EFEITO DA PLANTA MATRIZ SOBRE A GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE PEQUIZEIRO, EM FUNÇÃO DE DIFERENTES TRATAMENTOS. Gisele Carneiro da Silva 1,5 ; Camila Alves Rodrigues 2,5 ; Marcelo Ribeiro Zucchi 3,5 ; Nei Peixoto 4,5. 1 Bolsista PBIC/UEG 2 Voluntário Iniciação Cientifica PVIC/UEG 3 Pesquisador Orientador 4 Colaborador 5 Curso de Agronomia, Unidade Universitária de Ipameri RESUMO Avaliou-se na Unidade Universitária de Ipameri a velocidade de germinação de diferentes matrizes de pequizeiro (39 matrizes) em função do tratamento com ácido giberélico. Foram avaliados semanalmente, a partir da primeira germinação que ocorreu no dia 11/04/2006, os números de sementes germinadas por parcela. Não houve diferença significativa entre as matrizes, possivelmente devido às condições climáticas desfavoráveis à germinação de sementes de plantas nativas do cerrado. Estes resultados contrariaram os resultados esperados na instalação do experimento, que era de atingir altas porcentagens de germinação com o tratamento das sementes com giberilina, mesmo com as condições climáticas adversas. Palavras-Chave: Caryocar brasiliense, germinação, ácido giberélico. Introdução A região do Cerrado é muito rica em espécies frutíferas nativas, oferecendo uma grande quantidade de frutos comestíveis, alguns de excelente qualidade, cujo aproveitamento por populações humanas dá-se desde os primórdios da ocupação (Barbosa, 1996). Dentre as espécies alimentícias nativas do Cerrado, destacam-se o araticunzeiro (Annona crassiflora Mart.), a mangabeira (Hancornia speciosa Gomez) e o pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.). Atualmente todo o consumo de frutos destas espécies depende do sistema extrativista a partir de plantas da natureza. O pequizeiro é amplamente disseminado pela região do Cerrado, sendo indiscutivelmente a espécie frutífera de maior importância do cerrado (Silva et al., 1997, 1994b; Ribeiro et al., 1997). A unidade de dispersão do pequizeiro é o caroço ou putâmem 84
(Barradas, 1972), sendo sua germinação demorada e desuniforme (Trindade et al., 1997). A polpa do pequi é usada para o consumo humano após o cozimento ou na culinária regional. Desta, extrai-se o óleo de pequi, que é utilizado para frituras e como condimento (Silva et al., 1994a). Na CEASA-GO (2004), o preço médio de comercialização desta fruta, em casca, foi de R$ 468,75/t. Nesse mesmo ano, o volume total de pequi comercializado por esse órgão foi 1,7 mil toneladas, com o Estado de Goiás participando com 74% desse total. Estes números mostram a importância do pequi na economia informal de Goiás, uma vez que só uma parte do que é comercializado utiliza este canal para escoar o produto coletado nas áreas naturais. Como principais entraves à utilização em cultivo da espécie pode ser citado o longo tempo para início de produção, a inadequação das técnicas de propagação e a inexistência de populações melhoradas. Segundo Dombroski (1997), as sementes de pequi apresentam dois mecanismos de dormência, sendo um associado à presença de endocarpo e outro associado ao embrião. Sementes isoladas de pequi têm sua germinação estimulada por GA 3 e possivelmente inibida por etileno. Temperaturas baixas mostraram-se nocivas às sementes isoladas. De acordo com Silva e Fonseca (1991), após a despolpa, lavagem e secagem à sombra, foi feita a semeadura a 2 cm de profundidade, utilizando 3 sementes por saco plástico (20 cm x 34 cm x 0,20 mm), tendo como substrato terra de subsolo + esterco de gado na proporção de 4:1, enriquecido com 1 kg de 4-14-8 de N-P 2 O 5 -K 2 O + Zn por m 3 de substrato. A germinação iniciou aos 40 dias, atingindo 35% de emergência aos 60 dias e 60% aos 180 dias, em viveiro sob sombrite 60%. Segundo Silva et al., (1997), as sementes de pequi devem ser semeadas a 3 cm de profundidade e apresentam germinação de 60%, que se estende por 60 a 300 dias. Como visto, as sementes de pequizeiro germinam de modo muito irregular e podem demorar meses na sementeira (Rizzini, 1973). Inibidores de germinação foram constatados em sementes de pequi por Melo (1987). A quebra da dormência em sementes de pequi tem sido feita com sucesso no viveiro de mudas nativas da UFG, com a fermentação e putrefação do pericarpo e endocarpo dos frutos à sombra, seguida da retirada, despolpamento, lavagem das sementes em água corrente e posterior secagem à sombra, obtendo-se a germinação antecipada para o 28º dia após a semeadura, com valores de 50% a 60% aos 60 dias (Melo et al., 1998). Pereira et al. (2002) recomendam a imersão de sementes, despolpadas e secas, em uma solução de ácido giberélico na concentração de um grama em oito litros de água, por quatro dias. Os mesmos autores recomendam a germinação em leito de areia com 10 a 15 centímetros de espessura, observando-se até 100% de germinação, aos 60 dias após a 85
