Espiritualidade: Um recurso importante na terapêutica do paciente oncológico. Spirituality: An important resource in the treatment of cancer patients.



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Transcrição:

1 Espiritualidade: Um recurso importante na terapêutica do paciente oncológico. Dáglia de Sena Costa 1 Resumo: A espiritualidade pode ser definida como um sistema de crenças que transmite vitalidade e significado a vida. A definição de espiritualidade aponta para uma experiência transcendental e singular que vai muito além dos dogmas e instituições religiosas tradicionais. Estudos científicos têm apontado associação positiva entre envolvimento religioso e espiritualidade a um melhor enfrentamento e adaptação do paciente às doenças crônicas, como o Câncer. Este artigo pretende de forma sucinta demonstrar os efeitos benéficos que a prática da espiritualidade traz aos pacientes oncológicos. Palavras Chave: Espiritualidade. Religião. Fé. Psiconeuroimunologia. Spirituality: An important resource in the treatment of cancer patients. Abstract: Spirituality can be defined as a belief system that imparts vitality and meaning to life. The definition of spirituality indicates a singular and transcendent experience that goes far beyond the traditional dogma and religious institutions. Scientific studies have shown a positive association between religious involvement and spirituality to better coping and adaptation of patients with chronic diseases such as cancer. This article aims to briefly demonstrate the beneficial effects that the practice of spirituality brings to cancer patients. Key - words: Spirituality. Religion. Faith. Psychoneuroimmunology. 1 Psicóloga Cliníca forma pela PUC Minas. Especializanda de Psico-oncologia pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais CMV; Pós graduação em Psicologia Médica e Saúde Coletiva. E-mail:dagliasena@hotmail.com Tel. (31) 91159078 1

2 INTRODUÇÃO A espiritualidade pode ser definida como um modo de ser e de sentir que ocorre pela tomada de consciência de uma dimensão transcendente, sendo caracterizada, por certos valores identificáveis com relação a si mesmo, aos outros, à natureza, á vida. (ELKINS, 2000). A espiritualidade é, então, a busca pelo que dá sentido à vida. Envolve a tentativa de compreensão de uma força superior que pode estar ligada a uma figura divina ou energia superior. (KOVÁCS, 2007). È universal, disponível a qualquer ser humano e não se restringe a crenças religiosas específicas. Religiosidade e espiritualidade apesar de se relacionarem não se igualam. A religiosidade envolve um sistema de crenças e doutrinas que é compartilhado por um grupo, e, tem características comportamentais, sociais e morais próprias. A Espiritualidade se relaciona com a construção do significado da vida pelo sujeito. É, portanto singular e parte da concepção de que há mais na vida do que aquilo que pode ser visto ou plenamente entendido. Quando envolvida a um sistema de crenças e dogmas, a espiritualidade pode ser expressa por meio de doutrinas religiosas. Estudos apontam que é comum o uso das crenças religiosas por parte do paciente para lidar com doenças. Isso acontece, inclusive com pessoas sem crença religiosa anterior ao adoecimento. Elas recorrem ás religiões em busca de conforto e apoio, principalmente em quadros crônicos ou terminais. (MACIEIRA, 2004). O envolvimento religioso e espiritual tem sido associado de forma positiva ao enfrentamento do paciente á doença crônica, a medida, que propicia menos sintomas depressivos, maior adesão ao tratamento, diminuição do estresse e maior qualidade de vida. Este artigo tem como objetivo apresentar, resumidamente, porque a espiritualidade pode ser entendida como um recurso importante que interfere no modo como o paciente lida com o seu processo de adoecimento. METODOLOGIA A leitura e análise de alguns artigos que versam sobre o tema Espiritualidade e 2

3 Câncer foram base para a produção deste texto. Á título de ilustração, três fragmentos de depoimentos de pacientes oncológicos, retirados de sites da internet, direcionados a pessoas interessadas no assunto Câncer, serão aqui apresentados. Será possível perceber o modo como as pacientes se utilizaram da espiritualidade no enfrentamento do Câncer. ESPIRITUALIDADE NA PRÁTICA MÉDICA Desde o início da década de 1980, a medicina vem se direcionando a uma visão mais abrangente do modelo de atendimento na área de saúde. O crescente número de pesquisas e publicações que relacionam religião, espiritualidade e saúde têm demonstrado o interesse de parte da comunidade científica em entender como esses fatores podem influenciar a saúde da população (LARSON ET AL., 2001) O bem-estar espiritual é uma das dimensões de avaliação do estado de saúde, junto com as dimensões corporais, psíquicas e sociais. Tal dado se comprova com a criação pela Associação Psiquiátrica Americana de uma categoria diagnóstica no DSM IV (Manual diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais 4ª edição) relacionada ás questões espirituais. A nomenclatura da categoria diagnóstica é Problemas espirituais e religiosos. Além disso, os próprios pacientes já desejam ter sua dimensão espiritual cuidada pelos profissionais de saúde. Pesquisa realizada na população dos Estados Unidos revelou que 95% das pessoas acreditam em Deus, 77% acreditam que os médicos devem considerar as suas crenças espirituais, 73% acreditam que devem compartilhar as suas crenças religiosas com o profissional médico e 66% demonstram interesse de que o médico pergunte sobre sua espiritualidade. (LARSON E KOENING 2000). Como se vê, crenças religiosas e espiritualidade ocupam um espaço importante na história de vida das pessoas. Reconhecendo isso, a comunidade científica através dos estudos da psiconeuroimunologia percebeu que os valores e significados da espiritualidade e 3

