1 Fontes de Financiamento para Sistemas Agroflorestais Introdução Sérgio Maurício Pinheiro Malheiros 1 A presente palestra tem como objetivo apresentar os tópicos principais das linhas de crédito disponíveis para financiamento de Sistemas Agroflorestais. As linhas de crédito disponíveis são regidas por normativos próprios além das normas gerais de crédito rural, devendo o agente financeiro ser consultado sobre condições específicas além de detalhes não abordados no texto. As fontes de financiamento para a atividade tem como origem linhas de crédito disponíveis através do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Atualmente, para financiamento da atividade, o Banco do Brasil opera apenas com as linhas de crédito do PRONAF (PRONAF FLORESTAL) e FCO. A seguir apresentamos os programas que amparam a atividade, bem como suas principais características e condições de financiamento. Programa de Plantio Comercial de Florestas Conceito O Programa de Comercial de Florestas - PROPFLORA, nos termos da Resolução nº 3.089, de 25/06/2003, do BACEN, apóia à implantação e manutenção de florestas destinadas ao uso industrial, objetivando contribuir para a redução do déficit existente no plantio de árvores utilizadas como matérias-primas pelas indústrias, incrementar a diversificação das atividades produtivas no meio rural, gerar emprego e renda de forma descentralizada, alavancar o desenvolvimento tecnológico e comercial do setor, fixar o homem no meio rural e reduzir a sua migração para as cidades, por meio da viabilização econômica de pequenas e médias propriedades, e contribuir para a preservação das florestas nativas e ecossistemas remanescentes. As operações serão realizadas através das instituições financeiras credenciadas. Prazo de vigência Poderão ser atendidos os financiamentos contratados até 30 de junho de 2004. 1 Banco do Brasil.
2 Clientes Empresas de qualquer porte, associações e cooperativas de produtores rurais e pessoas físicas, com efetiva atuação no segmento agropecuário. Itens financiáveis Investimentos fixos e semifixos e custeio associado ao projeto de investimento, limitado a 35% do valor do investimento, relativo aos gastos de manutenção no segundo, terceiro e quarto anos. Encargos financeiros 8,75% a.a., incluído o spread da instituição financeira credenciada de 3% a.a. Nível de participação Até100%. Limite de valor do financiamento por cliente, no período de 01/07/2003 a 30/06/2004: até R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais) independentemente de outros créditos ao amparo de recursos controlados do crédito rural. Se a atividade assistida requerer e ficar comprovada a capacidade de pagamento da Beneficiária, poderá ser concedido mais de um financiamento para a mesma Beneficiária após decorrido pelo menos um ano da formalização da operação anterior. Prazo total Até 144 meses, incluída a carência até a data do primeiro corte, acrescida de 6 meses e limitada a 96 meses. A periodicidade de pagamento do principal poderá ser semestral ou anual. Garantias A critério da instituição financeira credenciada, observadas as normas pertinentes do Banco Central do Brasil. Critérios específicos Poderão ser financiados gastos realizados a partir da entrada do pedido de financiamento na instituição financeira credenciada; Deverá ser exigida do cliente a apresentação de
3 declaração a respeito do cumprimento do limite de valor de financiamento. Deverá ser observada a regularidade ambiental da propriedade onde será implementado o projeto através do atendimento ao Código Florestal. As liberações serão parceladas, de acordo com os gastos nas fases de preparação, plantio e manutenção do cultivo. Encaminhamento O interessado deve dirigir-se à instituição financeira credenciada de sua preferência que informará qual a documentação necessária, analisará a possibilidade de concessão do crédito e negociará as garantias. Após a aprovação pela instituição, a operação será encaminhada para homologação e posterior liberação dos recursos pelo BNDES. Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) Conceito O Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste - FCO é um Fundo de Desenvolvimento criado pela Lei 7.827/89 alterada pelas Leis 9.126/95 e 10.177/01, que regulamentou o Artigo 159-I-"c" da Constituição Federal. Como parte integrante do FCO, insere-se o FCO RURAL, um conjunto de normas e programas de financiamentos voltados para o atendimento do setor produtivo agropecuário. Objetivos O FCO RURAL: tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento econômico e social da Região Centro-Oeste, mediante à execução de programas de financiamento aos setores agropecuário e agroindustrial de forma a possibilitar o fortalecimento da agroindústria com a utilização de matéria-prima regional; a intensificação, diversificação e modernização da agropecuária, mediante a elevação do padrão de qualidade dos animais e o incremento da produção e da produtividade do setor rural. Fonte dos recursos Os recursos do Fundo são provenientes basicamente do imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza e do imposto sobre produtos industrializados e de ganhos financeiros sobre aplicações. FCO é administrado pelo Banco do Brasil juntamente com o Ministério da Integração Nacional e o Conselho Deliberativo do Fundo CONDEL/FCO em nível nacional, além dos Conselhos de Desenvolvimentos Estaduais.
