantia que era da Previdência para cobrir outras despesas, por exemplo, a construção de Brasília. Isso mesmo, Brasília! E o problema surge justamente aí! Esses valores não foram devolvidos à Previdência Social. Foi quando, com a Constituição Federal de 1988, o Tesouro Nacional reduziu a interferência governamental na Previdência e instaurou o orçamento de uma gigantesca fonte de custeio: a Seguridade Social. Ou seja, a partir dessa mudança, as receitas e despesas da Previdência deixaram de ser dirigidas ao orçamento geral do governo, o Tesouro Nacional, e passaram a ser dirigidas a um novo orçamento: a Seguridade Social. E o que é o orçamento da Seguridade Social? O orçamento da Seguridade Social inclui receitas e despesas da Previdência Social, da Assistência Social e da Saúde. Não existe, portanto, um orçamento apenas da Previdência Social, já que suas receitas e despesas fazem parte de um grupo maior: a Seguridade Social. E, quanto à Seguridade Social, destaca-se que seu orçamento nunca foi deficitário. Em 2005, por exemplo, o saldo foi de 77,2 bilhões de reais, segundo a ANFIP (Associação nacional dos Auditores- Fiscais da Receita Federal do Brasil), e em 2015, seu pior ano, a Seguridade ainda manteve-se superavitária. Esse superavit é crescente, e atingiu um ponto máximo em 2012, quando tivemos 78 bilhões de reais de superávit previdenciário.

É verdade que este valor vem caindo nos últimos 2 anos por causa da recessão econômica que estamos vivendo no Brasil. Mas o superávit continua existindo e, em 2015, foi de 20 bilhões de reais. Mas qual é a causa real desse déficit do governo? Além da má administração de recursos que prejudica o bom andamento do país, o governo brasileiro gasta um enorme valor com o pagamento de juros relacionados a dívidas públicas. Em 2015 se gastou 503 bilhões de reais. Em 2016 o valor foi de 407 bilhões de reais segundo o Banco Central... Ou seja, é incorreto dizer que a Seguridade Social está falida hoje. Mas por que tanto se fala de uma suposta falência da Previdência? Devido ao contexto político e governamental atual, grande parte das receitas da Seguridade Social passou a ser desviada para cobrir dívidas públicas e outros gastos do governo. E o Governo, em tentativa de justificar esses gastos, desvincula a Previdência do grupo da Seguridade Social. Na verdade, o orçamento que é deficitário não é o orçamento da Seguridade Social. Orçamento deficitário é o orçamento fiscal do Governo! Então, o Governo vem dilapidando o patrimônio da Seguridade Social para cobrir outros gastos. O que ficaria melhor nos jornais para o governo: falência fiscal ou falência da Previdência? Conforme te mostraremos agora, o governo manipula os dados com objetivo de terceirizar o problema da corrupção e da má gestão de recursos públicos à população. Vejamos: A Seguridade Social possui diversas fontes de receita. Uma delas é a contribuição que a população paga diretamente ao governo para poder gozar de aposentadoria no futuro. Além desta, a Seguridade Social também arrecada dinheiro por meio de outros impostos como: PIS e COFINS (que fazem parte da receita das empresas). Entretanto, o governo calcula toda a receita da Previdência com base apenas no valor que a população paga diretamente ao governo, desconsiderando os outros impostos que também fazem parte da Seguridade Social. Isso faz com que a Receita indicada pelo governo seja menor do que a Receita real. Consideramos que a divulgação errônea desses dados evidencia a falta de informação quanto ao tema. Certo é que, as afirmações de que a Previdência está falida e de que a única forma de contornar a situação é reduzindo e adiando as aposentadorias e pensões não é correta. Análise da Pirâmide Etária do Brasil Por outro lado, é fato que a expectativa de vida da população está aumentando cada vez mais. De 1960 a 2010, segundo o IBGE, a expectativa de vida do brasileiro subiu 25,4 anos!

Além disso, a taxa de natalidade da população está cada vez menor, segundo dados do IBGE. Em 1960, a taxa era de 6,21 nascimentos por mulher. Em 2015, a taxa já era de 1,78 nascimentos por mulher. Tudo isso reflete no perfil da população brasileira que, na década de 80, era muito jovem e, agora, está ficando cada vez mais velha. Na década de 80, a maioria dos brasileiros, segundo pirâmide etária fornecida pelo IBGE, se concentrava na faixa de idade entre 0 e 24 anos. Em 2015, a maioria dos brasileiros já se concentrava na faixa de 10 a 34 anos. A projeção para 2050 é a de que os brasileiros se concentrem na faixa de 44 a 74 anos. E o que isso reflete na Previdência? Hoje, a população do Brasil ainda é jovem. E, por isso, a Previdência ainda é superavitária (gera mais receitas que despesas). Entretanto, no futuro conforme projeção para 2050, haverá mais idosos do que contribuintes, o que comprova que o cenário histórico e atual da Previdência e da Seguridade vai, sim, mudar. Conclusão Os recursos da população brasileira destinados à Previdência foram utilizados para pagar várias despesas da União e, com a Proposta de Reforma da Previdência, a própria população é quem está sendo chamada para custear esse erro. A alegação de que a Previdência Social está falida, por enquanto, não é uma verdade. Quem está certo ou errado no final? O cenário político atual reflete todos os erros que o governo brasileiro cometeu e comete na administração dos recursos da população. Um desses erros está relacionado à Previdência e vem lá da Era Vargas. De qualquer forma, como dito anteriormente, precisamos encarar o fato de que a população está envelhecendo e que, embora a Previdência ainda gere mais receitas do que despesas, em um futuro próximo, a situação irá mudar. Por isso, acreditamos que a Reforma da Previdência é um fato que surgirá na vida dos brasileiros (seja próximo ou distante) e, desde já, devemos nos preparar para essa realidade. O novo projeto da Reforma Com as inúmeras críticas trazidas sobre a Reforma, sobretudo relacionadas ao tempo de contribuição e idade mínima para aposentadoria, lançou-se o substitutivo à PEC 287, aprovado no dia 09/05/2017 na comissão especial que analisava o texto, por 23 votos a 14. Abaixo, algumas das mudanças da PEC 287, incluídas em seu Substitutivo:

A Reforma agora, deverá ser votada no plenário da Câmara. Ainda não há uma data definida, mas o que se sabe é que, atualmente, o governo enfrenta dificuldades para obter os 308 votos necessários para a aprovação da matéria. Ao final da leitura, esperamos ter contribuído, de alguma forma, para o seu entendimento sobre a proposta de Reforma. O objetivo dos fatos elencados acima é convidar você, leitor, a não só analisar as novas regras estabelecidas pela PEC, mas também a buscar elementos históricos e informações de fontes confiáveis variadas, de modo que possa construir uma opinião técnica, não pautada em informações manipuladas que refletem interesses individuais de determinada parcela da população. http://www.magalhaeschegury.com.br/blog/6/proposta-de-reforma-da-previdencia-uma-analise-juridica-2 em 29/01/2018 04:44