4 das crenças religiosas podiam atuar sobre o estresse causado tanto pelo diagnóstico quanto pelo tratamento de diversas doenças. A fé enquanto experiência subjetiva da consciência que integra pensamento, sensação e emoção, gera um potencial de mobilização de todo o sistema psiconeuroendócrino. Pela vivencia espiritual, emoções como ansiedade ou esperanças podem influenciar os resultados clínicos. (MACIEIRA, 2004). O reforço aos comportamentos saudáveis, a inspiração de emoções positivas, estimuladas pelas diversas congregações religiosas, além de contribuir para o fortalecimento do sentimento de esperança, retira o paciente do isolamento pessoal, estimulando-o à participação de redes de apoio mútuo. ESPIRITUALIDADE E RE- SIGNIFICAÇÃO DA VIDA. O Diagnóstico de câncer e todo o processo de tratamento têm profundo impacto no funcionamento físico, na saúde mental e bem estar do paciente. Causa-lhe ruptura na qualidade de vida, angústias, ansiedades, medos, frustrações, sensações de isolamento, etc. Nesses momentos de dor e sofrimento, muitos pacientes buscam significados e explicações que vão muito além das percepções do aqui e agora, da dimensão terrena de entender o que se passa. O sofrimento pode ser a oportunidade para a ressignificação da vida. Kovács (2007) afirma que em sua experiência pessoal, viu como alguns pacientes que tiveram câncer e sentiram á ameaça ás suas vidas, puderam fazer grandes reviravoltas, passando a priorizar o que era mais significativo, mesmo quando restava pouco tempo de vida. Observou que quanto maior é o grau de paz e compreensão do que está ocorrendo, melhor é a tolerância á dor, a capacidade de enfrentamento e a manutenção da qualidade de vida. Breibart (2003), por sua vez, observou que pacientes gravemente enfermos costumam revisar suas vidas, buscar sentido para ela. Muitos sentirão necessidade de se reconciliar com alguém, e, quanto mais preparados estiverem espiritualmente, menos difícil será o lidar com tais questões. 4

5 O PROFISSIONAL DE SAUDE E A ESPIRITUALIDADE Como demonstrado no tópico Espiritualidade e Prática Médica, deste artigo, pesquisas apontam que a maioria dos pacientes gostaria que médicos abordam-se com eles questões espirituais. Atento a esta demanda, o profissional de saúde pode escutar o paciente e entender como ele enfrenta ou aceita sua doença, pode conduzir novas formas de enfrentamento, e oferecer-lhe outras fontes de coragem e esperança. Os conflitos psicológicos de ordem religiosa devem ser ouvidos como os demais aspectos da vida, e também podem ser res-significados. O profissional de saúde pode de forma respeitosa promover a interação dos recursos médicos com os recursos espirituais. Embora exista uma diferença marcada no medo como pacientes, seus cuidadores e médicos vêem a influência da fé na tomada de decisão médica, o conhecimento, pelo médico, das crenças pessoais do paciente e o respeito a elas levarão freqüentemente, a uma alta satisfação com o processo de tomada de decisão por parte de todos os envolvidos. (SILVESTRE ET AL, 2003). DEPOIMENTOS: ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE - CAMINHOS QUE APONTAM PARA ESPERANÇA. Os fragmentos dos depoimentos a seguir foram retirados de sites da internet direcionados a pacientes, familiares, cuidadores e profissionais que lidam com o adoecimento do câncer. Os relatos das pacientes demonstram o uso da Espiritualidade e fé como recursos eficazes para o enfrentamento da doença. Exemplifica a busca do paciente por novos significados para a vida e a manutenção da esperança. 1) Andrea, 34 anos, Casada, 2 filhos. Diagnóstico: Leucemia Mielóide Aguda Depoimento retirado do site Abrale. Endereço: <http://www.abrale.org.br/apoio_paciente/ depoimentos/interno.php?id=5>... Passei o início do segundo semestre de 2001 achando que estava um pouco mais cansada. Em agosto daquele ano fiz um exame que revelou uma infecção de ovário (...). Em outubro, tive hemorragia, comecei 5