4 Beneficiários 0s beneficiários do Fundo são os produtores rurais, pessoa físicas e jurídicas, que desenvolvem atividades produtivas nos setores agropecuário e agroindustrial da Região Centro-Oeste.(Estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal). Classificação Os proponentes são classificados por porte, de acordo com a sua renda bruta agropecuária anual. Considera-se como renda bruta agropecuária anual a prevista para o período de 1 (um) ano de produção normal, englobando todas as atividades agropecuárias exploradas pelo produtor. Segundo este critério, são classificados como miniprodutor aquele com renda bruta agropecuária até RS 80 mil; pequeno produtor aquele com renda acima de RS 80 mil e até 160 mil; médio produtor com renda acima de RS 160 mil e até RS l milhão; e grande produtor aqueles cuja renda bruta agropecuária anual seja maior que RS 1 milhão. A classificação como mini e pequeno produtor fica condicionada a que, no mínimo, 80% de sua renda bruta anual seja proveniente da atividade agropecuária, excetuando-se os rendimentos provenientes da atividade assalariada. Itens financiáveis São financiáveis os bens e serviços necessários ao empreendimento, exceto: - Encargos financeiros; gastos gerais de administração; recuperação de capitais já investidos ou pagamento de dívidas efetivadas antes da apresentação da proposta de financiamento ao Banco. Admite-se considerar exclusivamente para efeito de contrapartida de recursos próprios os gastos ou compromissos que se referirem a itens financiáveis integrantes do orçamento vinculado ao projeto; e tiverem sido efetuados e pagos, comprovadamente, até o sexto mês anterior à entrada da proposta no Banco; - Construção e/ou reforma de casa sede, casa de administrador ou outro tipo de moradia, integrada ao projeto, com área superior a 60m2; - pivô central no Distrito Federal; - aquisição de terras e terrenos; veículos automotores; de unidades já construídas ou em construção; de bovinos, exceto quando se tratar de matrizes, e reprodutores; aquisição do primeiro lote de bezerros desmamados para serem terminados em novilho (padrão precoce), quando associado ao financiamento de projeto de implantação da infra-estrutura de produção dessa atividade; - helicópteros e aviões, exceto os financiamentos para pulverização agrícola, de fabricação nacional, limitado a uma operação por beneficiário;
5 - animais de serviço, exceto os financiamentos destinados a mini e pequenos produtores rurais; - tratores agrícolas, colheitadeiras e implementos associados, de forma isolada, quando destinados à agropecuária, exceto os financiamentos direcionados a mini e pequenos produtores rurais e os não passíveis de enquadramento no MODERFROTA. Limite financiável Investimento - sobre o valor dos itens financiáveis, serão aplicados os percentuais abaixo, de acordo com o porte do cliente: I - mini e pequeno - 100% (cem por cento); II - médio - 90% (noventa por cento); III - grande - 80% (oitenta por cento); Aquisição de bezerros desmamados para serem terminados em novilhos - padrão precoce - até RS 200 mil por beneficiário; custeio associado a projeto de investimento 10% (dez por cento) do valor financiado pelo FCO para o investimento; e custeio dissociado - até 30% (trinta por cento) do valor contratado das operações "em ser". Teto de financiamento a) Custeio Dissociado: I - mini e pequeno produtor: até RS 50 mil; II - médio produtor: até RS 100 mil; III - grande produtor: até RS 150 mil; b) Programa de Desenvolvimento Rural: RS 4,8 milhões por tomador ou grupo econômico e por cooperativa de produção de produtores rurais, respeitada a assistência máxima global permitida com recursos do Fundo. Obs.: em caráter de excepcionalidade, cada Estado poderá conceder anuência prévia em cartas-consulta de valores superiores a este teto de RS 4,8 milhões, até o limite máximo de RS 60 milhões/ano por Unidade Federativa, respeitado o teto máximo de financiamento de RS 20 milhões, por cliente ou grupo econômico. Prazos dos financiamentos Os prazos são fixados de acordo com o item financiado, conforme abaixo: a) investimento fixo:
