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Transcrição:

PENHORA ON-LINE Marina Matos Lemos de Souza Lima * Luís Antônio de Aguiar Bittencourt** Resumo: O objetivo deste artigo é analisar o que se convencionou chamar de Penhora On-Line, demonstrando alguns de seus problemas e implicações jurídicas. A resolução destes problemas poderá dar ao processo de execução a efetividade de que tanto se espera para a satisfação do direito do credor respeitando-se o direito do devedor. Palavras-chave: Convênio. Bloqueio. Penhora. Efetividade. "O processo deve dar, quando for possível praticamente, a quem tenha um direito, tudo aquilo e exatamente aquilo que ele tenha direito de conseguir". Giuseppe Chiovenda ---------------------------------------------- *Acadêmica do 4º ano de graduação da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Vianna Júnior e participante do grupo de pesquisa aprimoramento em Língua Portuguesa, orientado pela Profª Mara de Oliveira. ** Orientador deste artigo. Mestre em Direito, coordenador e professor do Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Vianna Júnior

I- INTRODUÇÃO Procedimentos céleres, imediatos e eficazes têm sido os objetivos perseguidos pela Justiça, como forma de concretizar os direitos constitucionalmente garantidos, tais como, o direito de acesso à justiça e a efetividade da prestação jurisdicional, sendo o processo importante instrumento utilizado na composição dos litígios e na promoção da pacificação social. Por outro lado o excesso de formalismo, o detalhismo de nossa legislação infraconstitucional e a lentidão do processo legislativo, que não conseguem acompanhar as transformações sociais, associados ao grande volume das demandas, têm contribuído para a morosidade da Justiça, sendo este um dos grandes problemas enfrentados pelo Judiciário. Problema esse visível, principalmente, no processo de execução, já que: a demora da prestação jurisdicional e da efetividade da execução traz descontentamento, estimula o descumprimento da sentença, potencializa novo conflito ou eterniza e gera descrédito do Poder Judiciário. Enquanto o credor não receber o que lhe foi assegurado pela sentença, ficará insatisfeito, desapontado, permanecendo o estado de litigiosidade, pois o credor ganhou, mas não conseguiu receber (PINTO, 2002, p. 1069). É nesse cenário de adaptação do direito às novas demandas sociais e aos avanços tecnológicos que surgiu a figura da penhora on-line, como tentativa de satisfazer o direito do credor e ao mesmo tempo efetivar os direitos constitucionalmente garantidos.

II- CONVÊNIO DE COOPERAÇAO TÉCNICO INSTITUCIONAL O que se convencionou chamar de penhora on-line foi fruto do Convênio de Cooperação Técnico-Institucional, para fins de acesso ao Sistema Bacen Jud, firmado entre o Banco Central do Brasil, o STJ, o Conselho da Justiça Federal e posteriormente com o TST, que tem como objetivo permitir, por exemplo, o TST e os Tribunais Regionais do Trabalho dentro de suas áreas de competência, encaminhar às instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo BACEN, solicitações de informações sobre a existência de contas correntes e aplicações financeiras, determinar o bloqueio e desbloqueio de contas [...] (Convênio BACEN/STF/CTJ/2001), tudo via internet. Esse mecanismo substitui o que era feito antes, por meio de ofícios expedidos pelos juízes ao Banco Central e às demais instituições bancárias, no intuito de localizar contas bancárias e aplicações financeiras do executado, quando após várias tentativas de obter informações sobre a existência de bens a serem penhorados, o credor não obtia êxito. O procedimento previsto no Convênio possibilitou uma maior eficiência ao acesso dessas informações, permitindo maior controle da verificação do cumprimento das ordens judiciais por parte dos bancos e, conseqüentemente, uma rápida atitude do juiz no bloqueio dessas contas, objetivando garantir assim o direito do credor, operando os procedimentos por correio eletrônico. De acordo com dados do Banco Central apresentados em um seminário realizado recentemente no STJ, apenas em 2004, a autarquia recebeu mais de 583 mil ofícios com requisições judiciais, uma média de 2,3 mil requisições por dia, sendo aproximadamente 116 mil encaminhados em papel e o restante, mais de 467 mil, por intermédio do Bacen-Jud. (www. stj.com/noticias)