6 a sentir um cansaço intenso e estava com febre. (...) Fui para o Hospital Albert Einstein. Resultado: saí naquela manhã e não voltei por dias. (...) Tenho muita fé em Deus, muita fé, e acho que de alguma forma todos nós temos um pouquinho (ou muito) de Deus dentro da gente. Pois naqueles momentos, os médicos fizeram o papel de Deus na Terra. Eles eram minha referência e nunca os questionei. Não sei se foi uma atitude muito pacífica, mas eu não tinha escolha, era o que eu podia fazer, era o que dava para ser feito. Não ia adiantar nada ficar questionando as coisas. Eu confiava nos médicos. Entreguei-me. (...) Fui criada na tradição católica. Além disso, eu procuro desenvolver minha espiritualidade com leituras, meditação, relaxamento, cursos. Gosto muito disso e já faço isso há alguns bons anos. Acho que foi por isso foi que quando fiquei doente, não me revoltei. Nunca perguntei por que comigo?, não sentia raiva, ódio ou desespero. Amo DEUS demais e não acredito que ELE queira nos castigar, apenas quer nossa evolução como seres humanos. (...) Tive uma boa resposta às quimioterapias. O transplante também era algo que assustava. Algo difícil. Durante a quimioterapia do transplante, eu lembro que tive momentos dificílimos e passei muito mal. Cheguei a falar para os médicos que não ia conseguir continuar. Graças a Deus eles foram firmes comigo e fui em frente. Hoje eu sei que ainda não estou totalmente curada, tenho ainda, pelo menos, mais quatro anos pela frente até estar curada. Ainda tenho algumas infecções por conta do transplante, mas vou administrando a coisa. Penso ainda, quem sabe, me dedicar a algum trabalho social, talvez com pessoas que passam pelo mesmo que eu passei. (...) 2) Adriana, 38 anos. Diagnóstico: Câncer de colo de útero Depoimento retirado do site Oncoguia. Endereço: <http://www.oncoguia.com.br/site/interna. php?cat=58&id=2366&menu=2> (...) Adriana tratou de seu caso, em Brasília. Um câncer de colo de útero, descoberto em meados de 2004, a deixou completamente abalada. A doença preocupou os médicos de forma especial porque Adriana passou por um transplante de rins há duas décadas e, com a imunidade muito comprometida, não poderia receber a quimioterapia. Alguns 6

7 profissionais se mostraram completamente pessimistas e indicaram que as chances de superação eram mínimas. Sempre fui muito religiosa. Mas, ao saber do câncer, me apeguei ainda mais a Deus, que nunca me abandonou. Rezava muito e pedia para Ele decidir o melhor por mim. Quando consegui aceitar a doença, percebi que tinha forças para lutar. Nesse momento, senti a presença de Deus ao meu lado, não estava sozinha. Adriana foi submetida a oito cirurgias para retirada das lesões cancerígenas e diversas sessões de radioterapia. Há um ano a doença está estabilizada. Os médicos que não acreditavam na minha cura ficaram sem fala. A luta contra essa doença tende a ser muito solitária para quem não tem fé. Eu estava muito bem acompanhada por Deus em todos os momentos e, por isso, superei o câncer mesmo com todas as limitações. 3) Patricia, 32 anos, casada, 1filho. Diagnóstico: Cancer de Mama Depoimento retirado do site oncoguia: Endereço: <http://www.oncoguia.com.br/site/depoim ento-paciente-visualizar.php?id=552> (...) em setembro/2009 descobri que estava com câncer de mama, carcinoma ductal infiltrativo na mama direita. (...) Recebi o diagnóstico e, naturalmente, entrei em pânico. Tinha medo de morrer e deixar meu filho e meu marido. Não tinha idéia de como eu reagiria à quimioterapia e aos seus efeitos colaterais, tinha pavor da mastectomia. Como o tumor estava grudado no músculo peitoral e meu médico não quis fazer a mastectomia fiz seis sessões de quimioterapia com o objetivo de desgrudar o tumor do músculo. E deu certo! Faz 20 dias que fiz a cirurgia e já estou com expansor. Agora ainda tenho pela frente radioterapia, mais um pouco de químio e hormonioterapia. E até o final do ano já poderei fazer a reconstrução. (...) O que eu quero dizer é que, apesar de tudo, está tudo bem. Esse processo todo só me deixou mais forte e me fez ver melhor o que é realmente importante. Obrigou-me á parar um pouco para perceber melhor tudo ao meu redor, a mudar minhas prioridades, a prestar mais atenção no outro. 7

