CIDADES SUSTENTÁVEIS:



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17 CIDADES SUSTENTÁVEIS: Lidando com a urbanização de forma ambiental, social e economicamente sustentável Jaqueline Azevedo de Amorim Rego João Paulo Melo Nacarate Luísa Noleto Perna Tarcísio Barbosa Pinhate 1 1. INTRODUÇÃO As cidades são consideradas centro da civilização contemporânea e da sociedade civil e sempre foram vistas como o locus de inovação e cultura. Foi por meio das cidades e do processo de urbanização que se tornou possível a disseminação de novos ideais e o nascimento de novas relações sociais. (POLÈZE, 1998) Pela primeira vez na história, a maior parte da população mundial reside em áreas urbanas, o que totaliza cerca de 3.3 bilhões de pessoas. O crescimento populacional atual é acompanhado pelo aumento em número e em tamanho das aglomerações urbanas. Até 2030, a população urbana deve aumentar para cinco bilhões de pessoas 2, que se dispersarão por inúmeras cidades e 26 megacidades 3 (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA ASSENTAMEN- TOS HUMANOS ONU-HABITAT, 2008 apud SUSUKI, 2010). Esse crescimento sem precedentes das cidades é explicado por suas capacidades de fornecer infraestruturas adequadas e ambientes favoráveis ao desenvolvimento comercial, assim como identificado pelo SUSUKI (2010). Esses fatores, quando presentes, 545 1 Os autores agradecem a colaboração de Fúlvio Eduardo Fonseca, Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília, e Carlos Leite, Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo. Seus comentários e sugestões foram de grande ajuda à confecção deste trabalho. 2 O World Urbanization Prospects Database (s.d) afirmou que, em 2000, havia 120 cidades com populações acima de um milhão de habitantes e que esse número deve crescer para 160 até 2015 (WORLD URBANIZATION PROSPECTS DATABASE, s.d. apud SUSUKI, 2010). 3 Megacidades são cidades com populações superiores a 10 milhões de habitantes.

546 contribuem para uma melhor qualidade de vida (por meio de um ambiente limpo, acessível e propício à vida humana) e para a atração de capital humano 4. Hoje, se reconhece que a cidade é condição indispensável para o desenvolvimento econômico e para o bom funcionamento da economia de mercado (POLÈZE, 1998). Embora a urbanização traga benefícios à sociedade, há também diversas e graves questões ambientais e sociais. O ONU- -HABITAT, constatou que as cidades são responsáveis por 75% do consumo total de energia mundial e pela emissão de 80% dos gases que causam o aquecimento global (ONU-HABITAT, s.d. apud MITCHELL,CASALEGNO, 2008, p.viii, tradução nossa), ocupando apenas cerca de 3% da superfície terrestre total (PO- REDOS, 2011,p. 26). Apesar das cidades serem centros de inovação, crescimento econômico, transformação social, saúde e educação, seu crescimento traz para discussão questões sobre aquecimento global, administração de recursos, economia baseada na baixa emissão de carbono e desigualdade social. As cidades requerem soluções inovadoras em seu design, em sua governança e em sua infraestrutura de investimentos, para que possam responder essas questões de maneira apropriada (MITCHELL; CASALEGNO, 2008). Assim torna-se relevante falar sobre sustentabilidade dentro do contexto urbano. A sustentabilidade deriva da percepção de que os recursos do planeta são finitos e de que o uso inadequado dos mesmos deve ser desencorajado (LEITE, 2012). Nesse sentido, o desenvolvimento sustentável se apresenta mais urgentemente onde mora o problema: as cidades darão as respostas para um futuro verde. Nelas se consomem os maiores recursos do planeta; nelas se geram os maiores resíduos. (LEITE, 2012, p. 14). Este artigo foi dividido em cinco seções com o objetivo de explicitar quais são as facetas e a importância do desenvolvimento urbano sustentável e como implementá-lo. Na primeira seção, serão definidos os conceitos de desenvolvimento sustentável e de cidade sustentável. Em seguida, serão apresentadas as conferências internacionais que tiveram em sua pauta a discussão sobre o desenvolvimento urbano sustentável. Na terceira seção, os principais desafios enfrentados pelas cidades serão explicitados. A quarta seção apresentará propostas urbanas sustentáveis e seus benefícios em várias dimensões. Finalmente, a última seção introduzirá o conceito de governança como instrumento importante na promoção e concretização do desenvolvimento urbano sustentável. 2. UM NOVO TIPO DE ESPAÇO URBANO: O QUE SÃO AS CIDADES SUSTENTÁVEIS? Nesta primeira seção serão apresentadas as principais definições de desenvolvimento sustentável. Além disso, será esclarecida a existência de uma interdependência entre o âmbito ambiental, o econômico e o social quando se trata da sustentabilidade. Em seguida, breve análise das cidades com o aquecimento global será feita e, a partir disso, os conceitos de cidades sustentáveis e seus elementos formadores serão apresentados. 2.1. O Desenvolvimento Sustentável A definição mais conhecida para desenvolvimento sustentável é a formulada pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas, no documento Nosso Futuro Comum 5, segundo o qual, o desenvolvimento sustentável é aquele capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer as necessidades das gerações futuras (1987, s.d), ou seja, um desenvolvimento consciente que não esgote os recursos e nem prejudique os sistemas naturais que mantém a vida no planeta. Essa definição foi elaborada em uma tentativa de integrar desenvolvimento econômico com preservação ambiental. Já de acordo com Ignacy Sachs (2008), desenvolvimento sustentável é uma abordagem fundamentada na harmonização de objetos sociais, ambientais e econômicos. A partir disso se estabelece um aproveitamento racional 6 e ecologicamente sustentável da natureza em benefício das populações locais, fazendo com que a preocupação com a conservação do meio ambiente e da biodiversidade estejam incorporadas aos interesses da própria população (SACHS, 2008). O desenvolvimento sustentável contradiz o planejamento urbano moderno pautado no crescimento econômico como principal objetivo (SACHS, 2008). Isso acontece porque esse conceito parte do pressuposto de que o mundo possui recursos naturais finitos que estão sendo utilizados inadequadamente e, portanto, 4 Para Mankiw (2012), capital humano é entendido como o conhecimento e as habilidades adquiridas pelos trabalhadores através da educação, treinamento e experiência (MANKIW, 2012, p. 835). 5 Documento tratado na seção 3. 6 Baseado no desenvolvimento sustentável significa balancear conservação do ambiente e desenvolvimento econômico e fundamentar ecologicamente as decisões (ART. 66. º, N. º 2, CRP). 547