semeadura. Após a germinação, as mudinhas, com até 5 cm de altura, são transferidas para sacos plásticos, com substrato apropriado, onde se desenvolvem até atingirem o ponto de ir para o campo ou de enxertia que pode ser feita por garfagem ou borbulhia. Em Ipameri tem sido observado que lotes de sementes reagem de forma diferenciada com relação à germinação, tendo casos em que quase 100% das sementes germinam nos três primeiros meses no leito de areia, enquanto outras apresentam 0% de germinação nesse período. Essa variação pode dever-se a causas genéticas ou ambientais, o que motivou o desenvolvimento desse trabalho. Dentre os objetivos desta pesquisa, incluiram-se a seleção de genótipos superiores através da escolha dos fenótipos das matrizes observadas para a coleta dos frutos (potencial produtivo, altura das matrizes, vigor e qualidade dos frutos), e o aceleramento na velocidade de germinação destas matrizes selecionadas a partir do tratamento com giberilina. Assim, essas mudas poderiam ser utilizadas como porta-enxerto com menor custo de produção das mudas. Material e Métodos Foram realizadas a identificação das áreas de coleta, a seleção de plantas matrizes, a coleta de frutos e sementes, a fermentação de sementes e a semeadura das mesmas. As atividades foram realizadas de acordo com a seguinte metodologia: foram selecionadas 39 plantas matrizes de acordo com a arquitetura das plantas, carga produtiva e características dos frutos. Essas matrizes foram selecionadas nas cidades de Ipameri e Campo Alegre de Goiás, onde foram marcadas as coordenadas geográficas sempre que possível. De cada planta matriz foram coletadas em média, cerca de 100 sementes. As sementes de cada matriz foram embaladas em sacos plásticos, hemerticamente fechados e colocados para fermentar em um local sombreado, com a finalidade de evitar a elevação excessiva da temperatura durante o período de fermentação, que variou de 30 a 60 dias. Vencido este prazo, as sementes de cada matriz foram despolpadas e lavadas, utilizando-se uma peneira e água corrente, sendo essas sementes colocadas para secarem a sombra, em um local ventilado, por duas semanas. Devido à ocorrência de fungos nas sementes lavadas, as mesmas foram tratadas com o fungicida Dithane, seguindo a indicação de 3 gramas/litro de água, antes do tratamento com ácido giberélico. 86
Após o tratamento com o fungicida, as sementes de cada matriz foram selecionadas e pesadas de 20 em 20, pois este é o número de sementes que foram utilizadas por parcela e sendo três repetições. As sementes foram colocadas em sacos de malha plástica, de 20 em 20, sendo separadas por um nó até completar o número definido para a realização do experimento, que foi de 60 sementes por matriz. As sementes que sobraram de certas matrizes não foram desprezadas, pois foram plantadas fora dos objetivos do projeto. Posteriormente à seleção, pesagem e colocação nos sacos de malha, as sementes foram dispostas em uma caixa d água, onde ficaram mergulhadas em uma solução contendo ácido giberélico, a partir do dia 04/03/2006. Primeiramente o ácido giberélico foi diluído em álcool e depois utilizou-se a proporção de 2 gramas do ácido para 8 litros de água. As sementes ficaram na solução de tratamento por quatro dias. Após o tratamento com ácido giberélico, as sementes foram semeadas em três blocos, tendo cada bloco 39 parcelas equivalentes ao número de matrizes. A semeadura foi realizada em sacos de polietileno, sendo que 2/3 de cada foram preenchidos com substrato constituído por 3 partes de subsolo e uma parte de esterco de gado, sendo que para cada 100 litros da mistura, foi acrescentado 500 gramas de 5-25-15 mais 1 litro de calcário dolomítico. O terço superior foi completado com areia grossa. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, com 39 tratamentos (plantas matrizes) e três repetições, tendo cada parcela 10 sacos plásticos, cada um com duas sementes. Tratos culturais como irrigação e capina foram realizados quando necessários. Após a primeira germinação foram feitas avaliações semanalmente, com a finalidade de obter dados sobre o índice e velocidade de germinação de cada matriz. Devido à ocorrência de doença fúngica nas mudas originadas do plantio das sementes excedentes de algumas matrizes, que se encontravam próximas ao experimento, as mudas do experimento foram tratadas de forma preventiva com o fungicida Cerconil na concentração de 2 gramas/litro. Os dados obtidos em 01/08/2006 foram submetidos à análise de variância, utilizandose o aplicativo ESTAT, sendo as médias comparadas pelo teste Tuckey, conforme Banzatto & Kronka (2006). Resultados e Discussão Devido à escassez de frutificação dos pequizeiros nas localidades de coleta, o trabalho ficou prejudicado, por não ter havido número suficiente de sementes que possibilitasse o 87