8 Agradeço a Deus todos os dias por ter força e alegria para passar por tudo isso, (...), agradeço ao meu marido por ser tão meu companheiro, agradeço pelo meu filho de 4 anos, que acha que tem que ficar pertinho de mim o tempo todo para me cuidar e que é a razão da minha vida e minha força e, agradeço aos meus médicos que são, definitivamente, meus anjos." DEUS EXISTE OU NÃO EXISTE POR LEONARDO BOFF Blaise Pascal foi um dos grandes gênios do Ocidente como matemático, físico e filósofo. Depois de tentar todo tipo de argumento em favor da fé, deu-se conta de forma honrada, de que nenhum deles era cabalmente convincente. Foi então que forjou o famoso argumento da aposta válido até os dias atuais. Diante de impasses Pascal afirmou que é necessário apostar. A razão não sai humilhada pelo fato de ter que apostar. A aposta, segundo ele, apresenta a seguinte vantagem: ou você tem tudo a ganhar ou você não tem nada a perder. Portanto, a aposta é racional. Deus existe ou não existe? Se você afirmar que Deus existe, e Ele de fato existe você tem tudo a ganhar, a vida e a eternidade. Se você afirmar Deus não existe, e Ele de fato não existe você não tem nada a perder: o sentido da vida e eternidade passa a ser meros devaneios. Então é racional, aconselhável e justo que você afirme Deus existe e assim você tem tudo a ganhar! Vale à pena apostar, numa atitude de confiança e de entrega radical (sentido bíblico da fé) de que o mundo é salvável e o ser humano resgatável. Apostando nisso, teremos tudo a ganhar aqui e na eternidade. CONCLUSÃO Despertar, estimular nos pacientes condições emocionais positivas - fé, esperança e otimismo - é oferecer-lhes remédios para a alma tendo como efeitos colaterais repercussões benéficas para o corpo. Uma postura positiva leva a gestos positivos. Os pacientes se cuidam mais, alimentam-se bem, aderem ao tratamento. Além do mais, a manutenção de um estado de espírito mais seguro e esperançoso 8

9 desencadeia no organismo uma cadeia de reações que só trazem o bem. Se o paciente é otimista, encara um problema de saúde como um desafio a ser vencido. Nesse caso, as alterações ocorridas no corpo poderão ser usadas em seu favor. É claro que a equipe de saúde não executará papéis de padres, pastores ou guia espiritual, etc. Contudo, o entendimento das expressões espirituais do paciente possibilitará a visualização da eficácia terapêutica não só em relações a questões físicas (ex. diminuição dor), mas, sobretudo, as dimensões da alma do paciente, que muitas vezes, está fora de possibilidade de cura. O próprio profissional de saúde terá encontros com espiritualidade, e precisará lidar com ela. Caso contrário, não perceberá, conforme Macieira (2001), que o processo de morrer pode ser digno e rico, como um tempo de aprendizagem e crescimento do ser. A morte é um processo natural, normal e integrante da própria vida. BIBLIOGRAFIA: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LINFOME E LEUCEMIA (ABRALE). Disponível em: <http:// www.abrale.org.br/apoio_paciente/depoim entos/interno.php?id=5>. Acesso em 08 Maio 2010. BOFF, Leonardo. Deus existe ou não existe: atualidade da aposta de Pascal. Espiritualidade e Sociedade. Disponível em:<http://www.espiritualidades.com.br /Artigos_A_C/Boff_Leoanrdo_Deus.htm> >. Acesso em 08 Maio 2010. LIBERATO, Regina P; MACIEIRA, Rita C. Espiritualidade no enfrentamento do câncer. In CARVALHO et al; Temas em Psico-Oncologia, São Paulo, SP, Summus, p. 414-431, 2008. KOVÁCS, Maria Julia. Espiritualidade e psicologia cuidados compartilhados. Revista O Mundo da Saúde, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 246-255, 2007. MACIEIRA, Rita. A fé e o sagrado no caminho da cura. In Macieira, Rita (org.). Despertando a Cura: do brincar ao sonhar, São Paulo: Pleno, 2004. ONCOGUIA. Disponível em:< http:// www.oncoguia.com.br/site/espacopaciente.php>. Acesso em 08 Maio 2010. PERES, Mario et al. A importância da integração da espiritualidade e da 9

10 religiosidade no manejo da dor e dos cuidados paliativos. Revista Psiquiatria Clínica, São Paulo, v.34, n. 1, p. 82-87, 2007. SAAD, Marcelo; MASIERO Danilo; Battistella. Espiritualidade baseada em Evidências. DMR HC FMUSP, São Paulo, Jun.2001. Disponível em: < HTTP. //www.eusoulyog.com.br/gerente/_upd/ar quivos/espiritualidade%20 baseada.pdf>. Acesso em 05 Maio 2010. 10