III- PENHORA ON LINE -CRÍTICAS A seguir serão apresentados alguns problemas de ordem prática que têm surgido desde a implantação do sistema, não tendo, portanto, este artigo o objetivo de esgotar toda a problemática. A penhora é o cerne da atividade executória, pois determina o bem sobre o qual se realizará a expropriação e fixa a sua sujeição à atividade executiva (CARNELUTTI apud ARAKEN, 2002, p. 602). Segundo Humberto Theodoro Júnior (2003), a penhora é um ato que sujeita os bens do devedor para que se possa alcançar os fins da execução, qual seja a satisfação do direito do credor (art. 646, CPC). Para melhor compreender a problemática desse sistema, necessário se faz, por conseguinte, entender o momento processual em que ocorre a penhora. Dispõem o art. 652 do Código de Processo Civil que o devedor será citado para no prazo de 24(vinte quatro) horas 1, pagar ou nomear bens à penhora. Transcorrido esse prazo, sem que o devedor tenha pagado a dívida ou nomeando bens à penhora, caberá ao oficial de justiça penhorar tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal, juros, custas e honorários advocatícios (art. 659 do CPC). Havendo, porém, nomeação de bens pelo devedor essa deverá observar a ordem legal de gradação do art. 655 do CPC, que menciona em primeiro lugar o dinheiro (inc. I). Por exemplo, não tendo o devedor dinheiro disponível poderá nomear pedras preciosas, ou não as tendo, títulos da dívida pública e assim sucessivamente. 1 Na execução trabalhista esse prazo é de 48 (quarenta e oito) horas conforme art. 880, da CLT e de 5 dias na execução fiscal segundo dispõem art. 8 da Lei 6830/80.

Vale lembrar, que a nomeação de bens funciona como um direito e um ônus processual, pois se não é exercida cria para o executado o dever de suportar a apreensão dos bens que forem encontrados (THEODORO, 2003, p. 196). Esse direito de escolha do devedor é corolário de um dos princípios que acompanha todo o processo executório - o princípio da economia da execução-, para o qual toda execução deve satisfazer o direito do credor, sendo o menos prejudicial possível ao devedor (SAYÃO, 2005, p. 24). É o que se depreende do art. 620 do CPC que prescreve: Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor. Caso o devedor não obedeça à ordem legal, a nomeação poderá ser declarada ineficaz, nos termos do art. 656, inc. I, salvo se o credor concordar com tal nomeação. É certo, contudo, que o credor poderá recusar a nomeação dos bens feita pelo devedor, que não seja, por exemplo, dinheiro, desde que indique à existência deste (FREDA, 2004, p.1 465). Torna-se, por conseguinte, necessário que a recusa seja fundamentada, tendo em vista, o princípio da execução menos gravosa ao devedor (MAZZANTE, 2005, p. 28). Caberá, portanto, a penhora, quando o devedor, após citado, não pagar, não nomear bens ou quando fizer nomeação, que possa ser declarada ineficaz. O primeiro problema levantado pelos críticos do sistema é a impropriedade da expressão penhora on-line ; pois, segundo consta do convênio, on-line é apenas o bloqueio do dinheiro em conta corrente do executado, e não a penhora que consiste num ato processual, precisando inclusive dos requisitos exigidos no Código de Processo Civil para sua formalização (art. 644 e 645).

O sistema traz problemas de ordem prática e implicações jurídicas, talvez pela falta de uma regulamentação legal que oriente o juiz sobre o momento adequado em que deva fazer uso do convênio. Marco Aurélio Aguiar ( 2004) destaca a ausência de normas regulamentares tem acarretado dificuldades na aplicação do sistema, dando um grandioso poder discricionário para o magistrado da causa e oportunidade a inúmeros problemas decorrentes das variadas interpretações dos seus operadores. Ocorre que o juiz, ao consultar o sistema e verificar a existência de conta bancária em nome do devedor, bloqueia os valores encontrados, sem que antes o devedor possa exercer seu direito de nomear bens; ou, mesmo estando o débito garantido pelos bens oferecidos à penhora o bloqueio de contas correntes tem ocorrido, sendo que o devedor em muitos casos apenas se torna ciente do bloqueio, quando não consegue mais movimentar a conta. Segundo entendimento do STJ, a penhora sobre o saldo de conta corrente equipara-se à penhora do próprio estabelecimento comercial. Por esse motivo, somente poderia ser decretada como medida excepcional, devendo ser adotada, apenas, quando o débito não for satisfeito de outra forma menos gravosa. (Resp n 557.294-SP; Rel. ª Min. ª Eliana Calmon) Outra questão de grande repercussão prática diz respeito à competência territorial, que estabelece limitações territoriais à autoridade dos juízes, já que todo e qualquer ato de interesse para um processo, que deve ser praticado fora dos limites territoriais em que o juiz exerce a jurisdição depende de cooperação do juiz do lugar (PELLEGRINI, DINAMARCO, CINTRA, 1994, p. 132). Consoante dispõe, respectivamente, os arts. 658 e 659, 1, ambos do diploma processual civil, efetuar-se-á a penhora onde quer que se encontre os bens do devedor,