6 I - adubação e correção do solo - até 6 anos, incluído o período de carência de até 2 anos; II - florestamento e reflorestamento: 1) essências para serrarias e laminação - de 20 anos, incluído o período de carência de 10 anos; 2) essências para fins energéticos - até 10 anos, incluído o período de carência de até 05 anos; III - demais - até 12 anos, incluído o período de carência de até 3 anos; b) investimento semifixo: I - maquinaria e veículos - até 10 anos, incluído o período de carência de até 3 anos, observada a vida útil do bem financiado; II - aquisição de bezerros desmamados para serem terminados em novilhos - padrão precoce - 18 meses, incluído o período de carência de 6 meses; d) custeio associado a projeto de investimento - até 3 anos, incluído o período de carência de até 1 ano; e) custeio dissociado - até 2 anos, com até 6 meses de carência; f) aquisição de CTN - até 5 anos. Utilização dos recursos e reposição do crédito A utilização deve ser feita de acordo com o cronograma de execução físico-financeiro do projeto. A reposição do crédito deve ser estipulada levando-se em conta a capacidade de pagamento do proponente, o ciclo das explorações financiadas e a época da obtenção das receitas: Encargos financeiros São definidos de acordo com o porte do beneficiário, conforme abaixo: - Miniprodutor 6,00 % aa -Pequeno e médio produtor 8,75 % aa -Grande produtor 10,75 % aa É concedido bonus de adimplência no valor correspondente a 15% (quinze por cento) sobre os encargos financeiros, nas parcelas pagas até a data do vencimento. Trata-se de um estímulo ao pagamento das obrigações do FCO nas datas aprazadas, concedido na forma de desconto nos encargos financeiros quando do pagamento integral da parcela ou na liquidação da dívida. O mutuário perde o direito ao bônus de adimplência se ocorrer uma das seguintes situações:
7 a) não efetuando o pagamento da parcela/operação até a data do vencimento; ou b) no caso de desvio na aplicação dos recursos, o cliente fica sujeito à perda do beneficio representado pelo Bônus de Adimplência, desde a data da primeira liberação. A partir da ocorrência do desvio, são cobráveis, também, os encargos por inadimplemento. Anualmente, em janeiro, e sempre que a Taxa de Juros de Longo Prazo-TJLP apresentar, para mais ou para menos, variação acumulada superior a 30% (trinta por cento), o Poder Executivo PODERÁ, por proposta conjunta dos Ministérios da Integração Nacional e da Fazenda, determinar ajustes, não retroativos, na taxa de juros pactuada. Pronaf Florestal Finalidade O PRONAF FLORESTAL, é parte integrante da linha de crédito PRONAF e tem como finalidade apoiar financeiramente projetos de silvicultura e sistemas agroflorestais, incluindo-se os custos relativos à implantação e manutenção do empreendimento, tendo sido regulamentado pela Resolução CMN/BACEN n. 3.097, de 25.06.2003. Conceito O PRONAF FLORESTAL é um Programa criado em parceria pelos Ministérios do Desenvolvimento Agrário-MDA e do Meio Ambiente - MMA, com o objetivo de estimular os agricultores familiares à prática da silvicultura e sistemas agroflorestais para fins de recuperação de áreas de preservação ambiental e incentivo ao reflorestamento com fins comerciais, visando a geração de emprego e o incremento da renda por meio do uso múltiplo da pequena propriedade rural. Público alvo O programa visa atender crediticiamente produtores rurais familiares que se enquadrem nos Grupos "C" ou "D" do PRONAF, sendo a classificação definida segundo os seguintes critérios : Os produtores rurais devem ser agricultores familiares e trabalhadores rurais que explorem parcela de terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário, parceiro ou concessionário do Programa Nacional de Reforma Agrária; residam na propriedade ou em local próximo; não dispõem a qualquer título de área superior a 06 (seis) módulos fiscais, quantificado segundo a legislação em vigor, quando a atividade principal da exploração for bovinocultura, bubalinocultura ou ovinocaprinocultura; ou 04 (quatro) módulos fiscais, quantificados segundo a legislação em vigor para as demais atividades; obtendo no mínimo 80% da renda familiar oriunda da exploração agropecuária ou não
