Banco Internacional de Objetos Educacionais: uma ferramenta pedagógica para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem de Física Paula Mesquita Melques João Ricardo Neves da Silva Ana Maria Osorio Araya Balan Klaus Schlünzen Junior Elisa Tomoe Moriya Schlünzen Resumo O presente artigo apresenta uma ferramenta para auxiliar o professor de por meio das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no processo de ensino-aprendizagem de Física. A proposta consiste em demonstrar os potenciais do Banco Internacional de Objetos Educacionais (BIOE), repositório criado pelo Ministério da Educação, em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia, Rede Latino-americana de Portais Educacionais (RELPE), Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) e outros. O repositório tem como objetivo disponibilizar recursos educacionais digitais de livre acesso para toda a comunidade escolar, nas áreas de conhecimento previstas pela educação básica, profissionalizante e superior. Assim, far-se-á um panorama desse ambiente considerando quais são suas potencialidades para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem de Física. Além disso, apresenta-se alguns fatores que influenciam na inclusão das TIC nas escolas, como a formação adequada do professor e abordagem pedagógica adotada. Palavras-chave: Banco Internacional de Objetos Educacionais, processo de
ensino-aprendizagem, Física. Abstract International Bank Educational Objects: one pedagogical tool to improve the Physics learning/teaching process The present article presents one tool to help the teacher through Information and Communication Technology in the process of teaching-learning Physics. The proposal consists in showing the potential of the International Bank of Educational Objects, repository created by Education Ministry, joined with Science and Technology Ministry, Latin America Network of Educational Gates, Iberia-American Organization of States and others. The repository has the goal to make digital educational sources available for all the scholar community, in the areas of knowledge, known by the basic education, vocational and degree course. Therefore, it is shown one overall view of this environment, considering what their strong points are, to improve the physics learning-teaching process. Besides that, it is presented some factors that influence in the inclusion of TIC s in the schools, as the adequate formation of the teacher and the pedagogical approaching adopted. Keywords: International Bank Educational Objects, Physics, process of teaching-learning Physics. Introdução O modelo educacional atual necessita urgentemente de mudanças. A formação e a prática pedagógica do professor e o processo de ensino-aprendizagem são apenas alguns dos setores que precisam ser repensados e reformulados. A inserção das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na educação pode auxiliar efetivamente na mudança do paradigma pedagógico. No entanto, não basta haver a disponibilização de computadores nas escolas, é necessário que aconteça a formação do professor para lidar com tal tecnologia e, principalmente, utilizar uma perspectiva pedagógica adequada ao utilizar o computador. Sobre as providências que devem ser tomadas a fim de inserir o computador na educação, Mercado comenta que Às escolas cabe a introdução das novas tecnologias de comunicação e conduzir o processo de mudança da atuação do professor, que é o principal
ator destas mudanças, capacitar o aluno a buscar corretamente a informação em fontes de diversos tipos. É necessário também, conscientizar toda a sociedade escolar, especialmente os alunos, da importância da tecnologia para o desenvolvimento social e cultural. (MERCADO, 2002, p. 14) A formação do professor para o uso das novas tecnologias na educação O professor, durante a sua formação acadêmica, não foi preparado para lidar com as novas tecnologias. Esta preparação também não tem acontecido atualmente e pode se observar uma preocupação excessiva apenas com a aquisição de equipamentos (ALMEIDA, 1999) como se a disponibilidade de computadores bastasse para inserir positivamente a informática na educação. É importante que o governo contribua no processo de mudança do paradigma pedagógico a partir da inclusão das TIC. Conforme Barroqueiro [...] é necessário que os governos adotem um novo sistema educacional, compatível com a realidade social e com suas demandas e que apóie os professores propiciando uma formação adequada, criativa e continuada no que se refere ao uso das TIC como um recurso pedagógico agregado ao processo de ensino-aprendizagem. (BARROQUEIRO, 2009, P.2) Com a capacitação para utilizar as TIC, os professores podem conhecer as limitações e potencialidades do uso desta ferramenta no processo de ensino-aprendizagem. Caso os professores não tenham este conhecimento, os benefícios proporcionados pelas TIC são desperdiçados. Sobre a forma como deve ocorrer a formação dos professores para o uso do computador na educação, Valente afirma que [...] esta formação não pode se restringir à passagem de informações sobre o uso pedagógico da informática. Ela deve oferecer condições para o professor construir conhecimento sobre técnicas computacionais e entender por que e como integrar o computador em sua prática pedagógica. Além disso, essa formação deve acontecer no local de trabalho e utilizar a própria prática do professor como objeto de reflexão e de aprimoramento, servindo de contexto para a construção de novos conhecimentos. (VALENTE, 2003, p.3)