548 esse comportamento deve ser alterado (LEITE, 2012). A partir da perspectiva da sustentabilidade, o crescimento econômico de cada país deve considerar os limites de consumo dos recursos naturais disponíveis (SACHS, 2008). A economia deveria seguir princípios básicos para que haja um desenvolvimento urbano compatível com a sustentabilidade (LEITE, 2012). O conceito de desenvolvimento sustentável acrescenta outra dimensão à da sustentabilidade social, aquela da sustentabilidade ambiental (SACHS, 2008). Ela se baseia na solidariedade para com a geração atual e para com as gerações futuras, buscando soluções que não recorrerão às ferramentas da economia convencional, mas sim às soluções que não causarão externalidades negativas nas dimensões social e ambiental (SACHS, 2008). 2.2. Cidades sustentáveis, as cidades inteligentes A cada dia a população se concentra mais nas cidades e o mundo se torna mais urbano, essas mesmas cidades consomem muita energia e respondem cada vez mais pelas emissões de CO2.Então, para que se verifique uma redução nas alterações climáticas, deve-se promovermudanças nas cidades (LEITE, 2012). Portanto, visando alterar das mudanças climáticas é necessária a adoção de políticas que implementem cidades sustentáveis que saibam lidar adequadamente com a economia, a sociedade e o meio ambiente (SACHS, 2008). A cidade sustentável, de acordo com Mark Roseland (1997), é o tipo mais durável de assentamento que o ser humano é capaz de construir. É a cidade capaz de propiciar um padrão de vida aceitável sem causar profundos prejuízos ao ecossistema ou aos ciclos biogeoquímicos de que ela depende. O modelo de urbanização adotado há anos pelos países, com destaque para os desenvolvidos, considera diversos recursos naturais como recursos inesgotáveis e gratuitos. Esses países acreditam que o mais importante é o seu crescimento econômico, não levando em consideração os limites dos recursos. Por isso, os maiores problemas enfrentados hoje estão relacionados aos padrões de consumo das cidades, assim como infraestrutura inadequada, carências no sistema de saúde e crescimento populacional (LUNDQVIST, 2007). O conceito de cidades sustentáveis requer a criação de uma nova lógica de funcionamento, gestão e crescimento em detrimento das que foram praticadas principalmente no século XX seguindo a ideia de expansão com esgotamento 7 (LEITE, 2012). Toda cidade sustentável se desenvolve a partir de uma ligação adequada, respeitável e ponderada entre o meio ambiente construído e a geografia natural. Portanto, planejar todas as etapas da urbanização é essencial para que a cidade possa ser bem cuidada (LEITE, 2012). Sendo assim, são necessários modelos contemporâneos adequados ao desenvolvimento sustentável, reformulados conjuntamente pela atuação pública e privada (LEITE, 2012). A adaptação de cidades para que fiquem mais sustentáveis é um processo de longo prazo que requer um esforço partindo também da população. Considerando que apopulação ao mesmo tempo em que é causadora de problemas que afetam as cidades, também é ela quem sofre as consequências (LUNDQVIST, 2007). Como será visto na seção 5, as cidades sustentáveis caracterizam-se pela utilização de formas alternativas de energia; priorizam o transporte público, reciclam resíduos e outros materiais; limitam o desperdício, previnem a poluição, maximizam a conservação e promovem a eficiência. Integra-se planejamento e design para que elas sejam possíveis, visto que é durante a fase de planejamento de uma cidade sustentável que os pontos que devem ser melhorados são definidos (PROGRAMA CIDADES SUSTENTÁVEIS, 2012). Cidades sustentáveis, portanto, buscam a conscientização e o auxílio dos seus habitantes por meio de programas que divulguem informações sobre as mesmas, assim como por meio de conferências ambientais e por meio da mídia; para que se melhore o meio ambiente e a qualidade de vida, ao mesmo tempo em que se desenvolve uma economia que sustente a prosperidade dos sistemas humanos e dos ecossistemas (PROGRAMA CIDA- DES SUSTENTÁVEIS, 2012). 3. O FUTURO QUE QUEREMOS : O ESFORÇO MUNDIAL NA PROMOÇÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL Esta seção apresentará um histórico das principais conferências mundiais que trataram sobre desenvolvimento sustentável e cidades sustentáveis. Pretende-se ilustrar e demonstrar como surgiu a conexão entre sustentabilidade e urbanização e como se deu o seu desenvolvimento. A primeira conferência que de fato tratou os problemas políticos, sociais e econômicos do meio ambiente global, foi a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano 8, realizada em Estocolmo, Suécia, em junho de 1972. A Conferência 7 O conceito faz referência à não preocupação em se preservar os recursos, mas explorá-los a fim de se atingir os objetivos de crescimento econômico. 8 Resolução 2398 da Assembleia Geral da ONU definiu a convocação da Conferência. 549

550 se distinguiu das reuniões já realizadas por discutir o conceito de meio ambiente humano, o que significava entender que meio ambiente não é uma questão separada da humanidade, como se acreditava; e por ter uma participação maior dos países menos desenvolvidos. Esta teve como resultado a Declaração de Estocolmo, uma lista de Princípios e um Plano de Ação (MCCORMICK, 1992). A Declaração não visava definir cláusulas de cumprimento legalmente obrigatório, mas deveria ser inspiracional [...] e atuar como um prefácio para os princípios, delineando metas e objetivos amplos (MCCORMICK, 1992, p.109). Foram definidos 26 Princípios que dissertavam sobre a preservação dos recursos naturais, alinhamento entre desenvolvimento e preservação ambiental, cooperação internacional voltada para o melhoramento ambiental, diminuição da poluição e utilização da ciência, tecnologia e outros meios para a promoção da proteção ambiental. Por fim, o Plano de Ação foi um conjunto de atividades internacionalmente coordenadas que se dividia em três categorias: avaliação ambiental, administração ambiental e medidas de apoio (MCCORMICK, 1992). A Conferência deixou como legado a tendência em direção a uma nova ênfase sobre o meio ambiente humano. Além disso, forçou um compromisso entre diferentes visões sobre o meio ambiente defendidas por países desenvolvidos e em desenvolvimento. Ademais, as ONGs conquistaram espaço e passaram a trabalhar junto aos governos e às organizações governamentais. Finalmente, houve a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PNUMA 9 (MCCORMICK, 1992). Já no ano de 1976, aconteceu em Vancouver, no Canadá, a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos (Habitat I). Esta explicitou as consequências de uma urbanização acelerada, tais como pobreza, carência de condições adequadas de saneamento básico, saúde, alimentação e desigualdade social. A Declaração de Vancouver chamou a atenção para o apoio aos esforços de formulação, design, implementação e avaliação de projetos para a melhoria dos assentamentos humanos (COMISSÃO ECONÔMICA E SOCIAL DAS NAÇÕES UNI- DAS PARA A ÁSIA E PACÍFICO, s.d), visto que estes largamente determinam a qualidade de vida dos moradores e o seu melhoramento é um pré-requisito para suprir as necessidades básicas de vida, como emprego, moradia, serviços de saúde, educação e lazer (DECLARAÇÃO DE VANCOUVER, 1976). Em 1987, criou-se a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Comissão Brundtland. No mesmo ano, foi publicado o relatório Nosso Futuro Comum 10, que definia recomendações para o desenvolvimento sustentável, segurança alimentar, espécies e ecossistemas, alternativas de energia, produção industrial com menos degradação ambiental e colocou o assunto em pauta na agenda internacional (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2011). No ano de 1992 ocorreu no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (RIO-92) 11. Nela foi estabelecida a Agenda 21 12, programa que detalhava como se afastar do atual modelo de crescimento econômico caracterizado pela expansão com esgotamento (LEITE, 2012), como já explicitado, por meio de atividades que preservassem e renovassem os recursos ambientais. Durante a Conferência, foi acordado por 172 países um quadro de ações para o desenvolvimento de assentamentos humanos sustentáveis (ONUBR, 2011). Este visava melhorias baseadas em atividades de cooperação técnica entre os setores público e privado e na participação, no processo de tomada de decisões, de grupos da comunidade e de grupos com interesses específicos, como mulheres e populações indígenas (AGENDA 21, 1992, p.72). Em abril de 1996 em Istambul, na Turquia, aconteceu a segunda Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos (Habitat II) 13, que tinha em sua pauta a questão da habitação adequada para todos, que consiste em cidades em que os seres humanos vivam com dignidade, boa saúde, segurança, felicidade e esperança (DECLARAÇÃO DE ISTAMBUL, 1996, p. 2, tradução nossa); e o desenvolvimento de assentamentos humanos sustentáveis no mundo urbanizado, adotando a Agenda Habitat. Este documento prevê intensificação nos esforços para erradicar a pobreza e discriminação, promover os direitos humanos e prover as necessidades básicas de sobrevivência. Preten- 9 O PNUMA tem entre os seus principais objetivos manter o estado do meio ambiente global sob o contínuo monitoramento; alertar povos e nações sobre problemas e ameaças ao meio ambiente e recomendar medidas para melhorar a qualidade de vida da população sem comprometer recursos e serviços ambientais das gerações futuras (ONUBR, 2012, s.d). 10 Documento que conceituou desenvolvimento sustentável como o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades (ONUBR, 2011, s.d). 11 Conferência estabelecida pela resolução 44/228 da Assembleia Geral da ONU. 12 Conferência estabelecida pela resolução 38/161. 13 Conferência estabelecida pela resolução 47/180. 551