8 agropecuária do estabelecimento. Os agricultores para serem enquadrados no grupo C; devem ainda, ter o trabalho familiar como predominante na exploração do estabelecimento utilizando apenas eventualmente o trabalho assalariado, de acordo com as exigências sazonais da atividade agropecuária e obter renda bruta anual familiar acima de R$ 2.000,00 e até R$ 14.000,00, excluídos os proventos vinculados a benefícios previdenciários decorrentes das atividades rurais e de programas sociais de Governo. No Grupo "D", devem ter o trabalho familiar como predominante na exploração do estabelecimento, podendo manter até dois empregados permanentes, sendo admitido ainda o recurso eventual à ajuda de terceiros, quando a natureza sazonal da atividade o exigir; e ainda obter renda bruta anual familiar acima de R$ 14.000,00 e até R$ 40.000,00, excluídos os proventos vinculados a benefícios previdenciários decorrentes de atividades rurais. São também beneficiários e se enquadram nos grupos C e D os extrativistas que se dediquem à exploração ecologicamente sustentável e os silvicultores que cultivem florestas nativas ou exóticas e que promovam o manejo sustentável daqueles ambientes. Valor financiável Os financiamentos serão concedidos independentemente dos limites definidos para outros investimentos ao amparo do PRONAF, limitados a R$ 4.000,00 (quatro mil reais) para os beneficiários enquadrados no grupo C ; e R$ 6.000,00 (seis mil reais) no Grupo "D". Condições de financimento Os financiamentos são concedidos com prazo de até 12 (doze) anos, contando com carência do principal até a data do primeiro corte, acrescida de 6 (seis) meses, limitada a 08 (oito) anos e encargos financeiros com taxas de juros de efetivos de 4% (quatro por cento) ao ano. Por ocasião do pagamento de parcelas ou liquidação da dívida, desde que realizados pelo mutuário até a data dos respectivos vencimentos, será concedido, a título de bônus de adimplência, desconto de 25 % (vinte e cinco por cento) sobre a taxa de juros inerente à parcela que está sendo paga, desde que integralmente. O cronograma das amortizações deverá refletir as condições de maturação do projeto; e ser fixado conforme a exploração florestal, sendo obrigatória a apresentação de projeto técnico e assistência técnica, devendo esta, contemplar no mínimo, o tempo necessário à fase de implantação do projeto (até sua maturação); aspectos gerenciais, tecnológicos, contábeis e de planejamento. Até 40 % (quarenta por cento) do valor do crédito deve ser destinado à fase de implantação e plantio, com liberação no primeiro ano da operação o restante, destinado ao replantio, tratos culturais, controle de pragas e outras atividades de manutenção, com liberação dos recursos no segundo, terceiro e quarto anos, de acordo com o determinado pelo projeto técnico. As espécies a serem cultivadas serão definidas pelo
9 agricultor familiar e o técnico responsável pela elaboração do projeto técnico. Para tanto, devem ser observados, dentre outros, os seguintes fatores: a) as condições de solo e de clima; b) a topografia; c) os cursos e as fontes de água da propriedade; d) a disponibilidade de mudas; e) o mercado para comercialização dos produtos florestais. O Pronaf - Florestal, desde 14/08/2003, passa a abranger todas as regiões do país.