A informática na educação a partir de uma abordagem construcionista Quando o computador é inserido na escola como mero transmissor de informações, há a imagem de que o computador é uma máquina de ensinar e ocorre somente a informatização dos métodos tradicionais presentes no paradigma instrucionista. A relação aprendiz-computador precisa ser repensada para que se obtenha através desta interação a idéia de espiral da aprendizagem (VALENTE, 2002). Ao integrar as TIC nas atividades pedagógicas, o professor precisa atuar como mediador do processo, explorando as possibilidades de aprendizagem que o computador permite ao aluno, utilizando-o de forma colaborativa e interativa, e como uma ferramenta na construção do conhecimento. Através do paradigma construcionista, o computador pode ser utilizado como uma ferramenta que facilita a expressão do raciocínio e a reflexão e a depuração do mesmo (VALENTE, 1993). Os alunos têm constantemente dificuldades nas aulas de Física devido à abstração de muitos conceitos desta área. O uso das TIC no processo de ensino-aprendizagem de Física proporciona inúmeras possibilidades benéficas ao aluno, tais como: a manipulação de parâmetros e interpretação dos resultados, gerando e testando hipóteses; a simulação de experimentos difíceis de serem realizados na sala de aula; o desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas e de raciocínio crítico; observação de fenômenos microscópicos; a contextualização do tema tratado; além da interatividade e da interdisciplinaridade. Os objetos educacionais podem ser utilizados a fim de se obter estes benefícios. Como definição, temos que um OE é [...] qualquer recurso, suplementar ao processo de aprendizagem, que pode ser reusado para apoiar a aprendizagem (TAROUCO, et al., 2003, p.2). Animação, áudio, vídeo, software educacional, imagem e hipertexto são exemplos de objetos educacionais. Estes OE podem estar disponibilizados em um repositório educacional e organizados através de metadados. Os metadados de um OE podem ser definidos como a descrição de [...] características relevantes que são utilizadas para sua catalogação em repositórios de objetos educacionais reusáveis, podendo ser recuperados posteriormente [...] (TAROUCO, et al., 2003, p. 2).
Banco Internacional de Objetos Educacionais O Banco Internacional de Objetos Educacionais (BIOE), cujo endereço eletrônico é http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/, é um repositório educacional criado em 2008 pelo Ministério da Educação, em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia, Rede Latinoamericana de Portais Educacionais (RELPE), Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) e outros. Neste repositório estão disponíveis OE como animações, simulações, áudios, vídeos, softwares educacionais, além de imagens, mapas e hipertextos. Figura 1 Interface do Banco Internacional de Objetos Educacionais (Fonte: Banco Internacional de Objetos Educacionais. Ministério da Educação. Disponível em https://objetoseducacionais.mec.gov.br)
A Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) de Presidente Prudente participa deste projeto desde a sua implantação. O projeto tem como objetivo localizar, analisar, selecionar e catalogar materiais didáticos digitais nas áreas de conhecimento previstas pela educação básica, profissionalizante e superior. Além disso, os recursos catalogados em língua estrangeira são traduzidos para a língua portuguesa e posteriormente são catalogados no BIOE. Com isso, ficam disponíveis neste repositório recursos educacionais digitais de todas as áreas e níveis de ensino, em diferentes formatos para livre acesso de toda a comunidade escolar. Participam também deste projeto as seguintes universidades: Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), Universidade do Ceará (UFC), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal Fluminense (UFF). Metodologia Para que os recursos educacionais digitais sejam disponibilizados no BIOE, a equipe pedagógica da UNESP de Presidente Prudente é responsável pela pesquisa, avaliação e catalogação dos OE no Banco, referentes à área de Educação Ambiental, Física e Matemática. Assim, o trabalho da equipe pedagógica se inicia com a busca de OE na web. Os