552 de-se fazer isso por meio de estratégias e princípios de parceria, da maneira mais democrática e efetiva, para a realização do compromisso (ONU-HABITAT, 1996,p. 3, tradução nossa). Cada país ou cidade deveria seguir as recomendações e adequá-las ao seu contexto social (UNESCAP, n.d). As Metas do Milênio 14, que foram definidas pela ONU em 2000, também se preocupam com a sustentabilidade sendo o sétimo objetivo a qualidade de vida e respeito ao meio ambiente. Este pretende integrar às políticas e aos programas dos países o princípio do desenvolvimento sustentável para diminuir a perda de recursos naturais; reduzir pela metade, até 2015, a proporção da população sem acesso sustentável à água potável; e até 2020, alcançar uma melhora significativa da vida de pelo menos 100 milhões de moradores de favelas (UNDP, 2001). No ano de 2002, aconteceu em Joanesburgo, na África do Sul, a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentávelcom o intuito de avaliar as conquistas, as dificuldades e questões que surgiram desde a RIO-92 (ONUBR, s.d). Apesar da criação da Agenda 21, ainda estava presente uma enorme disparidade econômica e social entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento, a diminuição da biodiversidade continuava, as mudanças climáticas eram evidentes e a poluição da água e do ar permaneciam presentes; ou seja, os princípios acordados na RIO-92 não estavam realmente sendo colocados em prática (ONU, 2002). A mais recente conferência sobre o tema ambiental foi a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio +20) 15 em 2012. Vinte anos após a RIO-92, ela objetivou discutir o que foi feito em relação ao meio ambiente nas últimas décadas, a importância da economia verde 16, maneiras de eliminar a pobreza, medidas que garantam a sustentabilidade no mundo e a governança internacional no campo do desenvolvimento sustentável. Por fim, a Conferência foi encerrada com a publicação do documento O Futuro que Queremos, que reitera o compromisso com o desenvolvimento sustentável, com a erradicação urgente da pobreza e da fome e com a implementação da economia verde (ONUBR, 2012). 4. OS DESAFIOS DAS CIDADES CONTEMPORÂNEAS Feita a apresentação de conferências mundiais que abordaram o desenvolvimento urbano sustentável e temas relacionados, é necessário identificar quais são os maiores desafios e problemas que as cidades contemporâneas enfrentam, para que se possa compreender a importância da sustentabilidade nestas. Em primeiro lugar, é relevante mencionar que a própria ideia de desenvolvimento urbano sustentável em si é considerada um grande desafio para a sociedade contemporânea. Embora as cidades sejam caracterizadas pelo desenvolvimento econômico e por abrigarem serviços públicos como a educação, cuidados médicos e transporte, as mesmas não deixam de enfrentar problemas relacionados ao meio ambiente, moradia, mobilidade, exclusão social (taxa de pobreza), segurança, igualdade de oportunidades e governança (OPEN INNOVATION SEMINAR, 2012). Isso ocorre já que, na maioria das vezes, as cidades se desenvolvem baseadas em um modelo insustentável e de uso ineficiente 17 de recursos (LEITE, 2012). Poleros (2011) ressalta que o uso exacerbado e ineficiente de recursos naturais significa uma maior produção de resíduos e emissão de gases poluentes. Juntamente com essa questão, a poluição do ar e da água seriam problemas ambientais nas cidades. Além desses problemas, os espaços urbanos ainda enfrentam outros como: a matriz energética baseada em fontes não renováveis, a redução de espaços verdes, poluição sonora e problemas relacionados ao tráfego de automóveis. Logo, um dos primeiros desafios das cidades da atualidade é superar esse modelo insustentável da utilização de recursos. Uma das soluções para esse problema é o incentivo a cidades mais densas e compactas, o que se contrapõe ao modelo urbano de baixa densidade predominante, por exemplo, em cidades 14 Em setembro de 2000, 189 nações firmaram um compromisso para combater a extrema pobreza e outros males da sociedade. Esta promessa acabou se concretizando nos 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) que deverão ser alcançados até 2015 (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO PNUD, s.d). As Metas foram definidas na Declaração do Milênio resolução 55/2. 15 Resolução 64/236 da Assembleia Geral da ONU estabeleceu a Conferência. 16 Estrutura de tomada de decisões para fomentar a consideração integrada dos três pilares de desenvolvimento sustentável (econômico, social e ambiental) em todos os domínios relevantes de tomada de decisões pública e privada (O FUTURO QUE QUEREMOS, 2012, p.6). A economia verde é vista como um meio de se obter o desenvolvimento sustentável e nesse contexto, deve proteger e melhorar a base de recursos naturais, ampliar a eficiência dos recursos, promover padrões de consumo e produção sustentáveis, e guiar o mundo em direção ao desenvolvimento com baixo consumo de carbono (O FUTURO QUE QUEREMOS, 2012, p.6). 17 O conceito de eficiência pode ser definido como a propriedade da sociedade em retirar o máximo que pode de seus recursos escassos (MANKIW, 2012, p. 834, tradução nossa). 553

554 norte-americanas. Essa solução oferece uma otimização da infraestrutura urbana e maior qualidade de vida, o que é explicado principalmente pelo princípio da interação 18 (LEITE, 2012). O incentivo a maiores densidades e diversidade dentro das cidades se relaciona com o conceito de economias de aglomeração, assim como definido por Polèze (1998). A economia de aglomeração é definida pelos ganhos de produtividade atribuíveis à aglomeração geográfica das populações ou das atividades econômicas (POLÈZE, 1998, p. 77). Essas economias trazem aumentos na produtividade e em maiores rendimentos para os cidadãos, o que traz vantagens às empresas e à população. Nessas economias, há um melhor acesso às infraestruturas urbanas como saúde, sistema de educação, redes de informação, comunicação, redes de trocas e serviços públicos em geral, elementos que não existem ou que não são bem desenvolvidos em ambientes não urbanos. (POLÈZE, 1998). Outro desafio a ser superado pelas cidades é a grande desigualdade socioeconômica e a consequente exclusão social. Em muitos casos, há uma expansão não controlada do espaço urbano, verificada especialmente nas últimas décadas 19. Isso resulta em uma dificuldade de administração e fiscalização do território e acarreta na acelerada degradação de zonas preservadas, precariedade na infraestrutura urbana, poluição e até mesmo em um aumento da violência (LEITE, 2012). Além disso, os indivíduos que habitam favelas sofrem graves inadequações nas mais básicas necessidades humanas, tais como: moradia, água, eletricidade, saneamento