PATRIMÔNIO CULTURAL LOCAL: MEMÓRIA E PRESERVAÇÃO REGIÃO LITORAL DO RIO GRANDE DO SUL - RS Educação, Linguagem e Memória 1 Hélen Bernardo Pagani 1 (helenpagani@unesc.net) Laíse Niehues Volpato 2 (laisevolpato@unesc.net) Juliano Gordo Costa 3 (juliano.costa@unesc.net) Silvia Aline Pereira Dagostin 4 (sapdagostin@unesc.net) Introdução A política cultural brasileira foi constituída e consolidada com a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN, que visava, inicialmente, a proteção eminente do Patrimônio Cultural Arquitetônico. No entanto, a preocupação com as demais manifestações culturais do Brasil foi surgindo com discussões conceituais, políticas, culturais e com a quebra de paradigmas que seguem até os dias atuais. As normas legais vigentes no Brasil apontam para a necessidade e obrigatoriedade de estudos ambientais em áreas de empreendimentos potencialmente causadores de impactos sobre os Bens Culturais da União. Deste modo, no âmbito dos processos de licenciamento ambiental, o IPHAN, por meio da Instrução Normativa n. 001, de 25 de março de 2015, define como bens culturais, abrangidos por esse regulamento, apenas os 1 Arquiteta e Urbanista pela Universidade do Extremo Sul Catarinense. Setor de Arqueologia - Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC. 2 Arquiteta e Urbanista pela Universidade do Extremo Sul Catarinense. Setor de Arqueologia - Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC. 3 Mestre em Arqueologia e Arte Rupestre pelo Instituto Politécnico de Tomar/Portugal. Setor de Arqueologia. Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC. 4 Geógrafa pela Urbanista pela Universidade do Extremo Sul Catarinense. Setor de Arqueologia - Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC.
bens acautelados em nível federal. No entanto, é de extrema importância a realização de levantamento mais amplo do Patrimônio Cultural regional e local, com intuito de destacar bens que tenham valor cultural, histórico, político ou social. Pois, entende-se que há a necessidade de se considerar medidas que busquem o fortalecimento de sua identidade enquanto comunidade e enquanto detentores de memórias e expressões culturais em comum. Partindo dessas premissas foi elaborado um estudo de levantamento de patrimônio cultural, no âmbito de um processo de licenciamento ambiental, na região Litorânea do Rio Grande do Sul. Os resultados de tal estudo permitiram verificar que, embora em sua maioria não apresentem registro em órgãos de proteção, em qualquer instância, constituem-se em exemplos de bens que, juntamente com o entorno onde estão inseridos, caracterizam-se como amostras da paisagem cultural e refletem a materialização da estrutura social e espacial de uma sociedade (ACUTO, 1999 apud SANTOS, 2012), inserindo, na paisagem, significados sociais e culturais. 2 Memória e Preservação: A importância da memória no processo de preservação A região do litoral do Rio Grande do Sul é rica em referências culturais, possuindo bens patrimoniais acautelados e repleto de representações materiais e imateriais da identidade local, dos quais a maioria não são objetos de proteção municipal, federal ou estadual. O testemunho oral, na coleta de informações sobre os bens, torna-se um aliado fundamental para a preservação da história regional, viabiliza a realização de ações que busquem a identificação e o fortalecimento dos vínculos entre a comunidade e seu patrimônio, tendo como ponto de partida o reconhecimento do mesmo como referência e seu consequente desejo de proteção. Joachim Hermann (in FUNARI, 2001, p.2) afirma que:
3 Uma consciência histórica é estreitamente relacionada com os monumentos arqueológicos e arquitetônicos e que tais monumentos constituem importantes marcos na transmissão do conhecimento, da compreensão e da consciência histórica. Não há identidade sem memória. A memória traduz as lembranças dos indivíduos, as quais são selecionadas subjetivamente através da percepção, afetividade e valoração. A identificação e memória, para o processo de preservação do bem, são necessárias de forma que justifiquem o empenho dos indivíduos na sua defesa, como proteção de materialidades, edificações, objetos que representem a identidade cultural, bem como atividades, crenças como representações da cultura imaterial de um grupo de pessoas (ADMS, 2001). O conceito do objeto a preservar se amplia incluindo paisagens, sítios urbanos ou rurais, estendendo-se não só às grandes criações mas também às obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, uma significação cultural (Carta de Veneza, 1964. In: IPHAN,1995, p.109). Nesse contexto, a seguir são apresentadas amostras de bens, apontados pela comunidade local e que, juntamente com o entorno onde estão inseridos, caracterizam-se como elementos da paisagem cultural, ou seja, representações materiais e imateriais da identidade local. Bens Materiais e Imateriais A materialização da cultura da região é fortemente identificada através das edificações e suas respectivas implantações, associadas aos modos de vida e ao ambiente natural. Muitas das quais foram introduzidas pelos colonizadores, que desenvolveram práticas construtivas e de vivência a fim de se adaptarem àquela região. Da mesma forma Igrejas, capelas e festas religiosas possuem, quase sempre, intensa ligação com os moradores das comunidades. O caso da Capela de Nossa Senhora da Conceição é um exemplo evidente dos laços afetivos que há entre a população e o bem.