se esses não estiverem no foro da causa, far-se-á a execução por carta 2, com exceção da penhora de imóveis (art. 659, 4º, CPC). Ocorre que o juiz, ao encontrar conta bancária em nome do devedor em qualquer parte do território nacional, efetua o bloqueio, fora do limite de sua jurisdição. Aqueles que alegam não haver desrespeito aos limites da competência territorial defendem que o contrato de deposito é celebrado entre o Banco e o correntista e não entre o depositante e agência, e que esta última seria apenas departamento da instituição financeira que muitas vezes tem filial no juízo deprecante e, portanto, encontra-se no limite de sua jurisdição (FREDA, 2004, p.1466). Corroborando tal entendimento, recentemente, a 2 Turma do Tribunal Superior do Trabalho decidiu que: a penhora pelo sistema eletrônico do Bacen-Jud, ainda que feita sobre conta corrente de agencia localizada em outra comarca, não ofende o princípio constitucional da competência, pois o contrato de abertura de conta corrente é celebrado entre o banco e o correntista e não entre este e a agência (www. tst. com.br/noticias). Uma das falhas enfrentadas e que se tem procurado suplantar é o bloqueio em multiplicidade de valores observados, quando o executado é titular de mais de uma conta com saldo suficiente, caracterizando-se, tal fato, como excesso de execução. Segundo Araken de Assis (2002, p. 694), é a apreensão de bens de valor muito maior que o crédito do exeqüente e seus acessórios, devendo ser amplamente evitado uma vez que a penhora deve-se restringir ao montante da dívida do executado. 2 Preceitua o art. 200 do CPC que os atos processuais serão cumpridos por carta quando tiverem que se realizar fora dos limites territoriais da comarca. Podendo ser de três espécies, carta de ordem, carta rogatória e carta precatória, essa a mais utilizada, ocorre quando é dirigida a juiz de igual categoria jurisdicional.

Assim, o procedimento que realmente pode ser denominado de penhora on-line, levando-se em conta as normas processuais, somente se concretiza quando: os valores bloqueados através do comando eletrônico são transferidos para a conta depósito judicial à disposição do juízo da execução. Como toda penhora, ela só se aperfeiçoa com a apreensão e o depósito, tornando-se conveniente que, após transferidos os valores para a conta de depósito judicial, se faça termo de penhora em Cartório para convalidá-la. (FREDA, 2004, p. 1466) IV-CONCLUSÃO De fato, o Convênio firmado entre o Banco central, o STJ e demais signatários possibilitou a rápida consulta, o bloqueio de contas e aplicações financeiras do executado a fim de satisfazer os créditos executados. O sistema atual, sem dúvidas, é mais eficiente e eficaz do que o feito por meios de ofícios; entretanto, as regras previstas na lei processual civil quanto ao instituto da penhora não podem ser relegadas em função da maior efetividade da prestação jurisdicional, sob pena de violar princípios e normas constitucionais e processuais, gerando insegurança nas relações jurídicas e sociais. Não há como negar que o tema possibilita amplo debate e que o sistema carece de normas legais para a sua regulamentação e futuras adaptações, que sanadas poderão viabilizar, de forma mais célere, a garantia da execução, efetivando-se assim o direito do credor e concretizando os objetivos da justiça, quais sejam: compor os litígios e dar a quem tem direito o que lhe é devido.

BIBLIOGRAFIA AGUIAR, Marco Aurélio Barreto.Penhora ou Bloqueio On Line-Questões de Ordem Prática- Necessidade de Aprimoramentos. Revista Ltr. São Paulo, vol. 68-09, n. º 09, Set. 2004. ASSIS, Araken de. Manual do Processo de Execução. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. CARLOS, Rubens Vieira. Penhora nas Execuções Fiscais. Revista Consulex. Brasília, ano IX, n. º 202 15 Jun. 2005. Convênio BACEN/STF/CJF/2001.Revista Consulex. Brasília, ano VI, n. º 128, p. 17, 15 maio 2002. FREDA, Mauro Soares. A Penhora On Line na Execução Trabalhista e suas implicações jurídicas. Revista Ltr. São Paulo, vol. 68, n. º 12, 12 Dez. 2004. FREITAS, Alexandre Câmara. Lições de Direito Processual Civil. 10. ed. Rio de Janeiro, Ed. Lumen Juris, 2005, v. 2. MAZZANTE, Paulo de Paula. Penhora On Line. Revista Consulex. Brasília, ano IX, n. º 2002, 15 Jun. 2005. PELLEGRINI, Ada Grinover; DINAMARCO, Cândido Rangel; CINTRA, Antônio Carlos de Araújo.Teoria Geral do Processo. 10 ed., São Paulo: Malheiros, 1994. PINTO, Sérgio Martins. Efetividade da Execução Trabalhista. Revista Ltr. São Paulo. Vol. 66-09, n. º 09, Set. 2002. SAYÃO, Arion Romita. Penhora Eletrônica. Revista Consulex. Brasília, ano IX, nº202, 15 Jun. 2005. SILVA, José Maria da; SILVEIRA, Emerson Sena da. Apresentação de trabalhos acadêmicos: normas e técnicas. 3. ed. Juiz de Fora: Templo, 2004. THEODORO, Humberto Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 41 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.1v. THEODORO, Humberto Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 34 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003.2v.