básico, coleta de lixo, pavimentação e iluminação pública (SUSUKI et al, 2010, p. 15). Isso acontece principalmente devido a pouca oferta de lotes e habitações a preços acessíveis, o que acontece principalmente como consequência de uma administração pública inadequada. As famílias com rendas mais baixas são, então, forçadas a viver em zonas de risco (SUSUKI et al, 2010). Ao mesmo tempo, algumas cidades sofrem com o gradativo abandono e a consequente perda de potencial produtivo de suas zonas centrais. Isso é verificado em antigas zonas industriais centrais de cidades como San Francisco, Detroit e Barcelona. Esses vazios urbanos 20 tornam-se cenário de projetos e reformas, como será visto mais à frente. Esses projetos, no entanto, são mais comuns em países desenvolvidos, enquanto naqueles em desenvolvimento, a falta de recursos governamentais dificulta a formulação dos mesmos (LEITE, 2012). Essa última questão traz para discussão a escassez de recursos financeiros como um dos maiores obstáculos à implementação de políticas urbanas sustentáveis. Especialmente em países em desenvolvimento, as cidades convivem com a falta de capacidade administrativa e técnica. Além disso, a falta de informação com a qual muitos governantes trabalham dificulta ao bom funcionamento dessas políticas (SUSUKI et al, 2010). Outro problema enfrentado pelas cidades é a falta de planejamento estruturado de forma adequada. As cidades devem ser planejadas para o futuro, considerar os efeitos de longo-prazo e não apenas os de curto. Do mesmo modo, deve haver uma reforma na governança 21 local, garantindo uma maior eficácia na administração dos territórios. As eleições, por exemplo, devem ser transparentes e comprometidas com o accountability 22 (The Economist, 2011). Muitas vezes, estruturas institucionais inadequadas atrapalham a implementação de políticas que podem solucionar os problemas mencionados (SUSUKI et al, 2010). Agora que os desafios urbanos já foram apresentados, cabe se questionar acerca do quê poderia solucionar essas questões. A próxima sessão deste artigo explicitará como as facetas do conceito de desenvolvimento urbano sustentável vêm sendo aplicadas mundialmente, como forma de resposta aos problemas da cidade. 18 Segundo Paul Krugman, esse princípio é definido pelo uso de recursos da forma mais eficiente possível, o que acontece quando há maiores densidades e o consumo per capita diminui (KRUGAMAN s.d. apud LEITE, 2012). 19 O UN-habitat (2008) constatou em 2005 que nos países em desenvolvimento, cerca de 810 milhões de pessoas ou um terço da população urbana desses países estavam vivendo em favelas. 20 Também denominados como brownfields ou wastelands (LEITE, 2012). 21 Segundo a ONU, uma boa governança promove a igualdade, a participação, o pluralismo, a transparência, a responsabilidade e o Estado de Direito, de forma efetiva, eficiente e duradoura. As maiores ameaças à boa governança vêm da corrupção, da violência e da pobreza, que prejudicam a transparência, a segurança, a participação da população e suas liberdades fundamentais. A governança democrática traz avanços ao desenvolvimento, ao juntar esforços para lidar com tarefas como a erradicação da pobreza, a proteção ao meio ambiente, a garantia da igualdade de sexos, proporcionando meios sustentáveis de subsistência. Ela assegura que a sociedade civil desempenhe um papel ativo no estabelecimento das prioridades e torne conhecidas as necessidades das pessoas mais vulneráveis (ONUBR, s.d.). 22 O conceito de accountability não possui uma tradução consolidada para o português. No entanto, o mesmo pode ser definido como meios de garantir que servidores no serviço público (no sentido utilizado neste artigo), sejam responsáveis pelas suas ações de modo que haja uma forma, um esquema de reparação quando esses mesmos agentes não cumprem seus deveres (TRANSPARENCY AND ACCOUNTABILITY INITIATIVE, s.d). 555

556 5. CONSOLIDANDO UMA CULTURA DE DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL Após ter apresentado uma abordagem teórica sobre cidades sustentáveis, ter mostrado os esforços feitos em âmbito internacional para a promoção das mesmas e ter reconhecido os maiores desafios atualmente enfrentados pelas cidades, cabe agora fazer algumas considerações sobre a infraestrutura das cidades e apontar medidas sustentáveis que foram implementadas em determinados contextos e que são consideradas boas práticas por acadêmicos e por programas da ONU. É importante, também, fazer referência aos benefícios de uma cidade sustentável. As boas práticas e recomendações de agências da ONU para os setores de água, transporte e energia constituirão parte da subseção 5.1, que também incluirá considerações sobre características de cidades que contribuem para a sustentabilidade, nomeadamente a densidade urbana e o uso misto do solo. Em seguida, na subseção 5.2, serão apresentados benefícios, sendo o foco os benefícios sociais, econômicos e ambientais. 5.1. Repensando a infraestrutura das cidades Não existe uma fórmula para a promoção da sustentabilidade que seja aplicável a todas as cidades. A preocupação em se considerar as particularidades de cada cidade para a promoção de um padrão de sustentabilidade é comum entre acadêmicos (LEITE, 2012; SACHS, 2008), programas da ONU (PNUMA, 2012, ONU- -HABITAT, 2012a) e aparece também em documentos como O futuro que querermos (ONUBR, 2012). Aspectos físicos, econômicos e culturais particulares de cada cidade influenciam a forma de urbanização e qualquer plano para promoção da sustentabilidade deve levá-los em conta. Nesta subseção, primeiramente, serão feitas considerações sobre dois fatores que concorrem para a sustentabilidade: a alta densidade e uso misto do solo. Em seguida, serão abordados três setores considerados estratégicos pelo PNUMA (2012) para a promoção das cidades sustentáveis, são eles: água, transporte e energia. Serão apresentadas as prescrições de programas da ONU, boas práticas e, em alguns casos, os projetos existentes dentro do sistema ONU para tratar do assunto. É importante notar que o PNUMA (2012) considera a integração entre essas diferentes áreas vital para que uma cidade seja sustentável. 5.1.1 Alta densidade populacional: a cidade compacta As cidades acomodam o crescimento populacional de três formas: expansão dos limites da cidade, criação de cidades satélites ou aumento da densidade (ONU-HABITAT, 2012a). É importante ressaltar que não são formas mutuamente excludentes, uma cidade pode, por exemplo, combinar o aumento de densidade nas áreas já ocupadas com expansão do perímetro urbano caso haja grande crescimento populacional. A primeira alternativa, a expansão, avança sobre áreas rurais ou, em casos como o da cidade de São Paulo, sobre reservas ambientais (LEITE, 2012). A segunda alternativa consiste na criação de cidades que, embora possam possuir relativa independência administrativa, econômica e social, se conectam a uma cidade central de forma a aproveitar os benefícios de uma economia de escala (UN-HABITAT, 2012a). No entanto, essa estratégia apresenta alguns problemas, como a necessidade de deslocamento cotidiano de significativa parte da população entre as cidades e o fato da população das cidades satélites não ter acesso aos mesmos serviços que a população da cidade central. A terceira alternativa, o aumento da densidade, é comumente indicada como o padrão mais sustentável (LEITE, 2012; UN-HABITAT, 2012c). A alta densidade é uma das características de uma cidade que contribui para a sustentabilidade. Carlos Leite, inclusive, defende que cidades sustentáveis são, necessariamente, compactas, densas (2012, p. 13, grifo nosso). Isso ocorre porque o consumo per capta de recursos diminui com o aumento da densidade (LEITE, 2012; ONU-HABITAT, 2012c). Há redução de investimento e dos custos operacionais e de manutenção do fornecimento de água e de coleta de esgoto em áreas compactas (ONU-HABITAT, 2012a). Isso acontece porque, assim como no caso da pavimentação, a quantidade de beneficiários para a infraestrutura provida em uma área de alta densidade é relativamente maior do que para uma de baixa densidade. Seguindo a mesma lógica, serviços como coleta de resíduos sólidos, policiamento e bombeiros também apresentam custo per capta menor em regiões de alta densidade (UN-HABITAT, 2012a). 5.1.2 Uso misto do solo Comumente associado às altas densidades, o uso misto do solo é outra característica comum às cidades sustentáveis. As altas densidades não são suficientes para promover o uso misto do solo, mas constituem um fator facilitador. O uso misto consiste em uma política de uso e ocupação do solo que privilegie o comparti- 557