A confecção de objetos diversos a partir de couros e peles de diferentes animais é um aspecto marcante na tradição campeira do Rio Grande do Sul. Comumente, os objetos são feitos de forma artesanal e familiar, a partir de conhecimentos transmitidos através das gerações. O cavalo, introduzido na campanha gaúcha já no século XVI, é também utilizado intensamente como principal companheiro e indispensável para a mão de obra na estância (SILVA, 2014, p. 41). 4 Figura 01. Da esquerda para a direita: Sede de Fazenda; Antigo Colégio Municipal Dr. Alipio Santiago Corrêa; Casa Oscar Bridd; Capela de Nossa Senhora da Conceição; Confecção Artesanal de Pelego em Pele de Ovelha - Fazenda Santa Tereza; Lida Campeira Fazenda Santa Tereza. Fonte: Setor de Arqueologia/UNESC. Considerações Finais O levantamento dos bens culturais da região de estudo teve o objetivo de caracterizar a situação do patrimônio cultural material e imaterial inserido na paisagem que abrange a região do Litoral do Rio Grande do Sul. Foi possível, a partir dos resultados
alcançados, como as amostras apresentadas representam a materialidade e imaterialidade da cultura da região de estudo, as quais contribuíram na formação e ocupação das cidades, juntamente com a formação da identidade cultural dos seus habitantes, configurando-se como potencial patrimônio local. No entanto, embora os bens sejam significativos para a comunidade, muitas vezes, falta interesse institucional em preservá-los, por isso a importância das representações da cultura local serem consideradas nos projetos de gestão das cidades. A partir de tal constatação entende-se que a educação patrimonial torna-se elemento eficaz para preservação do patrimônio cultural brasileiro, pois, a partir do entendimento dos envolvidos, busca educar, preservar, construindo uma consciência crítica, para que estes sejam capazes de perpetuar o conhecimento base sobre patrimônio. Hoje, a preservação dos bens culturais que fazem parte de uma comunidade local está diretamente ligada com o compromisso e comprometimento com a cidadania. E deve ser, portanto, compromisso de todos. 5 Referências CAMPOS, J. B.; OLIVEIRA, O. A. Relatório de avaliação de potencial de impacto e de avaliação de impacto ao Patrimônio Arqueológico para os Empreendimentos do Grupo Litoral, LT s 525 KV RS. Relatório Final. Criciúma: UNESC, 2016. FUNARI, Pedro Paulo. Os Desafios da Destruição e Conservação do Património Cultural no Brasil. Trabalhos de Antropologia e Etnologia, Porto, 41, 2001, 23-32. Portugal. SANTOS, Ronaldo José Ferreira Alves. Arqueologia Histórica: Discussões, Temas e Perspectivas. HISTÓRIA, e História. 2012. Disponível em: <http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=442>. Acesso em: 11 jan. de 2016. ADMS, Betina Maria. O patrimônio de Florianópolis: trajetória da gestão para sua preservação. Dissertação de Mestrado - UFSC. Florianópolis, 2001, 228p.
CARTA de Veneza. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/carta%20de%20veneza%201964.pdf>. Acesso em: 12 maio 2016. SILVA, L. B. M. da. Entre lidas: Um estudo de masculinidades e trabalho campeiro nas cidades de Bagé e Pelotas/RS. 2014. 128 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia) Universidade Federal de Pelotas, Pelotas/RS, 2014. 6