OE encontrados são analisados e avaliados a partir de critérios adotados, entre eles: a credibilidade da fonte, a contribuição para construção do conhecimento, o fácil funcionamento do recurso, a interface de navegação adequada à compreensão do conteúdo, a interatividade, a interdisciplinaridade, o conteúdo contextualizado e coerente. Quando o recurso está de acordo com estes critérios, verifica-se a licença da fonte. Caso haja uma licença que esteja de acordo com os objetivos do Banco, inicia-se a catalogação. Caso contrário, entra-se em contato com o autor com o objetivo de negociar uma licença satisfatória. Obtendo um resultado positivo, inicia-se a catalogação. A catalogação é feita no mesmo idioma do objeto. Com isso, quando necessário, a equipe de tradução é responsável por fazer a tradução dos metadados. Antes de a catalogação ser concluída pelos graduandos, o trabalho é revisado pelos coordenadores das equipes. Após todas as etapas serem cumpridas, é finalizada a submissão do OE. Esta submissão, antes de ser publicada no Banco, é avaliada pelo Comitê do Ministério da Educação. Sendo aprovada, o objeto enfim é disponibilizado para o público em geral. Há ainda a equipe tecnológica, responsável pela programação e re-programação de objetos de aprendizagem (OA) da equipe RIVED/PP e de OE disponíveis no BIOE. A equipe de tradução
também realiza traduções de OE disponíveis no BIOE na língua espanhola e Inglesa para a língua portuguesa. Resultados e discussões Para que a utilização do computador afete significativamente o processo de ensinoaprendizagem de Física, é de extrema importância que o professor trabalhe através de um paradigma construcionista, em que o foco deve estar na aprendizagem, e não no ensino. A relação computador-aluno precisa acontecer de forma que o aluno não seja apenas instruído, mas torne-se participante e construtor de seus conhecimentos. Segundo Valente (1999, p.37), A qualidade da interação aprendiz-objeto, descrita por Piaget é, particularmente pertinente no caso do uso da informática e de diferentes softwares educacionais. Do mesmo modo que não é o objeto que leva à compreensão, não é o computador que permite ao aluno entender ou não um determinado conceito. A compreensão é fruto de como o computador é utilizado e de como o aluno está sendo desafiado na atividade de uso desse recurso. Além da aplicação de um modelo pedagógico satisfatório, é necessário haver uma estrutura escolar em que seja possível a aplicação deste modelo, com a disponibilidade de equipamentos nas escolas públicas e professores capacitados para o uso desta ferramenta. O repositório apresentado neste trabalho oferece ao professor alternativas à aula tradicional, aprimora o processo de ensino-aprendizagem de Física por meio do uso das TIC e favorece a mudança do paradigma pedagógico, enriquecendo o ambiente de aprendizagem e proporcionando ao aluno chances de construir o seu conhecimento. Com a disponibilização de recursos pedagógicos digitais para livre acesso de toda a comunidade escolar e população em geral, o Banco Internacional de Objetos Educacionais tem apresentado resultados bastante significativos. Atualmente, o Banco possui mais de 10.000 objetos publicados e já recebeu aproximadamente 1.500.000 visitas de 161 países. Na área de Física, são mais de 1.600 OE disponíveis, facilitando, desta forma, o acesso dos professores desta área às novas tecnologias.
Referências Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR ALMEIDA, M.E.B. Informática na escola: da atuação à formação de professores. (1999) Disponível em http://www.divertire.com.br/educacional/artigos/11.htm. (Acesso em 15/07/2010). BARROQUEIRO, C.H., BONICI, R., MELO, J.P.B.C.M., AMARAL, L.H., JUNIOR, C.F.A. O uso das Tecnologias de Informação e Comunicação no Ensino de Ciências e Matemática: uma benção ou um problema? Disponível em http://www.foco.fae.ufmg.br/cd/pdfs/95.pdf (Acesso em 15/05/2010). BRASIL. Ministério da Educação. Banco Internacional de Objetos Educacionais. Disponível em https://objetoseducacionais.mec.gov.br. (Acesso em 23/07/2010). MERCADO, L.P.L. (org). Novas Tecnologias na Educação: Reflexões sobre a prática. Maceió: EDUFAL, 2002. TAROUCO,L,M,R; FABRE,M,C,J,M; TAMUSIUNAS,F,R. Reusabilidade de objetos educacionais. Revista Novas Tecnologias na Educação UFRGS/CINTED, v.1, n.1, fevereiro, 2003. VALENTE, J. A. (org). Por quê o computador na educação. In: Valente, J.A. (org). Computadores e Conhecimento: Repensando a Educação. Campinas, Unicamp, 1993.. O Computador na Sociedade do Conhecimento. Campinas, Unicamp, 1999.. A Espiral da Aprendizagem e as Tecnologias da Informação e Comunicação: Repensando Conceitos. In: Joly, M.C.R.A. (org). A Tecnologia no Ensino: Implicações para a aprendizagem. São Paulo: Casa do Psicólogo, p. 15-37, 2002.. Formação de educadores para o uso da informática na escola. Campinas, Unicamp, 2003.