558 lhamento dos usos comercial, residencial e de escritórios em uma mesma área (UN-HABITAT, 2012a). Nessa forma de ocupação, a distância entre a residência e o trabalho é menor. O que reduz a intensidade dos deslocamentos, a dependência e o uso do carro, o que, por sua vez, reduz a demanda por infraestrutura de transporte e por áreas de estacionamento (UN-HABITAT, 2012a). Segundo o ONU-HABITAT (2012a), o uso misto do solo promove acesso a serviços a um segmento mais amplo da população, aumenta as opções de moradias para diferentes tipos de moradores e, ainda, promove integração social e percepção de segurança. A sensação de maior segurança decorre do aumento do número de pessoas circulando nas ruas. O programa ainda defende que o uso misto associado à alta densidade aumenta a viabilidade do transporte público. 5.1.3. Água O ONU-HABITAT (2012d) faz sugestões para a redução no consumo de água em dois âmbitos: o próprio uso da água e a cobrança. A principal recomendação no que diz respeito ao uso da água pode ser expressa pelo princípio do uso dos recursos em cascata ou uso sequencial dos recursos. De acordo com esse princípio, a qualidade da água deve ser determinada pelo uso que será feito dela (UN-HABITAT, 2012d). Isto é, a água potável não deve ser utilizada para todos os usos que se faz da água, já que a usada para lavar carros não precisa ter a mesma qualidade da usada para beber ou preparar alimentos. A aplicação desse princípio permite, por exemplo, aproveitar a água usada no banho para a descarga. Seguindo esse princípio, por um lado, reduz-se a demanda por água potável e, por outro, a de esgoto a ser tratado (ONU-HABITAT, 2012d). No âmbito da cobrança, o UN-HABITAT (2012d) sugere a cobrança baseada no volume consumido 23, tendo como premissa que a cobrança clara, regular e acurada é útil para chamar a atenção do morador para o padrão de consumo que possui. O programa ainda sugere duas estratégias. A primeira delas é a de blocos de tarifas crescentes conforme o consumo, ou seja, em um intervalo de consumo, paga-se um determinado valor por unidade, no intervalo seguinte, o valor pago por unidade é maior. Essa forma de cobrança incentiva à redução do consumo de água já que o valor cobrado aumenta mais que proporcionalmente em relação à quantidade consumida. A segunda estratégia é a de tarifas sazonais: as tarifas variam conforme a variação da oferta de água no decorrer do ano (UN-HABITAT, 2012d). É importante ressaltar que as sugestões de forma de cobrança estimulam o uso em cascata. Quanto maior é o incentivo para a redução do consumo de água, maior é o incentivo para o reaproveitamento dela. 5.1.4. Transporte O setor de transporte consome mais da metade dos combustíveis fósseis e é responsável por cerca de um quarto da emissão de CO2 relacionada com energia, 80% da poluição do ar nos países em desenvolvimento, 1,27 milhão de acidentes fatais por ano e problemas crônicos de congestionamento (PNUMA, 2011). Essas informações apontam alguns efeitos de um padrão de transporte bastante comum: individual, motorizado, movido, principalmente, por derivados de petróleo. O setor de transporte é, portanto, um elemento-chave para tornar uma cidade sustentável. A importância do transporte é tal que no documento final da Rio+20 consta que transporte e mobilidade são centrais para o desenvolvimento sustentável (ONUBR, 2012, p. 25). Para transformar um sistema de transporte em um que seja sustentável, o PNUMA sugere três estratégias: evitar ou reduzir deslocamentos; adotar meios de transporte mais sustentáveis; e aumentar a eficiência de todos os meios de transporte (PNU- MA, 2011). A primeira estratégia é implementada por meio do fomento à compactação das cidades e do uso misto do solo, cujas consequências e lógica já foram apresentadas 24. A segunda, por sua vez, inclui tanto estímulo ao uso de meios sustentáveis, como transporte público e bicicletas, quanto ao desencorajamento do uso do transporte individual e motorizado. A terceira consiste no aprimoramento dos veículos e/ou dos combustíveis com o intuito de reduzir o consumo de recursos naturais e evitar a poluição e a emissão de gases que causam o efeito estufa (PNUMA, 2011). Há diversas formas de se desincentivar o uso do carro. Em Londres, instituiu-se uma taxa de congestionamento para circular de carro na área central da cidade de 7:00 às 18:00 nos dias de semana, é necessário pagar uma taxa de 10 (TRANSPORT FOR LONDON TFL, s.d.). Em São Paulo, criou-se um rodízio de carros em um dia da semana, conforme o final da placa, o carro não poderá circular pela área central da cidade das 7:00 às 10:00 e das 17:00 às 20:00 (COMPANHIA DE ENGENHARIA DE TRÁFEGO 23 A agência sugere o abono da taxa para famílias de baixa renda. 24 Ver subseções 5.1.1 e 5.1.2 559

560 CET, s.d.). Outra forma de desencorajar o uso do carro é por meio do estacionamento pago, que, segundo o ONU-HABITAT (2012a), embora seja barato e de fácil implementação, ainda é subutilizado. Comparando os dois tipos de transporte motorizados, o individual e o público, nota-se que o consumo per capta de recursos assim como a emissão de poluentes no último tipo é necessariamente menor do que no primeiro; sendo, portanto, mais sustentável. Conforme já foi dito, altas densidades e uso misto do solo concorrem para a viabilidade do transporte público. Um serviço de ônibus básico, por exemplo, requer área com densidade em torno de 35-40 habitantes por hectare (hab/ha); um serviço de ônibus intermediário, 50 hab/ha; e Veículo Leves sobre Trilhos (VLT), 90-120 hab/ha (ONU-HABITAT, 2012d). Além da densidade, é importante considerar o capital disponível para investir no sistema de transporte público. O custo de construção de metrô é significativamente mais alto do que o de um Veículo Leve sobre Trilhos VLT, cuja implementação, por sua vez, é mais cara do que a de linhas de ônibus (ONU-HABITAT, 2012d). Além do transporte coletivo, há outros meios de transporte que também são sustentáveis. Trata-se dos meios não-motorizados, como caminhar e andar de bicicleta, os quais, muitas vezes são complementares ao transporte coletivo. A terceira estratégia, o aprimoramento de veículos e/ou dos combustíveis, se dá de duas formas: aumentando-se a eficiência energética dos veículos e/ou dos combustíveis ou substituindo- -se os combustíveis utilizados por opções mais sustentáveis. A substituição de carros convencionais por carros elétricos ou híbridos e o uso de combustíveis como o bioetanol, o biodiesel e o hidrogênio são exemplos dessa última forma (PNUMA, 2012). No Brasil, se desenvolveu uma tecnologia de carros bicombustíveis que operam tanto com gasolina quanto com álcool e cujo preço não é muito maior do que o de um carro movido apenas a gasolina. A pequena diferença de preços permitiu que a tecnologia fosse disseminada, o que fez com que se obtivesse sucesso no estabelecimento do etanol