estabelecimento de tratamentos de sementes com e sem giberilina para cada planta matriz selecionada, o que permitiria a comparação entre os tratamentos. O início de germinação ocorreu entre 32 e 60 dias após a semeadura, mas de forma desuniforme e em escala inferior a 1 % do total de sementes originais, havendo então a paralisação do processo, provavelmente em função das baixas temperaturas, até 01/08/2006, quando foi realizada a última avaliação. Não houve diferenças significativas entre os tratamentos no final do período de observação, ao contrário de resultados obtidos por Pereira et al. (2002). Tais resultados assemelharam-se àqueles obtidos pelos mesmos autores sem tratamento de sementes com ácido giberélico. Conclusões A produção de mudas de pequizeiro diretamente na embalagem, mesmo com a utilização de ácido giberélico para quebra de dormência, depende de fatores ambientais não identificados, não podendo ser utilizada como metodologia acabada. Assim, a estratificação de sementes em areia grossa em alfobres até início de germinação, com repicagem das sementes, no início de germinação, parece ainda ser a medida mais segura, considerando-se o custo das embalagens plásticas e sua degradação por raios ultravioleta, além de mão-de-obra. Estudos complementares deverão ser conduzidos em ano de frutificação mais abundante, o que possibilitará melhor uniformização dos procedimentos, incluindo genótipos com maior divergência genética, de plantas coletadas em regiões com condições edafoclimáticas distintas. Referências Bibliográficas BANZATTO, D.A.; KRONKA, S.N. 2006. Experimentação agrícola. Jaboticabal, SP. 4 ed. Funep. 237p. BARBOSA, A.S. 1996. Sistema biogeográfico do Cerrado: alguns elementos para sua caracterização. Goiânia: Editora UCG. 44 p. BARRADAS, M.M. 1972. Informações sobre floração, frutificação e dispersão do pequi Caryocar brasiliense Camb. (Caryocaraceae). Ciência e Cultura, v. 24: 1063-1068. DOMBROSKI, J.L. de. 1997. Estudos sobre a propagação do pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.). Dissertação de Mestrado em Agronomia. Lavras: UFLA. 78 p. http://www.ceasa.goias.gov.br/instituicao/diretoria.html, consultado em 31/07/2006. 88
MELO, J.T. 1987. Fatores relacionados com a dormência de sementes de pequi (Caryocar brasiliense Camb.). Dissertação de Mestrado. Piracicaba: ESALQ. 92 p. MELO, J.T.; SILVA, J.A.; TORRES, R.A. de A.; SILVEIRA, C.E. dos S.; CALDAS, L.S. 1998. Coleta, propagação e desenvolvimento inicial de espécies do Cerrado. In: SANO, S.M. e ALMEIDA, S.P. de. (ed.). 1998. Cerrado: ambiente e flora. Planaltina: EMBRAPA- CPAC. p. 195-243. PEREIRA, A.V.; PEREIRA, E.B.C.; JUNQUEIRA, N.T.V.L.; FIALHO, J de F. 2002. Enxertia de mudas de pequizeiro. Planaltina: Embrapa Cerrados. 25p. (Documentos 66) RIBEIRO, J.F.; RATTER, J.A.; BRIDGEWATER, S.; PROENÇA, C.B.; FETTILI, J.M.; NOGUEIRA, P.E.; RESENDE, A.V.; WATTER, B.M.T.; MUNHOZ, C.B.R.; ALMEIDA, S.P.; FILGUEIRAS, E.T. 1997. Caracterização e manutenção da biodiversidade da flora lenhosa da região do Cerrado. In: Relatório técnico anual do Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados. 1997. Brasília, Embrapa/Cpac. p. 35-37. RIZZINI, C.T. 1973. Dormancy in seeds of Annona crassiflora Mart. Journal of Experimental Botany, Oxford, v. 24: 117-123. SILVA, J.A.; FONSECA, C.E.L. 1991. Propagação vegetativa do pequizeiro: enxertia em garfagem lateral e no topo. Planaltina: EMBRAPA-CPAC. 4p. (EMBRAPA-CPAC. Pesquisa em Andamento, 53). SILVA, J.A.; SILVA, D.B.; JUNQUEIRA, N.T.V.; ANDRADE, L.R.M. 1994a. Frutas nativas dos Cerrados. Brasília: Embrapa-Cpac. 166 p. SILVA, A.O.; FERREIRA, H.D.; COELHO, A.S.G.; ALVARENGA, E.E.C. 1994b. Fitossociologia de um Cerrado sensu stricto na região de Abadia de Goiás - GO. In: CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA, São Leopoldo. p.45. SILVA, J.A.; SILVA, D.B.; JUNQUEIRA, N.T.V.; ANDRADE, L.R.M. 1997. Coleta de sementes, produção de mudas e plantio de espécies frutíferas nativas dos Cerrados: informações exploratórias. Brasília: Embrapa-Cpac. 23 p. (Embrapa-Cpac. Documentos, 44). TRINDADE, M.G.; CHAVES, L.J.; VALVA, F.A.; NAVES, R.V.; BORGES, J.D. 1997. Viabilidade genética intra e interpopulacional dos caracteres velocidade e porcentagem de emergência em pequizeiro. In: ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 6. Goiânia: Resumos. Universidade Federal de Goiás. p.270. 89