como alternativa à gasolina. Os carros movidos a hidrogênio, pelo contrário, ainda são muito caros, o que limita a sua disseminação e a contribuição que poderiam dar para um mundo mais sustentável. tância de se considerar o consumo de energia urbano. As recomendações para a redução do consumo variam em um grande espectro, apontaremos aqui as que dizem respeito à cobrança do consumo de energia elétrica e design dos prédios. As sugestões acerca da cobrança de água 25 se aplicam também a energia. Além dessas, há outra recomendação, específica para o setor energético: tarifação conforme o período do dia. Uma tarifa mais cara para o horário de pico faz com que parte do consumo seja desviado para outros horários; abrandando, assim, a necessidade de oferta adicional durante os horários de pico (ONU-HABITAT, 2012d). Cerca de 60% da energia elétrica do mundo é consumida em construções residenciais ou comerciais (ONU-HABITAT, 2012d). Como muitas das edificações usam a eletricidade para aquecer ou resfriar ambientes, a adoção do princípio do design passivo podem reduzir significativamente ou até mesmo eliminar essas demandas por eletricidade (UN-HABITAT, 2012d). O design passivo tem como objetivo promover um ambiente confortável por meio do aproveitamento das características do local, como luz solar e correntes de ventos. O uso de materiais que retenham temperatura ou, pelo contrário, que contribuem para mantê-la baixa, áreas de ventilação e instalação de brises 26 são exemplos de estratégias de design passivo. Um exemplo bem sucedido de incorporação desse princípio é o projeto que foi implementado em Sófia, Bulgária, após o fim do regime comunista. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em parceria com o Ministério de Desenvolvimento Regional e Serviços Públicos da Bulgária desenvolveu o chamado Projeto de Demonstração para a Renovação de Edifícios Multifamiliares (ONU-HABITAT, 2012d). A parceria entre o programa da ONU e o ministério da Bulgária subsidiava 50% do programa, cabendo à outra metade aos próprios moradores, que, para poderem participar do projeto, formaram associações formais (ONU-HABITAT, 2012d). Para a escolha dos prédios que fariam parte do programa, foram consideradas a estrutura, a idade e as características energéticas dos edifícios. A troca de portas e janelas, a remodelação de áreas comuns visando eficiência energética e segurança, a instala- 561 4.1.5 Energia Como já foi dito anteriormente, as cidades são responsáveis por 75% do consumo total de energia (UN-HABITAT, s.d. apud MITCHELL; CASALEGNO, 2008). Esse dado evidencia a impor- 25 Ver tópico 5.1.3 26 Dispositivo que impede a incidência de raios solares direta no edifício, presente, por exemplo, nos prédios da Esplanada dos Ministérios.

562 ção de isolamento térmico e a troca de tubulação foram algumas das medidas implementadas no projeto (ONU-HABITAT, 2012d). Como consequência houve melhoria nas condições de vida e saúde dos moradores, redução do custo de vida, redução das emissões de gases estufa e fortalecimento da coesão social por meio das associações de moradores e da revitalização dos espaços públicos (ONU-HABITAT, 2012d). Em uma pesquisa de opinião com 240 chefes de família que participaram do programa, 80% se disseram muito ou extremamente satisfeitos com o projeto e 99% relataram uma redução de pelo menos 20% nos custos de aquecimento e resfriamento (ONU-HABITAT, 2012d). 5.2. Benefícios das cidades ecologicamente inteligentes Cada vez mais é reconhecida a importância da sustentabilidade e os efeitos positivos que esta gera para a sociedade e o meio ambiente. Com isso, é importante destacar também que o desenvolvimento sustentável, aliado ao processo de urbanização das cidades, geram benefícios de diversos tipos para as pessoas. A urbanização sustentável traz, portanto, vantagens de cunho social, como a melhoria da qualidade de vida nas cidades; de cunho econômico, refletindo-se na prosperidade da economia local; e ambiental, contribuindo para a diminuição do problema de aquecimento global; entre outros (PNUMA, 2011). 5.2.1. Sociais No desenvolvimento de cidades, a conscientização e os hábitos da população quanto às práticas sustentáveis 27 produzem um efeito positivo nas relações sociais e mesmo na vivência de seus habitantes. Segundo o PNUMA (2011), é inegável a melhoria na qualidade de vida da população. A diminuição de poluição sonora pode constituir um fator de grande relevância para a satisfação dos indivíduos em uma cidade, por exemplo, sendo consequência do desenvolvimento de um transporte ecologicamente correto e também da maior utilização de bicicletas (PNUMA, 2011). Da mesma forma, a urbanização sustentável estaria aliada a benefícios sociais tais como a criação de empregos 28 em áreas como a agricultura verde urbana e periurbana 29, o transporte público, a energia renovável, a gestão de resíduos e reciclagem, e a construção verde 30. A implementação de novas tecnologias e a busca por um desenvolvimento sustentável requerem o emprego de profissionais com conhecimento nessas áreas (PNUMA, 2011). De acordo com o PNUMA (2011), as cidades sustentáveis podem trazer ainda certa redução da pobreza e da desigualdade social, uma vez que, incentivando o uso do transporte público e proporcionando sua melhoria através do desenvolvimento de um transporte sustentável se diminuiria a desigualdade no acesso aos serviços públicos. Seria possível também, por meio de uma urbanização consciente, contornar, em parte, o problema de uma crescente população, que por falta de melhores condições financeiras, habita zonas de risco e sem saneamento básico (PNUMA, 2011). A solução de tal situação seria a aplicação do design massivo 31 no processo urbanizador, por exemplo (LEITE, 2012). Outro aspecto, abordado por Maas et al (2006), é a forte relação existente entre a saúde dos habitantes de uma cidade e a quantidade de espaços verdes. Os autores argumentam esta questão com a constatação de que lugares onde a população apresenta melhores níveis de saúde são aqueles com maiores áreas verdes. Assim, uma das principais vantagens de uma urbanização ecologicamente consciente são suas consequências para a saúde da população. O uso de combustíveis mais limpos para a geração de energia, para o transporte e para cozinhar podem minimizar a poluição local e reduzir desigualdade em saúde (PNUMA, 2011, p. 467, tradução nossa). Isso se deve ao fato de que um crescimento urbano pressiona a qualidade dos serviços públicos locais, afetando, em sua maior parte, a população mais pobre (PNUMA, 2011). Desse modo, a redução da poluição nas cidades, assim como o melhoramento dos sistemas de saneamento e de fornecimento de água potável podem reduzir a incidência de problemas respiratórios e outras diversas doenças em seus habitantes. Além disso, o incentivo ao uso de bicicletas, por exemplo, 27 Pode-se entender como prática sustentável o comportamento que visa aliar o respeito e a preservação do meio ambiente com o desenvolvimento econômico e a promoção do bem-estar e igualdade social (LEITE, 2012). 28 É importante destacar que a criação de empregos não é somente um benefício social, mas contribui também para o desenvolvimento econômico das cidades sustentáveis. 29 As áreas periurbanas seriamzonas de transição entre cidade e campo, onde se mesclam atividades rurais e urbanas nadisputa pelo uso do solo (DO VALE;GERARDI, s.d.). 30 Veja mais sobre o tema em Construção Verde: Desenvolvimento com Sustentabilidade. 31 Carlos Leite introduz a ideia de design massivo a fim de solucionar a questão do déficit habitacional: Milhões de pessoas no planeta não possuem habitação ou a possuem de modo extremamente precário. Um design massivo estrategicamente desenvolvido com a capacidade atual de conhecimento técnico e de produção industrial poderia rapidamente produzir milhões de habitações pré-fabricadas, industrializadas. O problema não é de design. Ou, colocado de outro modo: não é um problema de design individual (caro, elitista, fashion), mas de design massivo (coletivo, inteligente, estratégico) (LEITE, 2012, p. 35). 563

564 poderia significar um cotidiano menos sedentário da população de uma cidade sustentável. 5.2.2. Econômicos Ao se relacionar o processo de urbanização com um desenvolvimento sustentável, é recorrente o pensamento da dicotomia entre uma prosperidade econômica e a preservação ambiental (HERCULANO, 1992). Tem-se em mente, muitas vezes, que certas práticas e princípios sustentáveis não apresentam nenhuma viabilidade econômica, ou não possuem vantagens se comparados a outros meios de produção. Porém, é importante ressaltar a importância do processo de urbanização sustentável, uma vez que as cidades são o principal locus de produção econômica (LEITE, 2012). Como dito anteriormente, as cidades sustentáveis são densas. Isto implica em dizer que cidades com maiores densidades urbanas 32 apresentam menor consumo de energia per capita e maior otimização de sua infraestrutura. Tal aspecto é ilustrado por meio da questão de crescimento urbano, Leite (2012) argumenta que uma forma de buscar a sustentabilidade urbana é a reconstrução, ou mesmo a reciclagem, dos espaços na cidade, e não sua expansão cada vez mais acentuada. Uma urbanização sustentável, dessa forma, tem o papel fundamental de promover a eficiência produtiva por meio da diminuição dos gastos com transporte e ampliando as redes de comércio, por exemplo (PNUMA, 2011). O investimento em infraestrutura e o uso de energias renováveis, assim, gerariam vantagens econômicas por meio de uma maior utilização dos meios de transporte coletivo e de bicicletas, já que é expressiva a redução dos gastos em combustíveis não renováveis. Além disso, a promoção de práticas sustentáveis está relacionada a uma diminuição substancial dos custos para as cidades e para os próprios cidadãos, tendo em vista o dispêndio de tempo em congestionamentos e problemas de saúde decorrentes do convívio urbano (PNUMA, 2011). 5.2.3. Ambientais Os benefícios ambientais advindos do processo de urbanização sustentável são variados, influenciando não apenas o próprio ecossistema diretamente, mas também, como foi visto anteriormente, as populações residentes das cidades. A implementação de um sistema de mobilidade urbana eficiente 33 e mesmo a criação de mais espaços verdes são responsáveis por uma redução da poluição do ar (PNUMA, 2011). Nesse aspecto, colabora contra os problemas de inversão térmica, ilhas de calor 34 e aquecimento global, por exemplo. Outro fator de grande relevância é a utilização do solo, uma vez que uma urbanização não planejada e a consequente falta de impermeabilidade do solo causada propiciam a essas áreas desflorestadas um risco maior de alagamentos e desmoronamentos em caso de desastres naturais (PNUMA, 2011). Assim, a restauração de ecossistemas urbanos é parte do esforço de esverdear a cidade, o que pode reduzir o impacto de condições anormais do tempo (PNUMA, 2011, p. 469, tradução nossa). 6. DO LOCAL AO GLOBAL: O PAPEL DA GOVERNANÇA NA IMPLEMENTAÇÃO DO SUSTENTÁVEL A implementação de cidades sustentáveis pode ser realizada de fato tendo em vista as diversas medidas passíveis de serem adotadas ao se repensar a infraestrutura urbana. Desse modo, é necessário pensar acerca da questão da governança, visto que esta implica na relação de interdependência entre o governo e outros atores não-estatais (ÖJENDAL E DELLNAS, 2011). Assim, a partir de uma governança local, tem-se um importante componente para a tentativa de se viabilizar políticas sustentáveis dentro da sociedade, com a implantação de um sistema de coleta seletiva de lixo, por exemplo. No caso do processo de urbanização sustentável, é importante destacar a consciência e a política local como ponto de partida para a realização de um interesse internacional. Segundo Carlos Leite (2012), cidades como Barcelona, Vancouver, Nova Iorque, Bogotá e Curitiba são exemplos de metrópoles verdes que se reinventaram. Estas representam o desafio de 32 A densidade urbana se configura como um importante componente no processo urbanizador, como já exposto na seção anterior. Paul Krugman apud The Economist (2007, s.p.) argumenta que a concentração geográfica encoraja a inovação porque as ideias têm fluxo mais livre e podem ser postas em prática mais rapidamente quando os agentes inovadores, os implementadores e os apoios financeiros estão em constante contato. Assim, percebe-se que a inovação é um elemento essencial para o desenvolvimento de cidades sustentáveis. 33 Um sistema de mobilidade urbana eficiente, segundo Leite (2012; p. 136), é aquele que conecta os núcleos adensados em rede, promovendo maior eficiência nos transportes públicos e gerando um desenho urbano que encoraje a caminhada e o ciclismo, além de novos formatos de carros (compactos, urbanos e de uso como serviço avançado). 34 A inversão térmica ocorre principalmente nos grandes centros urbanos, regiões onde o nível de poluição é muito elevado, sendo resultado de uma mudança abrupta de temperatura devido à inversão das camadas de ar frias e quentes. Já ilhas de calor é o nome que se dá a um fenômeno climático que ocorre principalmente nas cidades com elevado grau de urbanização. Nestas cidades, a temperatura média costuma ser mais elevada do que nas regiões rurais próximas (PLANETA TERRA, 2009). 565

566 se implantar cidades sustentáveis, incorporando tanto na esfera pública quanto na esfera privada os critérios de sustentabilidade. Tais cidades mostram que o sucesso atingido a nível local em alguns casos pode incentivar e ajudar na construção de cidades sustentáveis em vários lugares no mundo. 6.1. Nível Local É evidente a importância do desenvolvimento sustentável no processo de urbanização das cidades. Para isso, o papel da conscientização individual e da educação torna-se altamente necessário: Junto com motivações espirituais positivas, a educação é a nossa melhor oportunidade de promover e enraizar os valores e comportamentos que o desenvolvimento sustentável exige. Como alguns pensadores assinalaram, necessita-se uma educação transformadora: uma educação que contribua a tornar realidade as mudanças fundamentais exigidas pelos desafios da sustentabilidade (UNESCO, 2005, p. 43). Juntamente a isso, Carlos Leite (2012) aponta para a relevância de se reconstruir e reestruturar as cidades e seus vazios urbanos, sendo preciso melhorar a constituição dos investimentos públicos 35. Além disso, deve-se verificar a existência de um comportamento a nível governamental, de organizações do terceiro setor, da iniciativa privada e sociedade civil, corroborando para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva no uso do território urbano e, portanto, mais sustentável (LEITE, 2012). Assim, as ações de responsabilidade social e ambiental configuram-se dentro de uma relação de interdependência entre esses atores, possibilitando a realização do desenvolvimento sustentável (MOTA, s.d). O governo, dessa forma, apresenta papel fundamental no incentivo à tecnologia em busca do desenvolvimento sustentável das cidades. Assim, a formação de clusters perímetros urbanos onde há concentração de empresas, universidades, centros de treinamento e diferentes instituições envolvidas no processo de pesquisa e de desenvolvimento do setor produtivo pode representar um avanço significativo nessa área (LEITE, 2012). Tal aspecto ilustra também certa consonância necessária entre o setor público e o privado, não somente ao que diz respeito aos investimentos em tecnologia, mas de convergência nos parâmetros de sustentabilidade urbana da atuação pública. O processo de urbanização sustentável então se torna possível, e necessário, em setores como a construção e o desenvolvimento imobiliário urbano, por meio da adoção de sistemas inteligentes de construção habitacional industrializada, pré-moldada, com tecnologias recentes e mão-de-obra qualificada (LEITE, 2012, p. 148). O autor ainda destaca a existência de dois grupos na implementação de programas de sustentabilidade urbana. O primeiro se caracteriza pela atenção aos aspectos sociais, a mudança de comportamento da população e o planejamento do uso do solo, entre outros exemplos. Ele foca na construção de uma atitude coletiva e de perpetuação de práticas sustentáveis por meio desta, sendo que, em muitos casos, os altos custos da tecnologia sustentável de alto desempenho constituem uma barreira a sua aplicação nas cidades. Já o segundo grupo é caracterizado por grandes investimentos em tecnologia de ponta, sendo que o modelo de sustentabilidade urbana é buscado por meio de equipamentos e sistemas modernos em diversos setores da sociedade, e não por meio de uma conscientização coletiva (LEITE, 2012). Com isso, são diversos os exemplos de boas práticas de sustentabilidade urbana ao redor do mundo. Leite cita algumas cidades americanas, como Portland e Seattle, de onde decorre uma série de práticas exemplares que se replicam e geram novas oportunidades na atração de capital e investimentos, além da óbvia melhoria na qualidade de vida dos cidadãos (LEITE, 2012, p.139). Assim, práticas como o incentivo ao uso de bicicletas, a revitalização dos centros urbanos, a integração do movimento verde, o uso de energias alternativas e renováveis, a arborização das cidades e a reutilização da infraestrutura ferroviária constituem fatores cruciais da governança local no desenvolvimento urbano sustentável (LEITE, 2012). 6.2. Nível Internacional Ao se promover o desenvolvimento sustentável na urbanização das cidades, cabe questionar as dificuldades de implementação deste no âmbito nacional e consequentemente quais seriam seus efeitos para as políticas públicas urbanas. Um aspecto a ser pensado é, sem dúvida, a relação do desenvolvimento sustentável e a dicotomia entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Essa ambiguidade reflete a preocupação acerca de uma exploração excessiva dos recursos naturais e como estes deveriam ser utilizados (PEREIRA, s.d.). 35 Nesse sentido, é importante ressaltar dois conceitos no pensamento de Leite (2012): o princípio da interação do economista Paul Krugman, já citado na seção 2; e a destruição criativa de Joseph Schumpeter, provocando um processo de inovação por meio da destruição de produtos ou sistemas antigos e sua substituição por elementos inovadores. 567

568 A mudança para uma forma de desenvolvimento mais sustentado exige responsabilidade, ética e compromisso. Apesar das diferenças sociais, econômicas e ambientais variarem de país para país, todos têm de seguir juntos em prol da mesma causa. Cada nação terá de definir a sua própria estratégia de mudança; no entanto, todas deverão chegar a um consenso sobre o conceito básico de desenvolvimento sustentável, já que este deve ser um objetivo mundial, enfrentado em conjunto por todas as nações (PEREIRA, s.d., pp.124-125).como foi visto na seção 3, com a realização de várias conferências em meio ambiente e com o estabelecimento das Metas do Milênio no ano de 2000, pela ONU, o tema do desenvolvimento sustentável entrou na agenda internacional de forma mais intensa. Como dito anteriormente, o sétimo objetivo visa a qualidade de vida e o respeito ao meio ambiente, sendo considerado um dos objetivos mais complexos. Este tem como metas principais, promover o desenvolvimento sustentável, reduzir a perda de diversidade biológica e reduzir pela metade, até 2015, a proporção da população sem acesso a água potável e esgotamento sanitário (PNUD, s.d.). Assim, a preocupação sustentável vista como um dos objetivos a serem perseguidos pelos países de forma conjunta reflete a importância de se repensar a formação dos espaços urbanos. Segundo Tarciso Jardim (2012), dentro do sistema ONU é possível perceber três principais instituições que propõem soluções para a governança internacional no que diz respeito a um desenvolvimento sustentável: o Conselho Econômico e Social ECOSOC, a Comissão de Desenvolvimento Sustentável e o PNUMA. A escolha destes se justifica uma vez que mostram exemplos de preocupação no plano internacional acerca do problema da governança, assim como pôde ser visto recentemente no caso da conferência Rio+20, segundo o autor. O ECOSOC tem por princípios gerais as vertentes social e econômica nos esforços de realização do desenvolvimento sustentável, além da ambiental, embora esta não se apresente explicitamente no nome do conselho. A Comissão de Desenvolvimento Sustentável foi responsável pela implementação da Agenda 21 e da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, possuindo ainda um caráter institucional (JARDIM, 2012). Conclui-se que o papel da governança internacional tem se mostrado cada vez mais significativo no processo de construção das cidades. A evolução no debate acerca de um desenvolvimento sustentável, a realização de grandes conferências e a produção de acordos e documentos sobre o tema mostram o interesse comum das nações no processo crescente de sustentabilidade. É possível ver, portanto, para a concretização de processos de urbanização sustentáveis, a necessidade de uma atuação organizada e conjunta entre os diversos níveis da sociedade, além dos diferentes atores presentes em cada um deles. Localmente, deve-se ressaltar a importância da ação coordenada entre governo, empresas e sociedade civil, enfatizando a consciência e iniciativas individuais. 7. CONCLUSÃO O tema do desenvolvimento sustentável foi gradativamente incluído na agenda internacional a partir dos anos 70, com a Conferência de Estocolmo. Tinha-se em mente a reformulação da concepção de desenvolvimento, que passou a incluir o uso adequado e eficiente de recursos naturais, visando à preservação dos mesmos para as gerações futuras. A melhor forma de lidar com a questão da poluição, da falta de infraestrutura adequada, do uso ineficiente de recursos se dará a partir do será solucionada a partir do investimento em políticas sustentáveis. Estas incluem o incentivo a inovação, a densidades mais altas, a meios alternativos de transporte e de matrizes energéticas. Deve haver planejamento a partir de uma lógica que pense na preservação dos recursos disponíveis e leve em consideração as futuras gerações. Além disso, as cidades sustentáveis trarão benefícios de ordem econômica, social e ambiental para suas populações, tais como: aumento da qualidade de vida e da prosperidade econômica, além do alívio da questão do aquecimento global, como já argumentado. No entanto, os desafios que as cidades enfrentam ao lidar com o crescimento e ao implementar o desenvolvimento urbano sustentável também devem ser debatidos. Muitas vezes, a escassez de recursos financeiros e a falta de planejamento governamental e de vontade política, assim como a ausência de capacidades adequadas nas áreas administrativa e técnica barram os investimentos e a implementação de políticas públicas. É nesse ponto que a reforma da governança urbana se torna relevante. A governança, da local a internacional, é um instrumento viabilizador de políticas sustentáveis. Como foi argumentado, há uma necessidade de atuação conjunta entre o público e o privado que deve ser incentivada com vistas à promoção de cidades sustentáveis, cidades que lidam com a urbanização de forma ambiental, social e economicamente responsável. 569

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